27 de agosto de 2014

Baza fazer um Meet? Não.



Parece que estão na moda os meets, que é como quem diz encontros. Mania dos estrangeirismos parvings. Um Meet, para quem não sabe, é um encontro organizado através das redes sociais onde têm comparecido algumas centenas de pessoa. Até aqui tudo bem, criançada a conviver e a sair da frente do PC por um bocadinho. O problema é que tem dado merda, deu no Vasco da Gama, no concerto do Alselmo Ralph em Cascais e haverá de dar outras vezes. Aliás acho de muito mau tom a Câmara Municipal de Cascais copiar descaradamente o plano de festas das listas para a Associação de Estudantes da Escola Preparatória da Damaia: Kizomba e porrada. Chegaram até a apelidar de arrastão o que aconteceu no concerto e já agora deixem-me que vos diga que lá nessa escola também costumava haver arrastões, nós dávamos-lhes era outro nome: intervalos.

Para amanhã (hoje para quem está a ler) está marcado um no Colombo para onde foram destacadas várias forças policiais, sendo que é aqui perto de minha casa deve ser boa altura para ir assaltar um balcão do Novo Banco já que a polícia deve lá estar toda a fazer de babysitter de putos ranhosos.

Tenho sentimentos dúbios acerca deste assunto. Por um lado acho bem que o pessoal use as redes sociais para convier no mundo real, acho que faz bem e acho que têm todo o direito de juntar o máximo número de pessoas num local. Por outro lado, como a maioria das pessoas são parvas acaba por dar merda. Ainda assim não se podem proibir, porque que eu saiba o Sr. Salazar já foi, felizmente, para debaixo da terra há uns anos. A solução passa pelo pessoal decente deixar de ir, porque os que vão para armar confusão só lá aparecem se o grupo for grande, já que, invariavelmente, as pessoas que usam estes eventos para ir arranjar problemas e assaltar é cobardolas e tem as pilinhas pequenas. Muitos porque ainda estão na puberdade. No meio disto tudo, se a polícia conseguir identificar claramente quem são os causadores de distúrbios sou a favor que lhes dêem valentes cargas, sejam menores ou não, porque se não lhes deram porrada em casa pode ser que agora ainda se vá a tempo. Agora se não conseguem ver quem foi e começam à bastonada para onde estão virados, como é o normal... mas vale estarem quietos.

Deixo aqui algumas coisas escritas por pessoal nos eventos dos meets no facebook, só para vocês verem o SWAG que por lá anda. Acredito que a maioria não seja assim tão atrasada mental mas eu sou mais sensacionalista que o Correio da Manhã:

Primeiro que tudo aconselho munições para o cérebro, umas vitaminas e um livro de Língua Portuguesa do 5º ano.

A miúda pôs-se a jeito com comentários de oferecida, digo eu que sou antiquado. E quando elas se põe a jeito normalmente atraem pessoal que vale menos que o meu cotão do umbigo. Tristeza de gente...

Cabelinho à beto e a falar à gangsta, enquanto, presumo eu, mete algum tipo de bebida alcoólica na sopa. Beto que come sopinha a beber álcool à bruta e falar à mano di street. Como diz no comentário: "falta de chapadas", eu acrescentaria "com as costas da mão". 

Pessoal com pouca inteligência e muita raiva acumulada que é herói na Internet. 

Pelo menos este anda anda escola. Falta saber quantas vezes reprovou. 

Filha do Dias? Top. Deve ser sem dúvida um pai orgulhoso. Aconselho a não ir de preto que parece que a polícia gosta de arrear mais nos escuros. A filha do dias faz questão de dizer que é vegetariana e não quer beefs.

Já chega que estou quase a bolsar. Retiro o que disse em cima, estive a ver bem e afinal o pessoal que publica nos eventos é 99% mentecapto. Fiquei um bocado racista depois de ver alguns comentários. Quando digo racista é tanto em relação a pretos, como a brancos. Tudo atrasado mental. A juventude está perdida, já dizia a minha avozinha, errou foi por 2 gerações.

Bem e nós, quando fazemos um Meet? Ali perto do Vasco da Gama, levamos todos álcool, comida e armas. Damos tudo aos sem abrigo que lá se juntam debaixo da estação e no próximo meet com gandins eles, bêbedos e de barriga cheia, limpam o pessoal. Fica no ar a ideia.
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26 de agosto de 2014

As melhores bandas de sempre



Dando seguimento a um texto que fiz sobre os melhores artistas e cantores portugueses, aqui ficam também as minhas 10 bandas favoritas estrangeiras. Não são obrigatoriamente as que oiço mais hoje em dia mas são algumas das que me mais marcaram e me acompanharam no meu crescimento enquanto eu descobria a minha heterossexualidade. Para quem não sabe, a heterossexualidade é gostar-se de alguém do sexo oposto, um homem gostar de mulheres e vice versa. Achei que devia esclarecer esta parte para quem lê textos na diagonal e depois vai comentar feito parvo. Bem, vamos lá a isto, por uma ordem completamente aleatória.

Pink Floyd
Um som intemporal, letras geniais e arranjos que só podem ter sido conseguidos com recurso a diversas drogas recreativas. Não é por acaso que é a banda preferida de muita gente para ser ouvida quando se está com uma enorme moca. Seja como for é uma filha da mãe de uma grandessíssima banda do cacete. Únicos.


U2
Foi durante muito tempo a minha banda favorita, o The Joshua Tree é um álbum do catano. Não tenho gostado tanto do que têm feito ultimamente mas ainda assim são dos melhores de sempre. A juntar a isso o facto de serem uma banda encabeçada por um senhor que não se limita apenas a ser uma estrela de rock.


Led Zeppelin
Fizeram a que é, provavelmente, a melhor música de sempre, Stairway to Heaven e só por isso merecem aqui estar. Para mim a melhor banda de Rock de todos os tempos, como já não se fazem hoje em dia. A roupa e os penteados são questionáveis mas era o que se usava na altura por isso vamos dar um desconto.


Eminem

Já hoje, ainda relativamente novo, é considerado por muitos como o melhor rapper de sempre. Talvez só o Tupac se lhe compare mas ainda assim menos versátil. Este menino já mostrou e continua a mostrar que letras bem escritas, nuas e cruas é com ele. Está aqui porque poucos colocam tanto sentimento numa letra e porque não tem negócios na economia paralela nem é idolatrado por ser "gangsta". Valorizo isso num rapper.


