30 de junho de 2016

Guia prático para mostrar indignação no Facebook



Há algum tempo que venho observando os fenómenos de solidariedade no Facebook aquando de uma tragédia, desastre ou atentado terrorista. Tenho vindo a tentar identificar os padrões que levam a que as pessoas fiquem indignadas com alguns desses acontecimentos, colocando fotos de perfil, filtros, rezando e criando hashtags, e ignorando outros por completo. O que leva a que nos unamos em torno de uma causa, mas deixemos passar outras despercebidas? Não é, de todo, minha intenção dizer ou sugerir sobre o que é que as pessoas se devem indignar. Cada um sente como quer o que vê acontecer à sua volta e não é por não nos indignarmos com milhares de crianças a morrer à fome em África que não podemos ficar solidários com a morte de um hamster albino que foi abusado por um casal de romenos em Abrantes. A indignação e a solidariedade não são pessoas invejosas e, muito menos, monógamas.

Desde logo, noto um padrão bastante óbvio que tem em conta o tom de pele das vítimas de uma determinada tragédia. O meu estudo e observação permitiu-me chegar ao que chamo «Pantone de indignação»:


Apesar deste pantone se verificar em quase todas as tragédias, há algumas excepções a considerar! Por exemplo: o caso dos naufrágios dos barcos com migrantes que tentam atravessar o mar Mediterrâneo. Se olharmos apenas ao pantone, seria de esperar que ninguém se indignasse, já que eles já estavam mal no país de origem, tanto que até foram capazes de arriscar a própria vida em busca de um futuro melhor. Na sua terra natal ninguém quer saber deles, respeitando, assim, o pantone. No entanto, quando falecem com o pulmão cheio de água que banha a costa europeia, ganham uma espécie de relevância na escala de indignação. É como se a água cristalina lhes aclarasse a pele e os fizesse ganhar pontos na consideração do mundo ocidental. Tento em conta estas excepções, para além do pantone é preciso ter em consideração a proximidade geográfica. Toda a gente se indigna mais com uma tragédia no seu prédio do que no prédio do bairro ao lado. É perfeitamente compreensível e também eu ficaria muito mais sensibilizado se explodisse uma bomba na Buraca do que em Madrid. Mais surpreendido? Não, obviamente, mas mais tocado, se calhar por um estilhaço, sem dúvida. Para ajudar, deixo aqui um mapa que encontrei na Internet e que ilustra perfeitamente este meu ponto:


Há ainda outras excepções como, por exemplo, o atentado de Orlando: por um lado, foi no coração do mundo ocidental, por outro, a escala do pantone era demasiado confusa porque tinha uma forte componente de rosa choque. As pessoas ficaram baralhadas! Queriam indignar-se, mas não com hashtags a dizer #JeSuisGay porque a masculinidade é mais forte do que a solidariedade. Este é apenas um dos casos em que as pessoas ficam à deriva por não haver uma espécie de manual para a indignação! Não havia, até agora! Tendo em conta tudo isso, e que todos precisamos de um guia que nos ajude a sabermos quais as causas sobre as quais devemos, ou não, mostrar o nosso apoio, deixo aqui algumas dicas e exemplos práticos.

100 milhões de crianças africanas estão a morrer à fome
  • Quem se deve indignar: pessoas que gostam de partilhar fotografias de crianças subnutridas como se fossem missionários e achassem que angariar likes é o mesmo que fazer voluntariado em África.
  • Como se devem indignar: usando frases feitas e escrevendo em maiúsculas e com muitos pontos de exclamação! Podem colocar uma foto de perfil com o logo do McDonalds ou um filtro de sementes de bagas de goji.
  • Sugestões para hashtags: #dietaAfricana #gorduraéformosura #inveja

Boko Haram mata 2000 pessoas na Nigéria
  • Quem se deve indignar: pessoas que vêem a RTP 2 e vão a museus de arte contemporânea.
  • Como se devem indignar: dando lições de moral a todas as outras pessoas que não fizeram referência a esta tragédia. Podem colocar uma foto de perfil do Nélson Mandela, mas afinal é o Morgan Freeman.
  • Sugestões para hashtags: #omeufilmepreferidoéoáfricaminha #TenhoAmigosPretos #IndignadoHipster

Bombardeamento dos Estados Unidos na Síria mata 100 pessoas inocentes
  • Quem se deve indignar: pessoas de esquerda.
  • Como se devem indignar: partilhando artigos de sites sem qualquer credibilidade sobre teorias de conspiração dos Illuminati e da New World Order.
  • Sugestões para hashtags: #JáVosTopei #JeSuisIluminado #JeSuisDanosColaterais

Corpo de criança Síria dá à costa europeia
  • Quem se deve indignar: todas as pessoas, mas só se a criança tiver uma posição alta na escala de pantone.
  • Como se devem indignar: colocando a fotografia como fundo do computador e como screen saver do telemóvel. É essencial mostrar surpresa como se não soubessem que morrem crianças diariamente.
  • Sugestões para hashtags: #meco #madnigganãosabenadaryo #esefosseconsigo

Atentado terrorista mata 10 pessoas em Londres
  • Quem se deve indignar: todas as pessoas, embora agora com o Brexit seja compreensível que algumas se abstenham.
  • Como se devem indignar: dizendo que os ingleses é que sabem e que está na altura de fechar as fronteiras e clonar o Salazar com aquele pedaço de cotão do umbigo que encontraram com alguns pelos do senhor.
  • Sugestões para hashtags: #BemFeito #PorcasNaRuaDaOura #ZeZeCompensa

Atentado terrorista mata 100 pessoas na Turquia
  • Quem se deve indignar: hipsters que queiram mostrar que são moralmente superiores a todos os seus amigos de Facebook.
  • Como se devem indignar: dizendo que ninguém está a ligar ao que se passa na Turquia e que é só porque não se dão bem com o picante.
  • Sugestões para hashtags: #JeSuisKebab #RosasForever #Istrondul
Esfaqueamento no metro de Nova Iorque por motivos homofóbicos
  • Quem se deve indignar: todos.
  • Como se devem indignar: dizendo que se os gays em vez de beberem Kalashnikovs com Blue Corazón, tivessem AKs-47 a condizer com o cinto, nada disto teria acontecido. Podem colocar um filtro na foto de perfil como o da Guerra das Estrelas, mas trocar o sabre de luz por um dildo cor-de-rosa.
  • Sugestões para hashtags: #JeSuisHeteroMasRespeito #TiveUmAmigoQueParecia #noraboépecado

Rapaz filma-se a pendurar um cão pela janela
  • Quem se deve indignar: toda a gente menos as pessoas que acham que ninguém se pode indignar com causas animais porque há coisas piores no mundo.
  • Como se devem indignar: ameaçando o rapaz de morte porque toda a gente sabe que a violência acalma as coisas.
  • Sugestões para hashtags: #SouVeganMasComoChouriço #AindaSeFosseUmCanicheTudoBem #OsGatosNãoTêmVertigens

