26 de abril de 2017

25 de Abril, Salazar, Taxistas vs Uber - Podcast #4



No rescaldo do feriado que marca a revolução, já está disponível o quarto episódio do podcast Sem Barbas Na Língua. Como não podia deixar de ser, os temas principais são o 25 de Abril, a liberdade de a ditadura, os tweets que Salazar nunca escreveu e ainda taxistas contra a Uber. Ora cliquem lá no play e, se gostarem, partilhem.



Cronologia do episódio:
00:01:00 - 25 de Abril
00:15:00 - Tweets de Salazar
00:21:00 - PREC
00:24:00 - Saudades de Salazar
00:31:00 - Futebol, Fado, Fátima
00:40:00 - Estamos melhor em Portugal
00:45:00 - Taxistas, Uber e Skynet
00:51:00 - Liberdade de expressão

Podem ouvir e subscrever o podcast nas seguintes plataformas:
Como foi dito no episódio, para a semana não haverá podcast porque uma pessoa também tem direito a férias. Até lá, enviem perguntas e sugestões para sembarbasnalingua@gmail.com e vão partilhando. Obrigado.
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25 de abril de 2017

Se Salazar tivesse um consultório sexual



Queria começar por agradecer ao Professor Doutor António de Oliveira Salazar por duas coisas: primeiro, por ter instaurado uma ditadura em Portugal durante anos e fazer com que a liberdade agora seja tão mais saborosa, já que não existe o doce sem o amargo. Segundo, por ter aceitado o meu convite para ser o doutor de serviço do "Doutor G explica como se faz" de hoje. Vamos lá então ver se Salazar percebe do assunto ou nem por isso.


Boa tarde Doutor G , estou numa relação há 2 anos e meio, a relação é saudável e mantemos uma relação sexual bastante ativa e selvagem! Recentemente chegamos a um conflito de vontades, pois ela faz tudo, tudo mesmo, mas só nao faz as duas coisas que eu mais gosto, não engole (diz que tem medo de se engasgar!!) e nao usa a lingua (para me dar prazer anal. Diz que é nojento. Nao sei o que fazer, pois estas são duas coisas preponderantes para a minha atividade sexual, que posso eu fazer doutor G. ?
Xoninhas, 23, Lisboa

Salazar: Caro cidadão xoninhas, noto alguma incoerência no teu discurso, sendo que dizes e reafirmas que ela faz tudo, mesmo tudo, mas depois confessas que ela afinal até tem alguns valores católicos. Vou partir do princípio que sois casados, já que o sexo fora do casamento é um pecado que faz chorar os anjinhos principalmente porque eles não são providos de sexualidade e têm alguma inveja. Um bem haja à tua esposa por se negar a praticar actos demoníacos como aqueles que descreves como sendo as tuas maiores fantasias. Se o sémen fosse feito para engolir, vinha com sabor a cheesecake de morango de origem. Além de que a sua textura se assemelha a expectoração da tuberculose e é perigoso pois pode alojar-se na epiglote e matar a receptáculo de esperma em questão. Imagina o que é teres de ligar aos teus sogros e dizer «Meus Deus! Nem sabeis o que aconteceu! A Maria morreu engasgada... com quê? Ora bem... com batido de pénis.». Era constrangedor. Relativamente ao teu segundo desejo de que te lamba o ânus, deixa-me dizer-te que o espírito maligno do homossexualismo tem cura. Toda a gente sabe que a língua feminina no ânus é a ganza da homossexualidade. Toda a gente começa por aí e depois passa para coisas mais duras, se é que me faço entender.


Caro Dr. namorei com um rapaz durante 6 anos (comecei aos 18). Crescemos juntos e supostamente íamos acabar juntos, ele foi o primeiro e tudo.. Após os 5 anos de namoro ele traiu-me, tentei perdoar... Tentámos outra vez, mas ele foi trabalhar para outro país e foi ele que acabou comigo... Desde então que olho para os homens com vontade de apenas lhes saltar em cima. Não consigo concentrar-me no que eles dizem e só penso quando é que chegamos à cama. Tornaram-se simplesmente numa das fontes de prazer. Confesso que não sei se sinto saudades do ex, se ainda gosto dele ou se sinto vontade de me vingar através de todos os outros. Mas a verdade é que o meu descrédito pelo género masculino aumenta dia para dia... E claro que é tinder com fartura ahahaah. Que dicas me podes dar?     
Ana, 26, Lisboa

Salazar: Cara cidadã Ana, o homem não trai. O homem cede aos seus impulsos naturais de macho que foi criado por Deus para espalhar a semente divina e propagar a espécie humana. Vejo que és uma mulher à moda antiga por teres perdoado o teu homem e saberes que a culpa não é dele, mas sim das hormonas e da galdéria que se colocou debaixo dele. Percebo que ele tenha emigrado para trabalhar, basta olhar para o estado da nação atual. No meu tempo, ninguém emigrava porque havia pelo menos uma sardinha para cada dez pessoas e todos viviam contentes e alegres de roda de uma fogueira tão linda, graças a Deus, já dizia a Dona Helena. Foi pena terem terminado uma relação tão bonita e baseada na confiança que só uma "traição" perdoada pode trazer. Relativamente ao facto de te teres agora transformado numa meretriz, penso que o melhor será ires à Igreja confessar-te ao senhor padre e ponderares fazer um retiro espiritual e enclausurares-te num convento.


Passo a explicar o meu imbróglio. Tenho uma namorada de há uns tempos para cá e ela partilhou comigo que tem a fantasia de partilhar uma noite de magia com outra fêmea, mas que nunca o fará enquanto estiver comigo. Eu, pelo meu lado, disse-lhe que gostava muito de a ajudar a satisfazer a dita fantasia, bom namorado que sou fazia o sacrifício. No entanto, não parece haver terra à vista em relação ao assunto. Como hei-de convencê-la?! Ajude um conspícuo, por favor!!  
J, 21, Lisboa

Salazar: Caro cidadão J, esse tipo de experiências sexuais são para ser praticadas fora do matrimónio e com profissionais a bem da moral e dos bons costumes. A família tem de vir em primeiro lugar e nunca deve ser conspurcada pelo sexo a não ser para efeitos de procriar ou esvaziar o saco de pasteleiro. No entanto, não percebo a tua dúvida quando perguntas como deverás convencê-la. A mulher tem de fazer o que o homem manda sem que este precise de recorrer à violência já que bater numa mulher é sempre errado a não ser quando elas não fazem o que lhes mandamos fazer. Nesse caso, um correctivo simples é, até, bem visto e uma forma de educação necessária já que todos sabemos que este país está pelas horas da morte no tocante a essa área. Aliás, sabendo que o excelentíssimo Doutor G se auxilia de fluxogramas para ajudar os seus pacientes, tomei a liberdade de elaborar este para te ajudar a ti a todos os nossos companheiros:


