31 de maio de 2016

José Cid e os tribunais das redes sociais



Se calhar já foi tudo dito sobre este assunto e eu já chego tarde à festa, mas apeteceu-me de qualquer forma opinar sobre a nossa polémica das redes sociais que envolve o José Cid e os Transmontanos.

O Facebook está sempre inflamado com alguma coisa, numa espécie de doença venérea crónica, ou como o interior das coxas de um obeso no Verão.

Nem com like na página do Halibut e do Bepanthen o nosso feed deixa de estar com uma inflamação diária. Para os menos atentos, mas talvez mais felizes, uma entrevista de um programa do Canal Q feita há 6 anos ficou viral onde José Cid apelidou os transmontanos, e passo a citar, de: «pessoas medonhas, feias, desdentadas», entre outros mimos. E pronto, instalou-se o caos! Pessoas ofendidas, pessoas revoltadas, e pessoas, que muito possivelmente em Janeiro de 2015 tiveram uma fotografia de Je Suis Charlie no perfil do Facebook, a ameaçar o nosso Tony Ramos de pancada e falecimento à base da mesma. 

As pessoas têm direito a ficar ofendidas e a ofender de volta. Há vários insultos que podem ser utilizados neste caso e deixo algumas sugestões que podem utilizar sem pagar direitos de autor:
  • José Cid, tu chamares feio a alguém é o mesmo que uma prostituta dizer que o Tinder é para badalhocas!
  • José Cid, vês mal de um olho, mas a julgar pelas tuas músicas não ouves bem de nenhum dos ouvidos!
  • José Cid, esse capachinho parece um esquilo nascido em maior consanguinidade  do que a minha família aqui de Trás-os-Montes!
  • José Cid, o macaco da tua música é da tua família? A depilação já chegou a Trás-os-Montes há uns anos!
Qualquer uma destas abordagens seria aceitável. Agora, as pessoas não têm direito a ameaçar de morte quem lhes chamou desdentadas. Até porque é crime e pessoas com pouca dentição são uma espécie de iguaria na prisão.

E tanto alarido porquê? Bem sei que as pessoas na Internet reagem a quente, neste caso a requentado seis anos depois, mas imaginem que um gajo feio, zarolho, de capachinho e que se veste como uma camionista lésbica dos anos 90 vos abordava na rua e vos chamava feios e medonhos. Ficavam ofendidos ou riam-se com a ironia da situação? O José Cid já veio pedir desculpa, mas esqueceu-se que o perdão é divino e não transmontano.

Como havia raiva que chegasse para dois foram, depois, ameaçar o Nuno Markl por se ter rido das declarações pategas do José Cid. Não foram expressar a sua indignação, foram ameaçar de porrada e de morte. Esta gente come fezes da sanita com ao auxílio de conchas da sopa? Quem é que ameaça um humorista por se ter rido, ou sorrido, das patetices que um marreta diz? O Markl veio pedir desculpa por ter mostrado os dentes, justificando que isso não significava que concordava com as declarações patetas do Cid. Agora, muita gente está a cair-lhe em cima por ter pedido desculpas dizendo que não o devia ter feito e que isso é dar a vitória aos justiceiros do teclado. Por isso, acho que ele devia pedir desculpas por ter pedido desculpas, só para fechar o círculo, ou o continuar a alimentar de forma viciosa. Por um lado, acho que as desculpas devem ser utilizadas não para conter fúrias ou apaziguar gente ofendidinha, mas sim quando se acha que se tem culpa de algo. O Markl sabe que não teve culpa de nada. É humorista e estava ali nessa condição, se fosse um pivot de informação, talvez ficasse mal soltar um sorriso perante tais afirmações, agora assim? Pedir desculpa para quê? Mas bom, isto sou eu a falar que não sou uma celebridade sujeita a estas pressões e percebo o porquê das desculpas dele.

Já todos pedimos desculpa às nossas namoradas só para as calar e não termos de dormir no sofá, mesmo achando que tínhamos razão.

Ainda tenho esperança de que o Markl faça outro post a dizer «Peço desculpa mais uma vez a todos os que ficaram ofendidos e me vieram insultar e ameaçar! Peço imensa desculpa por não vos ter mandado a todos para o caralho. Falha minha.», mas esse estilo não é o dele e, provavelmente, ainda bem.

As redes sociais são os novos tribunais da inquisição onde todos são juízes de bancada. Faz parte, todos os energúmenos que viviam sozinhos porque ninguém os aturava passaram a ter uma voz activa, mas só a usam para as coisas fúteis. Para tal, proponho uma espécie de acordo ortográfico para que os botões e as acções do Facebook reflictam a sua principal função que é julgar e ser julgado:


Não estou contra quem se indignou porque acho que as declarações do José Cid foram palermas e descabidas. É óbvio que em Trás-os-Montes há pelo menos dez pessoas que têm os dentes todos e generalizar como ele fez é parvo. Não era uma piada, era um comentário e uma opinião, ainda assim gostava de saber se entre os ofendidos não estará gente que já se riu com comentários sobre a vesguice do Zé e o seu esquilo morto de estimação a imitar cabelo. Por isso, os transmontanos e os outros que não se revêem naquela opinião, tal como eu, têm todo o direito em achar que ele é um palerma. Têm direito em sentir-se ofendidos, embora ficar ofendido seja sempre uma escolha pessoal, mas partir para a ameaça e perder tempo em manifestações é só de quem tem pouco sexo em casa. Se ele dissesse que todas as pessoas da Buraca são feias e medonhas, eu ria-me, não metia a carapuça, e pensava «Eu não sou, mas ya, anda por aqui cada camafeu...». Resumindo e concluindo, não é Trás-os-Montes que está cheio de pessoas atrasadas, é mesmo Portugal inteiro. Felizmente, não são a maioria, mas basta um gajo bêbedo a gritar à noite na rua para fazer barulho e chatear a maioria que tenta dormir descansada porque tem mais do que fazer no dia seguinte de manhã.

Agora, a única forma dos justiceiros do Facebook acalmarem depressa, seria descobrirem que o gorila abatido é, afinal, o José Cid todo nu. Aliás, o José Cid só seria mais odiado se tivesse maltratado um cão bebé, tivesse afirmado que a culpa de uma mulher ser violada é dela, ou se tivesse revelado spoilers do Game of Thrones. A última poderia desencadear a terceira guerra mundial!
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29 de maio de 2016

Passei 4 dias sem Internet, sem rede, e sem TV



Lembram-se da última vez que passaram quatro dias sem rede no telemóvel e sem Internet? Já há muito que não me alheava do mundo digital durante "tantos" dias. Fui passar o fim-de-semana prolongado à Serra da Lousã, numa aldeia de xisto, e mal cheguei percebi que não havia rede de telemóvel. Nada, pauzinhos só os dos ramos quebrados das árvores que tanto jeito dão para acender a lareira, mas que não servem para atualizar o mural do Facebook. Não havia nenhum café com Internet e para me deslocar até à civilização teria de fazer um caminho de curva e contracurva de vinte minutos de carro. A minha primeira reação foi «E agora? Vou ter de conversar com a minha namorada? E se não temos nada em comum e só o descobrir agora passado uma década?». Não havendo, também, televisão no apartamento, seria o mais perto de que já estivera de ser daqueles intelectuais presunçosos que perguntam «Casa dos Segredos? O que é isso? Não tenho televisão.» enquanto folheiam um livro de Kafka em alemão e ajustam os óculos de massa redondos.