Queen
Talvez a banda com o maior número de músicas brutais de todas as que aqui estão. A par do Stairway to Heaven, a Bohemian Rapsody é também a melhor música de sempre. São talvez os melhores de sempre. A sida tirou-nos o Variações e o Freedy Mercury. Usem preservativo faz favor, duplo e com pimenta no meio. Se arder já sabem que rebentou um e está na altura de abrandar o ritmo.


Bob Marley

Pelas letras, pela good vibe, pelo que significa. Fazem falta mais destes para nos unir. Infelizmente as suas convicções rastafaris que nos deram o génio também o tiraram, já que foi por elas que se recusou a amputar o dedo que teria impedido o cancro de se espalhar. Mas a haver céu deve lá estar a fumar um charro com Deus e a cantar o Redemption Song.


Cat Stevens


Lembro-me de ter o disco em cassete no meu walkman e ouvir quando ia de viagem com os meus pais. Antes de se converter ao Islão era um dos melhores compositores e letristas. A religião sempre a estragar as coisas.


The Beatles
Para muitos a melhor banda de sempre, estes não foi a religião a estragar, foi uma mulher chanfrada. Ainda assim fica uma discografia incrível para ouvir, recordar e imaginar a maluqueira que devem ter sido aqueles tempos. O Ringo era claramente mais feio que um cão atropleado e mesmo assim deve ter papado mais gajas num fim de semana do que nós todos juntos que aqui estamos a ler isto na vida toda. Usavam cabelos à playmobil de fazer pirraça a qualquer Bernardo ou Martim de Cascais.


Enigma

Devem estar a pensar "Enigma? WFT? Que está isto aqui a fazer!" e têm razão, mas por ser uma das bandas que eu mais gostava e de haver músicas inesquecíveis como o Return to Inocence, ou como eu lhe chamava, a balada dos aleijadinhos devido ao refrão "ai, ai ó ai, ó ai e ai e ai". Sempre fui um bocado parvo. Continuo a achar que são brilhantes, diferente de tudo o resto e que por isso merecem aqui estar, não que seja honra para ninguém estar aqui nesta lista.


Pearl Jam
Já gostei mais e tal mas continua a fazer parte da minha memória discográfica e ainda hoje quando oiço o Last Kiss ou o Black me vêm à memória momentos fofos da minha vida. O filme Into The Wild com a banda sonora feita especificamente pelo Eddie Vedder é genial, o filme também não fica atrás. O facto de ele gostar muito de Portugal também faz com que goste mais da banda. Sou um patriota sentimentalão.


E é isto, ficaram muitos de fora desta lista, desde logo os Rolling Stones, Janis Joplin, The Doors, Bob Dylan (Like a Rolling Stone é também das melhores músicas de sempre), Oasis, Nirvana, Guns and Roses, REM, Michael Jackson e Justin Bieber. Este último era a gozar obviamente. E vossas excelências, o que têm a dizer?
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25 de agosto de 2014

Voltei de férias



Olá internautas mais lindos. Voltei de férias, depois de uma bela semana onde a melhor coisa que posso realçar é o facto de não ter estado a trabalhar. Ter emprego é muito giro mas se me calhasse o euromilhões só lá voltava para trabalhar um dia com um sorriso enorme no rosto a fazer pirraça. O meu chefe por vezes lê o blogue e quero apenas descansá-lo dizendo que eu não costumo jogar no euromilhões. Bem, para isto não parecer estranho, como aquelas vezes que se vai para a cama com alguém e depois no dia a seguir se cumprimenta com um beijinho na cara, vou-vos falar um pouco das minhas férias antes de falar de outros assuntos mais importantes para a sociedade como a guerra na faixa de Gaza, a situação económica de Portugal, ou o facto de haver muitos gajos que usam camisolas com decotes em V até ao umbigo.

Para começar fui passar duas noites num hotel de turismo rural ali para os lados de Portalegre, em Alter do Chão. O ar condicionado do quarto estava avariado mas a senhora ofereceu o jantar no hotel. Dormi cheio de calor mas com a barriguinha cheia de comida à borla. Não me posso queixar. Espaço giro e tal, sim senhor, deu para ver estrelas cadentes e pedir um desejo, que pelo facto de se terem acabado as férias não foi realizado. Fui comprar tabaco lá numa aldeola e o senhor do café perguntou-me de quais fumava, eu disse "Daqueles Camel, que têm uma coisa de mentol..."O senhor olhou para mim, fez um sorriso, virou as costas e foi buscá-los enquanto abanava subtilmente a cabeça, como quem certamente estava a pensar:

"Estes maricas da cidade..." Eu devia ter pedido também um shot de bagaço com uma palhinha cor-de-rosa só para deixar o homem todo confundido.

Em seguida fui para Lagos, onde pernoitei 6 noites. Já vou a Lagos há muitos anos passar férias e é sempre um bom local para descansar e dormir longas horas que nem um bebé, ou uma Maddie neste caso. Não havia piscina por isso teve que se ir à praia, cuja água estava mais fria que de 90% dos Ice Bucket Challenge que o pessoal anda por aí a fazer. Num desses banhos fui abordado por uma sereia, mas que a metade em que era suposto ser peixe mais parecia um presunto mal curado. Já contei a história no Facebook mas aqui fica aqui resumida para ser eternizada. Estava eu a ganhar coragem para mergulhar e nisto vem uma senhora, 40 anos, de grande porte, meter conversa comigo. De topless, cuequinha reduzida cor de rosa, maminhas pingonas quase a beijar a água e algum pelo (ou algas) a cobrir algumas partes do corpo. Vira-se para mim e diz:

"Esta fria a água caralho!", revelando que juntamente com a beleza acima descrita se juntava também um número superior de dentes em falta do que os existentes. Eu digo "Pois... está fresquinha", e ela "Fresca? Gelada ó caralhoSou de Lagos e nunca apanhei a água assim foda-se! Deve ser daquelas coisas que dizem na TV, coisas frias ou o que é!", continua ela. Eu digo "as correntes..." e ela "Pois é isso mesmo caralho! Com este frio até perco a moca!" e ri-se mostrando novamente o seu belo sorriso. "Isso é que é desperdício", digo eu e ela concorda com um "É verdade caralho!", enquanto passa as mãos com água pelos seus belos seios que nem com o frio da água se empinaram minimamente (sim, eu não consegui não olhar). "Não penses muito caralho, mergulha logo!" diz ela. Eu mergulhei para ver se a água gelada me apagava aquela imagem da cabeça. Mas não. Bem, lá comecei a voltar para a toalha e a senhora vem atrás de mim. Vou em ziguezagues como diz que se deve fazer para despistar os crocodilos, mas ela segue-me o passo e diz: "Estás a ver estas algas? Isto faz bem à pele, não vistes? Não vistes na televisão?" e eu digo "Pois... diz que sim". Lá fomos cada um para seu lado. Como era feia e corcunda a minha namorada limitou-se a ficar na toalha a rir-se e a observar a cena. Se fosse uma rapariga capa de revista quem se ia rir era eu, pelo menos até levar com uma cena de ciúmes à moda antiga. E pronto, foi esta a melhor história da minha estadia em Lagos, de resto foi apanhar sol, comer, beber e dormir. 

Cheguei a apanhar um escaldão, que a meu ver deve ter sido castigo por ter feito uma piada sobre aquele caso em que o pai matou a filha com água a escaldar. Deus é tramado, não deixa passar uma.

Na vinda fiquei por Grândola a passar uma noite. Grândola é uma vila simpática mas depois de ver o Relvas a cantar o Grândola Vila Morena fico sempre com medo em cada esquina que ele me apareça pela frente. Além de que pensar nele me faz lembrar cursos superiores e isso faz-me lembrar o Instituto Superior Técnico. Acho que tive um pesadelo acerca de uma equivalência que estava em falta e tinha que voltar aos anfiteatros nas catacumbas do pavilhão central do IST, local onde ficou enterrada a minha criança interior. Poderia aqui fazer mais uma referência à Maddie mas parece-me que seria de mau gosto.

Lá voltei para a bela terra da Buraca, voltei mais moreno, que é no fundo ao que se resume ir de férias de verão. Não morenei mais para não ter problemas com a polícia da minha zona. Agora estou aqui a escrever, numa depressão domingueira exponenciada por um trauma pós-férias antecipado. Bem hajam.
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13 de agosto de 2014

Ser emigrante Português é ter SWAG




Vamos então falar sobre essa espécie migratória que é o Emigrante português. Uma espécie que no mês de Agosto retorna de países frios, para apanhar o sol deste nosso belo Portugal. Para apanhar sol e comer chouriça assada.

Um tio da minha mãe marcou-me com uma daquelas traduções típicas de emigrante que parecem tiradas do google translate: "Sabes quando estamos lá a trabalhar no ofas..." Ofas... Aquilo demorou até eu conseguir perceber que ele se referia ao escritório, office. Prova que me marcou, é que isso aconteceu há uns 15 anos e recentemente, quando aluguei um escritório com uns amigos, baptizei-o de Ofas. Ainda hoje todos dizemos "Então vais ao ofas?", "Ontem esqueci-me do carregador no ofas" e por aí em diante. Sonho com o dia em que depois de ganhar o Euromilhões, compro os direitos da série do Ricky Gervais e lhe passo a chamar The Ofas. Sou um gajo que sabe como empregar bem o dinheiro. Bem, mas voltando aos emigrantes.

"Jean Michelle Oliveira, vem já ici à mãe se non levas uma chapade tout de suite, que até arrotas a fromage"

Esta é das frases mais ouvidas nas nossas cidades quando chegam as manadas de Mercedes apinhadas de emigrantes, geleiras e bandeiras de Portugal encardidas. Os emigrantes são espécimes de trato fino e requintado. Os emigrantes são visionários, já tinham SWAG antes de ser moda. Os emigrantes pensam que uma t-shirt com mangas à cava, um boné com pala dobrada e uns óculos escuros espelhados, ainda estão a bater bué em Portugal. Eles sofrem do síndrome de Peter Pan, especialmente na forma como se vestem à menino gueto dos anos 80. Esse bom gosto reflecte-se também na forma de como alteram os carros, conseguindo tornar automóveis como Mercedes e BMW numa espécie de unhas de gel com berloques e quatro rodas. Ter um bom carro é sinal que a vida lá fora está a correr bem, mesmo que esse carro esteja ainda a ser pago e tenha sido comprado em 2ª mão. No caso das matrículas do Luxemburgo e da Suiça o Porsche já é uma constante, qualquer mulher a dias ganha mais que um Engenheiro por cá, mas nós dizemos que os burros são eles.

As emigrantes já nascidas no estrangeiro são um misto de Ana Malhoa com Ágata, também nos anos 80. Faltam-lhes alguns dentes e gostam mais de ouro que as ciganas. Os rapazes parecem saídos do laboratório que criou o Cristiano Ronaldo, parecem as versões iniciais que saíram todas deficientes e feias porque os geneticistas ainda não tinham acertado na medidas. O penteado à cortinado ou em crista são as únicas opções viáveis e o crucifixo branco mate que brilha no escuro é imprescindível, já que é sabido que Deus vê mal à média luz.

Poder-me-ia alongar muito mais a descrever os emigrantes e a forma como se comportam e como conduzem como quem está com vontade de fazer cocó, mas isso já foi feito tantas vezes, caricaturado tantas vezes que provavelmente eu não acrescentaria nada. Por isso digo apenas que os emigrantes são sobretudo portugueses. Portugueses que precisaram de ir embora e ainda assim, depois de serem expulsos por um país que não lhes deu oportunidades nem os tratou bem, continuam a tê-lo no coração. A fazer milhares de quilómetros para vir visitar os seus. 