Espero que este guia vos ajude e que no futuro tenham mais facilidade em saber sobre o que devem ou não indignar-se. Na dúvida, joguem pelo seguro e lembrem-se que a diferença entre um simples acontecimento inevitável e uma tragédia é as vezes que aparece nas letras gordas dos jornais.
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26 de junho de 2016

Brexit: o Reino Unido já não quer brincar connosco



Imaginem que tinham um amigo rico de longa data e sempre que iam jantar fora não queria que levassem os vossos amigos pobres que se esqueciam sempre da carteira. Isto era o que ele dizia porque, no fundo, ele não gostava era de ser visto com pessoas de estratos sociais mais baixos, especialmente se fossem refugiados. Num rasgo de sobranceria, esse vosso amigo envia-vos uma mensagem a dizer «Olha, a culpa não é tua, mas esta relação não está a funcionar. Vamos deixar de ser amigos, mas quando eu precisar de ti ligo-te e se por acaso passar pela Buraca e me tentarem assaltar posso dizer que ainda somos amigos?». Resumidamente, e para um leigo na política como eu, foi isto que aconteceu no Brexit. Nós, os países pobres, fomos deixados pelo Reino Unido que já se esqueceu que é o país que é porque andou a colonizar meio mundo à força do mosquete e da cruz afiada no lombo.


É aquele novo rico que se esqueceu das origens e agora diz que odeia pobres e cortou relações com todos os amigos do bairro que o ajudaram a chegar onde chegou.

Brexit parece nome de um concorrente do Imodium, algo para parar a diarreia antes que ela nos pare a nós, já que o mundo vive um grande período de diarreia mental de alguns líderes e de uma prisão de ventre passiva de quem os elege. O problema não é os britânicos terem votado para sair da União Europeia. O problema são as razões que os levaram a fazer pender o seu voto para a saída: o que começou como uma campanha política baseada na economia e no poder de decisão condicionado do Reino Unido por estar ligado à UE, dizendo que mais de 350 milhões de libras eram enviadas todas as semanas para Bruxelas quando podiam estar a ser investidas no serviço nacional de saúde, cedo passou a uma campanha de nacionalismo bacoco. Esse discurso xenófobo e racista, tão na moda, mas que nem com o sotaque posh britânico consegue parecer inteligente. Esta coisa no nacionalismo e de se valorizarem mais as linhas imaginárias a que chamamos fronteiras e a aleatoriedade e o acaso geográfico do local onde nascemos, em vez de se valorizarem os laços de ADN de uma espécie que coabita no mesmo planeta, é talvez a maior razão das desigualdades no mundo. Por isso é que de cada vez que oiço o hino sinto uma dicotomia de sentimentos: por um lado sinto orgulho e arrepia-me ver tantas vozes numa só; por outro, sinto que são resquícios de uma altura em que andámos a saquear o mundo e espetar bandeiras no quintal dos vizinhos.

Não percebo muito de política nem de economia. Não sei bem porque é que as moedas desvalorizam ou porque é que os mercados mandam nisto tudo à base da especulação. É estranho sermos uma espécie que decidiu dar valor a um pedaço de papel e fazer com que ele oscile consoante notícias e coisas que ninguém entende muito bem. Qual o impacto que o Brexit vai ter no resto da Europa? Eu sei lá! Se estão aqui à espera de serem esclarecidos sobre este tipo de assuntos vieram ao local errado. O que sei é há muitos emigrantes no Reino Unido, que tiveram de sair dos seus países de origem por questões económicas e que foram para lá trabalhar, pagar impostos, e contribuir para a sociedade porque não o conseguiam fazer na sua terra natal, e que, agora, não sabem bem o que o futuro lhes reserva porque um punhado de gente mal informada decidiu reclamar para si um pedaço de terra que não devia ser de ninguém. Como sou rancoroso acho que podemos tomar algumas medidas para nos vingarmos dos britânicos:
  • Aumentar o preço da imperial para 10€ na Rua da Oura em Albufeira.
  • Dar e independência à Madeira e deixar que o Alberto João Jardim seja o presidente.
  • Piratear as televisões britânicas e passar em loop infinito o vídeo do Ricardo a defender o penálti sem luvas e a marcar golo.
  • Não praticar o amor com inglesas bêbedas.
  • Só contratar empregados portugueses que não falem inglês para os bares e restaurantes do Algarve.
Ah pois é, meus amigos, isto não pode ser só para um lado. Querem os portugueses fora do Reino Unido? Então nós vamos reclamar o Algarve para nós e, se for preciso, jogamos baixo! Vêm para cá vomitar-nos as ruas, fazer basqueiro, e matar e ocultar o cadáver dos próprios filhos? Isso é tarefa nossa! Temos muitos e bons bêbedos e pais negligentes capazes de fazer o mesmo e com mais qualidade!

O que interessa a saída de um país da União Europeia? Quem é que tem tempo para pensar nisso quando há saídas muito mais importantes? A saída do Pedro Jorge do Masterchef ou a saída de uma qualquer Cátia com "K" do Love on Top, são sempre mais comentadas nas redes sociais.


As pessoas querem Reality Shows e não estão interessadas em Reality Checks.

O mundo que outrora ameaçou ser cada vez mais global, está agora a tentar fechar-se sobre ele próprio, alimentado pelo medo da diferença cujo comburente é a ignorância. Nem todos os xenófobos são más pessoas, alguns são só burros e desinformados. Quando vemos que o país mais poderoso do mundo pode eleger um palerma, Trump, que tem um discurso de uma criança mimada de quatro anos que nunca saiu do seu colégio privado para ir dar uma volta ao mundo real, acho que podemos começar a deitar a toalha ao chão e desistir da espécie humana. Já demos o que tínhamos a dar! Foi giro, construímos casas e carros, inventámos coisas que parecem magia como a Internet e a Bimby, mas já chega.

Toda a gente adora a democracia até o resultado ser aquilo com o que não concordamos, mas quando vemos as pesquisas feitas no Google, no Reino Unido, após os resultados do referendo, ficamos com aquela sensação que a democracia não é mais do que a ditadura dos ignorantes:
Ou seja, depois de votarem num referendo, foram investigar o que era a União Europeia, quais os países que a constituem e quais as consequências da saída. Isto apazigua-me a alma porque afinal não são só os portugueses que têm amnésia selectiva na altura de votar. #SomosTodosBurros! Dizem que a ignorância é uma bênção e eu concordo, excepto para quem tem de aturar e conviver com ignorantes. Estamos à mercê dos desinformados. Estamos à mercê dos burros. E, a julgar pelo quadro seguinte o homem do leme da humanidade é um velho preconceituoso que destila ódio e escarra para o chão enquanto diz que a juventude está perdida.


Isto é o mesmo que termos um amigo vegetariano que condiciona a nossa escolha de restaurante para o nosso aniversário. «Há alguma coisa para mim, lá?» pergunta-nos ele como que a fazer pressão para modificarmos a nossa escolha. Cedemos e acabamos por ir para um restaurante que ninguém gosta muito só para agradar o herbívoro e, depois, ele acaba por se cortar à última da hora. Rais parta os velhos racistas a decidir um futuro do qual não vão fazer parte. Isto devia ser como na Multiopticas e o peso do voto tinha um desconto igual à idade.