Dia 1º
As primeiras horas foram as piores: os tremores nas mãos sempre que fazia aquele movimento a que o hábito me forçara, de tirar o telemóvel do bolso e o desbloquear só para ver as notificações da vida digital. Nada. Nem uma. Não havia símbolo de novo email recebido, de nova mensagem no Facebook, de nenhuma notícia nos feeds que subscrevo. Nada.

Era como se o mundo tivesse apagado o meu contacto do seu telemóvel, ou como se uma ex-namorada tivesse emigrado para a Antártida e nos bloqueasse no Facebook.

Estiquei o braço pela janela, subi ao telhado de telemóvel no ar, saí de casa e dei a volta à aldeia e nada. Por entre os bons dias de sorrisos rasgados dos moradores, que parecem dar-se bem em viver no obscurantismo do mundo sem rede, vi outro rapaz ao longe, de braço esticado com o seu telemóvel. Olhámo-nos de forma cúmplice e acenamos com a cabeça como quem compreende a dor um do outro. Mais tarde, dei por mim na varanda a contemplar a paisagem sublime do vale, com árvores e verde a perder de vista, e a pensar: «Se, ao menos, pudesse mostrar como isto é bonito a todos os habitantes do planeta Instagram!». Já me contentava com um tweet, uma frase de 140 caracteres cheia de abreviaturas, a dizer «Tou s net, n se preocupem cmg. #semnet #semrede #semtv #cromagnon». Jantámos e degustámos uma garrafa de vinho na varanda ao pôr-do-sol e, sem os olhos colocados nos ecrãs de telemóvel, percebi que a minha namorada até nem é feia. Ah, e descobri que é assistente social.

Dia 2º
Acordei com o chilrear dos pássaros que cantavam depois da chuva, que me havia embalado com o seu ritmo percussionista a bater nas telhas, ter-se recolhido para deixar o sol dar os bons dias. Estendi o braço naquele ritual de sempre que é o de ir buscar o telemóvel, ainda deitado e ensonado, para que ele me diga como está o mundo lá fora. Sem rede não havia más notícias, nem boas. Levantei-me e ao tomar o pequeno-almoço tirei o telemóvel do bolso para ver um vídeo no Youtube… lá tive de ler os rótulos da caixa de cereais para me distrair como fazia quando ainda comia Cerelac em cimento, com grumos, e polvilhada com pó seco por cima. À noite, sem WiFi, mas com estrelas no céu, decidi sentar-me numa cadeira no alpendre e olhar para cima. Lembrei-me, mais uma vez, de quando era puto e fazia a viagem de noite para a Guarda, em que ia com a cabeça na chapeleira do carro a observar o céu estrelado por entre as estradas da serra. Pensava que era o céu que ali, naquela zona, tinha mais estrelas do que o de Lisboa. Há muitos, muitos anos, que não observava assim o céu por mais de dez minutos. De repente, o meu telemóvel tocou! Será que a civilização tinha, finalmente, chegado àquela aldeia perdida no meio da floresta? Será que os deuses ouviram as minhas preces e instalaram uma antena cancerígena ali perto? Não, era apenas o despertador que se tinha baralhado com o facto de não conseguir acertar as horas pela rede. Não se faz.

Dia 3º
Sonhei que o mundo inteiro tinha ficado sem Internet e sem telecomunicações. Acordei aliviado por tudo não se tratar de um pesadelo, mas lembrei-me que para mim essa distopia era, ainda, bem real. O meu intestino pediu permissão para evacuar e foi quando, no gesto de sempre, coloquei o telemóvel no bolso antes de ir à casa-de-banho. Sentei-me com ele na mão, o telemóvel, e lembrei-me: como é que iria conseguir defecar sem aquele que é o melhor dos laxantes que é o de fazer scroll infinito no feed do Facebook e ver merda atrás de merda que as pessoas vão publicando? Tentei jogar um jogo, mas também precisava de acesso à Internet. Optei por ler uma revista e descobri coisas interessantíssimas como o facto da Gigi ter 3 milhões de seguidores no Instagram e que ela e a família são as novas Kardashians. Até as revistas sérias se vêem obrigadas a comentar os fenómenos da indústria do nada que nascem nas redes sociais. Durante a tarde, usei a minha máquina fotográfica que já estava parada há uns tempos, porque agora parece estranho utilizar um aparelho que tira fotos muito melhores, mas que não tem ligação direta ao Instagram. Tirar fotografias com a máquina, descarregar para o PC e editar, para depois publicar passou a ser um esforço demasiado grande para nós. 

Preferimos as fotografias mal tiradas, pixelizadas e queimadas, porque passou a ser mais importante partilhar do que guardar uma boa recordação.

Dia 4º
Acordei e lembrei-me que ainda não tinha carregado o telemóvel uma única vez. Aliás, nem tinha dormido com ele na mesinha de cabeceira como é costume. Tinha ficado na cozinha, abandonado algures, como se de repente fosse menos importante do que o descascador de batatas. Só por descargo de consciência peguei-lhe e vi, novamente, aquela frase no topo: «Apenas chamadas de emergência», como se o simples facto de não ter rede não fosse, por si só, uma emergência. Decerto que num futuro não muito longínquo, haverá uma espécie de INEM para estas ocasiões: o INER, Instituto Nacional de Emergência de Rede, para o qual ligamos a pedir uma equipa de para-técnicos porque estamos sem conexão. Eles virão numa carrinha, com sirenes e que tem prioridade acima das ambulâncias, para nos reanimarem a Internet onde quer que estejamos. Vêm equipados de WiFi portátil para que, caso as manobras falhem, possamos utilizá-lo para dar só aquela olhada no nosso mural e saber se aquela última fotografia que publicámos já chegou aos vinte likes. Aliás, no futuro, todos os pássaros terão um router enfiado na cloaca para que haja Internet mesmo no meio da floresta mais densa. Ou talvez sejam as árvores alteradas geneticamente a dar-nos sinal. Se as árvores dessem WiFi em vez de oxigénio é que veríamos a desflorestação amazónica a abrandar. Encontrei, antes de voltar para Lisboa, uma espécie de oásis no meio do deserto: um café com WiFi! Um euro por meia-hora! Qual toxicodependente em reabilitação negociei comigo próprio se deveria ceder à tentação: por um lado, era tempo suficiente para receber aquela enxurrada de notificações pela qual tanto ressacava; por outro, pagar para ter meia hora de Internet é quase tão decadente como pedir uma seringa emprestada no Bairro Alto às quatro da manhã. Resisti, numa espécie de conexão tântrica, preferi aguardar até chegar a casa e fazer com que a espera aumentasse o prazer. 

Foi já durante a viagem que o meu telemóvel acordou do seu coma e me presenteou com aqueles sons das notificações das várias aplicações a atropelarem-se. Vivi 14 anos sem Internet e já nem me lembro como eram esses tempos. Ficamos enervados e impacientes quando a Internet falha ou está lenta e não tiramos partido da liberdade que pode ser estarmos incontactáveis. Sim, sem Internet não temos forma de, a meio de uma discussão no café com os amigos sobre o nome de um ator ou atriz de um determinado filme, ir ver quem tem razão. Sim, sem Internet não haveria acesso fácil à pornografia e isso seria um mundo triste. Não sou daqueles velhos do restelo que dizem que as novas tecnologias afastam as pessoas e nos tornam antissociais. Trabalho em startups tecnológicas e a Internet desde há muito que faz parte da minha vida profissional e, também, pessoal, mas não há dúvida de que o mundo é cada vez mais instantâneo. Cada vez mais é uma mistura pré-feita em que basta adicionar água para ter um sucedâneo qualquer para enganar o palato. «A mousse é caseira?», perguntamos sempre num restaurante.