Carissímo Doutor G! O meu marido, há uns anitos atrás (namorado na altura), meteu-se com uma colega de curso. Acabámos, a coisa entre eles não aconteceu (por opção dela, convenhamos), acabámos por nos aproximar novamente, e estamos juntos desde então. Ora o rapaz mudou de emprego recentemente, e vim a descobrir que a moça não só trabalha na mesma empresa, como é colega de equipa. O trabalho de ambos pressupõe que façam viagens esporádicas ao estrangeiro (juntos, claro), e, obviamente, não estou muito feliz com o sucedido. Ele diz que sou uma exagerada e que se fosse normal aceitava sem me queixar, eu acho que tenho razão para ter alguns ciúmes. De-me a sua opinião de homem Doutor, estou ou não a exagerar? 
Anónima, 31, Águeda

Salazar: Cara cidadã Anónima, claro que estás a exagerar. A mulher exagera muito, principalmente quando fala sem que lhe perguntem nada. É um defeito vosso com o qual os homens têm de conviver. Se sois casados, é para ser na saúde e na doença, na alegria e na tristeza. Ora, se assim é, também terá de ser na fidelidade e na traição. Essa mulher de que falas, se é colega de curso e faz parte da mesma equipa de trabalho do teu esposo, deve ser um bocado homem, já que todos sabemos que as mulheres femininas não têm capacidade para se equivalerem aos homens no local de trabalho. Por isso, não teria receio pois, provavelmente, ela terá bigode, costas de nadador olímpico, e, talvez, um clítoris tão grande que parece uma pilinha circuncidada de recém nascido. Ainda assim, se por acaso o teu homem ficar atraído por ela e praticarem o coito, só tens a ti e a ela para culpar. Aproveita a ausência dele para ocupares a cabeça com coisas mais dignas de uma esposa como passar a ferro e cuidar da casa.


Exmo Dr. G, venho por este meio pedir os seus conselhos técnicos e práticos. Saí de uma relação à 6 meses, e à 6 meses que ando a seco e à caça de donzelas em socorro. Acontece que no meio de tantos tiros para o ar, lá acabei por acertar com uma...e outra e outra... Passa-se que agora não sei o que fazer! Escolher uma das três? Praticar lutas greco romanas com as 3 (à vez) e decidir qual delas leva o troféu? Nunca fui um Casablanca e agora ando numa luta moral contra o rei lá de baixo! Ajude-me Doutor!
Anónimo, 24, Inglaterra

Salazar: Caro cidadão Anónimo, vejo que tem um grave problema com a conjugação do verbo haver. Quando dizes que nunca foste um Casablanca penso que querias dizer um Casanova. Ou querias dizer que nunca foste a Casablanca, em Marrocos? Parece-me despropositado e não aconselho já que aquilo é governado por Muçulmanos e já se sabe o que a casa, blanca ou não, gasta. Fiz um trocadilho muito agradável. Jovem, tens 24 anos e já não és uma criança. Com essa idade já devias ter contraído matrimónio e tido pelo menos cinco filhos. Por isso, das três, escolhe aquela que é mais recatada no sexo pois será a que dará uma melhor esposa. As outras, continua a fornicá-las por fora sem ninguém saber como qualquer homem honesto, e que valoriza a família, faria. Assim, tens quem te passe a roupa e faça comida e tens outras para levar com a dita, dura. Outro trocadilho! Hoje estou levado da breca!


Estimado Dr. G., há cerca de 4 anos que tenho uma amizade colorida com um homem mais velho que eu (diferença de 12 anos) e há cerca de 2 anos que esse homem tem uma outra relação assumida. Os dois motivos pelo qual não o deixo são: uma paixão assolapada e o sexo ser muito bom. A minha dúvida centra-se nos motivos dele. Sei perfeitamente que me torno cansativa com tamanha insistência para que ele a deixe e tente uma relação comigo, desta vez assumida. Um homem consegue ter uma relação de 4 anos só por sexo? Temos evoluído neste aspecto. No inicio não era assim tão bom (inexperiência) e ele sabe que tudo o que aprendi nesse campo foi ele que me ensinou. Recentemente conseguimos que eu tivesse um orgasmo (foi fantástico). O que o prende será o facto de ser "a menina dele" como ele diz, e o sexo ser bom. Não haverá mesmo nenhum sentimento? Não me quero iludir, mas também não quero desistir!
Sofia, 26, Valadares

Salazar: Cara cidadã Sofia, porque estás tu a atrapalhar a vida de um senhor? Não pode ele estar descansado com a sua cônjuge e a sua amante, cada uma no seu canto, e tem de estar a ouvir exigências por parte de quem só serve para ele descarregar as suas energias masculinas? Se gostas realmente dele, terás de sofrer em silêncio e perceber qual é o teu lugar. Se ele diz gostar de ti, é porque gosta, já que todos sabemos que os homens não mentem. O problema é que terás sido uma daquelas rameiras que faz felácios e ele percebeu que só serias bom material para amante e nunca para casar e constituir família. Boca que suga pénis, não pode ver se a comida dos filhos está boa de sal. No entanto, o pior de tudo é que me parece que estás com problemas psicológicos que te estão a fazer alucinar: tiveste um orgasmo? Como assim? O orgasmo feminino é um mito e devias procurar aconselhamento psiquiátrico! Há pessoas que acreditam em cada coisa... valha-me Nossa Senhora de Fátima!


Mais uma vez, o meu obrigado ao Professor Salazar por esta consulta. Espero que tenham gostado e que partilhem. Aos pacientes de hoje, e aos restantes, se quiserem uma resposta do Doutor G podem enviar as vossas dúvidas para porfalarnoutracoisa@gmail.com.


Façam muito amor à bruta porque de guerras o mundo já está cheio.

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24 de abril de 2017

Foi para isto que se fez o 25 de Abril?



Tenho um jogo com taxistas que é o seguinte: ver quanto tempo demoram a dizer «O que faz falta a Portugal é um Salazar.». Em primeiro lugar, destacado, está um taxista que não devia ter mais de 40 anos e que após eu perguntar se o trabalho corria bem, responde-me «Tem dias. Só bandidos. O que faz falta a Portugal é um Salazar.». Estavam decorridos cerca de oitenta segundos de viagem. Foi capote. Tive pena de não ter confetes. Quis abraçá-lo e dar-lhe uma taça de campeão, mas contive-me não fosse ele pensar que eu era um desses maricas que andam por aí só porque Portugal agora é um paraíso de bandidagem que assalta rabos alheios.

