22 de dezembro de 2020

Prémios Por Falar Noutra Coisa 2020 - Vota nos nomeados




Mais um ano que finda, mais uma edição dos prémios mais relevantes de Portugal. Caguem nos Globos de Ouro que estes é que contam. Foi um ano atípico, mas houve muitos potenciais nomeados para as várias categorias, que vão desde o coninhas do ano, à moda parva, e indignação palerma, entre outras categorias. Conto com a vossa ajuda para eleger os vencedores e ainda podes ficar habilitado a ganhar um livro Por Ladrar Noutra Coisa, Diário de uma Bitch, assinado por mim e pela Zaya.

As votações estão terminadas. Podes ver os vencedores neste link.


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14 de setembro de 2020

Novo Big Brother - Review aos concorrentes



Começou um novo Big Brother e, como é hábito, vou fazer a ronda de review/bullying por todos os concorrentes. De nada.


Tem crazy eyes e percebemos logo que é daquelas que vai armar peixeirada. A falar parece a Lili Caneças quando era nova, para aí há uns 170 anos. Foi campeã de dança numa vertente estranha que ninguém quer saber. Eu também fui campeão distrital de dança jazz para acender luzes nas casas de banho públicas e não me ando a gabar disso. É jurada internacional de concursos de dança ou, por outras palavras, está desempregada e, por isso, é que aos 40 anos decidiu entrar no Big Brother. Dou-lhe umas horas até esta usar a frase "Eu sou muito frontal e digo as coisas na frente. Quem gosta gosta, quem não gosta mete na borda do prato que isto é mêmo assim."


O Bruno é grafiter, mas usa decotes. A alcunha dele é Nek e desconfio que é por causa do pescoço e boca de girafa. Cumprimentou as pessoas com aquele novo cumprimento com o antebraço por causa da covid porque disse "Isto nunca se sabe". Portanto, está com medo da covid, mas vai fechar-se numa casa com 20 desconhecidos. Acho que anda a inalar muita tinta dos grafitis.


A Carina, no casting, tinha um vestido bastante curto e decotado que tinha sido oferecido pelo sogro para ela parecer uma princesa. Estranho... Já tinha ouvido falar de sugar daddy, agora sugar father-in-law é a primeira. Depois, esta gente pensa que Massamá é um principado ou então andam-lhe a ler histórias infantis muito estranhas, onde as princesas têm ar de cabeleireiras. Trabalha numa roulotte com o marido e os sogros e diz que é muito ciumenta. Olhando para o marido eu acho que pode estar descansada dentro da casa que da última vez que eu vi as mulheres não andavam atrás de gordinhos que têm roulottes de cachorros. A Carina acenou para o plasma onde estava a Teresa Guilherme porque não sabe a diferença entre televisão e câmara de filmar.


É hospedeira de bordo, cargo também conhecido por empregada de mesa a 20 mil pés. Foi casada durante 3 meses e toda a gente sabe que isso significa que alguém apanhou um par de cornos. Estudou na Católica e agora está no Big Brother aos 38 anos. A pior publicidade de sempre para essa universidade.


Era jogador de andebol mas teve de deixar porque, numa discussão com a namorada, deu um soco num vidro e lesionou-se. Sim, o Renato é dos espertos. Diz que tem um espírito de líder e normalmente quem diz isso é otário, algo que percebemos logo pela cara dele, especialmente na parte das sobrancelhas. Acha-se muito lindo e diz que só não recebe mais elogios porque as pessoas são invejosas. É isso, Renato, é isso, o Pai Natal é real.


Acha que é fadista porque tem um xaile. Viveu em Amsterdão até aos 8 anos o que pode explicar muita coisa, mas a verdadeira explicação vem a seguir.


É mãe da Jéssica. Ya, entraram juntas, sugestão da mãe. Se a minha mãe me sugerisse entrarmos os dois no Big Brother eu internava-a e cortava relações. Diz que é empresária no ramo da estética, ou seja, faz unhas foleiras como aquelas que tem e que parecem resultado de uma má trip de LSD. Acredita imenso em astrologia, obviamente, caso contrário até seria de estranhar. Por acaso nota-se bem que é capricórnio com ascendente em bilú das ideias. Agora, eu tirava as duas, mãe e filha, e metia o marido/pai, ora vejam.

 

Incrível. A classe do bicho. Pensava que estes óculos nunca eram mesmo comprados nas lojas e que apenas eram usados para o pessoal tirar foto no gozo na loja. Parece que o Goucha e o Melão fizeram um filho no LX Factory. Faz lembrar o António Sala depois de ir ao Boom.


Este diz que vai finalmente apostar na carreira na música e então vai para o Big Brother, sítio conhecido por revelar ao mundo cantores como o coiso e a outra. Parece relativamente normal, o que significa que em breve vamos descobrir que não é.


É boa, não vamos estar aqui com merdas. Considera-se carente. As mulheres carentes normalmente não têm noção que são carentes, por isso quando se assumem como carentes é fugir. Por outro lado, óptima peitaça.


Diz que não gosta de pessoas racistas, mas acho que isso é estar a ser demasiado parcial. Enfim. É rapper e toda a gente sabe que rap e reality shows ligam tão bem como bacalhau à brás e caramelo salgado. Vai varrer pelo menos duas gajas lá dentro, leram aqui primeiro.


Considera-se beta de Cascais, mas parece mais a Barbie da Favela. No outro Big Brother havia o beto chunga, aqui temos a beta bimba. Diz que é a primeira vez que no Big Brother vai estar alguém com e passo a citar “os costumes e valores de Cascais.”. Podemos, então, assumir que vai fugir aos impostos. É toda afectada na fala o que pode ser da consanguinidade ou ser só otária. Ou as duas coisas, também não podemos descartar essa hipótese. Já andou a picar o Michel cá fora, provavelmente para irritar o pai.


Tem crazy eyes e o facto de ter 5 ou 6 gatos só comprova essa teoria. Diz que trabalha em cripto moedas numa empresa sediada em Malta. Pelos vistos acredita em aliens, mas não acredita em impostos. O marido dela tem distrofia muscular e está numa cadeira de rodas. Passaram a Lua de Mel na Coreia do Norte, não sei se está relacionado ou não. Querem ir visitar o Iraque, diz o gajo de boca cheia, quando já não se sente as pernas um gajo tem menos medo das balas perdidas e explosões. Normal que a Diana tenha gatos em vez de cães porque já bastava um lá em casa que precisa de ajuda para ir à casa de banho. Forte. De nada.


Chama-se Rui Pedro e eu sei o que estão a pensar: “Então foi isto que aconteceu ao Rui Pedro? Coitado, afinal é pior do que o que pensávamos”. Verdade, isto faz as redes de pedofilia parecer o Zoomarine. Já sei que também estão a pensar: o Rui à primeira vista tem pinta de otário. Não conheço o suficiente sobre ele e estaria a ser injusto em assumir isso, mas de certeza que é. Está sempre a pentear o cabelo com a mão e isso para mim é argumento mais que suficiente para me convencer que é palerma.