Todos preferimos mousse caseira, desde que sejam os outros a fazer por nós.

Contentamo-nos com o instantâneo se isso nos der menos trabalho e desde que fique bem na fotografia instantânea, mas sem ser daquelas de abanar, porque essas dão muito trabalho a partilhar.

Faz bem afastarmo-nos um pouco, pousarmos o telemóvel, e em vez de tirar snaps e fotos para o Instagram com filtros, apreciarmos o mundo com a melhor das objetivas que são os nossos olhos. Largarmos o Twitter e em vez de respondermos monossilabicamente a quem está à nossa volta, termos conversas inteiras com mais de 140 caracteres. Em vez de publicarmos no Facebook a dizer onde estamos, o que estamos a fazer, ou a pensar, absorvermos tudo e depois marcarmos um jantar para contar a quem nos é próximo. Sem likes. Só com partilhas, mas à moda antiga de quem conta uma história. Sem shares. Sem taggar porque quem lá esteve não precisa de ser lembrado. Sem views. Sem emojis, mas com emoções. Sem smiles, mas com sorrisos. Sem filtros. Sem merdas. Caso contrário, no nosso funeral, convocado num evento de Facebook, vamos ouvir: «Vamos sentir a sua falta, tirava selfies como ninguém e fazia tweets tão perspicazes. Era um grande amigo de Facebook, seletivo nos seus likes, e que respondia às mensagens sempre que elas ficavam com o sinal de visto. Sempre fez gosto nas páginas em que eu lhe pedia e chegou a partilhar vários apelos de crianças subnutridas e cães desaparecidos. Era um cidadão digital exemplar, já na vida real nunca o conheci, mas dizem que era um otário. Paz à sua alma e às suas cookies.»

Bom, agora vejam lá se fazem um like e clicam no botão de partilhar porque não há nada mais irónico e paradoxal do que difundir um texto sobre os malefícios da Internet e das Redes Sociais, nelas próprias.
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25 de maio de 2016

Fui ao Rock in Rio... sóbrio



O fim-de-semana passado fui ao Rock in Rio, pela primeira vez. «Deves andar a ganhar bem!» dizem alguns de vós, enganados, porque é evidente que só lá meti os pés porque me ofereceram bilhetes. Eram bilhetes legais ou contrafeitos no mercado negro da Cova da Moura? Não vou, obviamente, estar aqui a falar sobre isso sem a presença do meu advogado. À entrada fui revistado por um segurança, que é eufemismo para dizer que foi a experiência mais próxima com sexo homossexual que já tive. Não desgostei, mas é coisa que não pretendo repetir, muito menos sóbrio. Sempre que há este tipo de revistas e afalfamentos às miudezas a ver se contêm bombas, lembro-me que temos de passar por isto, e pelo princípio de que até prova em contrário somos todos terroristas e más pessoas, porque o mundo é um local de merda. O engraçado é que a maior preocupação na entrada não é em perceber se alguém leva armas ou drogas, mas sim em averiguar se não há nenhum jihadista do tupperware que leva comida ou bebida refundida para poupar uns trocos lá dentro.

Mais depressa se entra no Rock in Rio com uma ponto-em-mola do que com uma baguete de chourição. Prioridades desta nossa sociedade.

Entrei, por volta das 20.30h, ainda não havia assim tanta gente quanto isso no recinto. Sinais da crise, já que toda a gente sabe que os últimos anos têm sido terríveis para os festivais de verão. Já tinha jantado antes de entrar, mas fui dar uma volta para ver o que havia. Qual não é o meu espanto, ao ver que todas as barraquinhas de comida tinham o sufixo «do bairro», «gourmet», ou «teria». Salsicharia do Bairro, Hamburgueria Gourmet, Croqueteria do Bairro mesmo ao lado da Taberna Balsâmica. A comida presunçosa estava lá em força a substituir as antigas e típicas barraquinhas dos cachorros e hambúrgueres congelados a escorrer óleo. Toda a gente sabe que quem já arrotou 69€ por um bilhete tem bem posses para pagar 10€ por um sufixo e umas folhas de rúcula. Além de que faz muito mais sentido num festival ter daqueles hambúrgueres que vêm abertos e que se têm de comer de garfo e faca, de plástico, mas gourmet, do que andar de pé com a comida na mão feito pobre.

Por aqueles lados, andava pessoal vestido de mascote: vi um pão de forma, uma salsicha e um anão. Calculo que fosse da salsicharia gourmet, que tem doses pequenas. O que uma pessoa tem de fazer para ganhar uns trocos. Se os nossos antepassados imaginassem que um dia iria haver pessoas vestidas de cachorro quente para chamar clientes, tinham amputado a própria salsicha para que a espécie não se propagasse. Mas pronto, ali 20€ por 8 horas de trabalho, dinheiro na mão e sem pagar imposto, em tempos de crise tem de se aproveitar senão ainda há gente que diz que as pessoas não querem é trabalhar. Estranho, engraçado e irónico, mundo em que uns se vestem de comida e há outros, muitos, a morrer à fome. Já estou a ver um episódio do «E se fosse consigo?» em que grupos de rapazes que tentam juntar algum dinheiro para as férias de verão, vão passear-se pela África subsariana vestidos de papas de aveia e de frango com muamba, enquanto fazem pirraça às crianças que pensam já estar a alucinar com a subnutrição que as fazem ver alimentos a dançar ao som de jambés.

Bem, deixemos esse imaginário utópico e voltemos ao festival. Dei mais uma volta e vi filas com dezenas de pessoas que se amontoavam! Pensei, «Deve estar ali algum artista conhecido, ou vai começar um concerto importante num daqueles palcos dos hipsters alternativos bué cools!», mas enganei-me redondamente: eram filas de pessoas à caça dos brindes. Sabem aquelas pessoas que chegam ao fim do dia com sacos e sacos cheios de merdinhas de borla que nunca vão usar? É uma síndrome obsessivo-compulsivo que os impele a aceitar tudo o que seja gratuito: canetas? Quero. Blocos de notas com o branding de um banco? Adoro! Fitas, porta-chaves, e anal plugs com a marca de uma agência de viagens? Era mesmo o que fazia falta lá em casa!

São pessoas que alugam o rabo por uma borracha que apaga tinta permanente mesmo que sejam analfabetos.

São pessoas que vendem a própria mãe por um bloco de post-its com várias cores. São pessoas que pagam 69€ para estar uma hora na fila à espera de ter um desconto de 10% no T0 que vão alugar no verão em Abrantes. Havia de tudo, desde barracas para impingirem seguros médicos a pessoas bêbedas que tomam decisões precipitadas, até lojas a vender paus de selfie com desconto de quantidade. O Rock In Rio é muito mais do que música, é uma cidade, não do rock, mas do pop. Vi, também, um stand de uma operadora móvel que se chamava Bundalicious e cujo slogan era «Bundas of the world unite». Está giro, sim senhor, nada conjuga melhor com gigas de dados móveis do que bundas, já que é para ver rabos que serve a Internet. Só achei estranho ver lá raparigas a bambolear os seus glúteos, que juntos não perfaziam mais de trinta anos, enquanto senhores de meia idade observavam de mão no bolso e abanavam a cabeça, de cima, ao som de trap music. Rock In Rio a levar o lema de «juntar gerações» demasiado à letra. Para o pessoal de artes e humanidades, esclareço que quando disse que os glúteos juntos não perfaziam trinta anos, estava a querer insinuar que elas eram menores, já que trinta a dividir por dois dá sempre menos de 18.