As pessoas tomam decisões importantes como quem está no Tinder e apenas vê a ponta do iceberg, os títulos das notícias, o decote. Acho que todas as eleições e referendos podiam começar a ser feitos numa aplicação do género:


Para a maioria das pessoas uma fotografia e um título é suficiente para formarem a sua opinião. Ninguém quer clicar e ver os detalhes. Ninguém se quer dar ao trabalho de procurar informação. Se está na televisão é porque é verdade e quem aparece na TV nunca nos iria mentir. Ah, afinal parece que a promessa das 350 milhões de libras para o SNS foi engano e não era bem isso que eles queriam dizer, admitiu Farange numa entrevista.


Who cares? Haters gonna hate, coninhas gonna conate e politicians gonna aldrabate.

O mundo vai ajustar-se e vamos perceber que não precisamos de um falso amigo que fazia parte do nosso grupo só por favor. Havemos de fazer outras amizades, se calhar nunca mais vamos ter o nome da guest para entrar nas discotecas, mas se calhar ficamos melhor na tasca a beber minis.
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24 de junho de 2016

10 tipos de aluno nos exames



As minhas orações vão para todos aqueles que estão em fase de exames neste momento. Os que estão na faculdade, mas principalmente aqueles que estão a fazer os exames nacionais que lhes darão acesso, ou não, ao ensino superior. Infelizmente, já passei essa fase há alguns anos e, embora tenha saudades dos tempos de estudante, são recorrentes os pesadelos que tenho em que ainda me falta uma cadeira para terminar o curso no Instituto Superior Técnico.

Durante a época dos exames, e durante aquelas duas ou três horas de tortura, podemos identificar diferentes tipos de alunos que lidam com esta fase de formas diferentes. Aqui ficam alguns.

O MacGyver
O famoso aluno que deixaria Leonardo Da Vinci corado com as suas invenções, não para melhorar a humanidade e haver progresso, mas para levar cábulas para os exames sem ser apanhado. No meu tempo eram aqueles relógios xpto que davam para escrever texto e que os professores nem sabiam da sua existência, papéis escondidos em todas as partes do corpo escritos à mão com Arial fonte 6 pontos que só uma visão microscópica conseguiria descodificar. Se os carteis de droga fossem inteligentes contratavam estes alunos como mulas para transportar os estupefacientes. Um aluno calão iria encontrar forma de transportar dois quilos de coca sem que ninguém desse por ela. Isto até teria o ponto positivo de vermos os serviços de fronteiras e segurança dos aeroportos a contratar os professores desempregados. «Pensava que ia ser colocado na Preparatória da Damaia, mas felizmente fiquei colocado no aeroporto de Lisboa. Muito mais calmo.» Este tipo de aluno que copia nunca vai poder queixar-se da corrupção dos nossos políticos. 

O safoda
Aquele que já sabe que vai chumbar e que, por isso, está em estado de paz consigo próprio. É uma espécie de doente terminal que já aceitou que a morte é inevitável e diz sentir uma paz interior como nunca. Devido a essa paz, está tranquilo à porta da sala do exame e faz piadas com aquele ar sobranceiro de quem sabe tudo e nada o pode apanhar desprevenido. Costuma fazer perguntas difíceis aos colegas cá fora só para os enervar, normalmente essas perguntas são difíceis porque ele não sabe nada e inventa coisas que ninguém sabe porque nem são da mesma disciplina. Por norma, entrega o exame em meia hora com um sorrisinho maroto na cara que faz com que haja gente a pensar «Fogo, ganda boss, já fez tudo!». Na verdade, só escreveu o nome. Os bons alunos e marrões rogam-lhes pragas, mas no fundo uma parte deles desejava ter aquela liberdade que só se consegue quando já não há hipóteses de ter sucesso. 

O AVC
Está sentado num canto à espera que abram a porta da sala para ir fazer o exame. As suas pernas tremem e os seus pés batem no chão como se ele se estivesse a preparar para fazer um exame de sapateado no Conservatório. Leva, frequentemente, os dedos ao pulso e ao pescoço para medir as pulsações porque sabe que está em sérios riscos de ter um enfarte e/ou um AVC. As unhas já foram todas ontem à noite, durante a directa alimentada a café e Red Bull, hoje vão as peles dos dedos que rói quase até expor os corpos das falanges distais. 

O Fernando Santos
É o tipo de aluno pragmático e que se foca naquela nota mínima que precisa ter. É para tirar 9.5? Ele estudou apenas a matéria necessária para isso. Uma vez, no IST, tinha tirado 19 no primeiro teste de análise matemática III e fiz as contas e percebi que já tinha passado porque não havia nota mínima por teste e já tinha a média de 9.5. O que fiz? Não fui ao segundo teste. Sou muito forte a fazer contas e sendo que era uma cadeira de matemática, acho que devia ter tido pelo menos um valor extra por essa decisão. Enfim, o ensino não valoriza o que realmente tem valor.

O zombie
Sim, é o tipo de aluno que não dorme há quatro noites, movido a café, ecstasy, e a chapadas da mãe sempre que o apanha a fazer outra coisa que não estudar. Negligencia os amigos durante toda a época de exames e hiberna, qual hásmter que tenta meter nas bochechas toda a matéria que conseguir. Vemo-lo no dia do exame e parece que esteve a viver na rua durante as últimas três semanas. Começou a tomar vitaminas para o cérebro na altura dos exames com a falsa ilusão de que isso o vai ajudar a compensar o défice de atenção. Se há coisa que o zombie faz é estudar. Ele estudou, muito. Leu a matéria toda várias vezes, fez apontamentos, fez exercícios, foi às aulas de dúvidas, teve explicações, tudo. Fez tudo aquilo, mas esqueceu-se que as directas queimam a moleirinha e que o cansaço é o pior dos inimigos de um estudante. Invariavelmente, o exame corre-lhe mal e todo um turbilhão de emoções, alimentado pela privação do sono, vem ao de cima. Vai para casa e adormece enquanto chora em posição fetal no banho.

O simulacro
O simulacro é aquele tipo de aluno que vai ao exame da primeira fase só para ver como é. Não estudou nada, sabe que não vai passar, mas ainda assim gosta de ir fazer um teste em cenário real. Recebe o exame, lê as perguntas todas de uma vez e percebe que iria chumbar com um grande e redondo zero. Levanta-se passados vinte minutos e entrega o teste de consciência tranquila de que nem vai ter de esperar pela nota. Muitos destes alunos viciam-se nesta sensação e acabam por utilizar a 2ª fase como simulacro para a época especial.