Não vamos estar aqui também a dizer que esta não é boa. Eu não sou só criticar.  Também tenho coração. Já foi bailarina do Melão. Isso nem me choca muito, o que me choca é ela assumir tal coisa. Isso é tipo trabalhar no BPN, oculta-se do CV.


Eu não descarto a hipótese de este sujeito ser uma personagem de humor. Acho que pode ser o Eduardo Madeira caracterizado ou um projecto novo do Sacha Baron Cohen. Está bem que ele é do Barreiro, mas nem isso explica tudo. Desde colares e pulseiras de búzios, a um cabelo a fazer lembrar um galgo afegão nos anos 80 com uma permanente, tudo é incrível. Até o Michel olhou para este e pensou "Nah, esse branco arrisca bué no estilo". Diz que sabe cantar, mas canta tão bem como seria de esperar ao olhar para a cara dele. Por acaso tem todo o ar de já ter sido um cromo dos Ídolos. Entrou pedrado, garanto-vos. Isso ou a antena do 5G fez interferência com a terapia multidimensional que ele diz que faz. Nem a pandemia fez com que deixasse de haver boa droga no Barreiro. Eu podia fazer várias piadas sobre este gajo, mas ele já fez a melhor: “Sou terapeuta de Reiki.”


Os pais não sabiam o sexo do bebé e pensavam que ia ser labrador e escolheram o nome Zena. Depois afinal era uma humana, mas eles não se deram ao trabalho de escolher outro. Parece ser das mais normais, fora o problema da fala. É da Madeira.


Tem cabelo de otário, mas vamos tentar ver além disso. Emagreceu 40kg depois de uma namorada ter dito que estava a engordar. Mostra força de vontade ou pouco poder de encaixe à crítica.


Convém não gozar muito porque ele pode ser cigano. Tem um bigode daqueles finos que parecem as mulheres que fazem a depilação no pipi e não vão até ao fim que fica que aprece um afia lápis. Tem sotaque de Odivelas e diz que é rapper, mas cuspiu umas rimas que mais pareciam saídas dos livros de provérbios para crianças e com o flow de um gago bêbedo. Diz que o sonho dele é ser personal trainer. Portanto, tu estás a tentar ser rapper e tens o sonho de ser personal trainer? Isto faz tanto sentido como estares a tirar medicina e teres o sonho de ser empregado de mesa.


Às vezes tem bom aspecto, mas de outros ângulos parece um modelo da CERCI. De resto não tenho muito a dizer o que significa que como passa mais despercebido e parece mais normal, vai ser o primeiro a ser expulso.


E é isto. Não tenho mais nada a dizer e não voltarei a falar deste assunto a não ser que aconteça uma tragédia que o justifique. Vá, agora vou descansar que exercer bullying cansa.


PS: Datas de stand-up comedy:

28 e 29 Setembro - Lisboa - Esgotado
2 outubro - Albufeira - Bilhetes aqui: https://bit.ly/3mm3n3C
10 outubro - Ponta Delgada - Bilhetes aqui: https://bit.ly/35ytVZF
16 outubro - Leiria - Bilhetes à venda em breve.
11 Novembro - Lisboa - Bilhetes aqui: https://bit.ly/2ZD4OAW

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26 de junho de 2020

Carta aberta (de um pai de família) ao provedor da RTP



Caro senhor Provedor da RTP, é com muito pesar que lhe endereço esta carta aberta. O meu nome é Pedro dos Santos e sou pai de uma família numerosa e católica, uma espécie em vias de extinção, infelizmente. Sou casado com a MINHA MULHER e temos 6 filhos. Como família conservadora que somos, posso assegurar-lhe que só fizemos amor 10 vezes (todas na vagina) e apenas depois do casamento. Sim, infelizmente, três das vezes o sémen não fecundou o óvulo e acabou por ser fazer amor para nada, um desperdício de tempo, mas às vezes acontece. Já sei que o senhor provedor, como homem inteligente que é, deve estar a pensar “6 + 3 é igual a 9, pelo que falta saber o que aconteceu com uma das ejaculações”. Bom, asseguro-lhe que foi uma ejaculação saudável e como Deus quer, mesmo dentro da vagina, e que quis Deus que desse origem a uma vida. Infelizmente, passado alguns meses de gestação, a MINHA MULHER sofreu um aborto espontâneo.

Talvez por isso este assunto me toque ainda mais e escrevo-lhe para demonstrar a minha tremenda perplexidade com uma série infantil exibida na RTP, chamada “As Destemidas”, em que um dos episódios é sobre a vida da senhora Thérèse Clerc, focando-se na sua luta a favor da legalização do infanticídio a que chamam Interrupção Voluntária da Gravidez, ou, mais comummente, aborto. Isto é, além de tentar doutrinar, baralhar a cabeça das crianças. Os meus filhos não sabem nada sobre o aborto, até porque não temos por hábito falar sobre pecados cá em casa. Imagino a confusão na cabeça das minhas crianças ao verem aquilo. Devem estar cheios de perguntas e dúvidas nas suas cabecinhas católicas e puras! Como é que eu vou lidar com as perguntas que antecipo que aí vêm? Como explicar-lhes o que é um aborto? Vou ter de lhes dizer que um aborto voluntário, daqueles que a série promove, é quando a mãe do bebé abre as pernas de propósito e vem a cegonha que enfia o seu bico, na totalidade, na vagina e mata o bebé a leva-o embora. Depois, de certeza que vão perguntar para onde vai o cadáver do bebé, se tem um funeral, se vai para o Ecoponto e se a alma do bebé volta a ser reutilizada. Os meus filhos vão começar com dúvidas se a própria alma deles é em primeira mão ou é refurbished e proveniente de um aborto anterior. Pior, quando acontece o aborto o bebé não está baptizado, por isso vai ficar no limbo com todos os outros abortozinhos? São este tipo de perguntas que me vejo obrigado a responder e a culpa é da RTP2.

Pior, vou ter de lhes explicar que, de vez em quando, por vontade de Deus que só ele sabe, existem abortos espontâneos. Nesse caso não é homicídio porque Deus não pratica o infanticídio (só em África). Tenho de lhes explicar que, nesses casos, a cegonha vem com o bebé no bico para o entregar à mãe, mas Deus sopra uma rabanada de vento e faz com que a cegonha comece a voar por linhas tortas, se atrapalhe e fique presa nuns cabos eléctricos, acabando por morrer juntamente com o bebé. Vou ver-me obrigado a dizer-lhes que o tal aborto que a MINHA MULHER teve foi assim que aconteceu. Que o seu irmão é agora um churrasco de feto electrocutado num cabo de alta tensão algures no Alentejo. Está a ver os traumas que isto pode provocar? Os meus filhos viram o episódio e nem tiveram coragem de tocar no assunto, mas eu notei que estavam transtornados. Até meti os mais novos a ver os desenhos da Disney, especialmente o capuchinho vermelho onde o lobo mau come a avó, para eles descontraírem e desanuviarem… agora que penso nisso, será que o lobo mau comer a avó é uma metáfora para a eutanásia? Lá estão eles a doutrinar as crianças, tenho de proibir a Disney cá em casa! A partir de hoje vêem a missa – que felizmente já voltou – e não precisam de ver mais nada. Sorte tenho eu que a MINHA MULHER não é influenciável e não se mete com ideias de ser independente e trabalhar ou, pior, ser activista. A MINHA MULHER pensa pela própria cabeça e nem preciso de lhe perguntar para saber que ela subscreve na íntegra esta carta.