Sempre achei estranho que pessoas que não coexistiram com Salazar sintam saudades dele.

Seria o mesmo que eu dizer que Portugal precisa é de uma Tutankhamon, só porque li umas coisas que dizem que ele até fez umas coisas bem-feitas ignorando tudo o resto. No entanto, talvez faça mais sentido alguém gostar de Salazar sem ter vivido no seu tempo e que apenas conta com as memórias relatadas por quem fazia parte da pequeníssima minoria que vivia bem nesses tempos. Haverá sempre saudosistas dos tempos da ditadura porque há muita gente para quem a liberdade de pensamento e de expressão é secundária porque não são muito atreitos a pensar e, muito menos, a contestar as regras. Porque estávamos melhor? O que leva pessoas a pensar isso da mesma forma que uma namorada que foi agredida pelo namorado decide esquecer e voltar para ele uma e outra vez?

1- Não havia serviço nacional de saúde, que só foi implementado em 1979, e era um dos fatores de haver em Portugal uma taxa de mortalidade infantil maior do que 50‰. Já sei que estão a pensar que há pelo menos 50% de pessoas que vocês conhecem que nem sequer deviam ter nascido. Talvez faça mesmo falta um Salazar.

2- Havia guerra colonial em que milhares de jovens portugueses eram enviados para o campo de batalha, sem saberem bem porquê, a defender os resquícios de um império que havia sido o maior do mundo a tentar negar a liberdade a povos escravizados e invadidos. Já sei que estão a pensar que ao menos nessa altura os homens iam para a guerra e eram menos maricas, com a exceção daquelas tatuagens das sereias e corações a dizer “Amor de Mãe”. Talvez faça mesmo falta um Salazar.

3- Não havia voto livre e, quando havia, as eleições eram falsificadas e Salazar ganhava na mesma, chegando a mandar matar, com sucesso, um dos principais rostos da oposição: Humberto Delgado. Já sei que estão a pensar que o voto agora é livre e que o pessoal fica na praia ou o desperdiça a votar nos mesmos de sempre sem que nada mude. E também que não se perdia nada se alguém fizesse desaparecer o Passos Coelho. Talvez faça mesmo falta um Salazar.

4- No tempo de Salazar havia presos políticos que se opunham ao regime, mas nos dias de hoje há políticos presos. Já sei que estão a pensar que só prenderam uma minoria dos corruptos e que com Salazar se calhar tinham levado um balázio entre os olhos, não por serem corruptos, mas por serem opositores, ou nem tinham chegado a sê-lo porque não havia tantos partidos e, por conseguinte, muitos postos de trabalho para a corrupção. Verdade, se calhar Salazar faz mesmo falta a Portugal.

5- Nunca havia greve dos funcionários públicos porque ninguém ousava lutar por melhores condições de trabalho. Nos tempos que correm, há greves a toda a hora na função pública e especialmente nos transportes porque as pessoas têm a mania que podem reivindicar pelos seus direitos mesmo que isso incomode outras pessoas. Começo a pensar que um Salazar até tinha coisas boas.

6- Havia a Mocidade Portuguesa onde crianças eram obrigadas a fazer parte de uma instituição militarizada onde eram formatadas e lhes cortavam qualquer interrogação sobre a autoridade e o poder vigente. Hoje, vemos criançada com boné do SWAG e calças a mostrar o rego, que ainda nem tem pelos, e a ouvir Agir no telemóvel sem auscultadores. Volta, Salazar, estás perdoado.

7- Havia mais discriminação. Havia mais pobreza. Havia menos respeito, dizem, só que não. Havia era mais medo e temor à autoridade. Não responder a um professor ou a um polícia que abusa da autoridade não é respeito. É medo. É ser-se choninhas.

Há quem se esconda atrás da segurança, dizendo que era um país muito mais pacato e seguro. O Afeganistão também era mais seguro quando era governado pelos talibãs a não ser que alguém saísse da linha: nesse caso havia perninhas e bracinhos cortados e cabeças enviadas à família como condolências. Para mim, a liberdade vale mais do que a segurança.

A beleza da liberdade é que podem existir pessoas que defendem um ditador que reprimiu um povo e o manteve na pobreza.

Liberdade é essas pessoas poderem pensar dessa forma e exprimir os seus ideais racistas, homofóbicos e misóginos. A grande dádiva da liberdade é a permissão à estupidez e a convicção de que esta deve estar a céu aberto e nunca num aterro onde não se vê, mas cheira mal na mesma. Nenhuma revolução é perfeita e completamente altruísta. A revolução é feita por um grupo de pessoas e num grupo de pessoas há sempre as que querem o poder para si e lucrar com a situação. A revolução é como uma piada sobre uma tragédia: pode ofender alguém, mas liberta outras e a piada só existe porque a tragédia aconteceu, da mesma forma que uma revolução, boa ou menos boa, só ocorreu porque havia opressão e ditadura. Quem acha que o 25 de Abril foi um erro e que o Salazar é que devia mandar nisto, lembrem-se que só houve 25 de Abril porque tinha havido um Salazar a comandar e oprimir um povo durante 36 anos. Se Salazar fosse assim tão bom, como muitos advogam, o 25 de Abril nunca teria acontecido porque não seria preciso. Por isso, dizer que o Salazar era o maior e que o 25 de Abril foi um erro é um paradoxo. Para além de ser estupidez, claro, e é graças ao 25 de Abril que essas pessoas podem ser estúpidas à vontade e que nós nos podemos rir delas sem medo de levar um calduço da PIDE.
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21 de abril de 2017

8 razões para não vacinar os seus filhos



Sinto que na polémica sobre a vacinação das crianças o debate está demasiado tendencioso para o lado da comunidade médica e farmacêutica e ninguém dá voz a quem é contra a vacinação das crianças. Como tal, resolvi reunir os dez argumentos mais fortes contra a vacinação que, estando em forma de artigo na Internet, são totalmente reais e valem tanto como anos de estudo e de testes que produzem as vacinas.

A agulha pode estar infectada com HIV.
Todos sabemos que as seringas podem conter HIV criado por geração espontânea, da mesma forma que se pode ficar com hemorroidas a dar a mão a um gay passivo que tenha tido sexo nas últimas duas horas. É um facto cientifico comprovado. A minha mãe sempre me disse para ter cuidado com as seringas na praia e não podemos confiar que os médicos e enfermeiros não usem a mesma seringa para aviar todos os pacientes sem a passar por água. As clínicas servem para fazer dinheiro e parecendo que não, se puderem poupar nas seringas conseguem ficar com muitos mais lucros. Só não vê isto quem é cego, seja de nascença ou porque tomou uma vacina que lhe causou cegueira.