Chegam com um sorriso no rosto desenhado pela saudade e partem com ele, mas com uma lágrima a antecipar o frio de Paris, Berlim e do vazio que fica dentro do peito

Vão de volta para as suas novas casas, os seus novos países, onde vão contar a toda a gente que conhecem por lá como foram as férias e como Portugal é o país mais bonito do mundo. Como a comida é divinal e como o fado é bonito, apesar de só ouvirem Tony Carreira. Nós gozamos com eles, porque a maioria é bimbo, tal como a maioria dos portugueses que temos cá são. Somos um países de bimbos e digo-o sem tom pejorativo. Mas eles tiveram os tomates no sítio, elas também metaforicamente, apesar de à primeira vista pelo bigode poder parecer que têm mesmo tomatada. Tiveram-nos no sítio para ir à procura de uma vida melhor e deixar tudo para trás, enquanto tantos outros passam o dia no café a dizer que a culpa é do Passos Coelho. E é. Mas é mais de quem votou nele.

Emigrar é uma boa solução, diz o nosso primeiro, e é, mas é quando não se vai com uma mão à frente e outra atrás, a sentir que se deixou cá mais que a roupa. Daqui a uns anos os emigrantes que nos vêm visitar vão ser diferentes dos de hoje em dia. Já não vamos gozar com eles porque vão saber falar bem, escrever, comportar-se e ter as maneiras de um doutor ou engenheiro, de uma enfermeira ou um advogado. No entanto são os mesmos, foram pelos mesmos motivos que todos vão, tiveram que partir porque Portugal continua a tratar mal os seus. Mas a culpa é nossa, que o tratamos pior que o Paco Bandeira tratava a mulher e o deixamos ao cuidado de uns filhos da puta, só porque pensamos que o fato e gravata é melhor que a camisa aberta e o fio de ouro.

Ser emigrante é ser português e ser português é ser um bocado bipolar no modo em como se começa um texto a gozar e se acaba em tom sério às 2 da manhã.
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12 de agosto de 2014

O dia em que me tentaram violar



A história remonta ao Outono de 2011, estava eu em Londres e pelos vistos no pico da minha gostosura. Tinha ido lá passar uma semana de férias sozinho, feito parvo. Fiquei num hostel e logo na primeira noite, apesar de ter passado a anterior quase em claro, devido à cagufa que tenho em andar de avião, decidi ir a um Pub Crawl que é como quem diz um Rally Tascas lá do sítio, em que o pessoal de vários hostels se junta para promover o convívio. Lá fui ter com o grupo que já andava pelos bares, cheguei e comecei a enturmar-me, copos para aqui, conversa para ali, muitos "Where are you from?", "Yes, very nice" e "Viva Ronaldo!". Passaram-se algumas horas nisto, onde se foi juntando mais pessoal de fora e fomos todos convivendo de forma alegre e saudável. Às duas da manhã começou tudo a ir embora e eu, mais três gajos, decidimos ficar e ir a outro bar que estava aberto até às quatro.

Estava lá na boa a falar com um italiano, um gajo aparentemente porreiro e heterossexual, não que se fosse homossexual não fosse porreiro, dar-me-ia com ele na mesma sem problemas. Conversa perfeitamente normal com zero alarmes no meu gaydar, que pensava eu ser bastante apurado. 


Para efeitos cómicos e porque não sei o nome do italiano, irei chamar-lhe Bruschetta doravante. 

Estávamos lá com mais 2 irlandeses e a única hipótese de irmos para casa era de táxi. Ao vermos as rotas vimos que o mais barato seria eu ir com o Bruschetta que, segundo ele, morava a dois quarteirões do meu hostel e os irlandeses irem noutro, porque estavam a pernoitar no mesmo local. Nada de anormal, principalmente lá fora onde é costume dividir-se táxis com desconhecidos. Entretanto os irlandeses foram embora, o bar já estava quase a fechar e nós a prepararmo-nos também para ir. Fui à casa de banho e quando volto o Bruschetta tinha ido buscar mais duas cervejas de meio litro. Sim senhor, um gajo porreiro. Eu bebi um bocado e foi a vez dele de ir à casa de banho e aqui, eu não sei porquê, o meu sexto sentido deu alarme e decidi mandar a cerveja fora depois de ter bebido talvez um terço. 
Chamem-me desconfiado mas é o que viver na Buraca fez de mim.

Ele chega, pensou que eu já tinha bebido a minha cerveja, não acabou a dele e disse para irmos andando. Lá fomos à nossa vida. Chama-se o táxi, entrámos e eu começo-me a sentir meio azambuado e não me parecia ser do álcool, embora na altura não tenha feito essa associação. A bebida dá-me mais para ficar eufórico e enérgico do que apático. O Bruschetta diz que se eu precisar posso ficar a dormir em casa dele e foi aí que eu comecei a desconfiar da brincadeira. Rejeitei amavelmente o convite, dizendo que uns amigos iam ter comigo ao hostel de manhã. Mentira, mas até depois de ser drogado sou um gajo cordial. Nisto eu digo uma piada qualquer e ele ri-se (normal) e na euforia, qual não é o meu espanto quando o gajo me põe a mão na perna, de forma a que mesmo dando o desconto de que os italianos são um povo muito caloroso, foi de desconfiar. Eu tirei-lhe a mão e disse-lhe que não era a minha cena. Ao que ele responde: 
"No problem! It's ok, it's ok!", voltando a pôr-me a mão na perna com mais força, que eu volto a tirar já mais irritado mas sempre com uma apatia estranha. Ele volta a dizer com um sorriso "It's ok, it's ok!". 


Nisto o cabrão arma-se em Marco Beligni e tanta ver se o segredo estava na massa

Voltando a meter-me a manápula na perna, desta vez mais a cima chegando inclusivamente a conseguir tocar-me nos calzones. Pronto, aqui o meu corpo entrou em modo Chuck Norris, espeitei-lhe a cabeça contra o vidro, fiz-lhe uma chave de braço e gritei "You do that again I'll break your arm and knock you out motherfucker!". Sempre quis dizer isto em inglês. O taxista com a confusão pára o carro, eu saio e começo a ir-me embora. O gajo diz ao longe "Sorry, sorry! I need money to pay the taxi!", ao que eu lhe digo em alto e bom som "Give a blowjob to the taxi driver motherfucker!", que é como quem diz "Suga as miudezas do taxista que pode ser que ele ofereça a corrida, seu cafajeste".