A piriguete
É aquela colega que vai com tudo para o exame. Algumas vêm directas do Urban com a mesma roupa com que estiveram a roçar em virilhas alheias naquela pista secundária que, toda a gente sabe, é onde estão as mais porquitas. Ela sabe que vai chumbar a não ser que o professor tenha uma erecção e isso lhe retire o sangue do cérebro e o faça responder às suas dúvidas durante o exame sempre com uma resposta demasiado relevadora. «Olhe, professor, não estou a perceber este enunciado.», pergunta enquanto enrola o cabelo, trinca o lábio, e manda o peito para a frente como se estivesse a acabar uma prova de atletismo e quisesse ficar em primeiro no photo-finish. O professor, básico como todos os homens, embasbaca-se e diz «Ahhh, hummm, ohhhhh, então a resposta é 10.». Mulheres jeitosas e que não têm pudor em usar o corpo como arma são os seres mais poderosos do mundo.

O raspadinhas
O raspadinha confia que a sorte protege os audazes. Vai para o exame com 10% da matéria estudada a pensar que se tudo correr bem, esses 10% vão preencher mais de metade do exame. Quando recebe o exame e lê as perguntas e percebe que aqueles 10% são capazes de lhe dar para passar, faz uma festa como se tivesse ganhado o Euromilhões! Responde a perguntas cuja cotação total vale dez valores e acende uma velinha à Santa Casa da Miseritcórdia a pedir que não se tenha enganado em nada.

A suricata
É aquele aluno que passa o exame todo de cabeça no ar a olhar à volta com ar assustado. Fica em pânico quando vê que está toda a gente concentrada a fazer o exame e assusta-se ainda mais quando vê que na pergunta dois escreveu duas frases e pensava que estava certo, mas vê alunos que já vão em duas páginas de resposta para a mesma pergunta. Começa a entrar em paranoia quando o professor o vê de cabeça levantada a olhar em redor «Será que ele pensa que estou a copiar? E se me anula a prova? Também não sei nada, ao menos assim tinha desculpa para ter zero!».

O padrões
Este tipo de aluno é aquele que nos exames de escolha múltipla está constantemente a tentar encontrar padrões nas respostas. Quanto maior o grau de ignorância dele em relação à matéria, maior é a paranoia, qual John Nash que pensa que vê padrões onde eles não existem. Eis um exemplo do que lhe passa pela cabeça enquanto está a tentar resolver o exame: «Hum... nas outras duas a resposta era "C", por isso já sei que esta não é "C". Aliás, ainda não saiu nenhuma que fosse "A". Estranho. O professor não ia fazer um teste inteiro sem nenhuma resposta "A". Deve ser esta que é a resposta mais longa e toda a gente sabe que quanto mais longa mais completa e maior probabilidade de ser a certa. Graças a Deus que este teste não tem aquelas respostas "todas as anteriores", isso é jogar baixo demais! Bem, estou aqui a detectar um padrão: "B C C A". Cá para mim o professor meteu todas assim, ou gerou isto num computador que tem este algoritmo. Fogo, é isso mesmo! Sou grande boss! Inteligência não é decorar matéria, é saber ver estas coisas.». No fim, as respostas eram todas "A" porque há professores que são traquinas.

Boa sorte a todos e não se esqueçam: se chumbarem a culpa é só vossa. Essa merda não é assim tão complicada.

PS: Clica aqui para dicas para escolher um curso superior
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21 de junho de 2016

Acidentes durante o sexo, sonetos e fluxogramas



O Verão começou hoje e com ele a época preferencial de acasalamento da espécie humana. O guru do sexo explica como se faz, em mais uma consulta "Doutor G explica como se faz". 


Boas Drº, no meu trabalho existem 2 gajas solteiras, uma delas pediu-me o numero à duas semanas mas entretanto não disse nada, eu gostava de saltar-lhe em cima e ela pede-me o numero e não diz nada porque raio de razão? No entanto eu desconfio que ela anda com outro gajo mas como me pediu o numero fiquei na expectativa mas também nunca mais lhe mencionei o assunto, no entanto com a outra gaja eu já tentei a minha sorte mas a forma como a abordei foi "és a mulher da minha vida, aqui, agora e talvez para sempre!" algo que foi exagerado da minha parte quando na verdade só me quero divertir com ela. Como faço para corrigir essa situação?
Daniel, 25, Porto

Doutor G: Caro Daniel, vou responder à tua pergunta através de um bonito soneto:

Duas pombas livres a voar
Tentas uma, tentas duas
Pensavas que eram promíscuas
Mas nenhuma te quer pegar

Uma pediu-te o número
mas acabou por não te ligar
será que és um energúmeno
que nem sabe engatar?

"És a mulher da minha vida"
não é boa abertura
Mais valia dizer que tens SIDA

Uma pomba perdeu interesse,
a outra assustou-se
Daniel, és parvo? Foda-se.

Sim, a métrica não está correcta para ser um soneto. Deixem se ser picuinhas. Resumindo: a que te pediu o número deve ter arranjado outro, entretanto, ou está à espera que tu tomes a iniciativa e digas «Olha lá! Pediste-me o número e não me ligas? Que merda é essa? Foi para me inscreveres no clube jamba?». A outra é bem feito que não queira nada contigo porque de gajos aldrabões que fazem juras de amor e falsas promessas só para meter o menino a bolçar, já estão as mulheres fartas.


Caro Dr. G, há umas 2 ou 3 semanas um gajo meteu conversa comigo através do Instagram. Fomos sempre conversando, até que ele me pede fotos de como vim ao mundo. Sempre recusei. Apesar disso, continuámos a falar. Chegámos a fazer sexting e chamadas. Só que do nada, deixa de falar comigo. Sou sempre eu a meter conversa e ele responde à desprezo. Será que já encontrou outra que lhe mandasse fotos? Devo insistir em conversas ou não?
P.S A distância entre mim e ele é só gigante. Ele é do Egipto.   
Ana, 18, Setúbal

Doutor G: Cara Ana, qual é o teu nível de desespero para estares preocupada com um gajo do Egipto que meteu conversa contigo pelo Instagram e te pediu fotos nuas? Caga nele, o que é que interessa a razão pela qual ele te passou a desprezar? Não quero fazer com que não te sintas especial, mas ele meteu conversa com várias raparigas, no entanto houve alguma que lhe enviou fotografia das suas pirâmides de Gizé e ele ficou com o seu Tutankamon mais entusiasmado. Acabei de deitar aqui as cartas da sueca e estou a ver, com 100% de certeza, que esse gajo não é o homem da tua vida e que, provavelmente, tinha o dromedário cheio de areia do deserto.


Caro Insensível Dr. G, parece ser que meti um "time-out" devido a permanência demasiado longa na friendzone e tem perdurado até agora, simplesmente já não tento qualquer tipo de aproximação com o sexo oposto apesar de saber que até poderia resultar. Estou aqui com um grande problema porque cada vez mais noto que o meu grupo de amigos é mangueirada e parece-me já quase alienigeno que assim não seja já que é sempre muito raro. O que eu quero no fundo dizer é, qual seria a melhor maneira de ter algo, seja superficial ou sentimental com alguma rapariga neste momento?
Gonçalo, 20, Lisboa

Doutor G: Caro Gonçalo, mas eu tenho boina e ar de caçador que sabe onde é que há a maior concentração de perdizes coxas prontas a abater a tiro de zarabatana gosmenta? Ninguém namora no teu grupo de amigos? Eles que digam às namoradas para levar as amigas encalhadas para um jantar de grupo. Vale tudo na tua fase: coxas, corcundas e com mamas pingonas. O segredo é não ser esquisito. Se, mediante apresentação por parte de amigos, que continua a ser a melhor técnica, não conseguires safar-te, então lá terás de recorrer a tristes técnicas de engate na noite, ou utilizar o Tinder. Dá para usar com uma mão, só. Quando menos esperares, a tua cara metade vai aparecer. Ou não, há algumas hipóteses de ficares sem molhar a sopa para sempre.


