Escondam as crianças. Cortem-lhes a Internet. Enfiem-lhes agulhas nos olhos e selem-lhes os ouvidos com pasta de cimento. Façam tudo o que precisarem para que elas não entrem em contacto com o novo vídeo da Maria Leal, destinada aos mais novos. Como sempre, quando começo a receber centenas de mensagens, já sei que há música nova da Ana Malhoa ou da Maria Leal. Calhou ser da suricata com Parkinson e aqui fica o vídeo, para quem quiser ficar traumatizado, e depois segue a review que tanto pediram.
FO-DA-SE! A Maria Leal é das poucas artistas que se consegue superar e surpreender o público. Quando pensas que ela já tinha batido no fundo, ela encontra um poço para descer ainda mais. É tudo tão mau que fica bom. A Maria Leal é uma espécie de cão Pug que de tão feios e ridículos que são, acabam por ser engraçados.
Nota-se, desde logo, um cuidado na direcção artística. Há uma história que é contada neste vídeo, uma história de merda, mas uma história. Há um cenário diferente, roupas a condizer e uma direcção artística que tenta planos arrojados. Planos de merda, mas arrojados. Tudo começa com um miúdo assustado com ar de psicopata, provavelmente porque já está traumatizado dos takes anteriores. Estou a brincar, isto é feito ao primeiro take que estão-se a cagar para a qualidade final.
Nisto, vemos a pior montagem de sempre com a Maria Leal dentro de uma caixa de bonecas como se fosse uma Barbie.
Com isto da inclusão, se há a Barbie engenheira e a Barbie lésbica, faz sentido haver a Barbie Acidente de Viação.
Ao pé da Maria Leal, até a Cindy que era a Barbie rasca, parece bonita. Bem, depois de fazer pausa e bolçar um bocadinho, lá continuei a ver o vídeo. Aqui, temos um plano fechado da cara da Maria Leal e pronto, se até eu fiquei traumatizado, imagino o efeito no pequeno cérebro ainda em formação de uma criança. A Maria começa a ter o que parece um princípio de AVC, com tiques nos olhos, ao som dos ponteiros do relógio; vemos as mãos dela que são quase tão más como a cara. As unhas foleiras de cada cor, as tatuagens bimbas nas mãos, tudo mau! As mãos da Maria Leal parecem um Fiat Punto que foi fazer tunning a uma garagem da Amora.
Aos 45 segundos vemos o pânico estampado no rosto da criança e começa a "música". Sons psicadélicos - como se a cara de esquilo atropelado da Maria não fosse suficiente para deixar as crianças assustadas - e começa a "letra". "Tá. Tá. Tá", diz a nossa suricata albina e percebemos que tem ali um dente que condiz com o amarelo dos cabelos. Se virem bem, essa parte do "Tá tá tá, tá tára tára tá tá" dá um bom toque de despertador. Vou experimentar para começar a acordar antes da hora só com o medo de ter de ouvir a voz do rouxinol com catarro pela manhã.
Muda o cenário e a Maria aparece a conduzir uma carrinha das obras porque não havia orçamento para um autocarro escolar. As crianças vão em pé, à frente e sem cinto o que pode ser bom, pois podem ser projectadas pelo vidro e morrer e assim não têm de ouvir mais a Maria a cantar. Pelos 1:35 a Maria aparece a tentar fazer a dança do robô. Chorei a rir. Aquilo é um robô que precisa de óleo, apesar de ter muito azeite. É um robô com mau contacto. Aposto que os primeiros robôs humanoides vão parecer mais humanos e ter melhor aspecto do que este que a Maria Leal está a interpretar. Aliás, imaginem o filme do Extreminador em que do futuro vinha um robô parecido com a Maria Leal. Foda-se, isso, sim, era um filme de terror.