Com esta doutrinação da RTP2, mais vale deixar os meus filhos usarem o Tik Tok ou verem o Wuant que sempre deve ser menos prejudicial à sua saúde mental e olhem que dizer isto é dizer tudo sobre essa série de animação. Nem vou falar do facto de fazer um apelo à homossexualidade, como se ser lésbica fosse cool. Ainda vou dar com as minhas filhas a beijarem a boca da Barbie Dona de Casa e os meus filhos a enfiarem pinipons no rabo do Action Man. Enfim, esperemos que a educação católica que têm tido lhes dê anticorpos para essas doenças e vírus.

Termino esta carta com a esperança de que o senhor Provedor perceba que uma série destas não devia estar em exibição e peço-lhe que a retire imediatamente.

Obrigado, despeço-me cordialmente.
Pedro dos Santos
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1 de junho de 2020

Não somos todos iguais



Não se pode dizer que o verniz tenha estalado nos Estados Unidos da América, porque no que diz respeito a questões raciais, o verniz nunca deixou de estar todo gretado e remendado como as unhas da Kátia no fim de 15 dias de férias em Quarteira. Vamos por partes:

Tudo começou com um cidadão morto às mãos, ou ao joelho, de um polícia. Calhou o cidadão ser negro e o polícia ser branco. O problema é que nos EUA calha muitas vezes esta chave de prémio e é de um gajo começar a desconfiar que não é coincidência e que a máquina está viciada. Desta vez, pudemos todos assistir a vários minutos onde o civil implora por ar e o polícia lhe calca ainda mais o pescoço com o joelho até que ele acaba por morrer, estranhamente. Parece que o ar é um bem essencial à vida e ninguém sabia. Se o gajo dissesse que estava com falta de rede ou bateria no telemóvel, talvez o polícia percebesse a gravidade da situação e saísse de cima dele. 

A culpa é claramente do cidadão negro que andou a gastar dinheiro em ténis da Nike em vez de instalar um sistema de guelras ao fundo das costas por onde poderia respirar tranquilamente em caso de algum dia alguém usar o seu pescoço como joelhódromo da igreja. A autópsia do George Floyd diz que a causa da morte pode ter sido devido a condições de saúde não conhecidas e substâncias no organismo. Os negros não gostam muito de nadar, yo, já sabemos todos desde o tema dos Black Company em 1994 e deve ser por isso que o George não sabia fazer apneia durante 9 minutos. Se soubesse, se fosse saudável e fizesse desporto como o Michael Phelps, nada disto teria acontecido. Ainda se há de descobrir que o Floyd fumava e toda a gente sabe que o tabaco mata.

Bem, não é que interesse a alguém, mas apetece-em dar a minha opinião séria sobre o assunto. Ora, penso que se alguém diz que não consegue respirar, já está imobilizado, chega até a deixar de se mexer, e não tiras o joelho do pescoço, é homicídio. É uma pergunta de primeiro nível do Quem Quer Ser Milionário. Se é voluntário ou não, só o polícia o saberá e cabe a um juiz decidir. Sim, porque eu acho que o polícia merece aquilo que não deu ao Floyd: um julgamento justo e imparcial. Os polícias que estavam do lado são cúmplices e devem ser julgados também, mas pode haver atenuantes, até porque quando ensinas pessoas a não questionar a autoridade e a hierarquia, tens este resultado e o problema será mais do sistema do que dos indivíduos em si.

Eu para mim, os polícias são como os pretos: não são todos iguais. Até tiveram de ler duas vezes, não foi? Sou bué ninja.

Isto leva-nos aos acontecimentos seguintes que foram os protestos e manifestações pela igualdade e a favor que se faça justiça e que casos com o do George Floyd não voltem a acontecer. Agora vamos fazer um pequeno teste: quando eu disse "protestos e manifestações pela igualdade e justiça" em que é que pensaram? Se pensaram nos motins e vandalismo que também estão a acontecer, podemos ter aqui um problema. Significa que na vossa cabeça houve algo a associar "Pretos a protestar = motins e ténis da Nike roubados". A culpa até pode não ser vossa, pode ser dos media e das redes sociais que dão mais destaque à violência, mas temos um problema. Isso percebe-se facilmente num tweet que fiz em que referia o facto de "Milhares protestam pela igualdade" e tenho respostas como "Pilhar e roubar é protestar igualdade onde, seu esquerdolas de merda paneleiro do caralho?". Reparem que nesse tweet, tal  como no início deste parágrafo, nunca me referi a pilhagens, referi-me a protestos pela igualdade que realmente estão a acontecer, pacíficos, com milhares de pessoas. Nunca disse que tudo o que está a acontecer são protestos que eu considero pela igualdade, disse apenas que havia desses. Por isso, se a morte do George Floyd te passou ao lado e não viste o vídeo ou se viste não lhe deste muita atenção; se os protestos pacíficos e discursos emotivos te passaram ao lado e não lhes deste muita atenção; mas decidiste dar atenção aos motins e roubo a dizer "Não é assim que se combate o racismo", lamento, mas acho que não estás focado no que realmente interessa, nem estás do lado certo. Sim, porque aqui há um lado certo, aceitar racismo não é uma opinião, é ser um monte de merda.

Isto não quer dizer que não se possa discutir ou apontar o dedo à violência, claro, mas acho que primeiro é que é preciso perceber como funciona a acção e reacção. Não foi do nada que começaram os motins, não foi porque a Shakira ganhou o prémio de melhor rabo à Beyonce. Ao contrário do que muitos labregos pensam, perceber o que leva a esta escalada de violência não significa legitimá-la ou concordar com as pilhagens, como é óbvio, mas para perceber isso é preciso também ter algum tipo de inteligência e pensamento crítico e nem todos tivemos sorte quando Deus distribuiu neurónios sem defeito. 

Isto leva-nos a outro factor, para mim menos importante desta discussão (pelo menos para já) que são esses protestos violentos, os assaltos a lojas e as agressões. Um amigo meu que está lá no meio dos motins diz que está um caos tão grande que faz lembrar a corrida ao Pingo Doce de 2012. Claro que o racismo não se resolve assim, claro que a maioria do pessoal que entra pela loja da Nike a dentro nem sabe bem quem foi o Martin Luther King e só quer é uns ténis novos. Sabes que os motins não têm razões socio-económicas válidas porque ninguém está a roubar comida nem medicamentos para a avó. Claro que muitos nunca fizeram nada da vida e usam o racismo como desculpa para os seus fracassos. Agora, serão a maioria? Não me parece, com milhares e milhares nas ruas, a maioria dos protestos são pacíficos e ainda é preciso compreender que existem anos de protestos civilizados e nada tem mudado muito. Só nós portugueses que tivemos uma revolução calminha para achar que a violência não resolve nada. Mesmo que não resolva, às vezes ajuda, e, mais uma vez, não estou concordar com esta violência, mas se os lesados do BES tivessem invadido os bancos e partido tudo e aberto lenhos nas cabeças de uns banqueiros no caminho, teríamos condenado assim tanto? Se calhar não. Fossem todos os roubos de ténis e plasmas e o mundo teria muito menos desigualdades.

