29 de março de 2017

Aeroporto Cristiano Ronaldo



O Aeroporto Internacional da Madeira mudou o nome para Aeroporto Cristiano Ronaldo. «E então?», perguntam vocês. Respondo «Exacto, e então?». Parece que há uma polémica e muita gente não concorda com a mudança do nome. Há, até, uma petição a correr para impedir a mudança do nome. A meu ver, são pseudo-intelectuais que consideram o futebol um desporto menor do que o golfe, bilhar e o berlinde. Também não sou fanático por futebol, mas sei reconhecer a importância que tem, para o bem e para o mal. Quer queiram, quer não, o Ronaldo é o português mais conhecido de sempre em todo o mundo e, quer gostem ou não, ajudou a meter Portugal no mapa. Sim, dá uns chutos numa bola, ok. No entanto, esses chutos emocionam mais pessoas do que muitas instalações da Joana Vasconcelos. Sim, cada finta apela ao nosso cérebro macacoide e não ao nosso apurado sentido artístico cognitivamente evoluído, tudo bem, ainda assim, aprecio mais um livre marcado pelo Ronaldo do que uma ida ao Museu Berardo ver quadros em branco na companhia de hipsters.

O que tem o futebol a ver com a aviação? Nada. É uma homenagem. O que é certo é que muito turista vai à Madeira porque passou a conhecê-la através do Ronaldo. Vai atrair mais turismo pelo aeroporto ser CR7? Não sei, é possível, nem que seja porque será notícia lá fora. O que sei é que iria lá menos gente se se chamasse Aeroporto Alberto João Jardim. Depois, se pensarmos bem, baptizar um aeroporto com o nome Cristiano Ronaldo nem é assim tão descabido. Vejamos: primeiro, o Cristiano tem um avião, ok? Pronto. Não é um drone ou um avião telecomandado montado às peças em fascículos da Planeta Agostini. É um jacto privado que custou uns 20 milhões de euros. Logo aí, Ronaldo já está a ganhar a muita gente. Depois, ele está mais do que habituado a manusear aviões: seja a Irina ou a Nereida. Sim, começou por baixo, com a Merche, a tirar o brevet numa espécie de avioneta que para passar na inspecção só pagando pela porta do cavalo. Todos temos de começar por algum lado e é mais do que sabido que o Ronaldo veio de baixo e não nasceu em berço de ouro. Terceiro, e último, os livres do Ronaldo chamam-se Tomahawk que são mísseis que, tal como os aviões, voam. Fora o facto de ele ter uma grande capacidade de impulsão. 

Como já escrevi, tenho medo de andar de avião, e, por isso, o nome do aeroporto onde vou levantar ou aterrar, dentro de uma caixa de metal com asas, conduzida por um taxista bem vestido, é-me um pouco indiferente. Tenho mais coisas em que pensar. Quero lembrar-vos que o aeroporto do Porto se chama "Aeroporto Sá Carneiro". Isto sim, é um nome parvo para um aeroporto. Um gajo que morreu num desastre de avião dá o nome a um aeroporto? Acho ofensivo. Já não basta eu panicar só porque sim, ainda me fazem lembrar que o senhor que dá nome ao aeroporto faleceu devido a um avião.

Haver um aeroporto chamado Sá Carneiro é o mesmo que haver um autódromo chamado Angélico.

Já para não falar em hospitais com nomes de santos. O Hospital de Santa Maria devia ser uma marquesa na igreja onde o padre faz umas rezas. Se vou ao hospital não é para ser salvo por santos a não ser que o médico que me vai operar os joanetes tenha "dos santos" como apelido. Faz tanto sentido como haver um Hospital José Carlos Pereira em homenagem ao eterno estudante de medicina cujos cuidados de saúde são conhecidos por todos. Já agora, deixo algumas sugestões para homenagear outros atletas e celebridades portuguesas e que, a meu ver, fariam todo o sentido:
  • Loja do Cidadão Nelson Évora - Onde tem de se andar a saltar de balcão em balcáo até encontrarmos alguém que nos saiba ajudar.
  • Associação Patrícia Mamona - ONG que ajuda doentes com cancro da mama.
  • Túnel Ricardo Salgado - Um túnel sem saída que, no fundo, é apenas um buraco horizontal.
  • Universidade Miguel Relvas - Privada e por correspondência.

Por mim, a Madeira até se podia chamar ilha Cristiano Ronaldo e todas as ruas serem Rua Cristiano Ronaldo I, II e por aí fora. «Isso é porque não és da Madeira!!!» espumam alguns de vós. Tudo bem, mas também mudaram Buraca para Águas Livres e não me viram a refilar. Para mim continuará a ser sempre Buraca, da mesma forma que as pessoas vão continuar a dizer aeroporto da Madeira ou do Funchal e ninguém se vai chatear com isso daqui a uns anos. Daqui a uns dias, vá, quando houver outra polémica mais suculenta. 

Há quem diga que a mudança de nome não faz sentido porque Ronaldo ainda está vivo e pode, no futuro, cometer erros e ter comportamentos maliciosos que ficarão, assim, associados ao aeroporto. Epá, muda-se o nome depois e faz-se outra festa! A ponte 25 de Abril também se chamava ponte Salazar e não é por aí que não continua a ser uma ponte que cumpre o seu nobre objectivo de unir margens. Por mim, até se tinha mantido como Ponte Salazar porque acho que a história não deve ser apagada a ver se não nos esquecemos o que o senhor fez e a ironia de ter o seu nome numa ponte em vez de num muro ou, por exemplo, na prisão de Caxias.

Percebo o argumento, mas prefiro homenagear em vida até porque não se tem a certeza se o sinal de wi-fi é bom no além.

Querem que as nossas obras tenham nomes de cientistas ou artistas famosos? Então comecem a ver mais teatro e a dar mais valor à ciência em vez de ver futebol. Simples. Os jogadores ganham obscenidades porque há público e dinheiro para isso. Têm a projecção que lhes dão e, por isso, é merecida. No dia em os jornais mais vendidos e os sites mais visitados em Portugal não sejam os de futebol, a gente conversa. Até lá, as nossas bandeiras vão ser jogadores de futebol que "só" sabem dar uns toques na bola. Antes isso do que o Aeroporto Fanny ou a Praça do Toiros do Zé Maria. Por isso, aceitem que o Ronaldo vai baptizar muitas obras em Portugal e percebam que quem é contra é gente que nunca vai ver o seu nome em nada a não ser na fatura com NIF do Pingo Doce.
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28 de março de 2017

Engolir, cuspir ou gargarejar?



Terem clicado para ler este texto já diz bastante de vocês enquanto pessoas. Nojentos. Enfim, vamos a mais uma consulta "Doutor G explica como se faz". 


