Dia 21 de Setembro haverá uma Marcha do Orgulho Heterossexual. Acho bem, fazia falta algo para celebrar a heterossexualidade e lutar contra o preconceito e discriminação que nós, todos os heterossexuais, sofremos diariamente. Lembro-me quando, por volta dos 15 anos, me assumi como heterossexual aos meus pais. Foi muito complicado eles aceitarem, especialmente porque tinham medo do meu futuro e do sofrimento que este me poderia trazer. Lembro-me de dizerem, a chorar "Ainda por cima tu queres ir para informática e és heterossexual? Nem há gajas em informática e as que há têm bigode e fazem lembrar homens... ainda se fosses bi! Agora assim vais acabar sozinho?". Foi difícil para eles, especialmente para a minha mãe, que sempre sonhou em ter um genro gay que a ajudasse na decoração para a casa e fosse às compras com ela. Assim, teria uma nora e todos sabemos que as mulheres de hoje já não são prendadas como as de antigamente e que eu teria de cozinhar todos os dias. Lembro-me de os meus pais me dizerem que era uma fase, que eu estava confuso e que era uma moda influenciada pelos filmes e histórias da Disney em que há sempre um casal heterossexual. Não foi uma fase, ainda hoje aprecio pipi, apenas e só.
Ser heterossexual sempre foi complicado e as pessoas não sabem pelo que nós, especialmente os homens heterossexuais passamos. Primeiro, temos de aturar mulheres como parceiras e companheiras de casa, ter o ralo da banheira sempre entupido de cabelos e, pior, depois do sexo temos de conversar. Os gays têm a vida facilitada: se forem homens, querem é despachar, vir-se e ir jogar Playstation ou cantar Mariah Carey no Sing Star; se forem mulheres querem as duas ficar a conversar. A discriminação de ser um homem heterossexual começa logo na adolescência e nas relações amorosas: lembro-me de estar interessado em alguém do sexo oposto e sentir a pressão de ser eu a tomar a iniciativa para ir falar com ela; nos gays não há esse problema, já que qualquer um pode dar o primeiro passo por estarem em pé de igualdade genital. Também nos restaurantes os homens heterossexuais são discriminados, tanto aquando da prova do vinho como quando o empregado traz a conta. Partem do princípio que, por sermos o homem do casal, temos de ser nós a provar o vinho e lá temos de fazer aquela triste figura de fingir que entendemos de taninos e robustez de sumo de uva. Com os casais homossexuais tal não acontece e o empregado serve o vinho a quem calhar ou àquele que parecer menos rabicho.
A esta discriminação junta-se o assédio de que os heterossexuais são alvo todos os dias. A imposição violenta da homossexualidade a todos nós é um flagelo desta sociedade progressista. Quantas vezes não estamos no multibanco a levantar dinheiro e um gay se posiciona atrás de nós, encosta-se e pensamos que é um assalto, mas não: é uma violação. Começa a fazer amor com o nosso rabo e acabamos por nos enganar a meter o PIN, várias vezes, e ficamos com o cartão bloqueado. É uma situação bastante aborrecida. Nas praias também sentimos essa imposição da homossexualidade de cada vez que, especialmente em dias de muito calor, vem um grupo de gays e faz um arrastão de picha. Um magote de gays, em sunga e com corpos oleosos, varre o areal e viola toda a gente a chapadas de pila. É terrível porque no fim um gajo já não sabe o que é protector solar e o que não é.
Por tudo isto e muito mais, faz todo o sentido haver uma marcha de orgulho heterossexual! Este é o cartaz do evento de Facebook que está a convocar a marcha hétero.
É horrível, não é? Pois, sabem porquê? Porque não têm um designer gay com bom gosto. Até nisto os heterossexuais sofrem, na falta de tacto para conjugar cores e escolher bons tipos de letra. Ficámos presos no tempo do Paint e do Word Art, enquanto os gays evoluíram mais rápido para o Photoshop porque gostaram do nome do programa por lhes fazer lembrar compras.
Deixo algumas sugestões de actividades para a marcha de orgulho heterossexual. Em vez de músicas como YMCA, passar músicas românticas com letra de amor heterossexual dos Queen e do George Michael, especialmente da altura que tinham bigode. Em vez de drag queens, devemos ir todos vestidos de polícias e pedreiros, profissões másculas, mas temos de ir mal vestidos e sem estilo nenhum para celebrar a heterossexualidade! Outra coisa importante é levar algumas crianças para abandonar à porta de orfanatos.