Por falar nisso, deve ser tramado para o pessoal que participou nas pilhagens, chegar a casa e perceber que com a pressa trouxe o número errado e os ténis não lhe servem. Duvido que as lojas façam trocas nesta altura, deve ser como nos saldos. Não me vejo a participar em pilhagens porque já me estou a ver a chegar a casa com uma televisão de quinhentas polegadas 16k e a minha namorada dizer-me "Foste ao motim roubar a FNAC e não passaste na Zara para roubar um vestido para mim? Só pensas em ti." Se isto acontecesse em Portugal em vez dos militares enviávamos os trabalhadores da Primark que já estão habituados à confusão.  Se as pilhagens fossem cá, já estou a ver o pessoal do Passadeira Vermelha a comentar os motins: "Esta situação é ridícula! Roubar Nike e Louis Vuitton? Não combina, que pindéricos.". Agora que penso no Passadeira Vermelha, com esta situação toda dos motins, a Joana Latino já tens imagens de sobra para ilustrar uma notícia sobre a pandemia de 2035. 

Voltando ao caos dos Estados Desunidos da América, claro que quem agrediu violentamente outros nos protestos só porque estavam a defender a sua propriedade, deve ser julgado e condenado da mesma forma que se o tivesse feito numa segunda-feira normal. Mas esse não é o ponto em que escolho focar-me nesta altura. Escolho focar-me nos protestos pacíficos, até porque acredito que sejam muito difíceis de fazer no meio de tanta raiva acumulada; focar-me nos polícias que marcham com os manifestantes e estão do lado certo, mesmo desafiando a chefia e arriscando consequências profissionais num país liderado por Trump. Não quero fazer isto sobre o Trump porque isto já aconteceu com outros presidentes, mas ter um chefe de estado que ameaça a própria população com tiros dos militares, isso é a quebra de toda a democracia e da separação dos três poderes. Mas pronto, como já todos sabemos que ele é meio atrasado, parece que até nos passa ao lado a gravidade do discurso dele porque, coitado, é tolinho, diz tudo como os malucos.

Do outro lado, claro que há quem caia na mesma narrativa de generalizar os polícias e é óbvio que isso é estupidez também. Há cerca de 800 mil polícias nos EUA e em 2019 foram mortas 1009 pessoas por agentes da autoridade. Significa que cerca de 799 mil não mataram ninguém. Mesmo que consideremos que uns não mataram porque não acertaram bem e a pessoa ficou só meia vegetal, ainda devem sobrar muitos polícias que não matam pessoas, isto não contando que provavelmente mais de metade dessas pessoas que levaram um balázio até mereceram e teve mesmo que ser.

George Floyd tornou-se um símbolo. Imaginem agora descobrirem que ele tinha assediado mulheres. Bem, o mundo entrava num paradoxo de espaço tempo e explodia.

Acho que tudo isto, juntamente com a forma como o país está a lidar com a pandemia que estará intimamente ligada a este rebentar de emoções, só vem mostrar uma coisa que já era óbvia e que é o facto de os EUA serem um país de terceiro mundo que toma banho todos os dias e vai disfarçando. Aliás, domingo foi uma metáfora perfeita para o sonho americano: um imigrante tornou-se bilionário e lançou homens no espaço através da sua empresa, enquanto milhares estão nas ruas a reivindicar direitos básicos. A antítese económica e o pináculo da tecnologia e avanço da humanidade face ao que já deveria ter sido solucionado há muito. É outra realidade. Nós por cá andamos a discutir porque há muita gente na praia, lá discute-se porque há muita gente na rua a protestar e a partir tudo. Não estamos mal, aqui, apesar de muitos também quererem transpor o racismo que existe lá para cá, comparando o incomparável só para sinalizar virtude nas redes sociais. Racismo é sempre mau, pouco ou muito, atenção, mas comparar as duas realidades é como dizer que Salazar era igual ao Hitler e não era, porque o Hitler era um ditador muito mais organizado e mais focado, além de que mamou cianeto como gente grande, não foi cá cair da cadeira feito um labrego bêbedo na esplanada do café. Temos também outro tipo de aproveitamento como o que o André Ventura faz, não percebendo a diferença entre um polícia matar um civil e um civil matar outro civil numa discussão. É uma espécie de sinalizar virtude para os burros, tal como meter uma hashtag ou uma foto no perfil não é tomar uma posição, é só querer aparecer.

Ainda há outra questão que são os ANTIFA. Não falo de anti-fascistas a sério porque isso somos todos os que não são fascistas, falo dos que no escudo de que estão a combater o fascismo, estão apenas a tentar impor o seu fascismo de esquerda que também existe. Esses que vandalizam tudo por vários motivos entre os quais "Olhem para mim", são uma espécie de hienas que só atacam em grupo porque sozinhos levam na boca e que se aproveitam das carcaças e do caos para se sentirem melhor com a sua insignificância e irrelevância. Em todos os protestos válidos, muita vezes sobressaem os idiotas, mas não é por aí que não se deve protestar. No entanto, esse é o último dos focos que deve haver nesta questão, mas o facto de o Trump lhes ter dado mais atenção a eles do que aos protestos pacíficos, mostra bem de que lado ele está e da agenda que tem.

O racismo não é de esquerda, nem de direita. O racismo é humano, sempre houve e sempre haverá. Resta-nos saber lidar com ele da melhor maneira e isso é um trabalho de todos como são todos os direitos humanos. Isto não é política. Isto não é ser do Chega ou ser do Bloco de Esquerda, isto é ser uma pessoa decente ou um monte de merda. Eu tento escolher a primeira sempre que consigo, mas às vezes também dou por mim a ter pensamentos racistas e a pensar que a raça humana é uma merda e fico do lado da pandemia.
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27 de abril de 2020

Review detalhada aos concorrentes do Big Brother



Começou uma nova edição do Big Brother. Pior altura de sempre para se concorrer a um reality show. Quando saírem de lá, como é que vão fazer presenças em discotecas e feiras de enchidos se vai estar tudo fechado? Só se for presenças na caixa do supermercado ou assim. Se calhar concorreram porque ouviram falar que podem ganhar imunidade e pensavam que era à COVID e não às nomeações. Bem, mas este Big Brother começa com os concorrentes cada um num apartamento, isolados e a cumprir quarentena, para depois fazerem dois testes à covid antes de entrarem para a casa onde vão estar todos juntos. Sorte a deles que é à covid e não à gonorreia e herpes, caso contrário metade ficaria pelo caminho. Dizem que é por questão de segurança, mas estão a isolá-los durante 14 dias que é para quando entrarem na casa estarem em modo putaria máxima.