Olá Dr. G, tenho aqui um dilema, mas não me apetece gastar 0,70€ +IVA para ligar à Maria Helena, até porque o Sr. Dr. o tem mais credibilidade. Tenho partilhado o meu tempo há cerca de meio ano com um rapaz mas nunca houve nada para além de uns amassos. Bom, quer dizer, haver houve, uma mini sessão de degustação láctea. Digo mini, porque foi mini em todos os sentidos. O rapaz tem um grande complexo com o tamanho e desempenho do instrumento, tanto que ultimamente me parece que evita marcar saídas comigo. Já lhe disse que relaxe que não vejo nenhum problema no tamanho, nem no tempo, gosto dele da mesma maneira, mas o rapaz está em guerra com ele próprio. Doutor, que lhe dizem as suas "cartas" que devo fazer para o por mais à vontade, e para ele perceber que gosto dele da mesma maneira, independentemente de ele ter uma gaita de beiços ou um trombone, demorar 5 minutos ou 1 hora?     
Joana, 33, Guimarães

Doutor G: Cara Joana, primeiro, tens de lhe dizer que não vale a pena chorar sobre o leite derramado, literalmente. Ele tem de perceber que a enguia trapalhona já não vai crescer mais e que lamentar-se sobre isso não dá centímetros. No entanto, pode trabalhar na questão da performance e já não se perde tudo. A primeira coisa que tens de fazer para o motivar é não dizer as seguintes frases, por muito honestas que sejam:

  • «Não me importo que o teu pénis seja muito pequenino.»
  • «Olha, é a primeira vez que consigo meter um todo na boca.»
  • «Bem, contigo acho que anal vai ser na boa.»
  • «Já me masturbei só com o dedo mindinho do pé e foi na boa.»
  • «Esta tua ejaculação precoce faz-me pensar se abrir um motel que aluga os quartos só durante dois minutos não será um bom modelo de negócio.»
  • «Já está?»
Esta última, seja a referires-te ao facto de ele já te ter ou não penetrado ou ao facto de ele já ter atingido o clímax. De resto, tens de lhe mostrar que ele te excita e que é melhor ele aproveitar o facto de tu gostares dele mesmo com esses problemas, até porque dificilmente irá aparecer outra tão pouco exigente.


Caro Doutor G, tenho quase 25 anos e sou virgem. Durante a minha vida toda, só cheguei até ao oral com uma ex-namorada, mas nunca chegamos a fazer o roça-roça pelados. Depois com a chegada da vida adulta e outras responsabilidades, nunca mais tive tempo para conhecer ninguém. Tenho muitas amigas, mas acho que nenhuma está interessada. O que fazer para quebrar o enguiço e chegar à terra prometida? 
D., 24, Porto

Doutor G: Caro D., essa do não ter tempo para conhecer ninguém é treta. Pelos vistos tens tempo para ler o consultório do Doutor G e para enviar a tua dúvida. Esse tempo podia ter sido investido na prospecção de mercado. Ser virgem aos 24 não é assim tão grave quanto isso. Aconselho-te a perder a virgindade com alguém com quem não queiras ter uma relação séria. Porquê? Porque não vais ter jeito nenhum para a coisa e se ela já for experiente pode perder o interesse. No entanto, não é por acaso que a maioria dos trabalhadores do ensino são mulheres: elas gostam de ensinar e ver o aluno a crescer, salvo seja. Não aconselho a recorreres a trabalhadoras sexuais a não ser se estiveres a chegar aos trinta e ainda estiveres na mesma situação e precisares de alguém para te tirar aquele plástico que vem no ecrã dos telemóveis. Por isso, relaxa e faz por conhecer pessoas novas. Arranja hobbies, sai à noite com as amigas e elas que levem outras já que não se querem sacrificar por um amigo. Usa aplicações online e lembra-te que todas as situações são boas para encontrar uma parceira, até mesmo os funerais, onde deixo algumas sugestões para iniciar a corte:
  • «Tenho algo em comum com o morto. Ambos temos partes do corpo com sintomas de rigor mortis.»
  • «Costumas vir aqui muitas vezes?»
  • «Bem, lá vai ele ser enterrado sete palmos abaixo de terra. Se quiseres também ser enterrada um palmo, diz-me.»
  • «Na altura em que houver silêncio, gritam: mexeu-se! Está a acordar! Depois viram-se para a rapariga e dizem-lhe ao ouvido "Estava a falar do meu pênis. Obrigado."»
Para mais dicas ilustradas em vários locais e situações situações aconselho a compra do meu livro - à venda em qualquer FNAC e neste link.


Olá Dr. G. Obrigada pela maneira como pões o pessoal a falar de sexualidade, grande trabalho que prestas a esta sociedade! O meu namorado é um querido e eu gosto muito dele, damo-nos muito bem mas o gajo só me beija quando quer sexo. Isto é normal?! Apesar de também não ser de afetos em público, às vezes tomo a iniciativa e ele não retribui. Mesmo no recato do lar, a mesma coisa!
Anónima, 23, Moscavide

Doutor G: Cara Anónima, acho que deves encarar como um elogio. Os teus beijos são tão bons que só quando é para avançar é que ele os quer, caso contrário levanta-se-lhe a alavanca de Arquimedes e ele não pode dizer eureka. Pensa nos teus beijos como Viagra: ninguém toma Viagra sem ser para fazer sexo ou para ter onde pendurar o casaco. Isso ou cheiras mal da boca.


Bom dia, reparei que todas as semanas há pessoas a dizer que não sabem onde encontrar o amor. Às vezes numa mesma semana até pessoas dos 2 sexos com idade próxima e do mesmo local. Que tal criares um consultório para desenconar esses coninhas todos que vagueiam pelo teu consultório?  
Anónimo, 24, Lisboa

Doutor G: Caro Anónimo, era isso mesmo. A seguir começava a fazer consultas ao domicílio. Tudo de borla, claro. Já bastam as várias dúvidas que me enviam por email a dizer «Agradecia que não publicasses e apenas respondesses por email» como se eu não tivesse mais nada que fazer na vida. Usem a zona dos comentários para isso se quiserem que eu não vou estar a meter pessoas em contacto para depois uma acabar cortada aos pedaços numa valeta e vir a PJ dizer que eu tenho culpas no cartório. Para esse efeito, o Doutor G idealizou e geriu durante muito tempo a aplicação Fuck Marry Kill que é uma alternativa ao Tinder. Neste momento, o Doutor G mantém-se como advisor e vai às reuniões mandar bitaites à bruta, já que agora não tenho problemas que sejam difíceis de implementar porque sei que já não serei eu a ter esse trabalho. Por isso, penso já estar a fazer o suficiente pelo desenconanço de Portugal. Para fazer mais vão ter de me pagar.


Caro Doutor G, ando a ajudar a minha amiga para ver se ela come alguém, mas ela rejeita sempre o que se arranja. Pois bem, acontece que anda atrás dela um gajo de quem ela se mostra interessada. Ando com um pé atrás com ele, sei-lhe bem o histórico. É licenciado em pôr as hastes nas damas. Agora não sei se a jogo no poço e meto-a numa relação com o moço ou se jogo a merda toda no ventilador e passamos a outro. 
Anónima, 22, Porto 

Doutor G: Cara Anónima, por vezes, um fluxograma vale mais do que mil palavras.

Caro Dr. G. Estou numa relação, o sexo é fantástico, cada vez melhora mais. Recentemente ele começou a explorar a rua das traseiras e adorei. Temo-lo feito frequentemente e deixa-me tão molhada que me venho em pouco tempo. Mas adiante: gosto bastante de abocanhar o salpicão, com direito a sugadelas nos ovos e tudo a que vocês gajos gostam. Mas, o meu companheiro já há algum tempo me pede que engula a ambrosia que brota do seu ceptro. A questão é que já o deixei explodir na minha boca algumas vezes e provei e lambidelas o seu néctar divinal, mas o sabor não é propriamente o mais agradável do mundo. O que faço? Engulo ou cuspo? É verdade que há alimentos que melhoram o sabor? Certamente muitas gajas como eu gostariam de ver esclarecida esta grande questão.
Joana F., 34, Pombal

Doutor G: Cara Joana, parabéns pela tua eloquência javarda. Relativamente à tua dúvida, vamos por partes. Cospes ou engoles? Mas eu sou a tua avó e estou a dar-te colheradas de sopa? Se queres engolir, força, se não gostas, cospe. A questão do sabor parece-me irrelevante já que numa prova de vinhos também não se engole e não é por aí que as nossas papilas gustativas não são inundadas por notas florais. Por isso, se o tens na boca, engolir não deve piorar o sabor embora vá, provavelmente, parecer que tossiste expectoração e voltaste a engolir. Acontece a todos. Por norma, os homens querem é fazer sujeira. Engolir ou não, o que interessa é haver javardeira e não mostrares que tens nojo que ele se venha na tua boca. Se não gostas mesmo de engolir, gargareja e baba-te sem querer. Relativamente aos alimentos que melhoram o sabor do sémen, é verdade, tal como existem alimentos que pioram. Para um melhor tempero da sacola dos girinos é evitar alho, cebola, espargos, brócolos, e adicionar canela, cerejas, ananás e chá verde, entre outros. Outra hipótese é juntares estes ingredientes todos, os bons e os maus, e fazeres um sumo detox para beber antes. Vais ver que, depois, o sémen te sabe a pato. Uma pequena nota para a criançada que está a ler isto: sexo oral desprotegido também passa doenças. Tenham juízo e se cheirar a bolor não metam na boca.