Lá pelo meio do recinto andavam rapazes a vender cerveja, com uma espécie de jet pack com uma mangueira para que nunca falte líquido a todas as gargantas esforçadas. Pedi uma, pequena, morta, dois euros. Disse-lhe «Isto está morto!» ao que ele responde, «Mas está fresca!». Fui, depois, comprar uma caipirinha, cinco euros, das pequenas. Pedi e foi-me servida em cinco segundos, o que para os mais inexperientes poderia parecer um excelente serviço, mas para alguém já vivido é sinónimo de que havia sido preparada em série e que estava há horas ali pousada. Provei: suminho de limão… azedo que é para parecer que tem cachaça. A organização do Rock in Rio devia fazer uma vistoria a quem concessiona o espaço porque isto, meus amigos, é um roubo e não é por estarmos perto de Chelas que deveria ser aceitável. Depois de tanta vitamina C, apeteceu-me beber água, mas com medo de ter de pagar três euros por um copo de água do autoclismo dos urinóis, decidi ir aos bombeiros simular um pré-coma alcoólico para que me ligassem ao soro de forma gratuita. Bem-dito estado social! Aprendam com quem sabe que um dia não estarei cá para vos dar estas dicas. Ao voltar vi dois voluntários, ou então eram só duas pessoas que acharam que o colete refletor era a melhor indumentária para ir ao festival, a comerem-se valentemente num canto.

A mamarem-se da boca como dois antílopes que atravessaram o deserto e finalmente encontraram uma poça de água.

Aquelas línguas mexiam-se com o mesmo vigor com que uma empregada de limpeza esfrega os restos de vomitados ressequidos do tampo das sanitas portáteis no fim do festival. Um comilanço que até apetece bater palmas e gritar palavras de incentivo. Não pude deixar de imaginar no paradoxo que seria se a rapariga estivesse a ser forçada a alguma coisa. Já terá uma voluntária sido violada? Já terá um juiz perguntado a um réu «Como se declara perante as acusações de ter violado uma voluntária?». É neste tipo de coisas para as quais a minha mente vagueia de vez em quando.

Já o sol se tinha posto atrás dos prédios do bairro manhoso da Bela Vista, quando o recinto começou a ficar composto, com milhares de pessoas amontoadas a tirar fotografias com flash ao palco. Sabem essas pessoas que acham que o flash do telemóvel gera a mesma luz do que aquela produzida pelo sol? Aposto que as pessoas que tiram fotografias à noite, com flash e à distância, são as mesmas que acendem os máximos quando está nevoeiro. São pessoas que não têm respeito pela bateria do telemóvel nem pelos epiléticos. No entanto, com tanta gente junta, não pude deixar de contemplar o meu redor e pensar na força que a arte, a música, neste caso, tem e na forma em como consegue juntar as pessoas. Pessoas diferentes, brancos e pretos, ateus, católicos e muçulmanos, novos e velhos com uma geração entre eles, de todas as profissões, de várias cidades, apenas com um ponto em comum que os une: o facto de terem 69€ para gastar. Apanhei-vos na curva, não foi? Achavam mesmo que ia falar mesmo de música e das bandas que tocaram neste dia? Acham que alguém vai aos festivais por causa da música? Tenham juízo. No fim, comprei a t-shirt da praxe a dizer «Eu fui.», não porque goste de andar a gabar-me de todos os sítios a que já fui, feito exibicionista pavão, até porque de algumas nunca soube o nome, mas porque sei que vou conseguir vendê-la no OLX por 50€ a algum palerma que não tinha dinheiro suficiente para o bilhete.

Moral da história: só fui porque foi de borla e só voltarei na mesma condição. Vale o dinheiro? Vale, mas só para quem gosta de festivais ou apenas tem ali a oportunidade de ver a sua banda favorita. Não tenho nada contra, até tenho amigos que vão. Depois cortam-se é aos jantares de aniversário porque não têm dinheiro.
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10 de maio de 2016

10 tipos de pessoa nos ginásios


ilustração de movenourishbelieve.com
O verão está ao virar da esquina e os ginásios são a segunda casa de muito boa gente. Esta é uma lista que já muita gente me tinha pedido, mas que temi que fosse um assunto sobre o qual muita gente já falou e escreveu. No entanto, e porque gosto de fazer coisas que já foram feitas mas em melhor, aqui ficam os dez tipos de pessoa irritante que vemos em qualquer ginásio.

O flamingo
O flamingo é um palerma cuja única motivação para ir ao ginásio é sacar gajas. É uma das espécies autóctones aos ginásios mais comuns em todas as geografias. É aquele homem que acha que os únicos músculos que contam são os da cintura para cima, porque são os que sobressaem mais naquela t-shirt com decote em V que ele usa à noite para sair com os amigos bombados. Aliás, ele gosta tanto de decotes que no ginásio utiliza aquelas t-shirts de alças fininhas que lhe expõe os mamilos, qual stripper marota que se passeia pela sala das máquinas. Uma vez um treinador disse-me «Tens de treinar pernas. Não sejas como essas cegonhas que andam por aí que pensam que podem disparar um canhão de uma canoa. Era mirrar-lhes a pila de cada vez que não fazem treino de perna a ver se deixavam de ser otários.» O flamingo vai ter, mais cedo ou mais tarde, hérnias e outros problemas de coluna, já que nunca percebeu a diferença entre fazer um exercício bem feito, e levantar o máximo de peso com um braço, nem que para isso seja preciso dar balanço com as costas todas. A boa notícia para eles é que quando estiverem numa cadeira de rodas, todos os dias vão ser dia de treinar braço.

O adamastor
Por vezes, estamos no ginásio, de auscultadores, concentrados na nossa última série, e ouvimos ao longe um urro digno de um adamastor saído das profundezas do mar. Vemos que é um gajo que parece que está a ser sodomizado por uma manada de antílopes com elefantíase peniana, enquanto faz o seu supino plano com todo o peso que havia no ginásio mais dois amigos sentados na barra a segurar um anão obeso. Ele uiva, ele grita, ele fala consigo próprio a incentivar-se «Vaiiii. Esta é toda tua! Só mais uma campeão!». Só lhe falta bater no peito e arremessar fezes para ser o gorila de peito prateado alfa. Tem as veias da cabeça salientes, num iminente AVC e o treino só foi bom quando dá quebra e se vomita no fim, que é para haver espaço para os dois litros de batido de proteína, creatina e sete bananas panadas a comprimidos de aminoácidos. Uma vez, um adamastor virou-se para mim no final do treino e disse-me, num tom de voz de quem está num ciclo de esteróides que lhe encolheu os tomates e agudizou a voz «Agora a seguir ao treininho, é sempre aguinha fresquinha no shakerzinho para tomar o batidozinho de proteinazinha.» Quase que me ria, mas depois lembrei-me que ele era capaz de abrir o meu crânio com uma mão, qual gorila abre a cabeça do macaquinho filho de outro macho. Por vezes, o adamastor é uma rapariga, que grita e geme, qual Sharapova, enquanto levanta o peso, e aí o único pensamento na cabeça das pessoas é «Coitados dos vizinhos…».