Bom, eu estava já perto do hostel e pensei saber o resto do caminho. Erro crasso. Comecei a andar... andei... andei... andei... e nada. Estava perdido no meio de Londres, sem mapa, sem ninguém a quem ligar, sem encontrar uma estação de metro e sem ninguém na rua para me indicar caminho. Lembro-me de tentar ver uns mapas nas paragens de autocarro e não conseguir focar absolutamente nada. A droga era da boa, sem dúvida. Tentei alugar umas bicicletas daquelas com cartão mas felizmente não consegui, se não provavelmente teria acabado a noite numa valeta ou enfaixado num carro. Continuei a pé na esperança de encontrar uma estação de metro que por aí conseguia orientar-me.

Sei que andei quase 2 horas a pé, à chuva, até que cheguei a uma paragem de autocarro, novamente a tentar focar o mapa e uma senhora que lá estava de lenço na cabeça e guarda chuva me pergunta se preciso de ajuda, revelando o seu sotaque de leste. Eu digo-lhe que estou perdido digo-lhe a morada do hostel. Ela diz que mora perto e que era melhor dividirmos um táxi, porque àquela hora não havia nenhum autocarro que lá fosse dar. Hum... déjà vu? Erro na matrix? (piadinha nerd). 


Ao menos se me violasse não havia de ser no rabo, provavelmente ficava-me era com um rim, mas antes isso, que ânus só tenho um.

Não tendo grandes alternativas lá me meti no táxi. Ao entrarmos a senhora tira o lenço da cabeça e o casaco e saltou-me à vista, mesmo bêbedo e drogado à força, que se tratava claramente de uma bela prostituta. Principalmente juntando todo o outfit e maquilhagem ao facto de estar à beira da estrada às 5 e tal da manhã e como estava agora a ir para casa comigo é porque não estaria à espera do autocarro para ir para o trabalho.

Bem, ao menos isso, pareceu-me que o pior que podia acontecer era aparecer o chulo e ela dizer que eu estava a dever dinheiro. Mas não, andámos de táxi durante 20 minutos, ela ia falando e eu tentava manter uma conversa coerente. Chegámos a casa dela, ela pagou 50 libras e eu continuei viagem para o hostel e paguei as 10 libras restantes. Ou seja, eu tinha saído do táxi com o Bruschetta perto do meu hostel e tinha andado o equivalente a 20 minutos de táxi a pé. Depois no dia seguinte vi no mapa e estava a mais de 10 km. A droga era sem dúvida da boa. Cheguei ao hostel num alívio maior do que um falso positivo num teste de HIV, coisa que neste caso com sorte não apanhei. Acordei no dia seguinte com a maior dor de cabeça da minha vida, mas antes a cabeça que o rabo.
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4 reflexões que se podem tirar desta história:

  • Se não tiverem cuidado nem juízo ficam com boas histórias para contar (mas também podem acabar a noite a levar no rabinho);
  • As prostitutas de leste são realmente as mais prestáveis;
  • Os táxis em Londres são caros;
  • Sou demasiado sensualão.
Só uma adenda: Apesar da forma leve com que abordei o assunto da violação, queria realçar que é um assunto sério e quem viola seja quem for deveria ser morto, empalado no recto com um ferro cheio de formigas vermelhas. Posto isto, não me venham cá com comentários a dizer que com violação não se "goza", porque eu sei de muitos casos em que até engravidaram. 

Uma entrada a pezinhos (de cu-entrada) juntos para começar bem o dia.
Bem hajam.
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11 de agosto de 2014

O dia em que dormi numa casa de ocupas punks



Estava eu a fazer uma viagem pela Europa com um amigo e demos por nós a ir para a Noruega já quase sem dinheiro no bolso e por isso andávamos à procura de alguém que nos abrigasse em regime de couchsurfing, que dar 40€ por noite, cada um, num Hostel, nos pareceu um roubo maior do que, mesmo sendo portugueses estamos habituados. Então disseram-nos "Querem ficar numa Squat House?" e nós dissemos que sim. 


Sendo que squat quer dizer agachamentos pensámos que era uma casa cheia de mulheres de rabos torneados e coxas definidas. 

Mas pelo sim pelo não, fomos pesquisar à internet e vimos que afinal é uma casa outrora abandonada, agora ocupada por pessoal à margem da sociedade, que é como quem diz bilús da cabecinha. Vimos que havia dois em Oslo, um deles tinha sido invadido por grupos de extrema direita o mês anterior e tinha havido tiros, esfaqueamentos e mortes. Depois havia outro que era mais calmo, que fazia parte de uma comunidade de artistas. 50% pareceu-nos uma probabilidade aceitável e então lá fomos. Chegando a Oslo pedimos indicações nas ruas a um casal e eles começam a falar entre eles em português sobre qual o melhor caminho. Nós dissemos admirados "Vocês falam português?", depois de uma pausa de 2 segundos os olhos do homem arregalam-se e diz "Claaaaaro, sou Angolano, ya?". E pronto gerou-se a galhofa, ele foi-nos quase lá levar a pé e disse "Vocês vão ficar nesse sítio? Porra... vocês são aventureiros, vá eu deixo-vos aqui nesta rua depois é seguirem caminho". Ficámos muito mais confiantes.

Depois de quase termos sido assaltos lá chegámos à casa, era a tal mais calminha. Batemos à porta e fomos recebidos por uma rapariga claramente lésbica, das más. Fomos encaminhados para o nosso quarto, uma sala grande com ligação a uma cozinha, com 2 beliches de 3 andares e 2 colegas de quarto que eram residentes permanentes. Um Nigeriano e um Alemão, sentados ao computador a jogar jogos do virar do século, à média luz. Janelas reparadas com fita adesiva, colchões claramente retirados do lixo, tal como tudo o resto que decorava o quarto. O que para nós era lixo, para eles era reciclagem. Havia casa de banho, sem chuveiro. Éramos para ficar lá 3 noites, decidimos ali que 3 noites eram 2 noites a mais. Lá nos instalámos, já eram cerca de 23h e o cansaço era muito. Fizemos um pouco de conversa de circunstância e tentámos dormir, algo que era impossível pelo desconforto de estar ali com dois desconhecidos que faziam o Júlio de Matos parecer uma colónia de férias. Dentro dos sacos cama, com uma almofada feita de tshirts, com os ombros a tocar no colchão comecei a sentir comichão no corpo todo mas lá consegui fechar os olhos 1 ou 2 horas. Acordámos por volta das 10h e eles ainda ali estavam, colados ao PC, a fumar cigarros de 5 em 5 minutos. Ao menos o fumo ajudava a aquecer, porque lá fora o termómetro já marcava os negativos.