Sou só eu ou está consulta está muito boa? Agora façam como de costume e leiam às escondidas e não partilhem. Depois venham chorar que o Doutor G vai de férias dois anos para o Tibete. 


Façam amor à bruta porque de guerras o mundo já está cheio.

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27 de março de 2017

Publicidade? Expectativa vs realidade



Decidi testar a premissa do anúncio da Planta e ver se resultava, mas, ao que parece, creme vegetal sem abdominais definidos não funciona bem. Deixo aqui o vídeo original e a minha paródia para quem não teve oportunidade de ver no Facebook.

Expectativa

Realidade
Vá, agora vou comer um bolo de chocolate para compensar. Obrigado e até um dia.
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Coisas que acontecem nos jantares de anos



Os jantares de aniversário fazem parte da nossa vida desde que nos lembramos. Sejam em casa com a família quando somos pequenos; num parque de merendas com a família e colegas da escola primária; até ao típico jantar num restaurante com os amigos, a partir da altura em que os nossos pais nos deixam festejar sem eles embora sejam eles a pagar na mesma. Estes últimos são um ritual que nos acompanha durante anos e recheados de vários lugares comuns.

Primeiro, a marcação do restaurante. Ao longo dos anos vamos percorrendo todos os restaurantes com menu de grupo do distrito e arredores. Inicialmente, nunca ligávamos à qualidade da comida: o importante era a quantidade, mas, principalmente, a bebida à discrição. Com o passar dos anos, vamos ficando mais picuinhas com tudo e os típicos bifinhos com cogumelos e bacalhau com natas já não servem para os nossos requintados e envelhecidos palatos. A sangria já parece sumo e o vinho da casa torna-se vinagre, mas o que nos faz mais confusão são aqueles restaurantes cujo barulho de fundo faz lembrar uma cantina espanhola onde toda a gente está a tentar fazer com que os estrangeiros surdos consigam ouvir. Depois de uma exaustiva pesquisa online acabamos por escolher um restaurante com base na localização porque o que interessa é depois ir para os copos sem ter de pegar no carro, caso contrário o que pagamos pela bebida infinita é desperdício. 

O drama da marcação continua quando só confirmaram doze pessoas, mas marcamos para quinze a pensar que alguns dos que estão pendentes digam que sim à ultima da hora. Como sempre, vai acontecer o contrário e apenas vão aparecer dez já que há sempre um casal que se vai cortar à última da hora com o nosso amigo a ligar-nos, de voz cabisbaixa, a dizer «Puto, não vai dar para ir... surgiu uma cena aqui...». Já sabemos que foi a namorada que fez uma cena à última da hora, como é seu apanágio. Ficamos tristes pela ausência do nosso amigo, mas contentes porque não vamos ter de aturar a namorada dele.

No processo de marcação segue-se a definição da hora. Marcamos o jantar para as 20:30h, mas dizemos a toda a gente que é as 20h, já a contar com os atrasos. Há um ou dois amigos aos quais dizemos que é as 19h ou, em alguns casos mais graves de atrasados crónicos, dizemos que é um lanche às 17h para ter a certeza que eles aparecem a tempo de jantar. No entanto, como toda a gente recorre a esta estratégia, o pessoal já desconfia que o jantar não é mesmo às 20h e só começa a aparecer às 21h. Chegamos cedo e esperamos uma hora na qual tentamos convencer o senhor do restaurante a dar-nos já bebida e ele diz que só quando estiver toda a gente e a comida for servida. «Vais levar uma estrela no Zomato...» pensamos. Entretanto, aparece um convidado pontual que é sempre aquele colega novo de trabalho que só convidámos por simpatia e com o qual não temos grande conversa. Fica um ambiente estranho, com várias olhadelas para o telemóvel, e comentários a constatar o óbvio: «O pessoal parece que está atrasado..» e «Já comia qualquer coisa...».O resto dos convidados chega e começa o famoso jogo das cadeiras: o aniversariante fica no meio e como nem toda a gente se conhece é preciso fazer engenharia para que ninguém fique isolado.


«Cheguem todos um lugar para a esquerda!», dizemos como se fossemos uma espécie de arrumador de pessoas.

Depois de conseguirmos sentar toda a gente podemos, finalmente, pedir a comida. São cerca das 22:30h, por esta altura. O restante do jantar pode ser descrito com o auxílio da pintura da Última Ceia de Jesus Cristo em quatro bonitos quadros.






No fim, há sempre o grupo dos bêbedos que vai pedinchar mais uma bebida aos empregados que dizem sempre «Isso tem de ser com o dono!». Chama-se o dono e há sempre alguém que diz: «Ó chefe, mais uma cervejinha para a viagem, pode ser?». É a resposta a esta pergunta que vai definir se voltaremos para o ano ou não.
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22 de março de 2017

A vida de um português segundo Dijsselbloem



Desde sempre disse que o problema de Portugal é a cerveja ser barata, haver calor e mulheres bonitas e que se não fosse isso já tinha havido uma revolução à séria com umas quantas cabeças de banqueiros e políticos rachadas ao meio. Por isso, as declarações do Djaló holandês, Dijsselbloem, são palermas e o facto de gastarmos tudo em álcool e mulheres devia ser salutado pois é apenas por isso que aguentamos as medidas de austeridade sem refilar muito. Aliás, dizem que o negócio da prostituição e do álcool têm sempre mais procura em momentos de crise e de austeridade, por isso, não me parece que as meninas e o vinho sejam, ao mesmo tempo, causa e efeito. O senhor deve ter vindo cá e os locais que encontrou para lhe mostrar o país foram os senhores da fotografia. É normal que tenha ficado com essa ideia de nós e pense que o dia normal do português comum seja assim:

12:00h - Acorda, com ressaca. Fuma um cigarro ainda na cama. Levanta-se e bebe um café e um bagaço.
12:40h - Liga o computador e vê que vídeos novos há na sua subscrição premium do PornHub.
13:00h - Almoço na tasca com os amigos, duas garrafas de tinto para cada um, duas aguardentes no fim para desmoer.
15:00h - Dorme uma sesta valente.
17:00h - Agarra o telemóvel e encomenda duas pizzas e a Lorena do Portal Privado.
20:00h - Jantar na tasca com os amigo, bitoque e dez imperiais.
01:00h - Vão à Casa da Mãe Kikas consumir um gin, uma lapdance e uma hora de sexo desprotegido.
05:00h - Vai dormir cedo que amanhã ainda só é quarta-feira.

É certo que há muita gente assim e que são os que mais se queixam. É certo que temos políticos amigos da borga como o Santa Lopes que até tirou as prostitutas das estradas de Monsanto, alegadamente, tirou-as de lá para casa dele. Voltando à cronologia do dia, reparem que o português, para além de consumir produto interno e de estimular a economia ainda é versado em novas tecnologias para melhorar o seu conforto e produtividade. No entanto, a reacção a estas declarações vieram mostrar que a sociedade portuguesa ainda objectifica a mulher. Porquê? Quando ele falou em gastar dinheiro com mulheres toda a gente pensou que a única forma de se investir em mulheres é pagando a prostitutas.

Fiquei pasmado, já que o meu primeiro pensamento foi no dinheiro que gasto em prendas de Natal e de aniversários com a minha namorada.