Com a adopção de crianças por parte de casais do mesmo sexo, é importante repor o stock de crianças abandonadas por heterossexuais para mostrarmos o valor da família tradicional!
Como é que eu agora termino com este discurso irónico e falo mais a sério sem quebrar a genialidade do texto? Já sei, faço um parágrafo a dizer que vou mudar o tom a partir de agora e passar para um registo mais sério. Pronto, já está.
Marcha de Orgulho Heterossexual é uma palhaçada, foda-se. “Se há orgulho gay porque não há orgulho hétero?”, perguntarão alguns. Eu explico, meus pequenotes. Ter orgulho em ser gay é tão parvo como ter orgulho em ser hétero, sim, já que não é uma escolha e ter orgulho em coisas que não dependem do nosso esforço ou dedicação não faz sentido. Ter orgulho em enfrentar o preconceito e ter a coragem de viver como queremos viver, isso, sim, já faz sentido. Ter orgulho em todos aqueles que lutaram contra a discriminação e o estigma, sim. Perceberam? Ter orgulho em gostar de chupar pilas, é parvo, mas ter orgulho em saber chupar bem uma pila, aí sim, já é válido, tal como eu tenho muito orgulho em ser um mestre no que faço. A questão é tão simples que me sinto sujo em ter de a explicar, mas a verdade é que assumir a homossexualidade ainda é, muitas vezes, lutar contra algo. Assumir a heterossexualidade não é nada até porque ninguém precisa de a assumir, pois todos partimos do princípio que alguém é heterossexual a não ser que seja uma mulher com cabelo curto que conduza camiões ou um gajo de perninhas fininhas que use pochetes. Nesse caso assumimos que são gays. Preconceito? Sim, mas preconceito quase sempre certeiro.
Haver uma marcha heterossexual é o mesmo que haver uma marcha de orgulho organismo multicelular só para ver as amebas todas fodidas a refilar.
Agora, acalmem lá é a patareca lésbica e a pila que gosta de rabo de homem que a sigla está a ficar muito grande. LGBT está bom, fica no ouvido. LGBTQIAPK+? Andamos a brincar? É uma serial key para crackar o Office? Ficamos com LGBT+, pode ser? Embora me traga traumas por me fazer lembrar os meus tempos de informático em que C++ era um pesadelo. Os apontadores eram uma merda, embora em LGBT+ também existam apontadores em caso de orgia de homens, havendo sempre um que serve para apontar. Bem, já chega de piadas nerds.
Dito isto, as marchas gays têm todo o meu apoio, podem ser exuberantes com gajos com plumas e lanternas enfiadas no rabo a dizer que são pirilampos. Por mim, tudo bem, transexuais, intersexo e tudo isso, não tenho nada a ver com o assunto. Identificas-te com um estegossauro e metes 7 pilas ao longo da coluna vertebral, alinhadas com os chakras, e dizes que és um estegossauro de pichas? Estás no teu direito, não tenho nada a ver com isso, mas não fiquem chocados por haver pessoas chocadas, até porque muitos se vestem assim para chocar. É normal, há pessoas mais conservadoras que vão achar aquilo uma palhaçada. Meter a pila num ninho de vespas e depois dizer que as vespas picam não vale de protesto porque toda a gente sabe que as vespas picam. Sim, as vespas deviam ter mais tolerância, mas sabemos que não têm, é preciso educar ou esperar que morram.
Mas bem, é por tudo isto que faz sentido haver uma marcha gay e não uma marcha heterossexual. Primeiro, porque marchar é um bocado maricas, depois porque houve e ainda há, em muitos países, verdadeira discriminação contra a homossexualidade - dá pena de morte em muitos casos - e, que eu saiba, meter pilinha no pipi só dá morte se a dona do pipi for casada com um gajo que tem uma arma. A marcha de orgulho gay não deve ser encarada como “Eles acham que os gays são melhores!”. Claro que haverá lá gays palermas que pensam assim e querem chamar à atenção para o seu novo corte de cabelo, mas a premissa e origem é muito mais profunda do que a futilidade aparente do evento e não é preciso ser muito inteligente para perceber isso.