Caro Doutor G, estou na faculdade e desde que começou tem sido só altos e baixos. Criei um grupo de amigos bem forte e uma das minhas amigas já namora há 2 ou 3 anos. Só que desde há uns tempos para cá tenho ficado intima do namorado dela e os meus sentimentos por ele têm aumentado. Ele desabafa sobre os problemas da relação deles (ele até já me disse que está a pensar acabar com ela), somos super iguais e sinto uma química mas não sei o que fazer. Ignoro o sentimento por causa da minha amiga ou luto por ele sabendo que juntos talvez daríamos certo?
Anónima, 18, Setúbal

Doutor G: Cara Anónima, para melhor responder à tua questão vou recorrer a um fluxograma:


Olá Dr. G. Tenho 18 anos e ainda nao iniciei a minha vida sexual. Tive a minha primeira namorada durante alguns meses, mas nunca se consumou o ato, nao sei se por ambos sermos virgens, se por eu ser um xoninhas que nem volta a uma gaja sabe dar. Mas, apesar de me tentar convencer do contrário, cada vez mais me sinto carente, cada vez mais a desejar ver um pipi a engolir o meu malha vacas. Para melhorar a situação, nao sou propriamente a pessoa mais confiante no que toca a raparigas. O que devo fazer? Alguns conselhos para um atado que so quer dar umas cambalhotas?  
Anónimo, 18, Beja

Doutor G: Caro Anónimo, se este texto fosse uma árvore era a xoninhoeira, tal é a quantidade de xoninhas que hoje foram colhidos. Ao contrário das outras árvores de frutos, a xoninhoeira só dá fruta verde que ninguém quer ferrar o dente. Tens 18 anos, tens de ter calma que ainda tens tempo. Ainda por cima és de Beja e já se sabe como é que é... as pessoas aproveitam melhor a juventude e não têm tanta pressa de crescer. Pensavam que ia dizer mal dos bejenses? Devem pensar que não vi o que aconteceu ao José Cid. Anónimo, resumindo, a confiança vem com o calo dos falhanços. É tentar e aceitar a rejeição como o degrau que leva ao sucesso. Aiii... queres ver que o espírito do Chagas Freitas ainda anda por aqui?


Olá Dr. G! A minha pergunta é muito direta: O que leva um homem comprometido a falar com uma mulher e insinuar-se, provocá-la, mas depois não falar com ela pessoalmente?
  1. É só um coninhas;
  2. Não está nem aí, isto é só uma diversão
Se a resposta fora a segunda, é normal ser ele a tomar iniciativa de mandar mensagem a provocar, sabendo que a mulher está interessada nele e que, eventualmente, lhe iria enviar mensagem?
Camila Muller, 19, Aveiro 

Doutor G: Cara Camila, o que leva a um homem comprometido a insinuar-se a uma mulher é o seguinte: os homens são todos uns porcos. Depois, o que o leva a não se encontrar contigo pessoalmente é o facto de ele ser um cabrão ainda no cinturão branco. Quer pular a cerca todo pelado, mas por um lado tem medo que o peso que vai libertar da sacola dos girinos lhe seja transferido para a consciência. A segmentação da população masculina está representada no gráfico seguinte:


De notar que do tipo A, 99% gaba-se de ser decente, mas só não pula a cerca porque ninguém mais lhes pega e, até hoje, eles ainda não sabem como é que têm namorada ou mulher. Do tipo B, 50% irá pular a cerca no futuro, os outros 50% só flirtam para lhes subir o ego e, na realidade, não querem enfiar a foice em seara alheia. Quer dizer, querer todos querem, mas há uns que têm mais força de vontade para deixar de fumar do que os outros. Resumindo, se queres ter a certeza do que ele quer e se é, ou não, um coninhas, envia-lhe uma foto só com isto vestido:

Caríssimo Dr. G, sou um gaijo apetecível e dentro do possível considero-me um espécime carinhoso e bastante amigo dos seus amigos. Numa one night stand estando nós ainda no aquecimento e já de luz apagada: e pega dali, e beija dacolá, e roça daqui, e esgalha o meu pessegueiro que eu agora descasco-te a banana, eis que eu começo a sentir o mangalho do dito demasiado molhado... E resolvo acender a luz. Medo! Muito medo Por momentos pensei: mas este gaijo está com o período e nem avisa? Mas depois lembrei-me que os gaijos não têm essas merdas  mensais.  As mãos, o mangalho, os lençóis, as pernas... tudo numa poça de sangue. Eu assustado corro para o duche na esperança que a água fria me livrasse daquele erro de casting porque aquele filme obviamente que não era o meu. Bom, regressei ao quarto e percebi que todo aquele sangue resultava de um esgalhamento do pessegueiro demasiado à bruta para aquele ramo. Ambulância, hospital, triagem, médico... nem imagina Dr. G. Eu que tanto gozei com o programa da TLC : Sex send me to the ER vi-me de repente  no hospital por causa de um c******. Um c*******? O rapaz tinha o mangalho feito num oito, estava cheio de dores e com sangue que dava para fazer um arroz de cabidela, e logo eu que não gosto nada dessas merdas vampirescas. Resumindo: Rebentei lhe com o abono de família. O rapaz foi operado que é como quem diz: circuncisado porque o mangalho não teve conserto possível depois de um rasgamento do prepucio. Sinceramente eu sinto-me ligeiramente, só ligeiramente culpado desta caralhada toda. Ele agora encontra-se internado no hospital em recuperação e está de baixa médica. A minha questão é a seguinte: sou passivo, mas se o acto sexual ainda não se tinha dado a culpa não é minha certo? CERTO? Isto é péssimo para o meu curriculum. Dr. G ajude-me por favor a livrar-me desta culpa. 
Luis, 23, Lisboa

Doutor G: Caro Luís, tens de avisar primeiro que és gay! Estou eu a ler e tenho de fazer as contas para perceber que há uma pila a mais na história. A tua dúvida, por si só, já é uma pérola e, por isso, não vou alongar-me muito. Vou deixar em aberto para que seja alguém da audiência com mais experiência em luta greco-romana homossexual a responder. A meu ver, há várias hipóteses:

  • Tens culpa porque tens tanto jeito para manejar o peru como o cozinheiro do restaurante ao pé do meu trabalho que até os bifes de peru consegue fazer com que fiquem intragáveis. Puxaste a casca da banana demasiado para trás e rebentou-se-lhe o freio;
  • Não tens culpa porque ele é mudo e só assim consigo explicar o facto de ele não ter ganido feito um gnu, a jogar descalço à cabra cega num quarto cheio de peças de lego, quando lhe rasgaste as peles;
  • Não tens culpa porque ele tinha um pirilau de cristal, resultado da utilização de cremes esfoliantes que lhe foram tornando o prepúcio mais fino do que uma folha de papel vegetal.
Muitas outras hipóteses são possíveis, mas tens de esquecer o assunto. Já passou, ele ganhou uma circuncisão que no máximo só o vai ajudar a ganhar calo para que na próxima vez consiga resistir de melhor forma a pessoal que acha que a uma pila é uma manete de mudanças de um Fiat Uno a precisar de ir à revisão.