Bem, lá fomos visitar a cidade e procurar artistas de rua para filmar, que era com esse propósito que já estávamos a viajar há quase 2 meses. Não encontrámos nada de jeito. Comprámos bilhete de comboio para as 8 da manhã do dia seguinte e lá fomos para os nossos aposentos depois de jantar. Lá estavam os nossos anfitriões no mesmo local e começámos a conversar. A conversa começou por religião, já não sei porquê, devo ter sido eu a ver se alguém nos dava uma facada. Felizmente as visões religiosas eram as mesmas que as minhas e a conversa começou a fluir por ai. O Nigeriano estava sempre calado mas o Alemão começou a soltar-se. De faca na mão a cortar cebolas ia entrando e saindo da cozinha para mandar bitaites, a revirar os olhos e a rir-se de forma maquiavélica entre cada argumento. A sério... saído de um filme de terror. Estava a cozinhar bacalhau e cogumelos. Na Noruega o bacalhau não é seco e salgado como o nosso, é fresquinho e aquele cheirava a bordel de vão de escada. Nojo. Perguntaram-nos se éramos servido, mas nós já tínhamos comido, embora não tenha sido apenas por isso que não aceitámos. 

A conversa passou por todos os assuntos possíveis e imaginários, política, física quântica, teorias da conspiração, desemprego e o estado do mundo e do ser humano. Percebi então que o Karl, era o nome dele, estava no limiar da genialidade e da esquizofrenia. Ele dizia ser Engenheiro Físico que deixou a carreira porque o seu trabalho estava a ser utilizado para desenvolver armas de destruição maciça. Ele dizia também ser mestre de Xadrez capaz de bater as máquinas que derrotaram o Kasparov.

Para nos provar, colocou o jogo de xadrez do Windows XP na dificuldade máxima e... perdeu... 3 vezes seguidas. 

Segundo ele porque já estava meio bêbedo e tinha fumado erva. Isto é mesmo que um gajo dizer que é dos actores porno mais requisitados da indústria e depois quando vai para a cama com uma gaja não conseguir pô-lo de pé. Ainda assim ele era sem dúvida uma pessoa extremamente inteligente e culta, disso não havia dúvida e ficava sempre entusiasmado quando falávamos de alguma coisa que ele não sabia para poder aprender, e esse é o maior sinal de inteligência que se pode ter.

Fez-nos imensas perguntas sobre sobre Portugal e a nossa cultura. Mostrei-lhe no youtube Carlos Paredes, Amália e Mariza. Ele adorou, passou uma hora a ouvir fado e a pedir-me para traduzir as letras. Vi-lhe as lágrimas nos olhos e encheu-me de orgulho de ser Português. 

A meio de uma conversa sobre alimentos geneticamente alterados ele diz "Não, eu nunca compro comida no supermercado"... e nós, "Say what?!", que é como quem diz "Oi?!". E descobrimos que a comida vinha sempre do lixo. Aquele bacalhau e aqueles cogumelos fresquinhos que nos tinham oferecido tinham vindo de um contentor algures ali na cidade. É por estas e por outras que as regras da boa etiqueta da Paula Bobone são parvas. 

Passou a noite toda a cravar-nos tabaco de enrolar, que lá custava 25€ o pacote, ou seja, era o único que tínhamos porque trouxemos da Suécia, que 25€ para fumar nenhum de nós é assim tão viciado. O tabaco acabou, ele vem cravar mais um e nós dizemos "Já não há...". Ele agarra no cinzeiro e diz: 


"No problem... I'm hardcore muahahahaha" e começa a desfazer as beatas e voltar a enrolar cigarros. 

Fez mais uns 20 cigarros do cinzeiro, já com as mãos, os dentes e lábios todos cheios de cinza, realçando ainda mais os dentes podres que ele já tinha. Não sei se eu e o João conseguimos disfarçar a nossa cara de nojo. Mas no fundo no fundo o esperto foi ele, que nós bem nos apetecia mais um cigarro e ficamos ali de ressaca, mas com os dentes mais ou menos brancos.

Eram 6 da manhã e começámos a arrumar as coisas para ir embora, sem termos dormido nada, depois de passarmos horas na conversa. Vi que tínhamos ganho o respeito deles, que vivendo fora do sistema olhavam para nós como 2 putos betinhos que andavam a passear. No entanto perceberam que não éramos assim tão diferentes em termos de valores como eles. E eu senti o mesmo por eles e percebi que foi talvez a experiência mais marcante e enriquecedora dessa viagem. Fomos ali muito mais bem tratados do que em muitos hosteis em que pagámos e sentimo-nos mal pelos nossos preconceitos iniciais, embora fosse impossível não os ter porque se alguém tinha ar de maluco, canibal e psicopata era o Karl e o amigo. Mas pelos vistos eram dos fofinhos ou acharam que a nossa xixa era rija. Fiquei a invejar-lhes a liberdade mas não os hábitos de higiene. 

Muitas conclusões filosóficas se podem tirar desta experiência mas hoje não me apetece. Bom início de semana!

PS - Já aqui escrevi sobre outra personagem tenebrosa que encontrei num hostel, o Koala Zombie, é clicar aqui caso tenham interesse.
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6 de agosto de 2014

Os 10 melhores músicos portugueses


Depois deste texto sobre o estado actual da música portuguesa fazia sentido eu escrever sobre quais os meus músicos portugueses favoritos, ou os que mais me marcaram, só para verem que eu tenho realmente muito bom gosto e não estou a falar de sabor.

Esta lista vale o que vale, estarão outros de fora com igual ou maior valor, mas para agora são os que me lembrei e alguns dos grandes cantores, letristas, compositores e artistas que temos no nosso país, e que na sua maioria não dão o rabinho às editoras, rádios e televisões.

Pedro Abrunhosa
A A prova que para ser um grande cantor não é preciso uma boa voz. É preciso saber as limitações que se tem, e no caso do Pedro Abrunhosa isso é feito compondo letras e melodias de se lhe tirar o chapéu.