O pausado
O pausado não é aquele que vai pausar ao ginásio. Aliás, vai pausar, mas é porque passa o treino todo a fazer pausas. Pausa para aquela mensagem no WhatsApp que não pode esperar cinco minutos. Pausa para atualizar o estado do Facebook a dizer que está a treinar forte e que está a ficar muito rijo. Normalmente, este tipo de frequentador de ginásio é o palerma que acha que a mensalidade lhe dá direito à exclusividade das máquinas. Mete a tolha numa, e vai usando alternadamente com outra. Faz quinhentas séries e não deixa ninguém alternar com ele porque está a fazer «Superséries.» Num ginásio onde andei andava lá uma modelo conhecida da nossa praça, que passava lá o dia e que fazia constantes pausas, de 20 em 20 minutos, para falar ao telemóvel enquanto fumava um cigarro. É um facto que a ver pelo corpo dela o treino parecia estar a funcionar. A dar na coca e a vomitar a seguir às refeições também eu estava em forma.

O fashion
Há pessoas que vão para o ginásio mais preocupadas em ficar bem nas selfies que vão tirar do que em treinar. São aquelas pessoas que quando se inscrevem no ginásio vão às compras no dia antes: Ténis topo de gama? Check. T-shirt de 60€ com respiradores e merdas a condizer com os ténis? Check. Calção slim fit 50€ com uma lista da cor da t-shirt e dos ténis? Check. Pulso elástico de 30€ a fazer pandã? Claro. Braçadeira para o iPhone? Da cor da lista dos calções? Óbvio. Para além dos preocupados com a moda, há ainda aquelas mulheres só de soutien de desporto, a mostrar a barriga toda, com um calçãozinho curto. Sim, claro que é porque estão mais confortáveis para treinar assim. Sim, óbvio que não é para mostrar a pele toda que podem. Claro, que sim. Sim, nós homens e as outras mulheres acreditamos perfeitamente nisso. Sim, não são umas cock teasers, claro que não, isso são más-línguas das invejosas que gostavam de ter uma barriga assim definida para passear pelo ginásio. Aliás, a maquilhagem que retocaram no balneário antes de irem treinar e o cabelo todo aprumadinho diz que só estão preocupadas em treinar e nada mais. No ginásio onde andava, de bairro, onde só havia seguranças de discoteca, polícias, e criminosos, uma vez entrou lá um casal assim, ele todo equipado de roupa nova de marca, e ela toda maquilhada e a dar tudo. Veio um dos PTs, que naquela ginásio era qualquer amigo do dono que lá estivesse nesse dia, e perguntou-lhes «Vocês vêm treinar ou vão fazer uma sessão fotográfica para a Nike? Isto não é um health club de maricas, é um ginásio a sério.» Não voltaram.

O que vai desistir em breve
É aquele, ou aquela, que quando o ginásio é no 1º piso opta por ir de elevador em vez de usar as escadas. Ironicamente, a primeira máquina que utilizam é aquela que simula que estão a subir escadas. Quem faz isto, invariavelmente, vai desistir ao fim do primeiro mês, mas pagar a mensalidade durante um ano. Anda lá, com um ar triste de quem acabou de deixar cair um gelado ao chão, a pensar que se calhar mais vale desistir da vida já e não prolongar o sofrimento e as falsas expectativas de um dia conhecer os seus abdominais. Estas pessoas optam sempre por ginásios em centros comerciais para mal acabem o treino conseguirem afogar as mágoas num Big Mac. Quando desistem e lhes perguntam o porquê, respondem sempre «Ginásio é muito monótono para mim. Prefiro desportos de grupo», isto enquanto estão com um grupo de amigos no Chimarrão.

O PT
Aqueles rapazes que se passeiam pelo ginásio de t-shirt fluorescente e cujo único trabalho é corrigirem a postura a raparigas jeitosas. Pode estar um gajo com espondilose a fazer shoulder press com 10kg de um lado e 30kg do outro, que eles vão é ter com a rapariga que está a fazer agachamentos sem peso, para lhes colocarem a mãozinha no fundo das costas e na barriga e dizer «Meu bem, assim faz dói-dói na coluna.». Se um homem lhes faz alguma pergunta sobre o treino, só respondem se ainda virem que há hipótese de lhes sacar umas aulas privadas, caso contrário dizem que é marcar a avaliação física na recepção. Os monitores de ginásio são os novos hospedeiros de bordo: usam a profissão para sacar gajas; trabalham por turnos; julgam-se importantes porque têm uma farda cara, mas no fundo são empregados de mesa como os outros.

Obikwelu
É aquele que paga 65€ no Holmes Place para usar apenas a passadeira. Passa mais de uma hora a correr, toma banho e vai embora. Corre, por norma, de 6 a 10 km, que é exatamente a distância que fez de carro para ir e vir do ginásio. Faz isto porque quando lhe perguntam se faz desporto, fica muito melhor dizer «Ya, ando num health club.» do que dizer «Sim, corro até ao ginásio e depois volto para trás. Nem entro.». Devem ser as alergias aos pólens das árvores que os fazem trocar o ar puro dos jardins pela passadeira estática a ver as Tardes da Júlia. Este tipo tem ainda outra característica que é a de meter a passadeira em velocidade máxima se alguma gaja boa for treinar ao lado dele.

O fotojornalista
Este tipo é aquele que acha que todas as idas ao ginásio merecem ser documentadas com uma fotografia, antes e depois do treino. São pessoas que fazem o treino, não por séries e repetições, como a maioria das pessoas, mas por número de fotografias tiradas. Supino? 15 selfies. Leg press? 12 selfies. Passadeira? Um snap. Existem várias razões para se tirarem fotografias no ginásio:
  1. Exibicionismo.
  2. Narcisismo.
  3. Ambas as anteriores.
«Ah, mas é para ver o antes e o depois.». Mas para que é que queres ver o antes? Estás uma merda, pronto. Quando não estiveres uma merda, não precisas da foto antes, só precisas de saber que estavas uma merda. Estou a brincar: a maioria dos fotojornalistas já está fit! Nenhum gordo tira foto todo suado que nem um leitão com hipertireoidismo para partilhar nas redes sociais.

O aborígene
Já viram aquelas reportagens em que mostram um espelho a alguém de uma tribo perdida na floresta que nunca teve contacto com outros humanos? Eles olham para o próprio reflexo como se fosse feitiçaria e a seguir espetam uma flecha na cabeça do homem branco e comem-no de cebolada? Este tipo é aquele que se gala ao espelho enquanto treina, observando no reflexo cada um dos seus músculos contraídos enquanto leva o haltere até ao peito. Fica ali, maravilhado, levanta-se e olha-se ao espelho, fletindo um braço de cada vez, fazendo poses de culturista do Fogueteiro, quase a desejar-se sexualmente, a fazer crer que se aparecesse ali um irmão gémeo era capaz de lhe mamar da boca como gente grande.

A Ana Malhoa
A Ana Malhoa é aquela mulher que tem músculos que nós nem sabíamos que as mulheres tinham. Tem mais abdominais, bíceps e quadríceps do que a maioria dos homens que lá anda e tem maxilares como a mulher do Figo só que em mau. O pior é quando vamos para uma máquina da qual ela acabou de sair, vemos o peso que lá está, e pensamos «Se calhar consigo não diminuir e não fazer má figura.». Após a primeira repetição percebemos que foi erro crasso e retiramos metade do peso sem que ninguém veja e depois racionalizamos para não sentirmos a masculinidade inferiorizada «Hoje quase nem dormi. Turbinada com testosterona também eu.»