Aliás, lembrei-me que o ainda lhe estou a dever prenda de Natal e que isso me pode sair mais caro no futuro, por isso, gastar dinheiro nas nossas mulheres é o melhor investimento para a nossa felicidade que pode haver.

O que é certo é que pedimos ajuda financeira depois de ter gasto tudo o que se tinha na carteira em carros, plasmas e numa amante brasileira. O problema é que não foi o português comum, classe média nem baixa, a gastar o que tinha nesses luxos. Foram os governantes e banqueiros que gerem isto que gastaram o que não era deles com as colegas das suas mães. Num país com um dito popular «Quero é putas e vinho verde!», não podemos propriamente levar a mal o que o Djalóflingaspissas disse. Até porque acredito piamente que o dinheiro que nos tem sido roubado tenha sido, em grande parte, usado para garrafas de vinho de milhares de euros e para pagar a companhia de jovens voluptuosas.

O álcool e as mulheres sempre foram a melhor fonte de inspiração dos nossos poetas e já os nossos descobridores gastavam tudo em rum e em sereias. "Dá-me mais vinho porque a vida é nada!", dizia Pessoa, e "Beijo na boca todas as prostitutas" escrevia o seu heterónimo Álvaro de Campos. Agora finjam que o Djalósafoda mentiu.
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21 de março de 2017

Maestro gay, a Igreja e a homofobia



Quem olhar para a Igreja Católica, de relance, pensaria que seria o local ideal para um homossexual ser feliz: vestidos compridos, chapéus com brilhantes, jóias reluzentes e um clube só de homens onde as mulheres têm um papel secundário. No entanto, se a homossexualidade fosse uma bactéria não haveria ambiente mais antisséptico do que a Igreja. Falo da polémica com o maestro que dirigia o coro da igreja de Castanheira de Pera e que foi afastado, dizem as más línguas, por ser gay. 

Começaram a desconfiar quando o repertório do coro da Igreja começou a incluir Lady Gaga.

Querem melhor maestro para dirigir o coro na Missa do Galo, ou como se diz em inglês, Cock's Mass? O vigário, termo que me faz sempre lembrar vigarista, deve ter ficado com medo que aquilo passasse a ser a Missa do Pavão com plumas e travestis e de só poder ficar a ver, coitado. Era de esperar que os padres adorassem gays, já que ambos têm em comum o facto de não apreciarem vagina. Haverá padres que não são homofóbicos, claro, talvez a maioria, quem sabe, mas a verdade é que a religião organizada ainda é a mãe de todas as discriminações. Não é por acaso que a Santíssima Trindade tem um pai, um filho e um espírito santo e não tem nenhuma mulher. A Igreja consegue fazer com as mulheres o que muitos homens gostariam: que fiquem em clausura em casa e, principalmente, que façam voto de silêncio e não chateiem levantem a voz.

Bem, mas voltemos ao espírito maligno do homossexualismo, como diz o pessoal da IURD. Não percebo a fixação da Igreja na utilização que cada um faz do seu próprio cu. Acho que tudo nasceu na inveja da liberdade que uns têm de assumir a sua sexualidade que enfureceu um clero recalcado pelos seus micro-pénis que violam crianças porque uma mão pequena faz com que se sintam de tamanho médio. A mesma Igreja que pede respeito pela fé de cada um e pelas suas escolhas, é a primeira a discriminar os gays. Há aqui duas hipóteses: ser gay é uma escolha e, como diz a Igreja, as escolhas que não prejudiquem os outros devem ser respeitadas; ou ser gay não é uma escolha e foi Deus que os fez assim. Acredito mais na segunda até porque Deus, a existir, deve ser a maior bichona de sempre e digo isto como um elogio. Já viram as cores rosadas do pôr do sol? E o arco-íris? Aquilo é obra de um gay com queda para o design de interiores. E as borboletas? Aqui foi, nitidamente, Deus a tentar emendar um erro: «Credo! Que lagarta nojenta que eu criei! Não devia ter bebido tantos daiquiris ontem! Pensa, Deus, pensa... ah, já sei! A lagarta vai entrar num casulo e sair de lá uma borboleta com asas pintadinhas com mais cores do que uma parada gay! FA-BU-LO-SA!». Voltando ao caso, é óbvio que a culpa é do maestro!

Um gay ir enfiar-se no seio da Igreja Católica é o mesmo que um preto querer fazer parte do Klu Klux Klan.

Já sabem que não são bem-vindos para que é que vão lá provocar as pessoas? Já não se pode discriminar à vontade na casa do Senhor que tem de vir um larilas ensinar a criançada a dançar o YMCA? Estamos a falar da mesma Igreja que protege padres pedófilos. Que não os afastou e, até, encobriu as atrocidades que fizeram aos meninos de coro. Uma Igreja com esse historial não tem moral para afastar um maestro por ser gay, mesmo que ele obrigue essas mesmas crianças a cantar Madonna.

Como ateu, já me custa perceber quem é católico, mas ainda me faz mais confusão quem é gay e quer fazer parte do clube onde não cumpre os requisitos para jogar. Acreditar em Deus e Cristo e isso tudo, percebo e não tenho problemas com isso, mas estar no seio de uma Igreja que desde sempre desprezou, para não dizer que perseguiu e matou, homossexuais, faz-me confusão. O engraçado é que a Igreja Católica cada vez mais rejeita o Antigo Testamento até porque parecia mal, em pleno século XXI, adorar um Deus que faz Satanás parecer um menino, mas no Novo Testamento não há passagens sobre a homossexualidade e, que se saiba, Jesus nunca se mostrou preocupado com o que os seus apóstolos metiam no rabo. No antigo testamento, ter um pénis e gostar de outros pénis dava pena de morte. É um Deus rancoroso para quem estraga o seu design eficiente e toda a gente sabe que o cu foi feito para defecar. Percebo, também me irrita quando criava aplicações informáticas e percebia que os utilizadores não sabiam interagir com aquilo. Um gajo tem de ter sempre em conta que os utilizadores são burros e Deus esqueceu-se de fazer testes de usabilidade independentes. 

A Igreja, no tocante a questões de sexo, devia praticar o que advoga: abstinência. Abster-se de comentar. Ninguém quer ouvir senhores de meia idade, virgens ou quase, vestidos como se todos os dias fossem Carnaval, a mandar bitaites sobre como cada um deve viver a sua sexualidade. É o mesmo que o professor substituto ser licenciado em História e mesmo assim querer seguir o programa de Matemática e dar a aula de Números complexos e Imaginários. Por isso, façam o que eu faço quando alguém está a discutir qual é o Salmo mais bonito da Bíblia: admitam que não percebem nada do assunto e calem-se. Se, para esses, acreditar na legitimidade do amor entre duas pessoas do mesmo sexo é mais complicado do que acreditar que Nossa Senhora apareceu no cimo de uma árvore, calem-se. Já agora, se Maria tivesse realmente aparecido, em vez de três segredos, tinha feito o que qualquer mãe faz quando vão amigos lá a casa: mostrava fotografias de Jesus no banho com dois anos. 

«Ó Guilherme, estou ofendido por fazeres pouco da minha religião!», pensam alguns. Olhem, e eu estou ofendido por a vossa religião existir e perpetuar preconceitos. E agora, como fazemos? Fica cada um ofendido para o seu lado e pronto, pode ser? Respeito a vossa fé, não me peçam para respeitar uma instituição mafiosa que foi inventada por homens, gerida por homens, e que tem como maior preocupação o dinheiro, poder e os lobbies políticos. Só para os católicos se sentirem melhor, deixem-me só dizer o seguinte:

Se o Cristianismo fosse um manicómio, os Evangélicos estavam naquela ala com as paredes todas almofadadas.