Vamos, então, fazer uma review detalhada, a roçar o bullying, dos concorrentes do novo Big Brother.

O Rui é pastor e ou enganou-se no casting ou chumbou no do Quem Quer Casar com um Agricultor. Meter um pastor dentro do Big Brother é mesmo a pedir piadas básicas sobre estar habituado a lidar com vacas, piadas que não irei fazer, obviamente. Foi entregue para adopção pela mãe biológica e quando disse isso a TVI colocou em letras garrafais "Órfão" no ecrã. Devem pensar que isto é o The Voice em que a desgraça das pessoas conta mais do que a voz. Ele diz que quer aparecer na TV para cumprir o sonho de pagar um cruzeiro à mãe. Algo me diz que não gosta muito da mãe adoptiva, a julgar pelas notícias que dão conta que os cruzeiros são os piores sítios para se estar durante uma pandemia. O Rui diz que nunca viajou muito, mas que já foi a Zamora tocar bombos, mas nunca foi ao Algarve. Parece saído de um sketch dos Gato Fedorento.

A Iury, na sua apresentação, sobre a sua personalidade disse o seguinte: "Já participei em muitos concursos de misses". Disse que está a participar no Big Brother para ter mais notoriedade e para que em Portugal se valorizem mais os concursos de beleza e não ser só futebol. Concordo, sinto que é um dos grandes problemas de Portugal, é uma educação e um SNS debilitados e o facto de não haver mais concursos de beleza. Fez a apresentação toda vestida de miss com uma coroa na cabeça, deve ser por ser a rainha do reino da falta de noção. Diz que as coisas às vezes auto-apodrecem. Parece a minha mãe que dizia operações auto-stop o que não deixa de ser verdade, porque a polícia manda parar, mas quem carrega no travão somos nós.

O Diogo tem ar e dicção daqueles gurus do marketing que nos aparecem num vídeo patrocinado no feed do Facebook a dizer que nos vão revelar um segredo que vai revolucionar o nosso negócio. O mais engraçado? É que ele faz mesmo esses vídeos. Diz-se um "beto-chunga" e passo a citar "Tive a sorte de ter estudado em colégios privados" como quem diz que se livrou de lidar com a ralé das escolas públicas. Já eu tive a sorte de estudar em escolas públicas e não ter tido o otário do Diogo como colega. 

A Sónia é vendedora ambulante e diz que é muito frontal e diz o que tem a dizer na cara e quem não gosta mete na borda do prato, características ubíquas aos concorrentes de reality shows. Tem um namorado com cabelo de cortinado e para o bem dele espero que seja surdo porque a Sónia tem uma voz esganiçada e muito irritante. A Sónia tem classe e disse coisas como "Vou ter de me depilar em frente às câmaras que não me tou-ma-imaginar aí com a pentelheira toda". Juntem a Sónia e a Bernardina numa unidade de cuidados intensivos e o pessoal em coma induzido levanta-se e vai para casa pelo próprio pé.

O Edmar é gay. Custa a acreditar, mas é verdade, é gay. Vem de Mirandela o que lhe deve ter valido já uma série de comentários sobre alheiras. Como é que eu sei que o Edmar é gay? Porque ele disse logo no início da sua apresentação. Precisava de ter tido? Claro, se não ninguém desconfiava. Não retive mais nada sobre ele, mas é o que dá achar que orientação sexual é traço de personalidade que automaticamente define alguém. 

O Daniel deve ter feito como eu e cortou o próprio cabelo em casa. Diz que é hipnoterapeuta, mas sou capaz de apostar que tirou apenas um workshop para isso e não psicologia. Aposto, também, que leu livros de programação neuro linguística e que é daqueles que diz que adora manipular, mas acaba a comprar 10 raspadinhas de seguida porque está com a sensação que o prémio está quase a sair.

A Ana Catharina é brasileira e vegan. Como é que eu sei? A primeira parte sei pelo sotaque, a segunda sei porque ela disse nos primeiros segundos da sua apresentação porque os vegans rebentam se não revelarem isso sempre que estão perante novas pessoas. Diz que já morou em 33 lugares diferentes. Ya… eu também já morei 15 dias em Portimão e 3 semanas numa colónia de férias em Ovar. Diz que já viveu com monges budistas... imagina viveres com monges budistas e acabares no Big Brother em Portugal? Que vida com plot twist do caralho. Diz que vem para o Big Brother divulgar o veganismo. Como se os vegans não tivessem já má fama que chegue. 

Sandrina, 21 anos, filha de pai cigano, mas que cedo rejeitou muitos dos costumes mais rígidos da etnia cigana. Esteve noiva aos 12 anos, a sortuda, eu com 12 ainda nem um beijo de língua tinha dado. Acho importante a presença da Sandrina para quebrar estereótipos e ela afirma que quer acabar com o preconceito contra os ciganos, mas não sei até que ponto ir para dentro de uma casa sem pagar renda não pode ser prejudicial. Diz que a sogra, quando descobriu que ela era cigana, a expulsou de casa, mas cá para mim foi porque descobriu que é cabeleireira. 

Estava a Sandrina a ganhar pontos depois de fazer um depoimento sobre a sua vida com música triste por trás enquanto o Cláudio Ramos ia fazendo perguntas, quando chega a Soraia e diz "Ah és filha de pai cigano, rejeitada pela família e sogra? I raise you um irmão autista e negro, mesmo a jogar a vida em hardcore shit mode". Nisto aparece a Ana Catharina e diz "Sim, mas eu não como carne." e toda a gente responde em uníssono "Vai para o caralho que ninguém te perguntou nada, ó vegana do capeta!". A Soraia era professora assistente de ensino especial e aposto que essa experiência vai ser útil na casa.

Daniel, bombeiro, militar, que já esteve no Kosovo e na República Centro Africana. Agora vai para onde? Para o Big Brother. Já o imagino com netos a dizer "Ó avô, não queremos ouvir as histórias de guerra do Kosovo, conta antes aquela vez em que pinaste a Soraia com um milhão de pessoas a ver." Diz que é uma pessoa de causas e que salvar vidas é a sua missão e deve ser por isso que em plena pandemia, como bombeiro decide participar num reality show, não vá algum dos concorrentes sentir-se mal. Diz que não gosta de pessoas falsas. Estranho, normalmente toda a gente adora pessoas falsas. "Sentido de humor, bom cu, falsa" são as características essenciais para uma mulher no meu entender.

Hélder, 39 anos, viciado em solário e ginásio e chato como o caralho. Esta última parte são palavras minhas não são dele nem da produção da TVI, mas aposto que bem que tinham metido na VT se pudessem. Tem a mania que é engraçado e fala demasiado. É daquelas pessoas que ninguém gosta, nem os próprios amigos. Como tem cara de saguim decidiu investir no corpo e no cabelo para ao longe parecer que até tem boa figura, mas depois percebemos que é parecido com o David Beckham se ele fosse filho de primos direitos. O Hélder era daqueles que usava (talvez ainda use) pólos com gola levantada. Garanto-vos. Ao menos há lá a professora de crianças deficientes para tratar do Hélder. Já escolhi em quem vou votar para apanhar covid. É assim que funciona este programa, não é?