O pavão do balneário
Este é um tipo sobre o qual já escrevi, mas que merece novamente destaque e uma menção especial nesta lista. É aquele tipo de homem, já que nas mulheres nunca pude comprovar se também existe, que andam pelo balneário a pavonear o seu pescoço de peru. Sou eu que sou estranho em achar que não há necessidade de andar todo nu num balneário a manter diálogos, com as pendurezas ao léu? Passeiam-se nus a meter conversa como se tivessem a apresentar a genitália como os pais apresentam os filhos a ver se ficam amigos: «Vês trombinhas, este é o Hulk, este é o Pequeno Pónei, e aquele é o que já te falei: o Alexandre, o grande.» O andar nu ainda é o menos, agora fazer a barba sem uma toalha à volta» Porquê? Quem são estes naturistas de balneário? Já vi, com estes olhos que a terra irá comer, um gajo de perna alçada em cima do balcão do lavatório, com o secador numa mão, a secar a sacola dos girinos. Menos, pessoas. Muito menos. Tapem essa merda que eu nunca sonhei ser urologista.


Sim, foram onze tipos, existem tantos que dá para fazer uma segunda parte. Podem deixar nos comentários que depois penso nisso, não se esqueçam de partilhar e de identificar nos comentários os vossos amigos que se inserem num ou mais destes tipos.

PS: Quem é do Porto, Caminha e Chaves, dia 12, 13 e 14 de Maio há stand up comedy nas vossas terras. Mais informações e bilhetes aqui.
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4 de maio de 2016

Diferentes tipos de mães


Este texto era para ter saído no dia da mãe, mas como dia da mãe é quando um filho quiser e não tive tempo antes, só agora é que acabei. Dizem que mãe há só uma, mas há vários tipos diferentes de mãe.

A porteira
É aquela mãe que quer saber tudo. Cusca-te as gavetas em busca de mortalhas, vasculha as tuas conversas de Facebook, e vai ver-te os dossiers da escola a ver se andas a tomar notas ou a desenhar pénis e corações. É aquela mãe que quer saber tudo da tua vida e que quando chegas à puberdade fica à espera que lhe contes quando te nascer o primeiro pelo púbico. É a mãe que sustem a respiração quando estás no quarto com alguém para ver se ouve as conversas, algo comum em todas as mulheres nas mesas de café para cuscar a conversa do lado. Sabe as notas primeiro do que tu porque ligou para a escola a perguntar, acha que se deve meter nas tuas relações amorosas e ligar à tua namorada a dizer-lhe para ter paciência contigo e que no fundo até és bom rapaz apesar das mortalhas que encontrou e de andares no Facebook a falar com o Vasco sobre o tamanho das mamas da Carla.

A galinha
A mãe galinha toda a gente sabe que tipo é. Para além de também quererem saber tudo da tua vida, fazem questão de te tratar como uma peça de arte rara ou uma cristaleira da Vista Alegre que à mínima corrente de ar vai ter uma pneumonia e morrer engasgado na própria expectoração. Como identificar o filho de uma mãe galinha? Fácil, são os miúdos que em pleno Agosto estão de calção e t-shirt, mas com um casaquinho de malha no braço. Foram as suas mães galinha que os obrigaram a sair de casa preparados para a eventualidade de uma frente fria do Polo Norte atacar sem avisar. Este tipo de mãe é bem-intencionada, como todos, quase, e não percebe que está a ser uma espécie de incubadora de xoninhas que vão ter vergonha de ligar para a Telepizza ou de pedir um copo de água no café sem a ajuda da mãe. Para além de xoninhas ficam, muitas vezes, hipocondríacos porque desde novos se habituaram a ver a mãe reagir a um espirro deles como se acabassem de ter recebido um teste de HIV positivo. Por vezes, a mãe galinha tem tiques salazaristas e, embora todas as mães tenham um pequeno ditador dentro delas, não no sentido literal como a mãe do Hitler teve durante 9 meses, uma mãe galinha e ditadora faz o serviço militar obrigatório parecer ainda mais obsoleto.

A quessafoda
Este tipo é a antítese do anterior e é aquele tipo de mãe que faz com que as outras pensem que ela é uma espécie de Kate Mccann. Deixa os filhos comerem peças de fruta que caíram no chão, não protege as quinas das mesas com borrachas para que eles não faleçam com uma têmpora rebentada, e não anda com os filhos de mão dada para atravessar a estrada. A minha mãe tinha uma amiga que era assim e sempre que íamos de férias as filhas delas perdiam-se durante umas horas. A minha mãe entrava em pânico e a amiga dela calma que nem uma idosa acamada e sedada. «Ela aparece», dizia, enquanto a filha já podia estar em Budapeste a acabar o mestrado. Apareceu sempre, é um facto. É também aquele tipo de mãe que ao chegar a uma falésia deixa os filhos espreitarem lá para baixo, dando a sensação que por ela ser mãe foi um erro que está a tentar remendar. Os filhos destas costumam ser adultos muito mais desenrascados e independentes. Os que sobrevivem, claro.

A barraqueira
É aquela mãe que vai fazer escândalo à escola quando o seu mais do que tudo tem uma nota que ela acha injusta. A mãe barraqueira pode ser uma mãe qualquer, de todos os estratos sociais, credos ou etnia, e por vezes não se imagina que a aquela senhora bem vestida é capaz de se transformar numa espécie de belzebu cuspidor de vernáculo para defender a sua cria. A barraqueira envergonha os filhos até chegarem àquela idade em que eles próprios se tornaram barraqueiros. O seu filho nunca tem culpa de nada na escola, porque os filhos das mães barraqueiras são perfeitos, mas só fora de casa. Dentro do lar é que são umas bestas, mas ai de quem vier de fora dizer que o seu rebento tem a inteligência de um filho de primos direitos! Ela vai logo à escola armar peixeirada «0% no teste? Está a querer dizer qeu o meu Sandro é burro? Escrever o nome bem não conta? Só errou no apelido! Você é que não sabe ensinar! O meu Sandro com 6 anos já fazia cocó no penico, até a fazer o pino!» sem ela própria perceber que o filho, assim, iria borrar as costas todas.

A inconveniente
As mães deste tipo são peritas na arte antiga da vergonha alheia. A minha mãe, há uns anos, foi falar com uma rapariga em Lagos que vendia cachorros porque eu tinha comentado, a título de curiosidade, que já a tinha visto com um conhecido meu na noite em Lisboa. A minha mãe, só porque sim e porque não tem muita noção, decidiu perguntar-lhe:

- O meu filho diz que já a viu na Damaia.
- ... como? - diz ela completamente vermelha.
- Na Damaia, o meu filho diz que a viu lá.
- Não, eu nunca fui à Damaia... - diz ela como quem foi apanhada a roubar.

A minha mãe, para além de ser totó, confundiu Lisboa com Damaia e, pela cara da rapariga, tinha efectivamente ido à Damaia, mas para ir para o banco de trás do automóvel do meu conhecido, daí o pânico de eu a ter visto na Damaia: ou aquela senhora inconveniente era a mãe de um fuck buddy dela, o que seria estranho, ou era a mãe de um voyer da Damaia que ronda os carros embaciados à noite.