Daqui a pouco tempo o Papa Francisco vem a Portugal e apesar desse grande defeito que é ser o chefe máximo de uma organização podre, tenho simpatia por ele. Parece-me boa pessoa e genuíno na vontade de melhorar a Igreja. Gosto de pensar nele como o Obama da Igreja: é cool; temos ideia de que queria fazer mais, mas não o deixam; vai deixar saudades; também é responsável indirecto por muitas mortes de inocentes. É um papa progressista que diz «Se alguém for gay (...) e íntegro, quem sou eu para julgar?», mas que depois é contra o casamento entre casais do mesmo sexo. Enfim, toda a gente sabe que contrair o santo matrimónio só faz sentido assim: «Declara-vos marido e mulher, pode beijar a costela.»
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Porque é que os homens e mulheres perdem o interesse?



Começou a primavera e, tal como as inscrições em ginásios, também as dúvidas sexuais e sentimentais aumentam. Não percamos mais tempo e vamos a mais uma consulta "Doutor G explica como se faz". 


Boa tarde, um amigo meu ejaculou na minha almofada sem que eu soubesse e desde então tive as 3 melhores noites de sono da minha vida, com paz, serenas. Eu que até tenho problemas em adormecer. Agora que soube paira a dúvida: será que sou gay, devo deitar a almofada para o lixo?
M. Silva, 26, Lisboa

Doutor G: Caro M, não sei que tipo de amigos tens, mas um amigo meu que ejaculasse na minha almofada deixava de ser meu amigo na hora que eu soubesse disso. São barreiras que gosto de ter nas minhas amizades, talvez seja um bocado picuinhas, não sei. Pode dar-se o caso do teu amigo comer muito mamão que é rico em luteína e zeaxantina, nutrientes que ajudam a que tenhamos um sono mais descansado e tranquilo, e tenham passado para o seu sémen que tu snifaste ou provaste enquanto te esfregavas na almofada. Agora, o problema não é se és gay ou não, o problema é que és nojento. Quem é que não lava a almofada de vez em quando? Já basta a baba que um gajo deita e fica ressequida e amarelada, quanto mais baba de camelo de pénis. Eu sofro de insónias, mas entre dormir mal e ter a almofada a colar-me aos cabelos, prefiro andar cansado o dia todo. Mas isto sou eu e cada um sabe de si e Deus sabe de todos.


Olá, Dr. G. acabei uma relação longa há uns meses e conheci um rapaz dois anos mais velho há uma semana, marcamos encontro e estivemos algumas horas à conversa, que correu bem, e o resto consegue imaginar. Foi o melhor sexo da minha vida, acho que da dele também, entendemo-nos mesmo, repetimos, tudo 5*. Ele no fim até abracinhos me deu, beijos, etc. Pediu-me o número. No dia a seguir mandou sms a dizer bom dia, pediu para nos encontrarmos e foi igual; no fim, disse-me 'vais, mas voltas'. A partir daí tem-me ignorado; não mandou mais sms, eu tentei combinar coisas e ele disse que estava ocupado, e não me disse mais nada (passaram-se 3 dias). Pensava mesmo que ele estava interessado. O que é que eu devo fazer?    
Anónima, 22, Porto

Doutor G: Cara Anónima, sendo que a tua dúvida é bastante recorrente no universo feminino vou auxiliar-me de um fluxograma para melhor elucidar todas na mesma situação.
Dizia-te para imprimires e colares no frigorífico, mas tenho medo que me acusem de machismo por partir do princípio que vais à cozinha. É confuso, bem sei, mas o moral da história é o seguinte: os homens fazem-se de interessados quando querem só sexo; quando um homem deixa de responder e diz que está ocupado, 99% das vezes é porque perdeu o interesse. Estudo oficial do INE. Pode, no entanto, dar-se o caso de estares a ser dramática visto que só passaram 3 dias. É esperar e ver.


Excelentíssimo Doutor G, de manhã fui a casa de uma amiga e fizemos sexo. Estivemos no acto durante uma boa hora, com duas pausas pelo meio. Aquando dessas pausas a minha alavanca ficou adormecida e não acordou com facilidade. À noite, fui a casa de uma rapariga diferente e, para além de demorar uns longos minutos a ficar erecto eu ejaculei após uns curtos segundos dentro dela. E isso nunca me aconteceu na vida. No entanto, quando me masturbo fico erecto o tempo inteiro. O que quererá isto dizer? Sofro de disfunção eréctil em tão tenra idade? Estou demasiado habituado à minha mão? 
João, 20, Algures

Doutor G: Caro João, parece-me que padeces da sindrome xoninhus-molengus juntamente com a vaginangus-precociuns. O primeiro é relativo ao facto de ficares nervoso quando visionas uma vagina ao vivo, daí quando te tocas não teres esse problema, mas ao dares de caras com uma escotilha de bebés, ficas nervoso a pensar se estarás à altura e o trombinhas fica tímido e cabisbaixo. Normalmente, quando isto acontece, depois a ejaculação precoce vem por arrasto e o menino bolça antes do tempo, também por questões nervosas. Razões para isto acontecer? Várias: gostas de uma das raparigas; ficaste demasiado tempo sem fazer sexo e tens medo de já não saber; elas são demasiada areia para a tua pequena carrinha de caixa aberta; elas são mais experientes do que tu e tens medo de fazer má figura. Seja como for, sexo não é como andar de bicicleta, mas sim como stand up comedy: é preciso ir fazendo e treinando e vendo o feedback do público. Relaxa e raciona melhor a tua oferta. Não vês um comando a comer as barras de proteína toda no mesmo dia de missão, pois não? Então não sejas garganeiro e não marques duas sessões de funaná pelado no mesmo dia se nem para uma tens andamento.


Olá Doutor G, estou com o meu namorado há 2 anos, e ele sempre foi uma pessoa muito sexual. Mas, a certa altura, começou a ficar... frouxo. Nunca lhe apetecia, ficava zangado se eu tentasse iniciar conversas relacionadas com o funaná, e diz que eu tenho um apetite sexual impossível de saciar e que isso causa muita pressão, etc etc. Apesar disso, quando (de vez em quando) há funaná é do carvalho (como, aliás, sempre foi): sempre tudo no ar, no sítio certo, sem dificuldades ou hesitações nenhumas. A minha "questão" é: poderei fazer alguma coisa para avivar o apetite do rapaz e poder assim saciar o meu alegadamente-insaciável apetite? E o facto de ele ter 30 anos tem alguma influência?
Anónima, 25, Aqui

Doutor G: Cara Anónima, deixo aqui um gráfico de tarte que pode ajudar-te:
Há muitas mulheres que, estando habituadas a que seja o homem a tomar a iniciativa, se desleixam e deixam de seduzir os seus parceiros. Isto não é só colocar a mão e está pronto para bater chapa. Os homens gostam de ver iniciativa e os actos valem mais do que mil palavras. Veste uma roupa sexy e baixa-lhe as calças na cozinha. Leva-lhe o pequeno-almoço à cama, se é que me faço entender. Se isso continuar mal, arranja outro. Simples.


Excelentíssimo Dr.G, "Tinderenho é um jovem que por vezes se baba. Concomitantemente, este jovem apresenta elevados conhecimentos linguísticos tais como: "Dzień dobry! Jak się masz?"". É desta forma que me apresento numa das aplicações mais populares nos dias de hoje, o Tinder. De modo a ajudar a comunidade Tinderesca que se depara com dificuldades em se apresentar, será que o Senhor Dr. estabelece algumas recomendações para a descrição do Tinder?
Tinderenho, 24, Porto

Doutor G: Caro Tinderenho, receio já ter falado sobre isso neste texto onde fiz uma espécie de manual de boas práticas do Tinder. No entanto, há uma regra básica do Tinder: ninguém lê as descrições se fores feio. Podes ter a melhor descrição do mundo que nem isso te safa, por isso, a parte da descrição só serve para os bem-parecidos e, nesses casos, só pode estragar. Contudo, há duas regras de ouro: nunca utilizar a descrição para dizer que só se está lá para fazer amigos, nem para dizer qual é o clube de futebol que se apoia. Se quem está à procura de parceiro filtra consoante o clube, então é só gente que não vale a pena.