O Fábio faz apostas desportivas e dá toques na bola. E assim uma pessoa consegue apresentar-se numa pequena frase curta que diz tudo sobre nós, não tivesse o cabelo à Raul Meireles sido suficiente para percebermos. Diz que adormece a ver o Inspector Max porque já sabe as falas de cor. Isto é das coisas mais deprimentes que já ouvi. Até o pessoal da Síria se encolheu. Já imagino:
- Em que estás a pensar amor?
- Estava a pensar naquela cena em que o Max salta de uma varanda e prende um assaltante e o Fernando Luís diz "Boa Max"
O Fábio diz que agora não trabalha porque as apostas desportivas estão todas paradas mas diz "Tenho uns projectos em mente.". Ter projectos, esse clássico de quem não faz nada da vida.

A Noélia perdeu o pai há dias, mas calma que não faleceu vítima de Covid-19, graças a deus. Faleceu ao 4º enfarte, o lambão. Quatro enfartes é o tipo de pessoa que leva o papel higiénico todo para casa e não deixa nada para os outros. Tem dois supermercados e como nesta altura são dos poucos negócios que estão a funcionar e a dar dinheiro, decidiu concorrer ao Big Brother. Faz sentido.

A Jéssica disse das coisas mais honestas que já se disseram num reality show "Nunca tive um pai presente então venho para o Big Brother." Não foi bem por estas palavras, mas foi esta a intenção. Não fosse participar no Big Brother um sinal de inteligência, a Jéssica veio da Suiça para Portugal em plena pandemia. Diz que "Sempre me apaixonei muito fácil" ou por outras palavras "Sempre fui um bocado putinha".

O Pedro começou a falar e eu a pensar "este parece o mais normal" e ele sai-se com "Sou um bocadinho homofóbico". Pah, ou és homofóbico ou não és. Ser um "bocadinho" homofóbico é mesmo coisa de maricas. O Pedro só fala com o Cláudio Ramos porque é por vídeo chamada, caso contrário tinha medo de apanhar o homossexualismo. A cena não é ser homofóbico, é ser burro ao ponto de dizer isso sem ninguém lhe perguntar num vídeo de apresentação de um reality show. Eu acho que ela queria dizer que era um bocadinho homossexual e não que era um bocadinho homofóbico, mas isso já sou eu a levantar suspeitas.

A Angélica vem da Venuzuela e fala espanhol misturado com português que pareço eu bêbedo a pensar que sei hablar castelhano que é um mimo. Sim, clario, por supuestio. Diz que foi o marido que a incentivou a entrar no Big Brother e isso quer dizer que ou tem muita confiança nela, ou anda distraído ou tem uma amante cá fora. Depois de a ouvirmos falar com um débito de 5000 palavras por segundo com voz insuportável, percebemos o porquê de o marido a ter recambiado para o Big Brother em plena quarentena. 

Pedro Soá, o Chuck Norris da argumentação que diz que mete pessoas no chão só com argumentos. De repente, depois desta ave rara, até o Hélder ficou a parecer normal. O Pedro Soá é daquele tipo de pessoa que vai ao Shark Tank com um palito a dizer que revolucionou o mundo porque descobriu que também dá para palitar os dentes e não só para comer mini croquetes. Tem uma namorada muito acima do nível dele o que me leva a crer que realmente tem lábia ou, mais provavelmente, dinheiro. O Pedro Soá é daquelas pessoas que se se começam a dar com algum amigo teu, tu deixas de convidar esse teu amigo para o que quer que seja.

Slávia. Sim, Flávia com S. E desta é que vocês não estavam à espera, que a única beta do Big Brother, vinda de Cascais, não fosse loira nem branca. Imagino que algures na produção da TVI alguém pensou "E agora temos uma beta de Cascais que estudou direito na Católica... ah, fds, trocaram as candidaturas, esta deve ser a da Margem Sul". A Slávia, apesar do nome de doença venérea, é claramente a pessoa que sabe falar melhor neste Big Brother e que vem para quebrar o estereótipo de quem nem todas as pessoas como ela são burras. Falo das pessoas que estudaram na Católica, claro.


E é isto. Está completo o ramalhete. Temos betos, betos-chungas, chungas-chungas, pretos, gays, ciganos, labregos, desempregados, empreendedores, tudo. Está aqui um leque diverso e garanto-vos que no meio desta diversidade toda, a mais discriminada vai ser a vegana e, provavelmente, com razão. Já sei o que estão a pensar: ninguém de Rio Tinto? Verdade, é estranho, talvez já tenha acabado a matéria prima.


PS: Se forem daqueles que dizem "Tu vês essa merda? Eu nem tenho televisão!" todos armados em pseudo-intelectuais, podem ver o meu espectáculo de stand-up comedy que está no YouTube. O link é este.
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14 de abril de 2020

Só de Passagem - Espectáculo stand-up comedy no YouTube



Decidi disponibilizar o meu último espectáculo a solo de forma gratuita no YouTube. Ninguém pagou bem por ele, não pensem que sou boa pessoa. Espero que sirva para vos animar nem que seja um pouco nesta altura.

Espero que vejam o espectáculo inteiro que tem introdução estilo Black Mirror, bojardas, coninhas, raps e, espero eu, muitas gargalhadas.

Obrigado a todos os que fizeram parte desta passagem por mais de 20 cidades portuguesas e Londres e Barcelona também para as refugiados tugas no estrangeiro. Não sei se o enfermeiro Luís foi ver ou não, mas obrigado a ele na mesma.

Obrigado a toda a gente envolvida na produção por parte da H2N e ao Nuno Pires em especial por acreditar sempre mais do que eu devido ao facto de não perceber nada disto e acertar ao calhas por inconsciência.

Obrigado ao Pedro Bessa e à sua equipa pela gravação do espectáculo. Obrigado como quem diz que isto foi pago, mas está aqui um grande trabalho da parte deles.

PS: Só para acautelar, obrigado a Deus, se existir, mas sem beijinho na cruz que eu não sou parvo.


Vídeo em baixo se e não conseguirem ver, sigam este link.


Deixem o  vosso feedback se for positivo, se for para dizer mal podem ir chatear outro que não estou para vos ouvir e eu sei que isto está bom. Obrigado a todos por estarem desse lado.

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25 de março de 2020

Vai ficar tudo bem, mas só para alguns



Nos últimos dias, já alguma vez acordaram pela manhã, limparam a baba do canto da boca, tentaram abrir os olhos que se habituavam à luz e pensaram, passados alguns segundos: "Por momentos pensei que tivesse sido tudo um sonho"? Depois, lembraram-se que que tudo o que está a acontecer é real e que para a maioria de nós é a primeira vez que estamos a passar por algo que parece saído de um filme. Por um lado, isso faz de nós privilegiados e talvez seja por isso que nos vai custar ultrapassar isto.