A que não fala de mais nada
Normalmente é a mãe que acabou de ser mãe pela primeira vez e finalmente encontrou um sentido para a sua vida. Não fala de mais nada. Fala de fraldas com um brilho nos olhos, de tipos de leite qual enólogo que só pelo cheiro sabe se é colheita de mama de 83 ou 84, e do quanto a sua criança é inteligente. Muito mais inteligente do que as outras todas mesmo que a primeira palavra tenha sido um som impercéptivel aos três anos de idade, enquanto comia macacos do nariz. Todas as mães são um pouco assim e não percebem que o interesse dos seus petizes tende para zero aos olhos dos outros. E, já agora, ninguém está interessado em ver as mil fotografias iguais que tiraram ao primeiro banho do bebé. Aliás, quando alguém quiser ver as mil fotos do banho, com minúcia, enquanto lambem os dedos para folhear o álbum, ou fazer swipe no ecrã do smartphone, se calhar é melhor não deixarem a vossa criança aproximar-se dessa pessoa.

A Peter Pan
Um estilo muito comum nas mães de concorrentes de reality shows que são aquelas que acham que os cinquenta anos mal gastos não se notam quando se vestem como adolescentes. Usa a roupa das filhas, usa palavras como "bué", e fez o workshop de maquilhagem do Batatinha. Vai sair à noite com as filhas e acaba por ser levada em ombros do Plateau. «A tua mãe é muita fixe!» dizem os colegas, enquanto os filhos desejam descobrir, um dia, que foram adoptados.

A MILF
É a mãe jeitosa. A mãe que nenhum filho gosta de ter porque não quer imaginar que os amigos também gostariam que ela os tivesse amamentado, se possível até à idade adulta. Uma forma de se saber que os nossos amigos podem olhar para a nossa mãe dessa maneira, é ver quem tem o melhor computador ou consola para jogar jogos e em que casa é que normalmente o grupo sugere que se vá estudar. Exemplo: O João tem uma Playstation topo de gama, o Pedro uma XBox última geração, o António tem um PC todo artilhado e cheio de jogos, e o Rui tem mikado. Quando os primeiros três sugerem que se vá estudar a casa do Rui, é porque olham para a mãe dele com um ar de quem gostava de brincar lá em casa com outro pauzinho que não só os do mikado.

A tia
Espécie autóctone da Linha de Cascais, desde há muito deu origem sucedêneos amiúde, mesmo em bairros sociais. É a mãe que escolhe um nome como Martim, Bernardo, ou Salvador para o filho, e Pureza, Benedita, ou Matilde para a filha. Trata-os, invariavelmente, por você, inscreve-os na equitação, e nunca diz escola, diz sempre colégio. Veste-se bem, mesmo que coma massa com atum todos os dias para sustentar as aparências. Tem um Mercedes SLK que o marido lhe ofereceu no dia em que a quis convencer a casar com ele. Gaba as notas dos filhos a todas as amigas, mesmo que eles precisem de ter explicações para passar a Estudo do Meio ou a Métodos Quantitativos.

A Facebook-Mãe
Uma epidemia do séc. XXI! O Facebook trouxe consigo, para além do cyberbullying, um problema muito maior que são as mães que o usam. Trememos da primeira vez que vemos aquele pedido de amizade ou quando ela nos pede ajuda para criar um perfil de Facebook. Dizemos-lhe que não vale a pena, que depois ela não vai saber usar, e que não se passa nada de interessante lá dentro. Sugerimos-lhe o Hi5, o MSN, ou o Orkut, qualquer uma em que nós já não tenhamos actividade porque sabemos que vamos ter de apagar todas aquelas fotos de festas em que estamos com ar de quem caiu no caldeirão da sangria, ou de quem foi à piscina sem óculos e tem os olhos vermelhos por causa do cloro. Como se não bastasse o controlo, sabemos que ela vai fazer várias destas coisas e que nós sempre que as vimos vamos considerar bloqueá-la:
  • Partilhar citações em português do brasil ao género «Super-mãe é aquela que sai vestindo capa e tem por baixo um avental sujo de goiaba.»
  • Partilhar textos do Pedro Chagas Freitas com emojis daqueles cãezinhos que choram;
  • Vai comentar posts teus a dizer que és muito lindo. Sempre em maiúsculas que é para ser mesmo verdade e sentido;
  • Vai publicar fotografias tuas de quando eras novo. No banho e naquele dia em que faltou o gás lá em casa e a água estava fria.
O pior de tudo é quando tentam convencer o teu pai a fazer um perfil conjunto com ela e fazer-te ponderar o corte de relações familiares.


Muitos mais tipos haveria para listar, mas deixo esse trabalho para quem quiser acrescentar nos comentários. É de notar, também, que a maioria das mães acumula dois ou mais tipos. Um bem-haja a todas as mães, especialmente as solteiras, por terem filhas com daddy issues que são as mais fáceis de engatar nas discotecas.
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2 de maio de 2016

Como escolher um curso superior?



Falta pouco para que milhares de jovens comecem o que para muitos é uma espécie de marcha lenta em direcção ao abismo, ou à emigração: os exames nacionais com vista a ingressarem no ensino superior. Muitos vão para os cursos que sempre sonharam, seja porque sempre foram alunos aplicados ou porque querem ir para um curso que só precisa média de 11; outros vão para as segundas e terceiras opções e arrependem-se, agora, de não ter levado o secundário a sério; há outros, ainda, que vão para um curso qualquer só porque os pais e a sociedade lhes meteram na cabeça que ter canudo é automaticamente sinónimo de ser alguém na vida. Como gosto de ajudar, decidi fazer este texto que não é mais do que serviço público baseado em dados reais referentes a 2010-2014, com os quais decidi fazer uma lista dos melhores e piores cursos com base nas taxas de empregabilidade.

Cursos com maior empregabilidade
***

Medicina
Continua a ser aquele curso com grande taxa de empregabilidade até porque a ordem dos médicos não quer abrir mais vagas porque são uns coninhas que querem tudo para eles. Diz-se que é mais difícil lá entrar do que sair, e só entram os muito inteligentes ou muito marrões, mas burros que nem calhaus. Continuamos a só deixar ser médico quem tem uma média alta e, assim, continuará a ser um curso para o qual muita gente vai mais por estatuto do que por vocação. Continua a ser um bom curso para engatar gajas e fazer com que as sogras gostem muito de nós.

Engenharia Informática
Também com grande taxa de empregabilidade, ao contrário de medicina, é relativamente fácil entrar, mas sair de lá é que só com alguns cabelos brancos e alterações nefastas do sistema nervoso. Já escrevi sobre este tema aqui e aqui, por isso não vou alongar-me mais do que este resumo: vão ganhar mal à hora e ser explorados em muitas consultoras, e nunca vão saber o que é o convívio com mais do que duas ou três mulheres no curso e no local de trabalho. Vão também ser chateados por todas as tias para que lhes arranjem o computador que está lento.

Engenharia Electrotécnica
Igual ao de cima só que vão saber arranjar máquinas de lavar e desencravar o papel da impressora. Se vão com o sonho de construir gadgets, fiquem a saber que vão, também, acabar por ir trabalhar numa consultora a bater tecla o dia todo.