Ora bem, então é assim: sou uma coninhas com vinte e poucos anos e que nunca teve sorte no campo amoroso/sentimental. Não, não sou desdentada, nem tenho monocelha, só sou bastante selectiva. Um dia decidi deixar-me de merdas e tentar abordagens virtuais como o tinder, mas se os rapazes mostram demasiado interesse, eu assusto-me e se não mostram interesse nenhum, eu mando-os logo passear. Sou gaja, portanto. Já cheguei a passar do virtual ao real com uma pessoa e a coisa até estava a ir bem, mas qual gajo típico do tinder... só queria funaná pelado. Por ter perdido a esperança nestes meios, decidi desconectar e tentar uma abordagem mais virada ao mundo real. Mas como? Discotecas não são a minha onda. Na minha faculdade são 60% raparigas, 20% gays, 15% comprometidos e 5% super atadinhos. Onde vou encontrar rapazes em condições? Não vale as dicas que vêm no seu livro porque esse li-o num instante (devo dizer que está muito bom)! 
Coninhas, 23, Coimbra

Doutor G: Cara Coninhas, um gajo que só quer funaná pelado não é um gajo típico do Tinder, é apenas um gajo típico. Ponto. Bem, deixo algumas dicas de locais alternativos onde podes abordar encontrar possíveis parceiros, já que pela tua descrição depreendo que estás a estudar enfermagem:
  • Talho do Pingo Doce - significa que tem casa própria e que, provavelmente, sabe cozinhar. Digo no talho porque se fores procurar por ele na zona das sojas é possível que ele goste do mesmo tipo de enchidos que tu;
  • Numa loja de roupa de homem - se ele está a comprar muita roupa é sinal que ficou solteiro recentemente e podes perguntar-lhe se precisa de ajuda para escolher as calças que ficam melhor no fundo da tua cama;
  • Mete um anúncio falso de uma mesa de matraquilhos no OLX para atrair homens solteiros, porque nenhuma mulher deixa o homem comprar matraquilhos lá para casa.
Resta-me agradecer teres lido o meu belo livro que se encontra à venda neste link com 10% de desconto.


Obrigado a todos e, como sempre, até para a semana e continuem a enviar as vossas dúvidas para porfalarnoutracoisa@gmail.com. 


Partilhem e façam amor à bruta porque de guerras o mundo já está cheio.

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17 de março de 2017

Livros de Auto-Ajuda, gurus e banha da cobra



Bom dia, como vai isso? Bem, mal? Na verdade, não me interessa muito, estava só a fazer conversa de circunstância. Estive a analisar o fenómeno dos livros de auto-ajuda e cheguei à conclusão de que são provérbios populares, mas ditos por outras palavras e com muita palha à mistura. Passo a explicar com estes bonitos exemplos escritos por mim:

Auto-ajuda: Por vezes, sentimo-nos presos às nossas lembranças o que nos impede de vivermos o presente na sua plenitude. As amarras do passado fazem com que sejamos incapazes de aproveitar o momento, sempre a pensar que os erros se poderão repetir e, sobretudo, remoendo no que poderíamos ter feito para que tudo fosse diferente. Na verdade, nada disso interessa, já que o passado é uma tatuagem irremovível, gravado em pedra e que não nos pode tornar ausentes do presente.
Ditado: Não vale a pena chorar sobre leite derramado.

Auto-ajuda: A vida coloca-nos obstáculos que à primeira vista parecem intransponíveis como se de um teste se tratasse. A força de viver está em falhar várias vezes e voltar a tentar com a mesma esperança e ingenuidade de outrora. A perseverança irá compensar e quando olharmos para trás iremos conseguir perceber que tudo não passou de grãos de areia nos nossos sapatos e, com os pés calejados, seremos mais fortes.
Ditado: Água mole em pedra dura tanto bate até que fura.

Auto-ajuda: Há relações tóxicas que se tornam mais importantes do que a nossa individualidade. Deixamos que outra pessoa tome conta das nossas decisões e que nos manipule ao ponto de pensarmos querer algo que não queremos. Ficamos dependentes como se de uma droga se tratasse, mesmo sabendo todo o mal que nos faz. Quando uma relação destas termina é inevitável sentirmos ressaca, mas tudo é um processo que nos levará a um lugar melhor.
Ditado: Antes só que mal-acompanhado.

Olha que até acho que tenho jeito para esta coisa da auto-ajuda, agora que vejo que demorei menos de dois minutos a escrever esta xaropada! Como podemos ver, não são mais do que uma reciclagem de ditados e senso comum, revestidos de retórica de vendedor de colchões. No entanto, continuam a proliferar e a ter sucesso e, por isso, lembrei-me que pode ser interessante aproveitar essa onda, mas fazendo o contrário: chamemos-lhe anti-auto-ajuda. Ao invés dos livros motivacionais, este seria o oposto e, por conseguinte, honesto. Sim, já sei que esses livros até ajudam algumas pessoas, mas isso não quer dizer que não sejam ridículos.

Se o famoso livro de auto-ajuda "O segredo" fosse realmente honesto só teria páginas em branco para continuar a ser um segredo.

Voltando à anti-auto-ajuda, já pensei em títulos para o livro inspirados em conhecidas obras portuguesas e deixo aqui algumas sugestões nas quais gostava que votassem, mas podem e devem contribuir com as vossas.

  • Agarra o Cianeto Agora
  • Escolho ser infeliz e culpar os outros por isso
  • Às 9 no meu funeral
  • Tu consegues (só que não)
  • Suicídio para totós
  • Prometo falhar (como se fosse preciso prometeres)
  • O poder da energia positiva e da corrente alternada
  • Quero Acreditar, mas querer não chega
  • Ainda podes ficar pior
  • A última leitura
O livro teria vários temas e estaria dividido por capítulos. Começaria por identificar o problema e criar empatia com o leitor através de capítulos como «Provavelmente o problema és tu» e «Não tens amigos porque és uma merda de pessoa» seguido de um separador para limpar o palato chamado «Coisas do senso comum, mas que tu pagaste para ler». Depois, faz sentido escarafunchar um pouco mais na ferida emocional do leitor para que ele se liberte com os capítulos «És um fardo para ti e para a tua família» e «Mesmo que te ames serás o único». Nesta altura, faz sentido abordar alguns temas mais específicos como «És gordo porque comes demais» e «Os outros têm sucesso porque são melhores». Após outro separador com coisas do senso comum, podemos começar a apagar a última chama de esperança que o leitor possa ter em capítulos como «Se tudo falhou não é um livro que te vai salvar», «Aprender a envelhecer e morrer sozinho» e «Suicídio é desistir?». Por fim, e para terminar o livro numa falsa esperança que culpabiliza o leitor pelos seus problemas e lamentações, sugiro os capítulos «Podias ter nascido na Síria» e «Histórias de sucesso que nunca vais conseguir replicar».

Entusiasmei-me e resolvi adiantar trabalho e escrever já alguns parágrafos. Lembro que a palha e os rodeios e repetições são ferramentas importantes para que tanto os conselhos da auto-ajuda como da anti-auto-ajuda sejam assimilados pelos leitores.