Se repararem, nesta altura, o plano está todo desfocado e nem repetiram. Bem sei que a música não pede mais e talvez seja bom, porque Maria Leal em HD com o foco bem feito é algo desnecessário para o mundo. Aos 1:47 a Maria Leal está a fazer aquela dança do robô com espinha bífida e aproxima-se da criança que se afasta e olha para o lado assustada! Não me parece que tenha sido guionada esta parte. Foda-se, chorei a rir outra vez.
Aos 2:09 a Maria dá um doce a uma menina e a frase popular "Não aceites doces de pessoas estranhas" nunca foi tão bem ilustrada. Atrás, está um miúdo a levantar-lhe a saia e a ver as partes baixas da Maria. Mete a mão na boca para evitar o vómito. Aos 2:38 a Maria aparece com uma varinha de condão como se fosse uma fada madrinha da criançada.
Se as fadas madrinhas fossem como a Maria Leal, não precisávamos do bicho papão para meter medo às crianças.
Aos 3:22 temos um adulto a olhar para a Maria Leal como se estivesse a ver a morte de frente. Deve estar a pensar "Se calhar foi um erro aceitar entrar neste vídeo, o dinheiro não chega para pagar o que vou ter de gastar em psicólogos." Nesta altura, ela ignora a criança e foca-se no adulto, talvez a pensar que ele possa ter uma herança choruda para ela gastar em roupa do chinês, mas parece-me que piscar os olhos daquela maneira é uma má estratégia de engate. O que é aquilo? Para que é que está sempre a piscar? Está com conjuntivite? Entrou-lhe uma mosca para os olhos? Sinistro.
Aos 4:10 há um twist. A música pára, a criança acorda e afinal foi tudo um sonho. Ufa! Nisto, o telemóvel toca e é a Maria Leal e o puto encontra o que parece ser sémen de unicórnio num pires. Giro. Ou tudo isto não faz sentido nenhum, ou é um twist digno do David Lynch, mas inclino-me mais para a primeira opção até porque nos créditos vemos que foi a Maria de Sá a realizadora. Também vemos que foi ela que fez o script, adereços, maquilhagem tudo. O que vocês não sabem é que a Maria de Sá é a cabeleireira da Maria Leal e entre uma trança e outra a Maria diz-lhe "Olha, tens jeito para fazer tranças, o que achas que escrever e realizar um vídeo meu?" e assim foi. É a única explicação plausível.
E é isto, não há muito mais a dizer. Nem vou analisar a letra porque me parece que nem vale a pena. O que "Tá demais" é a taxa de poluição sonora e visual que este vídeo tem, embora confesse que o refrão entra no ouvido, mas há vermes que também entram e não é por isso que são bons. O que eu acho que é que a Protecção de Jovens devia investigar esta música pois podemos estar no âmbito do abuso infantil e pode ser perigosa. Por exemplo, se a dança pega e as crianças começam a fazer aquela cena das mãos e dos olhos a piscar vai ser difícil diferenciar entre isso e um ataque epiléptico. "Lá está ele a dançar Maria Leal", pensam os pais e, afinal, o puto está a morrer e ninguém o ajuda.
Se é para entreter as crianças, mais vale deixarem-nas ver o Alien ou o Predador que, além de terem melhor aspecto do que a Maria, sempre traumatiza menos as crianças. É que os pais podem explicar aos filhos que os monstros desses filmes não existem e são tudo ficção, já a Maria Leal existe mesmo, leva maridos tolinhos à falência e agora quer ficar com as nossas crianças. Se estivéssemos no século XV, a Maria estava na fogueira a crepitar. O progresso também tem coisas más.
PS: Agora que acedi ao vosso pedido para fazer resta review, vocês retribuem-me comprando bilhete para o meu espectáculo a solo de stand-up comedy. Acho que é justo. Bilhetes neste link para as novas datas de Lisboa e Porto e neste link para Braga e Faro. Se estiverem em Londres é neste link e todas as outras cidades (Rio Maior, Portalegre, Coimbra, Tomar, Póvoa de Varzim, Barcelona, etc.) podem encontrar as datas e bilhetes neste link. Obrigado, partilhem e não se fala mais nisso.
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