Delfins
Na altura do Levanta-te e Ri virou a banda de chacota nacional mas não podemos esquecer os seus tempos áureos em que para mim, eram uma das melhores bandas portuguesas. Estavam sempre nas minhas cassetes do walkman.

B Fachada
Um novo valor que já não é assim tão novo, dado a quantidade industrial de álbuns que conseguiu produzir em poucos anos. Voltou agora depois de um ano sabático e continua a inovar e a fazer músicas fantásticas. Para mim é o melhor novo valor da música portuguesa e se continuar a este ritmo, poderá ser um dos melhores de sempre. Mais um que compensa a falta de uma voz poderosa com um timbre e carisma único.

Sérgio Godinho
A A prova que as drogas também têm coisas boas. Um mago da língua portuguesa que consegue reunir fãs de todas as idades e que conseguiu envelhecer sem perder a graça. Já rappava antes de haver rap.

Manuel Cruz
Este senhor é um génio da composição e da escrita. Os Ornatos Violeta foram provavelmente uma das melhores bandas de sempre, poucas tiveram tanto impacto e tanta música brutal com apenas dois álbuns. Continua a solo ou com outras bandas, sempre com a brindar-nos com música de qualidade.

Jorge Palma
O Jorge Palma alcoólico é o mais genial cantor, compositor e letrista que este país já viu, na minha opinião. O Jorge Palma sóbrio é também muito bom mas falta-lhe qualquer coisa.

Sam the Kid
Se não tivesse nascido na geração do Hip Hop provavelmente seria um poeta que iria ser estudado nas escolas. Se tivesse nascido nos Estados Unidos era provavelmente um dos produtores e compositores mais aclamados da indústria musical.  

Valete
Hip Hop consciente ao mais alto nível. Este senhor sabe do que escreve e sabe como escrever. A par do Sam é o melhor rapper que Portugal já viu, com letras mais inteligentes e cuidadas do que 99% de todas as que passam nas rádios e TV. Além desse talento todo é um gajo porreiro.

António Variações
Um visionário à frente do seu tempo. Morreu aos 40 e conseguiu marcar a música portuguesa para sempre. Destes não há muitos em cada século. Era cabeleireiro e homossexual, aí não foi muito irreverente que é um bocado cliché.

Zeca Afonso
Com a simplicidade de acordes e de rimas consegui fazer da cantiga uma arma. Na voz carregava o peso de um povo oprimido pela ditadura. Termos tido um Zeca Afonso é das poucas coisas boas que devemos agradecer ao Salazar.

Chamaram-me à atenção por não haver mulheres na lista, embora esteja lá o António Variações. Peço desculpa, não me consegui conter. Mas posso acrescentar que gosto muito dos Deolinda, da Capicua, da nova geração de fadistas, da Teresa Salgueiro e da Rita Guerra. Esta última era a gozar claro.

E vocês o que acham? Concordam? Não? Sim? Talvez? Mandem bitaites que isto sem vocês não tem tanta piada.


PS - Se não leram o texto sobre o estado da música portuguesa é clicar aqui.
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O estado da música portuguesa



A música portuguesa vive um período estranho. Uma época em que para se editar um disco há apenas a condição de ter que ter participado na Casa dos Segredos. Em que não só não é preciso ter uma boa voz, como se pode ter a voz de um rouxinol autista que acabou de rasgar as cordas vocais a felaciar um pica pau. É também uma época em que quem enche Coliseus tem que ter Carreira no nome e uma época em que alguns desses Carreiras só têm uma carreira derivado ao nome que têm, em que são convidados para júris de programas musicais e quando cantam fazem pior figura que a maioria dos concorrentes. Uma época em que os outros que estão a ver batem palmas e fingem que gostam, quando no fundo devem detestar estar ali a dividir o palco com artistas claramente inferiores. Eu até admiro o Tony Carreira e as suas crias, parecem-me genuinamente boas pessoas e sabem trabalhar a sua marca pessoal como ninguém na indústria da música em Portugal. Portanto têm o seu valor, mas quando olhamos para as vozes e para as letras, faz confusão só se conseguir rimar em "ar", "er" e "ir", fora a quantidade abusiva de rimas com "coração", "paixão" e "dá-me a tua mão". Mas pronto, já há uns anos que se rimava "melão" com "coração" que é, provavelmente, bastante pior.


Sou do tempo em que o Quim Barreiros queria cheirar o bacalhau da Maria e em que o Nel Monteiro cantava "Puta, Vida, Merda e Cagalhões" 

Quem tem uma cassete com este nome tem de ter o seu valor. Sou do tempo em que o pimba era pimba e não havia mal nenhum nisso, em que os reis do pimba não transbordavam para o resto das áreas musicais. Não tenho problema nenhum com o pimba se for feito para animar arraiais e festas de terrinha, também faz parte da nossa cultura e identidade, mas como tudo o que se começa a levar demasiado a sério e a ser pretensioso, perde a piada.

Sou ainda do tempo em que se assistiu ao fenómeno das Boys e Girls bands, estas últimas com menos sucesso porque os homens não passam pela fase de pita histérica. Dos Excesso, dos Millenium, dos D'Arrasar, dos 7º Céu, dos Maxi e de todos os sucedâneos que foram aparecendo. Mas a culpa é como na droga, é de quem consome. Talvez eu esteja a ficar como os velhos do restelo que diziam que Hip Hop era música de drogados, mas faz-me confusão ver miúdas à porta de concertos do Justin Bieber e dos One Direction aos berros e a desmaiar, sem ninguém as abater e lhes acabar com o sofrimento. Faz-me ainda mais confusão a maioria, possivelmente (de certeza vá) nem fazer ideia de quem foi Zeca Afonso, ou pior, pensar que foi um ministro das finanças, já que do que se passa no país também não devem saber muito.