Todos os dias, de manhã, logo depois de acordar, enquanto os pássaros chilreiam e te deixam inundado de inveja pela sua felicidade pueril, olha-te ao espelho. Para. Respira. Observa cada contorno do teu corpo deteriorado e da tua cara infeliz marcada pela vida que te mata aos poucos. Respira. Elogia-te. Diz que te amas, uma e outra vez. Mais outra e outra, até que dizer «Amo-te» ao espelho de manhã seja tão natural como lavar os dentes. Chora e lembra-te que cada lágrima representa as pessoas na tua vida que se afastaram. Tens de verter várias, bem sabes. Muitas. Todas. Elogia-te outra vez e lembra-te que estes são os únicos elogios que vais receber hoje e, talvez, este mês. Ninguém te aprecia e tu, no fundo, sabes porquê. Para que te levantaste para ir trabalhar? Qual é o sentido de acordar uma e outra vez, numa repetição infindável da rotina como se fosse um labirinto que te disseram ter solução, mas ao qual barraram a saída? Vai, mas é, dormir. Deita-te. Deixa-te ir e sonha, porque só em sonhos ainda podes ser feliz.

***
Por vezes, dás por ti a contemplar o horizonte, o céu e as estrelas e pensas que és apenas uma migalha infinitesimal nesta vastidão infinita do universo. Algo no teu estômago se contrai com essa sensação de que tu não interessas porque sabes que, na verdade, essa é a verdadeira verdade. Não interessas. Não és especial seja qual for o teu referencial. A tua vida não tem sentido nem propósito e o único objectivo que poderia ter, o de seres feliz, conseguiste não o alcançar. Neste euromilhões da causalidade caótica do universo tu tiveste um dos bilhetes premiados para estar aqui. Hoje. Agora. Tudo o que tinhas de fazer era aproveitar esta viagem de um nanossegundo cósmico e apreciar a paisagem. Tinhas um bilhete à janela e escolheste ir a olhar para o chão. Parabéns. Agora, cada dia não é mais do que um número de uma senha do talho do Pingo Doce que vai passando enquanto esperas a tua vez. Pode ser que alguém à tua frente se tenha fartado de esperar e tudo seja mais rápido.

***
A pessoa mais importante da tua vida tens de ser tu, até porque não tens ninguém importante na tua vida e, por isso, não faria sentido ser de outra forma. Estás sozinho e preferias estar mal-acompanhado porque era sinal que ao menos alguém tinha algum tipo de sentimento por ti a não ser indiferença. Não te importavas de ser amado por pena. Dizem que as más vibrações atraem pessoas com más vibrações, mas tu nem isso consegues atrair. És um repelente de amor porque não te amas a ti mesmo e com razão. Abraça o dom de conseguires entrar num funeral de uma criança e torná-lo mais triste e fazer com que até os pais de luto sintam pena de ti. Sentes-te sozinho e percebes que já viveste mais de metade da tua vida, se tudo correr bem, e percebes que a metade que viveste era suposto ser a melhor e, se foi esse o caso, boa sorte nessa lenta e penosa espera. Tentas agarrar-te a crenças que te dêem esperança e que isto não pode ser tudo o que há, mas, já agora, fica uma informação dramática: Deus não existe. Pensa positivo, pois se Ele existisse nem Ele gostaria de ti e ainda irias estar pior. Isto para além de que as pessoas iam ter de te aturar numa vida eterna e isso não se faz a ninguém. Lembra-te, apenas, que ainda podes fazer algo de bom e não te suicides na linha de comboio porque isso é um transtorno para as outras pessoas e já basta o fardo que foste em vida.

***

Claro que este tipo de livros não vive sem frases curtas e poderosas que serão citadas em vários sites manhosos. Depois, partilhadas por milhares de pessoas em forma de imagem (des)motivacional e com uma letra bonita e desenhada. Deixo alguns exemplos:

  • «Aproveita a liberdade de já ninguém esperar nada de ti.»
  • «Se o teu problema é seres demasiado pessimista de nada te serve pensares positivo.»
  • «A vida foi o que aconteceu enquanto te lamentavas.»
  • «Falhar só é uma aprendizagem se não for sempre.»
  • «O comboio da vida chegou com atraso e, mesmo assim, conseguiste perdê-lo.»
  • «Se a esperança já morreu o que é que ainda estás cá a fazer?»
Acho que é isto. Acham que tem potencial?
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15 de março de 2017

8 coisas que me estragam o dia



Já me conhecem o suficiente para saber que há várias coisas que me irritam e me estragam o dia.

Pessoas que comem de boca aberta
Devia haver uma excepção na lei a legislar que agredir pessoas que mastigam de boca aberta não é crime. Quem nunca foi a jantar de aniversário e ficou sentado em frente a alguém que não conhece bem e que acha que mastigar deve ser uma actividade de grupo? Para estas pessoas o corpo humano tem o defeito de não ter as bochechas transparentes para que todos possamos ver o seu bonito processo de mastigação e deglutição. Para além de mastigarem que nem bodes com sinusite ainda são capazes de falar de boca cheia, normalmente sobre assuntos que não interessam a ninguém. Mesmo à nossa frente, a falar sobre o facto de ter saído uma nova compilação de quizombas e nós só conseguimos pensar que, mais cedo ou mais tarde, aquele bolo alimentar vai sair disparado em perdigotos-morteiro e aterrar-nos no copo de vinho. Há dois tipos de pessoa no mundo: as bem formadas até têm medo de mastigar batata frita de pacote em público por acharem que estão a fazer muito barulho; as nojentas que mastigam de boca aberta e que por cada ruminação devia ser possível dar-lhes uma chapada na nuca para ficarem entravados a comer por uma sonda.

Elevadores
Quantas vezes estamos à espera de um elevador, já com o botão iluminado a assinalar devidamente que já carregámos nele e vem alguém que decide carregar outra vez? Era uma joelhada no baixo ventre, logo ali. Quem é que aquela pessoa pensa que é para duvidar da minha capacidade de chamar elevadores? Pensa que é especial e que o elevador vem mais rápido se for ele a chamá-lo? Que falta de respeito. Quando isto me acontece o que faço é carregar outra vez no botão logo a seguir só para quando o elevador chegar ele não pensar que o mérito é dele. Sou mesquinho, bem sei, mas não gosto de pessoas que se acham superiores a mim no tocante ao chamamento de elevadores. Outra opção é agradecer dizendo «Muito obrigado gentil pessoa, estava aqui à espera desde a semana passada.» e ver a reacção. Depois de entrar no elevador carreguem no botão do piso para o qual desejam ir e digam «Caro guru do chamamento dos elevadores, pode carregar aqui no botão também? Vejo que tem uma relação especial com a máquina.». Depois carreguem no stop, espanquem-no e atirem o corpo pelas escadas abaixo duas vezes.

Velhas no multibanco
Agredir pessoas idosas nunca é aceitável excepto quando temos uma à nossa frente no multibanco, coisa que acontece, sempre, mas sempre, quando estamos com pressa. Vislumbramos o multibanco ao longe e percebemos que está lá um vulto de cabelo grisalho e somos invadidos por uma frustração que antecipa o que nos espera. Vemos os nossos medos confirmados quando o cartão sai e ela volta a colocá-lo. Suspiramos profundamente para ela sentir o nosso desagrado, como se ela se fosse apressar por nossa causa. Se não se apressa por já não ter muitos anos de vida, não será o descontentamento de um jovem a ter esse efeito. Ela olha para trás e nós sorrimos, cinicamente, enquanto pensamos que seria tão fácil eliminá-la com uma leve pancada na coluna devido aos seus ossos já rendilhados. Quando falamos da importância em educar as gerações mais velhas relativamente às novas tecnologias, a principal vantagem não é o seu conforto, mas sim para nunca mais termos de as apanhar no multibanco a fazer pagamentos da água, luz e das prestações do transplante de bacia. Sabemos que a teoria da relatividade de Einstein é real quando o tempo custa menos a passar quando temos de esperar dez minutos com cinco pessoas à nossa frente na fila do que esperar apenas cinco por uma velha. Da última vez que isto me aconteceu foi com um senhor de não mais de cinquenta anos. Tirou e voltou a colocar o cartão, duas vezes, enquanto olhava para trás e via o meu ar de frete. Passados cinco minutos desisti e atravessei a estrada para ir a outra caixa multibanco. Levantei dinheiro, fui ao café, comprei um par de meias a uma cigana, voltei para buscar o carro e o gajo ainda estava lá! Aquele atrasado mental viu que eu estava à espera e não teve a decência de me dizer «Olhe, só para avisar que vou demorar mais de meia hora aqui... se quiser ir a outra caixa para não esperar tanto.». Apeteceu-me chamar-lhe nomes e dar-lhe um calduço surpresa e dizer «Tu sabes porque é que isto foi.».