Talvez seja a primeira vez que a minha geração está a fazer sacrifícios pelos outros. Talvez isso seja positivo se quisermos acreditar mesmo que é o altruísmo que está na base desta aparente abnegação em prol dos mais vulneráveis. Poderá ser alguma, em parte, mas não nos iludamos nem nos façamos heróis quando a principal razão de estarmos em casa é porque temos medo que nos toque a nós ou aos nossos. Não vamos estar aqui a fingir que agora é que nos preocupamos com a vizinha de 80 anos, da qual nem sabemos o nome porque apenas dizíamos bom dia de passagem enquanto acelerávamos o passo para não termos de fazer conversa chata de elevador.

Os únicos heróis aqui são mesmo os médicos, enfermeiros e auxiliares. Dizem que nem todos os heróis usam capa, mas neste caso todos usam máscara, pelo menos enquanto as houver.

São esses os heróis mascarados, os que estão ali na linha da frente a dar o corpo ao vírus e a mente à exaustão, que são aplaudidos agora, mas que daqui a um ou dois anos serão apupados quando decidirem fazer greve para lutar por melhores condições. Se a COVID tem o sintoma da tosse e febre, a HUMANIDADE tem o sintoma da falta de memória e ingratidão e, infelizmente, nunca é assintomática. Essa amnésia mais depressa esquecerá quem está nas caixas de supermercado e todos os outros que continuam a trabalhar para que não falta nada aos outros.

Li que este sentimento estranho que temos todos nesta altura é uma forma de luto antecipado. Que a razão pela qual está a ser complicado para muitos estar em casa sem fazer nada, algo que muitos desejaram no passado, é porque há este sentimento no ar, uma tensão cada vez que vamos à rua ou o telefone toca. Há medo e há luto antecipado porque dificilmente chegaremos ao final do ano sem termos faltado a um funeral porque não pode haver muitas pessoas juntas.

É uma tensão que vai saindo por onde a deixamos. Já me emocionei com os vídeos de cantorias à janela em Itália e Espanha; já me emocionei com as palmas de agradecimento aos profissionais de saúde; já me emocionei com fotografias do desespero dos médicos e enfermeiros; já me escorreram lágrimas, mas consegui contê-las e nem sei bem porquê e para quê. Dei-lhes ordem de isolamento, apenas com saídas para o indispensável. Acho que deve ser porque não quero quebrar já, porque sei que o pior ainda está para vir, quero guardar a tristeza para quando fizer mais sentido, para não ficar já imune ao que aí vem.

Não quero parecer derrotista nem pessimista, prefiro não mentir a mim mesmo. O vírus não vai embora por muito que fiquemos em casa e nenhum país aguenta a sua população toda em quarentena durante mais de um ano até haver vacina. Tudo indica que o vírus se torne parte do nosso dia-à-dia o que significa que depois deste isolamento e distanciamento, os com menor risco vão ter de começar a fazer a sua vida normal e arriscar que não lhes calhe a eles a pequena probabilidade de contraírem sintomas graves. Aos poucos, vamos começar a sair de casa, os bares e discotecas vão reabrir, e vamos fazendo a vida normal enquanto os mais vulneráveis serão aconselhados ou obrigados a ficar em casa para não colapsar o SNS e não morrerem todos de uma vez. O vírus não vai embora, não vai desaparecer nem se vai cansar de nos infectar porque ele não tem vontade própria, apenas é. Ficar em casa é a única coisa que podemos fazer agora e que poderá salvar vidas, mas nunca todas.

Talvez tenha uma visão fria porque não sou de romantismos e acho que isto não é uma lição para sermos menos consumistas e aproveitarmos melhor a vida e o contacto humano. Não, isto não é uma lição para tratarmos melhor o planeta ou sermos veganos ou mudarmos outro hábito qualquer.

Isto não é uma lição porque o vírus não nos quer ensinar nada, só quer fazer aquilo que os vírus fazem, sem pensar nas consequências, algo que nós deveríamos compreender muito bem, já dizia o Agent Smith.

Isto não é uma guerra, porque na guerra o inimigo tem um objectivo. A COVID não tem qualquer objectivo. Na guerra mandam-se os mais novos para morrer, aqui parece ser ao contrário, embora andem muitos desse na rua a pensar que isto é só uma gripe, como se uma gripe não pudesse matar 50 milhões em dois anos. Não é uma guerra porque ainda não vi ninguém a meter-se em jangadas e botes de borracha, arriscando a vida a tentar atravessar o mar para ir para outro país onde as suas hipóteses de sobrevivência sejam mais altas. Chamar a isto guerra será um exagero, mas também poderá ser um eufemismo, só vamos saber depois de fazermos as contas porque a tal gripe espanhola matou mais que a 1ª guerra mundial.

Sim, há pais e mães a passear com crianças no parque quando não o faziam há anos; há poluição humana que parece recuar; há coisas positivas nesta pandemia? Claro que há, tal como quando nos morre um amigo há o lado positivo de termos menos um aniversário para gastar dinheiro. Há sempre coisas positivas em qualquer tragédia, o problema é que infinito-1 dá infinito, segundo me lembro das aulas de análise matemática. À minha formação em engenharia, junta-se a minha hipocondria, o que faz de mim alguém que tem a mania irracional das doenças, mas que se tenta tranquilizar na lógica dos números. O problema é que se por um lado eu fico tranquilo quando vejo que alguém da minha idade e sem nenhuma doença de risco terá pouquíssima probabilidade de morrer com este vírus, por outro começo a pensar que posso ter alguma doença de risco que nunca me foi detectada. Ontem fiquei um bocado cansado a correr, será que tenho insuficiência cardíaca? Ando com o nariz entupido há muitos meses? Terei rinite alérgica? E a dor de cabeça que me dá de vez em quando? Um tumor? É nesse limbo entre a sanidade das estatísticas e o pânico silencioso da hipocondria que tenho vivido, bastante tranquilo, até. É como o meu medo de andar de avião, tem o seu pico até ao avião ligar o motor. Nessa altura, a minha mente descansa porque não há nada que eu possa fazer, ele está no ar e o que tiver de ser será, não no sentido metafísico, claro. Com este vírus já estou na fase de levantar voo, já sei que ele veio para ficar e que o irei contrair, muito provavelmente. Por mim, até seria agora, quando o SNS ainda tem capacidade e para ficar já imune e descontrair. Só não ando aí a lamber interruptores em Santa Maria ou botões de elevadores na Loja do Cidadão porque não quero ser um homicida por ricochete. Se a minha namorada apanha, vai para o lar de idosos onde trabalha e faz um full house e morrem os velhos todos. Ela ganha à comissão por cada velho e nesta altura será muito complicado fazer a reposição de stock. Sim, o príncipe Carlos está infectado e a Camila não, mas aquilo é gente que faz amor sem tocar, manda um empregado fazer por eles e eu não tenho dinheiro para isso.