Gestão
Gestão é fixe porque é aquele curso que não tem uma média alta e é fácil de tirar. É o curso preferido de quem sabe que vai ter uma boa cunha para ir administrar uma empresa depois de um estágio lá fora só para parecer que não tem o CV vazio e ninguém desconfiar que ele só entrou para um cargo de chefia porque é da família do patrão. É um bom curso para quem quer criar uma empresa, sendo que de pouco lhes vai servir todas as bases que aprenderam quando a escolha de negócio irá recair, invariavelmente, sobre uma hamburgueria gourmet ou uma cachorraria do bairro.

Enfermagem
O curso para onde vão as pessoas que não tiveram média para entrar em medicina. Nem na dentária. É bom para depois casar com um médico rico, mas está mau em termos de ordenados, embora continue a ter uma taxa de empregabilidade elevada. Só não há mais trabalho porque os enfermeiros gostam de acumular empregos e roubar trabalho aos colegas, mesmo depois de reformados. É um bom curso para quem não gosta muito de sol e sempre quis viver numa monarquia e, por isso, cada vez mais enfermeiros emigram para Inglaterra.

Turismo
Somos o país do Turismo porque somos muito melhores a receber dinheiro que vem de fora do que a criar e gerar o nosso. Por isso, o turismo continua em crescimento e com cada vez mais necessidades de mão-de-obra qualificada. Porém, quem tira cursos de turismo vai, normalmente, distribuir flyiers que dão direito a um shot de sumo com a primeira bebida.

Cursos com menor empregabilidade
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Ciências da Comunicação
Quem vai para estes cursos anseia ser jornalista ou pivot de informação, mas desde logo percebe que só tendo boas mamas ou boas cunhas é que chegará a um jornal ou televisão de renome. Acabam a gerir uma página de Facebook.

Filosofia
A sério? Estás a ponderar escolher filosofia? Porquê? Leste a Alegoria da Caverna do Platão e gostaste? Queres ir para professor de filosofia para poderes ser passado da cabeça e toda a gente achar normal? Toma juízo e vai antes tirar um curso técnico de electricista.

Hotelaria e cozinha
O curso para quem gosta de ver o Master Chef e acha que faz uma massa com atum soberba. Ser chef virou moda, há uns anos, com o Gordon Ramsay e todos anseiam ser os próximos cozinheiros que se intitulam chefs só porque fazem comida presunçosa e cobram muito mais do que o que ela vale. Na verdade, vão ter uma vida de cão, com horários horríveis e uma pressão constante, tudo isto sem ganharem nada de especial. A vantagem é que não vão precisar de muito dinheiro porque comem no restaurante e não terão tempo para ter vida social onde gastar o ordenado.

Sociologia
O desemprego é tanto que o mais perto que os licenciados de sociologia estarão de trabalhar na área é num call center. Sim, vão ter muitos assuntos de conversa para tornar as madrugadas interessantes, mas só terão os bêbedos da tasca a aturar-vos porque os vossos amigos foram para casa cedo porque ao contrário de vós, têm trabalho no dia seguinte.

Economia
O país bem precisa de bons economistas, mas o emprego nesta área também está em crise. No entanto, vai ser bom ter noções de economia para saber gerir melhor o subsídio de desemprego e começar a guardar bolachinhas de água e sal para a reforma.

Psicologia
O curso escolhido por pessoas com pancada na cabeça e que pensam que vão finalmente perceber o que lhes vai dentro da alma. Vão achar que conhecem bem a mente humana e que são muito bons a jogar Poker. Acabam por ter sempre várias desilusões amorosas porque interpretaram mal os sinais e a única sequência que vão ter é a de candidaturas espontâneas rejeitadas.

Marketing
Há quem diga que será um dos cursos com mais saída nos próximos cinco anos, mas se calhar é tudo marketing de quem está interessado em receber o dinheiro das propinas. Devem pensar que eu não os topei.

Professor
Está mau para os professores. Ordenados baixos e toda a gente os odeia porque acha que eles protestam demais por melhores condições de trabalho. Quem quer mesmo ser professor que vá para a Finlândia em vez de querer educar putos ranhosos cá em Portugal.

Arquitectura
Longe vai o tempo em que os pais tinham orgulho que os filhos fossem arquitectos. Hoje, a taxa de desemprego é altíssima e já só lhes valem as piadas com o Tomás Taveira. Muitos dos arquitectos licenciados em Portugal, a única coisa que vêem nascer da sua criatividade são os móveis do IKEA que empilham no armazém.

Direito
Direito é aquele curso que continua a receber centenas e centenas de caloiros todos os anos que sonham ter aquela profissão que vêem nos filmes onde os advogados são sempre pessoal com pinta e que fazem umas alegações em cheias de estilo. Enganaram-vos. Primeiro, apenas metade vai ter trabalho na área; segundo, vão andar a lamber artigos e códigos enquanto o dono do escritório de advogados ganha balúrdios porque vos está a pagar zero euros durante os anos que vão estar como estagiários não remunerados. Aos outros, o direito só vai dar jeito para saberem as leis do Centro de Emprego e saberem os direitos do consumidor quando eles vos exigirem o livro de reclamações porque o Big Mac não tinha pickles.

Línguas
O único uso que vão dar às línguas que aprendem será nas festas de Erasmus e depois para emigrar quando perceberem que foram totós em ir tirar um curso destes. Excepções feitas para o Mandarim e o Árabe, que não só têm procura para intérpretes e tradutores, como será útil quando o mundo for dominado por eles.

Artes
LOL

Cinema
Usas óculos redondos de massa, tens uma camisa aos quadrados e barba hipster e achas que o Tarantino e o Woody Allen são medíocres? Tens um iPhone e achas que os vídeos que fazes nas festas de aniversário são dignos de Kubrick? Então este é o curso para ti. Vais para o desemprego, mas podes queixar-te que é só porque há falta de apoios em Portugal.

Design
Fizeste umas montagens em Paint para o Salão neurótico e achas que era muito fixe fazer do design a tua vida? Está quieto, já toda a gente sabe mexer no Photoshop e no Illustrator. Depois admiras-te que os únicos bonecos que vais montar são na reposição de stock do Toys R Us, com as crianças a olharem escandalizadas para ti enquanto violas uma powerpuff girl de peluche, e as mães dizem aos filhos que é por tua causa que eles têm de estudar para ser alguém na vida.

Engenharia Civil
É aquele curso para onde quem vai quem quer ser engenheiro sem ter de estudar muito e, por isso, no fim, ficam no desemprego. No IST, Engenharia Civil era apelidado de Turismo porque havia o preconceito de que só lá andavam a passear. Talvez fosse inveja por ser o pavilhão que tinha mais gajas. Se queres passar o dia nas obras, vai antes para trolha que tem mais saída.

Ecologia e Paisagismo
Este curso no Politécnico de Viseu tem dois licenciados e dois inscritos no Centro de Emprego. É o único curso com 100% de taxa de desemprego e queria apenas dar os parabéns a esses dois jovens que acharam que ia ser uma boa escolha. Metessem mais tabaco.

Espero que isto tenha ajudado muitos de vós e que partilhem com quem conhecem que está prestes a escolher o seu futuro. Lembrem-se que um curso superior não quer dizer nada e que há electricistas e canalizadores a ganharem mais à hora do que qualquer médico ou engenheiro. Se não sabem o que querem ser e só vão para a faculdade porque é o que vos ditaram como sendo o próximo passo, mais vale tirarem um ano e irem viajar. Sempre é uma forma mais honesta e mais produtiva de chular dinheiro aos vossos pais enquanto passam o dia a beber copos.
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