Espero que valorizem o trabalho investido nesta edição do Doutor G e que partilhem sem vergonha dos vossos amigos de Facebook pensarem que sois uns badalhocos. Como sempre, até para a semana e continuem a enviar as vossas dúvidas para porfalarnoutracoisa@gmail.com. 


Partilhem e façam muito amor à bruta, que de guerras o mundo já está cheio.

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19 de junho de 2016

Cronologia da véspera de um exame



Esta é a cronologia da vida de um estudante na véspera de exame nacional ou de faculdade. Toca o despertador:

12.00h - Devia ter acordado mais cedo! Bem, vou comer qualquer coisa e depois é estudar o dia todo.
12.30h - Acho que não consigo estudar de barriga cheia. Vou fazer um plano de estudo para parecer que estou a fazer algo produtivo, mas na verdade estou a procrastinar.
13.30h - Dei-lhe bem neste planeamento! Até mereço ir ao Facebook, Twitter, Snapchat ver o que se passa para descontrair um bocado.
15.00h - Agora é que é. Estudar o dia todo.
15.05h - Estou, Zé? Ir ao café agora? Epá, tenho exame amanhã, tenho mesmo de estudar. Dez minutos? Ok, mas só mesmo um bocado!
17.00h - Ora bem, tenho de acordar às 8h, por isso se estudar agora tudo seguido até às duas da manhã, são nove horas de estudo e ainda durmo seis. Tranquilo. Vou lanchar para depois ser sempre a dar-lhe.
17.30h - Vou rever os exames dos anos anteriores que isto é sempre igual. Vou fazer um exame como se fosse mesmo a sério, sem auxiliares e a contar o tempo.
18.30h - Deixa cá ver quanto é que teria. Três valores? Três? Foda-se! Estou na merda. Não sei nada disto, já não tenho tempo nenhum, os meus pais vão matar-me.
19.00h - Bem, já estou mais calmo, vamos lá rever a matéria e tirar apontamentos que ajuda sempre a decorar.
19.30h - Já me dói a mão, já não escrevia assim desde os ditados da primária. Vou fazer uma pausa para alongamentos e beber um café que isto vai durar.
20.00h - Vou beber outro café.
20.30h - Vou jantar e agora é que vai ser. Sempre funcionei muito melhor à noite.
21.00h - Deixa só ver aqui as redes sociais antes de começar a dar gás.
22.00h - Acho que vou fazer cábulas, já não tenho tempo para decorar isto tudo.
23.00h - Devia tanto ter começado a estudar antes. Digo sempre isto e faço sempre o mesmo erro. Era mais um dia. Mais um dia de estudo e passava na boa com boa nota. Porque é que sou tão burro? Porque é que não dou ouvidos aos meus pais? Não devia ter ido ao café com o Zé. Cabrão do Zé é sempre a mesma coisa, tem os pais ricos, está-se a cagar para as notas que sabe que vai trabalhar para a empresa do papá.
23.30h - Vou fazer um exame a ver se já melhorei. Não vou usar as cábulas.
01.00h - Cinco valores? Cinco? Foda-se. Melhorei um bocado e também não fiz isto com a pressão de um exame e com o tempo todo, respondi estas à pressa e numa situação real tinha revisto tudo e percebido o erro. Se calhar já sei o suficiente para passar. Bem, vou fazer um litro de café e beber dois Red Bull que isto só lá vai com directa.
01.30h - Seis horitas para estudar. Ainda dá. Vou acender uma velinha.
03.30h - Estudei duas horas seguidas? O tempo passa rápido quando estamos de cu apertado. Sob pressão é que um gajo se orienta. Bem, vou fazer um exame mais uma vez.
04.00h - Hahaha acabei o exame em meia hora. Estou muita forte, deixa cá fazer as contas... 3 valores? Ah, não, espera. 7 valores! Ainda bem que não é exame de matemática que eu já não sei é fazer contas. Oh, se tiro 7 aqui em casa, já passei na boa. Os exames dos últimos anos foram bué lixados, este ano eles vão facilitar. Vou fazer uma pausa para tocar um solo de oboé e descontrair.
04.05h - Bem, aproveito vou já tomar banho que até fico mais desperto.
05.00h - Bem, tudo arrumado, tudo pronto, vou só aqui rever tudo.
08.00h - FODA-SE!!!! Adormeci! Como é que é possível?!?! Estava a contar com estas três horas para ficar apto para o exame. Agora não sei nada e até parece que me esqueci de tudo. Porque é que não estudei antes! Um dia antes e era suficiente. Digo sempre isto em todos os exames.
09.00h - Respirar fundo e vamos a isso. Vou escrever o nome e número de aluno primeiro, para relaxar. Deixa cá ler as perguntas: a primeira pergunta é complicada... a segunda também... ai o caraças, não sei nenhuma! Como é que é possível? Cabrões dos professores meteram só as partes que eu não estudei. A quarta nem percebo o enunciado... hahaha a quinta pergunta é bué básica. Já não tenho zero. A sexta... sétima... oitava... Ya, vou chumbar.
09.30h - Ainda não respondi nada. Não sei nada disto. Vou despejar para aqui frases gerais e feitas, encher isto de palha, começar a resposta com a ultima parte da pergunta só para não estar tudo vazio. Nem que seja 0,1 têm de me dar!
10.30h - Está composto, enchi duas folhas de exame, meti o nome.
11.00h - Tenho cábulas no bolso!!! Como é que eu não me lembrei disto?!
11.30h - Não percebo nada do que escrevi nas cábulas. Nem percebo o enunciado das perguntas, sei lá eu que parte da matéria é isto.
12.00h - Já está. Já passou. É incrível como depois de um gajo entregar e já não haver nada a fazer acalmamos logo. É uma paz interior de um doente terminal que aceitou a inevitabilidade da morte. Ainda é capaz de dar para passar, acertei a 3 b) e a 2a) todas, depois mais uns pozinhos ali e aqui, fazendo as contas por alto pode dar o 10,3. 

À saída do exame, na conversa com os colegas.

- Então e o que responderam na 3 b) e na 2 a)? Era X e Y, certo? - perguntamos.
- Não... era Z e W. - respondem vários colegas em uníssono.
- ... ok... bem, tenho duas semanas até à segunda fase. Com o que já estudei para esta, basta estudar na véspera.

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15 de junho de 2016

Como lidar com a falta de experiência sexual do parceiro?