As vacinas não funcionam.
Esta razão seria suficiente se as pessoas fossem inteligentes e percebessem que nunca foi feito um estudo fidedigno que mostre que as vacinas têm resultados. As doenças que foram sendo erradicadas foram-no por sorte. As doenças cansaram-se emigraram para outros países porque os vírus e bactérias são bicho que anda atrás do verão como as andorinhas. As vacinas dos Serviço Nacional de Saúde são uma espécie de renda fixa das farmacêuticas e nenhuma faz efeito, mas eles para disfarçar, em vez de meterem só água nas vacinas, metem componentes tóxicos porque para além de quererem o nosso dinheiro ainda têm um plano maquiavélico de reduzir a população.

As vacinas tornam as crianças autistas.
Foram médicos estrangeiros que o disseram e, por isso, está comprovado cientificamente. Qualquer pesquisa no Google percebemos logo que a causa e devido a metais pesados e cenas que uma vez li num site credível do qual não me lembro o nome. Aliás, os dois médicos que sugeriram esta teoria foram totalmente desacreditados pela comunidade médica, mas é óbvio que se vamos acreditar em médicos, mais vale acreditar em dois que foram proibidos de exercer do que na maioria dos especialistas. As minorias estão sempre certas. Vacinar os filhos é coisa de pais que não confiam nas capacidades das suas crias e preferem ter uma desculpa de que eles não têm boas notas porque ficaram bilús por causa das vacinas.

O que está na Internet é verdade.
Se existem milhares de artigos em sites na Internet a dizer que as vacinas são perigosas é porque é verdade. Onde há fumo há fogo. Aliás, é fácil perceber que as vacinas foram criadas pelos reptilianos que controlam o nosso planeta plano, e que moram naquele sítio onde o Homem nunca foi: a Lua. O único ser humano a pisar a Lua foi Hitler que depois de fugir de Berlim foi para lá viver num T0 com o Elvis, até hoje.

As farmacêuticas não são de confiança.
Toda a gente sabe que quando se junta lucro com saúde o caso fica mal parado. Tudo o que vem das farmacêuticas é demoníaco e banha da cobra, mesmo que ao longo dos anos tenham sido desenvolvidos fármacos que permitem curar doenças com um comprimido que antigamente eram mortais e sem cura. Aspirina para a dor de cabeça? Tudo mentira. Apanham duas azedas do jardim onde os cães urinam e esfregam atrás das orelhas enquanto cantam o Imagine do John Lennon e vão ver que a dor de cabeça passa na mesma. Um medicamento custa dinheiro, mas rezar não custa nada. Agora pensem o que é que faz efeito e o que é que é criado para fazer lucro.

A melhor forma de vacinar é expor o seu filho à doença.
Os nossos sistemas imunitários são fortes o suficiente sem vacinas desde que sejam treinados. Em vez de vacinar o seu filho, deve atirá-lo para águas estagnadas e inscrevê-lo na natação na Margem Sul. Essa teoria de que há 50 anos a taxa de mortalidade infantil em Portugal era de 77‰ e agora é de 3‰ nada tem a ver com o avanço da medicina e da farmacologia. Isso só acontece porque hoje as crianças estão em casa a jogar computador e não na rua a jogar à bola no meio da estrada nacional, mas essa informação não interessa a ninguém nem vem nas estatísticas. Nem é preciso acrescentar que a vacina do tétano também é um embuste e que é muito mais eficaz, durante os primeiros meses de vida, deitar o seu bebé numa cama de pregos enferrujados para desenvolver os anticorpos.

Não ser vacinado é popular.
Nos dias de hoje, com o bullying é importante o seu filho ser diferente e destacar-se pelas boas razões para ser popular e cool. Antigamente, ninguém se metia com as crianças que não tinham sido baptizadas, com medo de apanhar algum espírito maligno. Nos dias de hoje, não vacinando o seu filho faz com que no recreio ninguém queira jogar à apanhada com ele a não ser que ele seja gordo e seja ele a tentar apanhar os outros. Ter um filho vegan ou um filho com dois pais e duas mães já não é suficientemente diferenciador para causar furor na reunião de pais. Agora a moda é dizer-se «Eu opto por não vacinar os meus filhos porque confio mais no que leio na Internet do que em especialistas com anos de investigação e experiência.».

Vacinar mata.
As crianças vacinadas também morrem e é impossível provarmos que caso não tivessem sido vacinadas ainda estariam vivas, logo, o melhor é não vacinar. Há pelo menos dois casos no último ano de crianças que ao sair do hospital após terem sido vacinadas, foram atropeladas na passadeira por uma ambulância. Não é preciso ser-se um pediatra ou cientista conceituado para saber que aquela criança teria vivido mais anos se não tivesse sido vacinada.


Se, por acaso, estas razões estiveram erradas, basta lembrar que ter filhos também não é só um mar de rosas e que mesmo que eles morram cedo com uma doença completamente evitável, nem tudo é sofrimento. Pense nas férias que pode fazer com o dinheiro que vai poupar e com a liberdade de não ter de carregar com uma mini pessoa que só chora e faz cocó deitada. Se a criança não morrer das doenças todas que vai ter, pense que é uma oportunidade de ficar de atestado médico em casa a cuidar dela e não ir trabalhar. Seja como for, ficará sempre a ganhar em não vacinar os seus filhos. Partilhe e espalhe a verdade com os seus amigos.
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19 de abril de 2017

Abriu a época do ginásio e da foto na praia



Ontem dei por mim a pensar que talvez esteja na hora de voltar a inscrever-me num ginásio. Depois, comi gelado, perdi a vontade e em vez de sair de casa decidi sentar-me a escrever este texto. Se em Janeiro começam as primeiras inscrições em massa nos ginásios, catalisadas pelas resoluções de ano novo que nunca são cumpridas, é em Março e Abril que abre a época oficial da malhação. Chega a Primavera e com ela desaparecem as camisolas de lã que escondiam a banha acumulada do Inverno, qual urso que preferiu prevenir do que remediar ao preparar-se para hibernar na sibéria, e fazem-se contas de cabeça e percebe-se que só se tem mais três meses até ao Verão. Rezemos para que o Junho deste ano seja mais frescote e não dê para fazer praia.