Faltar água quente
Hoje é coisa que já não me acontece, mas lembro-me de quando o gás em minha casa ainda era com botija e quando a meio de um relaxante banho de água quente, quase a queimar o escalpe, em pleno inverno, o gás acabava e começava a vir água fria. Apoderava-se em mim uma espécie de ataque de raiva e começava a gritar «ACABOU O GÁS!!!» para que os meus pais me acudissem e trocassem a botija. Ainda assim, acho que é pior quando alguém começa a usar água na cozinha, fazendo com que, de repente, um jacto de água fria nos congele a alma e nos faça passar de uma uma pessoa civilizada, que cantarola alegremente durante o duche ,para um demónio possuído por Belzebu capaz de assassinar com requintes de malvadez quem nos fez tamanha maldade. Depois de gritos e insultos lá conseguimos terminar o banho, mas, muitas vezes, a situação ainda piora quando percebemos que a toalha ainda está húmida. Enfim, problemas graves do primeiro mundo sobre os quais ninguém fala. Esperemos que com o Guterres na ONU isto seja uma prioridade.

Internet lenta
Um dos grandes flagelos contemporâneos. Já muita gente disse que ter Internet lenta é pior do que não ter Internet e que se queres conhecer a verdadeira personalidade de alguém, então dá-lhe uma ligação de Internet fraca e vê como ela reage. Sou do tempo em que para sacar uma música era preciso investir mais de cinco horas em Internet paga por impulsos telefónicos e rezar a nossa senhora das telecomunicações para aquilo não ir abaixo e para a nossa mãe não se lembrar de ligar à nossa tia para lhe perguntar se está melhor dos joanetes. Hoje, num tempo em que tudo tem de ser medido em gigas e teras, quando apanhamos uma Internet mais lenta sentimos uma espécie de aperto no peito. Muitas vezes é uma ligação pública e de borla e quando não está protegida por password já sabemos que é uma merda. Tentamos na mesma. Liga e cai e volta a ligar e a cair. Não conseguimos sequer actualizar o feed do Facebook e pensamos na sorte que as crianças africanas têm de terem tanta fome que nem se preocupam com a lentidão da Internet na barraca.

Ressonar
As pessoas que ressonam e nos privam do sono fazem com que as odiemos sem elas terem culpa. Lembro-me de quando era puto e, às vezes, durante as férias em que tinha de dormir no mesmo quarto dos meus pais, ouvir o meu pai a ressonar qual javali com tuberculose. Lembro-me de me deitar e entrar numa corrida de contra-relógio em que tinha de adormecer primeiro do que ele, caso contrário, ia ser uma noite de sofrimento e de tortura do sono. Para piorar a situação, o meu pai é daquelas pessoas que mete nojo a pessoas como eu que têm dificuldade em adormecer e, passados dez segundos de colocar a cabeça na almofada, começavam as obras sem alvará. Respirava fundo e tentava abstrair-me do som e concentrar-me na minha respiração, mas nada. Levantava-me e mandava-lhe com uma almofada mesmo na cabeça e deitava-me rápido. Ele acordava em sobressalto e voltava a dormir. Havia ali uma janela de oportunidade de um a dois minutos de paz em que tinha de conseguir adormecer. Normalmente, não conseguia e o meu desespero era tão grande que quando o meu pai parava de respirar devido à apneia do sono que tinha, eu ficava a pensar que se ele morresse ali nem tudo seria mau. Agora, sempre que vou de viagem e fico em hostel de quarto partilhado os meus melhores amigos são os tampões para os ouvidos. Isso e uma almofada na cara dessas pessoas até deixarem de respirar. Se o Ted Bundy, famoso psicopata americano, utilizasse como defesa aquando do julgamento por matar dezenas de prostitutas o argumento: «Senhor juiz, matei sim, mas elas não paravam de ressonar!» eu compreendia-o.

Pessoas a conduzir encostadas a mim
Só queria ter um carro com a traseira reforçada e travar a fundo sempre que isto acontece. Se vou na esquerda a ultrapassar, por vezes já um pouco acima do limite de velocidade, e vem um anormal que se encosta a mim a dar-me sinais de luzes, desculpem, mas vou ignorar. Vou, até, abrandar a marcha e, se me apetecer, vou acender as luzes de nevoeiro traseiras para ele pensar que estou a travar e se assustar. Não, meu palhaço, não me vou desviar para a direita só para tu me passares e ganhares 100 metros para chegares mais rápido trinta segundos ao café. Temos pena. Estrebucha à vontade. Gesticula qual intérprete de língua gestual com tourette. Faz os sinais de luzes todos que quiseres. Daqui só saio quando me apetecer ou deixar de haver carros à minha direita. Se te armares em campeão e tentares ultrapassar-me pela direita sou menino para acelerar só para não te deixar passar. Isto agora tornou-se pessoal e vou fazer do objectivo do meu dia irritar-te ao máximo. Estimo que te espetes num poste e faleças. A sério que sim. Ia rir-me.

Pessoas que falam alto ao telemóvel
Uma das grandes desvantagens dos transportes públicos é o facto de estarem cheios de pessoas. O mau odor corporal não é nada ao pé de pessoas que acham que toda a gente está interessada nas conversas deles. As pessoas estão longe, mas não precisas de gritar para que te oiçam. Chama-se tecnologia. Claro que são sempre conversas de merda ditas por labregos e labregas com alma de peixeira. Nunca vão ouvir alguém a falar alto ao telemóvel a dizer «SIM, MAS ESSA TEORIA JÁ FOI COMPROVADA POR DARWIN! ESTOU-TE A DIZER QUE SIM! JÁ MUITOS FILÓSOFOS TINHAM TEORIZADO SOBRE ISSO ANTES!» Claro que não, normalmente são conversas sobre se o facto da Kátia ser uma porca que comeu o Sandro, namorado da Sheila. Para além desta gente que o único propósito no mundo é a poluição sonora, ainda temos as que ouvem música com o telemóvel sem auscultadores. Era obrigá-los a ouvir a Maria Leal a cantar no duche durante dez horas, dentro de um poliban, nus e encostados a ela, também nua. Imagino sempre uma narração do National Geographic quando vejo um destes primatas a entrar no autocarro: «lá vem um mitra, espécie autóctone da Amadora, com o seu andar característico de quem foi mordido na canela por um crocodilo. Em homenagem, pavoneia-se com um boné branco com logótipo da fera que o lesionou. Nas orelhas, traz brincos com brilhantes para ofuscar os predadores e o pica. Saiu à rua de fato de treino porque está sempre pronto para fugir da merda que faz. Para além da bolsa de cintura que tem ao pescoço, qual são bernardo do gueto, carrega um telemóvel no qual toca as suas músicas preferidas. Essas músicas nunca são Led Zeppelin ou Queen, são sempre músicas de merda que ele acha que as outras pessoas devem ser obrigadas a ouvir. O mitra, infelizmente, não é uma espécie em vias de extinção.» Era espancá-los com um pau de selfie com um Nokia 3310.

É isto, já desabafei. Se sentem as mesmas dores não deixem de partilhar e de deixar nos comentários outras coisas que vos estragam o dia.
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