Sentiram saudades da rubrica "Doutor G explica como se faz"? Já estavam a desesperar, confessem! Depois de mais de um mês de folga, talvez esteja meio enferrujado, mas vamos lá então começar o consultório com mais javardeira de classe que há neste cantinho à beira mar plantado. Já agora, hoje é quarta, mas o consultório continuará a ser às terças-feiras a partir da próxima.


Olá Doutor G! Há um ano atrás tive um namorado com quem perdi a virgindade. Fizemos de tudo: de pé, sentados, deitados, a conduzir, a tomar banho, tudo o que é possível. No entanto, passados alguns meses de começarmos a namorar ele acabou comigo. E até hoje, passado um ano, nunca mais fodi (ou nunca mais me foderam, neste caso)! O que se passa é que a minha parreca acordou e agora só pensa em comer toda a morcela que encontra pelo caminho. Mas há um problema: é que há um menino no qual estou interessada e com quem poderia facilmente voltar a perder a virgindade, porque ele também está interessado. Mas ele tem muita experiência e isso assusta-me, porque apesar de eu ter sido bem fodida, isso só aconteceu com o meu ex e agora não sei se estou à altura de ser papada por um rapaz com tanta experiência. Quais são os teus conselhos, Doutor G, para eu estar à altura deste garanhão?    
Salomé Toc Toc, 19, Porto

Doutor G: Cara Salomé, quem fala assim não é gaga! Parabéns por isso. Uma nota inicial: olha que agora fazer sexo a conduzir tira pontos na carta de condução. No entanto, se for anal e não lubrificarem bem, podes recuperar os pontos. O teu problema é o mesmo de quem está a entrar no mercado de trabalho: é preciso experiência para ter um bom trabalho, mas é preciso ter um trabalho primeiro para ganhar experiência. O meu conselho é que mintas no CV! Diz que fizeste um estágio lá fora e mete nas competências sociais que foste delegada de turma no 5º ano. Na parte de informática, diz que és nível avançado PornHub na óptica do utilizador e que consegues teclar com os cinco dedos ao mesmo tempo. As tuas opções são as seguintes:

  • Perdes o medo de não estares à altura e és bem fodida e ele ou fica desiludido ou não.
  • Não perdes o medo e ficas a chuchar no dedo e ele vai perder o interesse na mesma.
De qualquer das formas, o mais provável é ele ser mau na cama. É homem e, por norma, estão é preocupados em colocar o menino a bolçar e não no prazer da mulher. E, já agora, a mulher não é apenas fodida. A mulher que sabe o que faz, também fode o homem, mesmo sem dildos no rabo e cenas maradas dessas.


Doutor G , namoro com uma rapariga ja há 2 anos e meio, gosto dela, mas a sua vida é tão complicada, têm mesmo uma vida de merda cheio de problemas familiares e emocionais e acaba por sempre descarregar em mim, isso fez me perder um bocado o interesse na relação mas não sou capaz de acabar com ela! Ela sempre diz que sou a pessoa no seu mundo que está agarrar, e sinto pena. Sei que estou a ser um coninhas, mas como posso resolver isto?
Anónimo, 23, Lisboa

Doutor G: Caro anónimo, sou apologista, desde sempre, que os namorados não devem ser psicólogos das namoradas, e vice-versa. A tua namorada é passivo-agressiva e ao dizer-te que és a única pessoa que a está a agarrar ao mundo, está basicamente a dizer que se a deixares vai meter ao bucho meio pacote de Kompensans e uma caixa de supositórios. Se gostas dela, ajuda-a. Ela que procure ajuda porque ir ao psicólogo não é vergonha nenhuma a não ser que seja o Quintino Aires. Se ela não quiser ajuda e preferir continuar a descarregar em ti, abandona-a à beira da autoestrada. Seja como for, a pena é a última das colas que deve segurar os cacos de uma relação. Foda-se! Tenho de chamar um exorcista que devo estar a ser possuído pelo espírito maligno do Pedro Chagas Freitas!


Caro Doutor G, conheci um rapaz 7 anos mais velho que eu, mas muito parecido comigo. Temos os mesmos gostos, mesmos hobbies, mesmas filosofias. Conhecemo-nos há cerca de 1 mês e há coisa de 2 semanas que temos andado a sair, mas não percebo o que ele quer... embora seja ele a convidar a maior parte das vezes, tenho que ser sempre eu a meter conversa, pois ele não toma a iniciativa de mandar mensagem ou de me ligar. De salientar que é muito difícil falar com ele, pois demora uma eternidade a responder às mensagens! Gostava que acontecesse mais alguma coisa entre nós, já saimos umas 6 vezes e nada, nem um beijinho... O que acha do meu caso dr? Acha que não está interessado? Ou está e é um xoninhas com medo de levar uma tampa? 
Anónima, 18, Lisboa

Doutor G: Cara Anónima, este tipo de dúvidas tira-me do sério. Queres um beijinho? Bota-lhe o escalope dentro da boca! Esfrega-lhe os dentes com mais entusiasmo do que uma maníaca das limpezas passa o piaçaba nas paredes de uma sanita que foi usada há uma semana por um doente de Ébola! Ficas logo a saber o que ele quer. Na pior das hipóteses ele diz «Credo! Que nojo!» e já não perdes mais tempo em saídas com ele. Se ele te convida para sair é porque há interesse, mas se não te responde às mensagens é porque ou tem namorada ao lado dele, ou não sabe manter assunto porque é um xoninhas. Ou, se calhar, não acabou a quarta classe e tem medo de dar erros. Não há nada pior do que receber uma mensagem de alguém na qual estamos interessados a dizer «Que tal oje há noite sair-mos para beber uma serveja?».


Dr. G. tenho 25 anos, bem-parecido, sociável, culto, filho único, pais extremamente conservadores, conheço imensa gente, toda a vida pratiquei desporto, estou em boa forma física, sou alto, moreno, inteligente, licenciado, mas nunca tive uma namorada! Foram cerca de quatro as vezes que até hoje estive apaixonado por raparigas, tenham estas sido colegas universitárias ou fora do âmbito académico, mas nunca fui correspondido, ou porque elas não sentiam o mesmo por mim, ou num dos casos, porque já era comprometida e eu não quis meter a colher no meio de um casal e arruinar a relação deles. E da parte feminina, para além destes quatro exemplos que dei, também nunca outras raparigas, que eu me apercebesse, se mostraram interessadas. Sou excelente para todos os que me rodeiam, no entanto, embora todas as pessoas mais velhas me deem todo o tipo de cumprimentos, elogios, atributos e que “raparigas não me devem faltar”, essa não é a verdade por completo, o que é lamentável. 
P.S.: Não bebo álcool, não fumo, nem gosto de sair à noite, portanto está fora de questão introduzir estratégias foleiras de engate nocturno regadas em vinha de alhos com marcação de ressaca para dois dias.
D., 25, Lisboa

Doutor G: Caro D, esqueceste-te de referir uma qualidade tua: muito, muito humilde! Segue a minha resposta dividida por tópicos:

  • Com 25 és licenciado? Já devias ter um Mestrado Bolonha.
  • Se as pessoas mais velhas te elogiam, foca-te nas velhas! Um bom gestor sabe quando fazer o pivot na empresa e aproveitar o mercado que mostra interesse. Vai ao Plateau às quartas-feiras.
  • Não bebes álcool? Tenho como filosofia de vida desconfiar de pessoas que não bebem álcool.
Sendo que não sais à noite, deixo-te as seguintes hipóteses:
  • Dating online porque é mais fácil disfarçar a personalidade quando se têm corrector automático e acesso ao Google para saber que o Nélson Mandela não é o Morgan Freeman.
  • Pedir a uns amigos ou amigas que te apresentem aquela amiga encalhada ou que acabou de sair de uma relação onde foi traída há pouco tempo e está na fase putaria em que marcha tudo.
  • Portal Privado e/ou Mãe Kikas.
Concluindo, com tanta qualidade física, cultura e inteligência, e sem nenhuma rapariga que tenha sentido atração por ti, só há duas hipóteses: muito azar; és um bananão; és uma besta como pessoa.