Já fiz muitos anos de ginásio, embora agora já não se note. Aliás, é o grande mal do ginásio: ser de efeito temporário e demorar três meses a reparar o que um domingo de ressaca com pizza, gelado e cheesecake destruiu. Por isso, posso dizer à vontade que o conceito de ginásio é parvo. Vejamos: ir de carro ou de transportes para um sítio fechado onde vamos andar numa bicicleta estática; em casa subimos de elevador até ao 2º andar, mas no ginásio estamos meia hora numa máquina que simula que estamos a subir escadas.

Quem vai ao ginásio só devia andar de escadas rolantes se fosse ao contrário.

Pagamos a uma equipa de mudanças para acartar com os móveis, mas depois ficamos todos contentes por já conseguirmos fazer supino e agachamentos com mais peso do que no mês passado. Queixamo-nos de dores nas costas a aspirar a casa, mas fazemos abdominais todos tortos até ficarmos com a lombar a arder. Pagamos IMI por termos uma casa que apanha sol, mas vamos fechar-nos numa cave sem janelas. Queixamo-nos das pessoas suadas no metro, mas vamos enfiar-nos numa sauna com desconhecidos e deitamo-nos em bancos ainda manchados com o suor alheio. Chamamos a polícia se vemos um homem todo nu coberto por uma gabardina a exibir-se na rua, mas pagamos para dividir um balneário com outras pessoas que desfilam a genitália. O ser humano sempre criou as suas próprias prisões de incoerência e imaginem o que seria voltar ao passado e explicar o conceito de ginásio a um dos nossos antepassados caçadores-colectores:

- Bem, agora tenho de voltar para a máquina do tempo que tenho de ir ao ginásio que só tenho daquelas mensalidades dos pobres e desempregados que só dá para ir durante o horário de trabalho das pessoas normais.
- Ginásio? O que é isso?
- É uma cena onde fazemos desporto.
- Desporto?
- Sim, exercício físico para ficar em forma.
- Porque é que precisam de ficar em forma?
- Porque comemos muito.
- São uma tribo boa caçadora?
- É... mais ou menos. Vamos ao supermercado e está lá tudo.
- E porque comem demasiado se nunca vos falta comida?
- Eh... epá, porque um gajo está em casa sem fazer nada, sentado no sofá, e sabe sempre bem umas batatas fritas e pão de forma com ketchup.
- Então, mas não chega o exercício que fazem no trabalho?
- Esses trabalhos não pagam muito bem... eu sou consultor informático, passo o dia sentado 16 horas.
- E depois gastas dinheiro no ginásio para compensar?
- Sim.
- Mas por que é que pagas para ir correr ao ar livre?
- Ar livre? Não, isso é de borla. Pago para ir correr numa passadeira que não sai do sítio.
- Porquê...?
- Porque ao ar livre depois há chuva e frio e tal.
- Ah... fazes desporto no Inverno também?
- Não, só costumo fazer ali antes do verão...
- Custa-me a acreditar que tenhas mesmo uma máquina do tempo...

Se há quem treine o ano todo e faça do desporto uma forma de estar, o que dá realmente dinheiro aos ginásios é aquela espécie migratória que paga a anuidade, mas apenas usufrui três meses. Esta espécie tem sempre o mesmo padrão de comportamento: inscreve-se em Janeiro e treina duas semanas a sério. Depois vai relaxando e percebe que chegou a Páscoa e está na mesma forma física. Treina dois meses no duro e começa a ver alguns resultados e pensa «Se eu tivesse treinado assim desde Setembro chegava ao Verão impecável!». Chega a Junho e percebe que não é mais um mês que vai fazer a diferença e promete voltar ao ginásio em força logo depois do Verão para estar em forma para o Verão seguinte. Apenas volta ao ginásio em Janeiro e repete este processo.

Quem inventar uma máquina de ginásio que se possa ter em casa e que tenha o formato de um sofá em que o exercício consiste em estar sentado todo torto a comer bolo será a pessoa mais rica do mundo. Toda a gente gostava de ser elegante e ter um corpo bem definido e torneado, mesmo aqueles que dizem que elas gostam é de um homem com barriguinha e aquelas que dizem que uma mulher se quer com pneus para manobrar. Todos nós queremos ser fit sem esforço, mas usamos essas desculpas para camuflar a falta de força de vontade para comer menos e fazer mais exercício. Calma, gordos! Não desatem já aí a chamar-me nomes e a cuspir Doritos para o teclado! Não se enervem que isso gasta calorias! O pessoal que é muito magro é a mesma coisa! Ninguém gosta de um cabide na cama e de um monte de ossos para jogar ao Mikado. Os corpos não são todos bonitos, lamento.

A época oficial do início do ginásio coincide com a abertura oficial da fotografia na praia, no Instagram. Mais uma vez, há quem as coloque o ano inteiro, racionando as fotografias que tirou nas férias para durante o Inverno ir alimentando as redes sociais de forma a dar a entender que são espíritos livres e que a sua vida é feita a correr atrás do Verão quando, na verdade, estão enfiados num call center sem ar condicionado. 

Chegam os primeiros raios de sol e os feeds das redes sociais são invadidos por pés sapudos enfiados na areia, por gajos labregos de tronco nu e óculos de sol na cabeça, e por sarrabecas de fio dental e tatuagens do bolicao ao fundo das costas. 

Nesta altura, fico sempre a pensar que, sem dar conta, fiz like na página de um salão de pedicures. Os ginásios deviam ser todos na praia para facilitar a vida das pessoas que vivem de publicar selfies no Instagram. Imaginem um mundo em que podes tirar uma selfie no espelho do balneário do ginásio e, sem teres de pegar no carro, tirar logo outra a beber água de coco, que nem gostas muito mas fica bem na foto, com o mar em pano de fundo? As fotos na praia são a desculpa para se mostrar pele nas redes sociais. Foto de lingerie em cima da cama? Porca. Foto de biquíni na praia a empinar o rabo? Normal. Foto no trabalho a mostrar o abdominal? Labrego. Foto na praia em tronco nu e contemplar o horizonte? Normal. O menos mal deste ritual é que, normalmente, são as pessoas mais atraentes que nos enchem o feed com fotografias seminuas. Os gordos têm mais bom senso, menos quando vão ao McDonald's e lhes perguntam se o menu é normal ou grande. Essas pessoas mais atraentes são as que passam o ano no ginásio criando assim o ciclo-retroalimentado do Ginásio-Instagram. Aliás, nos dias que correm, as pessoas já não querem ter o beach body ready, ou corpo pronto para a praia, o importante é ter o Instagram body ready. Deixo a ideia para um novo ginásio onde todas as máquinas têm câmara fotográfica incorporada e onde o chão é feito de areia para as pessoas conseguirem tirar uma fotografia dos seus pés na areia ao mesmo tempo que mostram as calorias que gastaram na passadeira. «Queime calorias para ganhar likes.», seria o slogan.
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Tinder, amor e sexo, comer de boca aberta - Podcast #3



Já está disponível o terceiro episódio do podcast Sem Barbas Na Língua comigo e com o Hugo Gonçalves. Neste episódio falamos sobre o Tinder e outras aplicações de online dating, de amor e sexo, e ainda falamos de coisas que nos irritam como pessoas que comem de boca aberta. Ora cliquem lá no play e, se gostarem, partilhem.