Há poucos apoios para a música portuguesa bem sabemos, há poucos apoios para tudo, mas o que me faz mais confusão é não se dar tempo de antena a música de qualidade. Se calhar passa música portuguesa na TV como há muito não passava, mas infelizmente é 99% péssima, ou sem qualidade e ainda temos que levar com o Nuno Eiró a apresentar. Já agora, se por acaso quiserem cantar num desses programas deixo aqui os requisitos mínimos:
  • Gel no cabelo no caso dos homens
  • Vestir-se de prostituta no caso das mulheres
  • Ter bailarinas que são strippers nas horas vagas e ainda assim o pai tem mais vergonha de dizer que a filha dança na banda do Cajó Oliveira
  • Não saber fazer playback
  • Achar que os anos 80 foram o pináculo da moda
  • Pensar que ser produtor é fazer play naquele ficheiro midi que é usado para marcar o ritmo de 90% das músicas
  • Ter pouco amor próprio
Apesar disto tudo começam a aparecer cada vez mais bandas de grande qualidade. Começa-se também a perder a mania de cantar em inglês. E digo felizmente porque na grande maioria dos casos é porque não sabem escrever em português. Porque é mais difícil e em inglês conseguem disfarçar melhor a inabilidade para a escrita. Também há quem cante em inglês com qualidade, como é o caso do David Fonseca, do Paulo Furtado ou dos The Gift antes da Sónia Tavares começar a dar nos ácidos.

Os gostos não se discutem, é certo, o mercado é moldado pela procura mas também pelo que se dá a conhecer às pessoas. E há casos onde a qualidade deve ser quase que imposta. Há cantores que deviam ser estudados de tanto que ajudaram a moldar-nos enquanto povo e do quanto marcaram a história. Os outros, que agora são idolatrados, no futuro não vão passar de mais uma entrevista dos Perdidos e Achados da SIC.


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PS1 - Quem quiser ler o que já escrevi sobre as atrocidades que se cantam por este nosso belo Portugal pode ler estes:
PS2 - Se quiserem saber quais as minhas bandas/cantores portugueses favoritos é clicar aqui. Se não quiserem, amigos como dantes.
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4 de agosto de 2014

Pessoas que têm nojo de cenas invisíveis



O meu irmão quando era mais novo lavava as mãos depois de tocar em qualquer lado e andava a cheirar os dedos de 5 em 5 minutos num ritual que era mais nojento do que o nojo que ele tinha dos germes. Depois passou-lhe e hoje em dia é, aparentemente, uma pessoa normal. Mas há quem viva com essa mania, uns casos mais graves que outros. Há pancadas para tudo e algumas, como esta, não consigo perceber. Ainda por cima este cuidado com os germes tem o efeito contrário. Quando menos exposição a eles, com menos defesas ficamos, portanto é uma pancada que para além dos males que pode causar à vida pessoal acaba por poder afectar realmente a saúde. A ironia é uma badalhoca do caraças. 

Uma vez estava na fila do supermercado e o senhor que estava à minha frente virou-se para mim num tom altamente agressivo: "Já é a segunda vez que me respira para cima, que falta de educação!". Só me apeteceu dar-lhe um par de estalos mas como ainda só tinha 15 anos e era um xoninhas, pedi desculpa. Mas no fundo compreendo, ele tinha menos 20cm que eu e era careca, deve ter sentido bem o vento na moleirinha. Fora a forma como falou talvez tenha tido razão, eu também não gosto que me respirem para cima, ou que pessoas sebosas me toquem e eu tinha vindo da praia e estava realmente um bocado sarrabeco.

O medo obsessivo-compulsivo dos germes é uma doença psicológica grave, chama-se misofobia é uma forma de alucinação e distorção da realidade. Imagino que vejam gafanhotos gigantes e santolas de língua de fora em qualquer local passível de haver germes. Pessoas que abrem a porta com os cotovelos? Era uma cotovelada na nuca para deixarem de ser parvos. Quando funcionar tudo com impressão digital como é que eles fazem? Abrem uma porta e toca a esfregar o dedo?

E se uma pessoa com misofobia só arranjar um trabalho que envolva merda? Desentupir sanitas, estrumar terra, ou trabalhar na Assembleia da República?

Como é que mexem no dinheiro? Dinheiro deve ser a coisa mais nojenta que existe se formos a pensar bem nisso. Aquelas notas e moedas que temos na carteira, provavelmente já passaram pelas mãos de uma prostituta de rua suada, que acabou de receber o pagamento por um serviço e guardou as notas no meio do decote, possivelmente sujo de girinos. Nojo. E se quem sofre desta doença (pancada) ficar temporariamente cego e alguém os tiver que levar por uma mão? Estou bem tramados... aliás em qualquer cenário de guerra e apocalíptico esta gente é a primeira a ser morta porque ninguém está para os ouvir com as preocupações de higiene desnecessárias.

E agora o mais importante: como é que esta gente se governa na vida íntima? Haverá chavascal do bom, ou é tudo a meter nojo e com o menos contacto possível? Calculo que sejam os maiores compradores de toalhitas e sprays desinfectantes. O pior é que estes últimos devem arder. Quem tem esta pancada, a namorada ou namorado estão tramados, devem ter a genitália mais gasta que a de uma actriz porno em fim de carreira, de tanta vez que têm que ir lavar as vergonhas com água rás para matar a bicharada. Não sei porquê, mas imagino este pessoal como sendo sempre da zona de Cascaias: "Ó crido, vá lá lavar o Bernardinho com água de rosas importada da Polinésia, se não não entra aqui na vagina. E com as mãos e boca já sabe que é nojento isso, só com luvas de cirurgião e a bochechar elixir bocal entre cada basculação".

Por fim temos os campeões do mete nojo que são os asiáticos de máscara. Só dá vontade de lhes ir levantar aquilo e tossir-lhes na cara. 

Mas aquelas tosses puxadas cá do fundo da alma que se ouve o ronco do motor e quase que sai sangue. Na altura da gripe A e tal, com o pânico todo que havia ainda compreendo, ou nas cidades da China em que o ar é irrespirável também. Agora nos aeroportos e a passear por cidades da Europa? Um par de estalos.

Há ainda aquele pessoal que não tendo misofobia, faz aquele ritual de estofar o tampo da sanita com papel higiénico. Esse ritual também é bastante parvo, já que é sabido que em termos de servir como barreira aos germes não serve para nada, só mesmo como barreira psicológica. Eu nunca me preocupo com isso, sou um javardão, se parece limpo, passa-se papel para confirmar e toca a sentar meus delicados glúteos. O pior é quando o tampo ainda está morninho e se dá uma verdadeira dicotomia de sentimentos: por um lado sabe bem não ter que sentir o frio nas nalgas, especialmente no Inverno, mas por outro é um bocadinho nojento.
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