Caro Doutor G. de momento encontro-me a fazer um estágio profissional na Alemanha e contra o que esperava iniciei uma relação pouco tempo antes de vir para cá, mas as conversas e falinhas mansas do dito cujo ''uma relação à distância funciona porque resulta com a, b e c'', convenceram-me. Conclusão, namoro à relativamente pouco tempo e já passamos mais tempo separados do que juntos, desde o inicio da nossa relação. Até aqui tudo bem, mas no entanto o moço não faz esforço algum para falar comigo ou para falar de assuntos interessantes (isto desde o inicio). Claro, que depois de várias semanas com perguntas a serem respondidas só de 12h em 12h o sentimento vai-se desvanecendo. Mas também não o quero magoar porque ele é mesmo muito querido, só a conversar por mensagens é que não presta, eu tento falar do meu dia e perguntar como correu o dele e ele só diz foi ''normal''. Portanto a minha dúvida aqui é: o que é que faço ? Ainda vou ficar cá mais 3 meses e isto não me parece que tenha muito pano para mangas, gostava da sua honesta opinião.
Anónima, 22, Leiria

Doutor G: Cara Anónima, começar uma relação antes de ir trabalhar ou estudar no estrangeiro é como ir ao Chimarrão antes de ir para o copo de água de um casamento. Por um lado, muitas vezes a comida dos casamentos é má e mais vale acautelar as horas que vamos ficar a apanhar seca, por outro, é desperdício de espaço para albergar buffet de chicha. Pergunta: se ele desde início que não tem assuntos interessantes para falar, para que é que quiseste namorar com ele? Acho que deves falar com ele e dizer-lhe o que sentes tal como estás a dizer aqui. Se ele fizer um esforço, vão vendo no que dá. Se ele continuar a não mostrar interesse, troca-o por salsicha Alemã e, depois, quando chegares passados 3 meses logo se vê se. De qualquer forma, o mais provável é voltares a Portugal e perceberes que é melhor regressares à Alemanha porque isto aqui, não sei se alguém te disse, não anda muito bem para arranjar trabalho.


Caro doutor, sou homem de 35 anos e sempre gostei de mulheres, acontece que de há uns tempos para cá, só o que me excita é ir aos WC's públicos e olhar para os paus dos outros e ai sim consigo ter uma erecção e bater uma, só penso em ir a wc's públicos e isso já está atrapalhar a minha vida amorosa com a minha namorada, o que me aconselha visto eu gostar muito dela.
Carlos, 35, Lisboa

Doutor G: Caro Carlos, aqui fica um fluxograma para te ajudar a perceber o que se passa contigo.
Basicamente é isto. Não há certo nem errado neste fluxo, há apenas a direcção na qual és verdadeiro a ti mesmo e, por conseguinte, mais feliz. Foda-se, vá de retro demónio do Pedro Chagas Freitas.


Caro Doutor G, há já uns quatro meses que estou numa relação estranha com um amigo. Encontramo-nos com uma regularidade média, geralmente só nós, predominantemente ida ao cinema, café ou passeio à conversar. Beijamo-nos, andamos de mão dada, mas não diria que é uma relação romântica, muito menos carnal, o que me desagrada. Já dormimos juntos várias vezes, tendo sido apenas dormir mesmo excepto numa das vezes... e eu não percebo porquê. Parece que ficámos presos numa zona muito estranha, pior que a 'friend zone', da qual não sei como sair. Isto é, a não ser ficar-mos mesmo somente amigos, no sentido convencional, que não seria a minha primeira escolha. Portanto, antes disso, algum conselho do Doutor G para uma tentativa final de remediar a situação? 
S, 23, Lisboa

Doutor G: Cara S, rais parta a juventude! Os outros de há pouco saem e não dão beijinho na boca, estes agora dormem juntos como irmãos sem serem os dos Maias do Eça de Queirós. Mas que merda vem a ser esta? Olha, estou cansado, foram muitas semanas sem dar consultas e não tenho paciência para isto. Dicas rápidas:

  • Se dormem juntos e querem, então façam sexo. Mete-lhe a mão nas virilhas e diz que te está a apetecer vichyssoise.
  • Passaste a fase namoro apaixonado e tórrido para a fase "casal casado há 30 anos que faz sexo uma vez por ano". Isto não é uma corrida a ver quem chega primeiro! Diz-lhe que o desejas e que isto assim só de mãos dadas e dormir sem pinar era só nas sestas do infantário.
  • Nunca, mas nunca escrevas "ficar-mos". Se o rapaz for como eu, isso tem o mesmo efeito antiafrodisíaco do que ver a Manuela Ferreira Leite a masturbar-se com a cauda de um mangusto congelado que morreu ao frio órfão porque os pais foram comidos pela Manuela Ferreira Leite num jantar convívio em casa do Cavaco Silva.
Bem, está na hora de ir dormir.


Satisfeitos? Barriga tirada de misérias? Não se esqueçam desse sentimento de satisfação quando sair o livro exclusivo com as rubricas do Doutor G, onde haverá muito conteúdo nunca antes publicado no blogue! Sai algures depois do Verão e, entretanto, como sempre, até para a semana e continuem a enviar as vossas dúvidas para porfalarnoutracoisa@gmail.com. 


Partilhem e façam muito amor à bruta, que de guerras o mundo já está cheio.

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4 de junho de 2016

13 conselhos sensatos da bruxa



Uma senhora de 69 anos ligou para o programa de TV de uma taróloga na SIC e confessou sofrer violência doméstica há decadas. O conselho da bruxa? Dar mimo ao marido porque violência gera violência e é melhor estar caladinha porque senão as coisas pioram.

Estavam à espera de conselhos sensatos vindos de uma cartomante que faz consultas por telefone? Exigem demasiado das pessoas sem escrúpulos.

Aqui ficam outros conselhos que servem tanto ou mais para resolver a violência doméstica quanto os conselhos dados pela senhora que leva a vida a enganar os outros.














Se tiverem mais conselhos sintam-se à vontade para os adicionar aos comentários.
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