Cronologia do episódio:
00:02:00 - Tinder
00:10:00 - Frases de abertura no Tinder
00:16:00 - O que não se deve fazer no Tinder
00:25:00 - Online vs Mundo Real / Cat Fish
00:35:00 - Amor romântico e a paixão
00:42:00 - Monogamia e felizes para sempre
00:54:00 - Rubrica: Coisas que nos irritam
01:02:99 - Sugestões

Podem ouvir e subscrever o podcast nas seguintes plataformas:
Sugestões e perguntas podem enviar para sembarbasnalingua@gmail.com que no próximo episódio vamos responder a algumas. Obrigado a todos os que têm apoiado este meu novo projecto.
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18 de abril de 2017

Apaixonada pelo melhor amigo? É errado ser amante?



Como é que é, criançada? Este calor primaveril está a dar-vos a volta as hormonas e a fazer de Abril, humidades mil? Sou bué engraçado. Bem, vamos a mais uma consulta "Doutor G explica como se faz". 


Caro Dr. G. Antes de mais parabéns pelo livro, que comprei na fnac, mas podia ter comprado na Bertrand ou neste link com desconto e portes grátis. Recentemente a minha namorada acabou comigo estando ela em “Erasmus”. Ocorre que aquando do regresso da supracitada eu me proponho a reconquista-la (antes que pergunte, porque o sexo era muito bom sim (e antes que pergunte novamente, sim lutei pelado com várias mulheres antes dela)). A questão é, neste momento tenho zero desejo em praticar o amor com outras donzelas. Já iniciei o processo rebound sex que numa fase pós relação tão bem faz, e até obtive “feedback”, mas estou um bocado: “nha”… visto que ainda tenho a outra jovem no pensamento. Posto isto lhe pergunto: acha que vale a penar ir às outras gaiatas em nome da prática e para não descer o nível quando a outra voltar, ou devo ser um gajo com uma ética sobre a qual Fernando Savater se podia masturbar e esperar?
João Carlos, 21, Portimão

Doutor G: Caro JC, obrigado desde já por me facilitares o trabalho a promover o meu livro e referires este link. Primeiro, tens de estar ciente que que alguém que acaba o namoro enquanto está de Erasmus é porque andou a javardar em terreno alheio. Facto. Podes pensar que a tua namorada foi eticamente correcta ao acabar contigo quando estava em Erasmus porque não te queria trair, mas tens de perceber também que ela o fez por razões egoístas e apenas para ficar com a consciência mais leve e poder saltitar à vontade em póneis estrangeiros. Posto isto, se ainda assim a queres de volta, dou-te toda a força para a tentares reconquistar, mas, aconselho a que não te prives da tua liberdade sexual enquanto o fazes. Quando a conquistares, metes na borda do prato os restantes pipis, até lá, degustas o mais que puderes para depois não te arrependeres. Imagina ires a um rodízio brasileiro e rejeitares as primeiras carnes que eles trazem porque estás à espera da picanha e depois dizerem-te que afinal a picanha já acabou e tu ficas arrependido de não teres enchido o bandulho com coxinha de frango e salsicha mineira. Podes sempre pedir ao empregado para voltar a trazer, mas pode vir fria e já não é a mesma coisa.


Boa noite Dr. G! Portanto, apaixonei-me por um rapaz que namora há 7 anos, ele trabalha comigo e o pior é que a namorada também! Desde o primeiro dia que trabalhamos juntos que houve uma enorme atração por parte dos dois! Trocas de olhares cúmplices, pequenos toques até que nos beijamos!! E do beijo ao sexo não demorou muito.. Andamos nisto há 4 meses! Não gosto do facto de ele ter namorada e muito menos de ela trabalhar connosco, trabalhamos por turnos, ou seja nem sempre trabalhamos juntos! O problema é que morro de ciúmes quando estamos os 3 no mesmo turno, mas disfarço otimamente, acho eu! Sei que deveria saltar fora, mas esta paixão é mais forte que eu e anima os meus dias! Antes de me insultares, da-me uma orientação!     
Anônima, 27, Porto

Doutor G: Cara Anónima, quem tem estômago para ajavardar homem comprometido tem de saber engolir sapos, entre outras coisas. Embora a culpa da traição seja sempre de quem trai e não de quem é acessório da traição, não me parece que tenhas muitas razões para te queixar. Já sabias que ele tinha namorada e já sabias que ela trabalhava convosco e, mesmo assim, decidiste dar oportunidade à paixão. Sim, porque ninguém se apaixona sem querer, há sempre um ponto com retorno no qual podemos trancar a coisa e dizer que não. Não te restam muitas opções já que te digo com 99,9% de certeza que ele nunca irá deixar a namorada para ficar contigo. Por isso, ou saltas fora ou mudas de trabalho. Podes sempre sabotar o trabalho dela, mas uma coisa é roubar o namorado, outra é o trabalho. Homens há muitos, trabalhos nem por isso. Não pude deixar de imaginar esse triângulo amoroso onde a gíria de trabalho toma todo um novo significado. Ficam algumas frases que podes utilizar:

  • A nossa equipa tem boas sinergias. Temos de reunir os três e alavancar ainda mais valor.
  • Sinto que sou o elemento disruptivo desta equipa.
  • Olhando para ti e para mim, parece-me estranho ele continuar a fazer downsizing.
  • Ontem, depois de teres ido embora, ainda fiz um follow up e o feedback foi muito positivo.
  • Se isto fosse uma meritocracia eu já tinha subido para cima dele há mais tempo.
  • Sinto que a nossa equipa partilha o mesmo ADN.
Nesta última estava a referir-me a sémen. Génio.


Boa tarde Doutor G, o problema é... sou virgem, e não de signo. Eu não me considero feio mas isso é irrelevante pois vejo grandes "abortos" com gajas bem boas. Mais que tudo isso, arrependo-me pois já por várias vezes que algumas raparigas se fizeram a mim, mas eu como é óbvio, não percebi. Pode me dar alguma dica?
Hugo, 22, Lisboa

Doutor G: Caro Hugo. É apenas e só isto.