Quantos de nós não vivem já em isolamento social e quase que ligados a um ventilador metafórico que nos dá apenas o ar necessário para sobreviver? Quantos têm a corda ao pescoço e há anos que não respiram fundo? De repente, idosos isolados em casa já não parece um problema assim tão grande, mas sim um conselho da DGS. Nas zonas mais pobres a vida continua mais igual. As senhoras que vivem na Cova da Moura não se podem dar ao luxo de não ir trabalhar e infelizmente, muitas das pessoas que dispensam as empregadas domésticas nesta altura, não lhes continuam a pagar o salário, mesmo que o seu não tenha sofrido cortes.

Na Cova da Moura tudo deve estar na mesma, com a diferença de que cada um fuma a sua própria ganza, já ninguém gira, e em vez de facas usam lenços com ranho.

Gostava de achar que isto vai mudar e que vamos finalmente exigir responsabilidades aos nossos governantes. Gostava de achar que alguns líderes mundiais vão ser julgados por crimes contra a humanidade por terem acordado tarde e ainda hoje estarem a desvalorizar a pandemia, sem qualquer preocupação com as pessoas pelas quais juraram proteger. Isto é como o terramoto que nos espera mais cedo ou mais tarde em Portugal. Será sempre mais caro reconstruir o país de um sismo devastador estilo 1755 do que tentar prevenir, proteger e melhorar as infraestruturas para que os estragos sejam menores e as vidas perdidas também. Todos os políticos sabem disso, mas empurram com a barriga para que alguém fique com a batata quente mais tarde. Com as pandemias é igual, isto estava mais que anunciado e previsto, houve várias desde a espanhola, esquivamo-nos de outras sem saber muito bem como. O que foi feito desde o surto de gripe suína do H1N1? Quase nada. Investem-se milhares de milhões em bancos e não temos uma reserva de máscaras e luvas e ventiladores para nos defendermos de uma pandemia que sabíamos que viria mais cedo ou mais tarde? Temos de andar em contrarrelógio a comprar a preço inflacionado? É quase criminoso. Por muito que achemos que o governo até agiu a tempo, a verdade é que agir a tempo teria sido agir antes de haver pandemia, há muitos anos e isso ninguém teve coragem de fazer. A culpa é nossa que os elegemos, queremos resultados imediatos, queremos o campeonato já este ano, não estamos dispostos a planear a dez anos, se perdermos no próximo jogo é para despedir o treinador já.

Vamos sair mais unidos disto tudo? Não acredito, o meu cinismo, subproduto do meu idealismo frustrado, não compra essa premissa. Talvez se o vírus fosse de outro planeta e tivesse uma vontade e um propósito assumido de nos aniquilar, talvez aí nos uníssemos na mesma luta. 

Vamos virar-nos, pouco a pouco, uns contra os outros. Já nos estamos a virar contra o Rodrigo Guedes de Carvalho que nem há uma semana era elogiado de todos os lados.

Talvez sirva para percebermos que o que interessa é mesmo ter saúde. Talvez sirva para ajustarmos as nossas prioridades e pensarmos onde andamos a investir o dinheiro. Encomendas entregues por drones? Carros que conduzem sozinhos? Robôs que passeiam por Marte? Sondas que vão até ao espaço profundo e que expandem o conhecimento humano? De que serve tanta tecnologia e progresso se depois estamos quase impotentes a um bicho que nem conseguimos ver a olho nu? Tantas invenções para agora nos dizerem "Ora bem, é ficar em casa e lavar as mãos com água e sabão…" É isto que temos para oferecer enquanto humanidade. Temos o mundo nas nossas mãos, à distância de meia dúzia de touches, mas parece que é nas nossas mãos que temos o vírus e que agora convém o mínimo de touches em todas as superfícies. Os smartphones fazem tudo, menos desinfectarem-se sozinhos, talvez tenhamos isso só no próximo iPhone.

Não vai ficar tudo bem, lamento. Para alguns, esperemos que poucos, vai ficar tudo mal porque vão perder entes queridos. Para outros, muitos, ficará a incerteza do que a crise trará, uma dificuldade em respirar não do vírus, mas do nó na garganta do futuro. Muitos vão ficar no desemprego, alguns já estão. Talvez não seja uma crise económica tão profunda e duradoura como a última porque muitos dos países vão estar no mesmo barco e talvez haja mais ajudas e apoios, mas a verdade é que muitos vão perder, de uma só vez, a fonte de rendimento. Haverá sempre os negócios que surgem das crises e as pessoas que se reinventam, mas por cada história de sucesso há 100 de miséria que os bate punhos da vida escondem com a peneira. Os suicídios vão disparar, se não forem alimentados pela crise económica sê-lo-ão pela doença mental que resulta do confinamento e do distanciamento social, do medo e da paranóia. Sinto-me um privilegiado nesse aspecto, apesar de ir perder muito dinheiro com cancelamento de espectáculos, posso continuar a fazer muito do meu trabalho em casa e tenho dinheiro de parte para sobreviver, vantagens de ter um Renault Clio de 2002 em vez de um Porsche. Se tudo correr mal, posso sempre voltar para a informática cujo trabalho dá bem para fazer remotamente em casa, embora entre voltar a programar e ficar no Curry Cabral num ventilador, não sei o que será melhor.

Talvez seja positivo para darmos algum valor às coisas que dávamos como garantidas. Vejo muita gente que dizia que queria morrer e que a vida era uma merda, a lavar as mãos várias vezes ao dia com miúfa de falecer. Talvez isto nos acorde da dormência niilista em que muitos vamos vivendo sem dar conta. Não sei. Está tudo muito esperançado que isto nos mude e transforme a humanidade. Muitos estão com medo do que isso trará e dos cataclismos sempre associados a mudanças forçadas e repentinas. Eu estou no outro espectro: estou com medo que não mude nada e isto seja apenas uma passagem pela casa de partida para mais uma voltinha.

Peço desculpa pelas passagens lamechas que possam fazer lembrar o Pedro Chagas Freitas e o Gustavo Santos ou o Rodrigo Guedes de Carvalho. Prometo continuar a fazer-vos rir, mesmo que seja só aqui, sem receber dinheiro em troca. Depois ajustamos contas quando eu tiver os próximos espectáculos, seja lá isso quando isso for, quando tudo voltar mais ou menos ao normal, as salas de teatro voltarem a funcionar, e vocês tiverem dinheiro para comprar bilhetes. Se tudo correr bem, este será o único texto lamechas que vou fazer sobre este tema. De resto vou continuar a tentar entreter-vos, embora seja de uma arrogância tremenda achar que nesta fase os pequenos risos que vos possa causar conseguirão amenizar tudo isto. Vou fazê-lo também por mim, porque tenho de continuar a fazer a minha vida normal e porque os vossos risos sabem-me tão bem a mim como a vocês. Obrigado por estarem desse lado. Fiquem em casa e pensem que se tudo correr mal, foi melhor do que a maioria das vidas que já viveram desde o início da humanidade. Ficou um ambiente agora também demasiado tétrico, não é preciso, mas é só para puxar para baixo para ficarmos todos deprimidos e depois ser sempre a subir. Se alguém ficar demasiado abatido e se decidir suicidar depois deste texto, não tenho nada a ver com isso, mas sempre é menos uma pessoa para ser infectada e espalhar o vírus. Há sempre um lado positivo. Cuidem-se.
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