Olá Doutor G! Sou a típica rapariga interessada no meu melhor amigo. Somos amigos de infância e nunca olhei para ele de outra forma, até que nos separámos e entrámos em faculdades diferentes. Somos muito próximos, das conversas mais deep às mais badalhocas e vivemos num flirt constante um com o outro, que acredito que não passe de uma brincadeira para ele. No entanto ele tem namorada e desabafa comigo sempre que tem problemas na relação. Ainda assim, o maior dos meus problemas é dizer-me que sou uma irmã para ele. Sempre que falo com ele sobre outros rapazes, ele só encontra defeitos. Acredito que ele desconfia do meu interesse e sinto que quer ter-me sempre disponível para ele (e de preferência encalhada). O meu dilema é muito simples: conto a verdade e arrisco-me a estragar uma amizade de 15 anos ou fico eternamente encalhada e na friendzone. Help me here!
Claúdia, 21, Lisboa

Doutor G: Cara Cláudia, temos de rever a nossa vida quando até no próprio nome damos um erro, a não ser que te chames mesmo ClaÚdia e nesse caso peço perdão pelo reparo. Como hoje estou um mãos largas, segue um fluxograma para te ajudar:

É isto. Agora tens de perceber se queres esperar ou arriscar.


Prezado Dr G, somos um grupo de amigos de 3 rapazes e os 3 com namorada, só que eu e outro amigo não conseguimos explicar ao terceiro elemento alguns factos da vida anormais os quais ele acha perfeitamente razoaveis e justificaveis.

Situação 1
ah e tal vou tomar cafe com a gaja da receção do meu ginásio. - diz ele.
Mas a XXX sabe?
Não!
Então mas isso não é mau para ela, ias gostar ao contrário?
Oh! eu só vou ter com a do ginásio para perceber se ela sabe que eu namoro e se eventualmente não souber para lhe explicar pessoalmente
Mas isso é estupido ! Diz por sms..
oh não quero ver pessoalmente a reação dela.

Situação 2
ah vou almoçar como uma camarada que conheço. - diz ele.
Mas a XXX sabe??
Não!! mas eu conheço não tem mal nenhum!
Mas é tua amiga? nunca ouvi falar dela?
Nao! é uma camarada de curso..
oh oh oh olha se a XXX descobre!!!
oh nao! é sem mal nenhum ! até vai uma amiga dela que é gorda!!

Como vê Dr isto aqui está a tornar-se na verdadeira cabrada, e nós enquanto membros leais do clube dos comprometidos já não estamos a conseguir controlar. Pf ajude-nos ou então o nosso amigo vai perder-se para sempre na estrada da promiscuidade!!
António e Tiago, Algures

Doutor G: Caros António e Tiago, vamos então analisar cada uma das situações apresentadas:

  1. Ele pode não ter real interesse na rapariga, nem ter intenção de trair a namorada, mas gosta do jogo de sedução e gosta de tirar o chupa da boca das crianças quando elas já estão de língua de fora.
  2. Se for mesmo amiga dele, tudo bem. Se nem é um encontro apenas a dois, pode ser algo inocente. No entanto, o facto de ele não querer contar à namorada leva-me a crer que talvez traga água no bico, a não ser que a namorada dele seja altamente controladora e não o deixe ter amigas nem sair com ninguém.
Moral da história: parece-me que o teu amigo sofre da Síndrome Luís de Matos: tem necessidade de espalhar magia pelo sexo oposto, seja porque é viciado no flirt, porque precisa de um ego-boost, ou simplesmente por questões sádicas. Todos nós gostamos de ver e saber que elementos do sexo oposto nos desejam, mesmo não tendo nenhum interesse em fazer o truque do desaparecimento da morcela zarolha. É preciso é ter cuidado, porque há muitos mágicos profissionais que, por vezes, vêem o truque sair ao lado e dão por eles a partir a assistente ao meio. No meio disto tudo o que me faz mais confusão é o facto dos vossos diálogos serem feitos com uma pontuação a fazer lembrar Saramago. Ele não respeita a namorada, mas vocês não respeitam a acentuação.


Caro Doutor G, ando envolvida com um rapaz há quase dois anos. Somos como namorados em vários aspectos: conhecemos os amigos um do outro, falamos todos os dias, estamos imensas vezes juntos, o funaná pelado é excelente. A única diferença é que ele não quer assumir uma relação, diz que estamos bem assim. Será que é porque não gosta assim tanto de mim? Ele também está sempre a dizer que as gajas são todas malucas, será que tem medo que eu me torne numa se entrarmos numa relação? Estou sempre com medo que ele me diga que arranjou outra, mas não tenho coragem de o largar porque gosto mesmo dele. Foi a primeira pessoa a conseguir dar-me orgasmos e a deixar-me à vontade para falar sobre tudo. Como resolvo isto?
Anónima, 22, Lisboa 

Doutor G: Cara Anónima, como qualquer dúvida bastante recorrente e comum, a resposta é óbvia e, para facilitar, deixo o seguinte gráfico:
Em qualquer um dos casos, ele não gosta assim tanto de ti. Agora, faz o que achares melhor com esta informação.


Obrigado a todos e, como sempre, até para a semana e continuem a enviar as vossas dúvidas para porfalarnoutracoisa@gmail.com. 


Partilhem e façam amor à bruta porque de guerras o mundo já está cheio.

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12 de abril de 2017

United Airlines e a saída de emergência ao pontapé



O mundo está revoltado com a United Airlines por ter expulsado um passageiro, de arrasto, enquanto gritava e sangrava como gente grande depois de ter feito uma aterragem forçada de boca. As notícias e vídeos multiplicam-se onde se pode ler «Médico expulso à força de avião.» e acredito que se ele fosse caixa de supermercado haveria na mesma referência à sua profissão. Sobre este assunto, há vários pontos sobre os quais nos devemos debruçar, mas com jeitinho e sem afocinhar como o médico.

Primeiro, se fosse comigo as coisas seriam muito diferentes já que como tenho medo de andar de avião eu ter-me-ia logo voluntariado para ser um dos quatro passageiros a abandonar o avião. Não só adiava o meu sofrimento de voar como ainda ganharia 800€ com os quais podia sobreviver com latas de atum durante dois meses enquanto ia a pé. Achei ofensivo aquele médico estar a rejeitar dinheiro só porque já é bem remunerado. Devia, até, ter sido ele a voluntariar-se para sair e depois dar esse dinheiro a quem estiver necessitado. Os pacientes dele podem esperar até porque há muita gente que nem dinheiro para ir ao médico tem.

Segundo, faz-me confusão esta indignação selectiva que todos temos. O senhor a ser arrastado teve mais visualizações e notícias associadas do que aquela criança síria depois de uma explosão onde morreram os pais. Qual criança? Pois, essa. Até porque esta coisa de pessoas serem expulsas à porrada e de arrasto sem muitas vezes terem culpa de nada acontece todos os dias nas discotecas. Está bem que o Cajó é desempregado e estava com os copos e foi contra um rapaz de cadeira de rodas que estava na pista a dançar break dance e atropelar toda a gente sem pedir licença, mas, ainda assim, não é razão para levar um soco na nuca e ir arrastado pelos cabelos por cinco seguranças que parecem um cruzamento de um Bull Dog com um Orangotango. Parece-me pior um avião que cai por erro humano ou falta de manutenção e nesses casos há menos indignação e menos pedidos que a companhia sofra consequências.

O segurança que retirou o médico que guinchava que nem um porco a despedir-se da família antes de ir para a matança é mais odiado do que os pilotos do Chapecoense.

Terceiro, há um fenómeno estranho que é as pessoas ficarem contentes quando as marcas e empresas que fazem porcaria sofrem as piores consequências. No caso da United, as suas acções caíram cerca de 4% e a empresa desvalorizou mais de um bilião de dólares e toda a gente deseja que a companhia vá à falência. Já aconteceu com várias marcas devido a anúncios polémicos ou jogadas de marketing que foram um tiro no próprio pé e deixem-me traduzir esta forma de pensar das pessoas: A empresa tem centenas ou milhares de trabalhadores e pela atitude de um empregado mal-formado ou de uma equipa de marketing desejamos que a empresa sofra as consequências e perca tudo, mesmo sabendo que os donos e accionistas vão ficar bem na vida e quem vai sofrer vão ser os empregados que vão ficar no desemprego e as suas famílias. Aconteceu o mesmo por cá com o caso de um restaurante que fez um comentário no Facebook sobre a Érica Fontes em que algumas pessoas correram ao Zomato e Trip Advisor dar críticas de uma estrela para ver se o restaurante ia à falência, sem pensar que se o restaurante fechasse, para além de servir de castigo a quem fez essa maldade à nossa estrela maior da indústria pornográfica iria dar por tabela a todos os empregados que não têm qualquer culpa no assunto e que precisam daquele ordenado para sobreviver. É estranha esta nossa indignação por um senhor que foi arrastado que até é médico e pode curar-se sozinho, num dia aquilo já passou, e a nossa indiferença para com as consequências mais profundas que muitas outras pessoas poderão sofrer caso a empresa feche. Atenção que eu também me incluo nesse lote de pessoas que queria ver a United a ir à falência! Por mim, todas as companhias áreas fechavam e dar-se-ia lugar a um meio de transporte melhor do que um caixote de ferro com bombas penduradas nas asas. A diferença é que eu gosto de ver para além do óbvio e de pensar sobre as coisas e tentar ver todas as faces da moeda. É um hábito irritante, eu sei.

Por isto e por que estou preocupado com o futuro de muita gente, vou dar uma sugestão gratuita à United Airlines já que penso que é uma boa oportunidade para mudarem aquele discurso inicial sobre as normas de segurança do avião. É um discurso que não serve para nada e que só apoquenta ainda mais quem tem medo de andar de avião como eu ao pensar «Se isto fosse mesmo seguro, não era preciso avisarem-me que o meu assento flutua em caso de ficarmos à deriva no oceano.». Deixo a sugestão:

«Senhoras e senhores, bom dia, o meu nome é Bruno e em nome do comandante e da United Airlines, apresento as boas vindas à bordo do Van Damme, um Boing 747, com saída da Buraca e destino à Damaia. Durante a descolagem, o encosto das vossas poltronas deve ser mantido na posição vertical e a mesa fechada ou então vai tudo corrido com chapadas à padrasto e com os mamilos torcidos. Observem os avisos luminosos de colocar os cintos de segurança ou vamos aí nós apertar-vos essa merda até nunca mais conseguirem ter filhos. Em caso de despressurização, máscaras cairão automaticamente. Puxem uma delas, coloquem-nas sobre o nariz e a boca ajustando o elástico e só depois tentem ajudar os outros. Se tentarem ajudar sem meter a máscara ali o Raul faz-vos um mata-leão e põe-vos a dormir. Este avião possui seis saídas de emergência e 80 janelas por onde serão atirados caso demos conta que está gente a mais por culpa da nossa política de venda bilhetes para maximizar os nossos lucros. Como a viagem é nocturna, durante a descolagem vamos reduzir as luzes. Se alguém as tentar acender para ler, eu próprio me encarregarei de ter a certeza que depois de tanto sopapo no osso orbital as vossas pálpebras irão ficar mais inchadas do que o cu de um babuíno e nem com o sol dentro de uma lanterna vão conseguir ler. É favor desligar os aparelhos electrónicos ou prometo que só vão conseguir atender o telemóvel com contracções anais. Quando estabilizarmos podem ligá-los em modo voo, caso contrário, serão obrigados a fazer um Facebook conjunto com a vossa mãe. Espero que tenham uma boa viagem e obrigado por escolherem a nossa companhia. É um prazer servi-los.»

Moral da história: só falei neste tema para ter visualizações e partilhas. Fica a dica.
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11 de abril de 2017

Viagem de finalistas, haters, dick picks - Podcast #2



Já está disponível o segundo episódio do novíssimo podcast Sem Barbas Na Língua comigo e com o Hugo Gonçalves. Neste episódio falamos sobre a polémica da viagem de finalistas e da juventude que está perdida. Passamos por trolls e haters, onde leio alguns comentários ofensivos que me fizeram no blogue, e finalizamos com duas rubricas: uma sobre coisas que nos irritam e outra sobre sexologia e o fenómeno das dick pics. Ora cliquem lá no play.


Cronologia do episódio:
00:02:00 - Viagem de finalistas
00:14:00 - Drogas e álcool
00:19:00 - Redes sociais
00:23:00 - Trolls e haters
00:28:00 - Comentários ofensivos
00:43:00 - Trump, o rei dos trolls
00:47:16 - Rubrica: Coisas que nos irritam
00:58:30 - Rubrica: Sexologia - dick pics
01:06:50 - Sugestões

Podem ouvir e subscrever o podcast nas seguintes plataformas:
Resta-me agradecer a todos os que ouviram o primeiro episódio e que catapultaram o Sem Barbas Na Língua directamente para o top 3 de podcasts nacionais no iTunes esta semana.



Sugestões e perguntas podem enviar para sembarbasnalingua@gmail.com e não se esqueçam que se gostarem deste conteúdo gratuito, então ajudem com uma bonita partilha com os vossos amigos de igual bom gosto.
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