28 de fevereiro de 2017

Pessoas que mandam bitaites no lugar do pendura



A minha namorada tirou a carta fez agora um ano e, nessa altura, escrevi sobre a primeira vez que ela conduziu em que eu fui no lugar do pendura. Uma experiência aterradora que podem ler ou reler aqui. Ora bem, no fim de semana passado fomos a Viseu e fui eu que levei o carro. Obviamente. Andar de carro já é bastante perigoso devido aos outros condutores, por isso um gajo tenta minimizar o risco onde pode. Para mim, condução defensiva é ser eu a conduzir em vez de ela.

Logo à saída de Lisboa, ao circular uma rotunda, há um gajo que faz, erradamente, a rotunda toda por fora. Normal. É um dos dez tipos de condutor palerma sobre os quais já escrevi neste texto. O que não foi normal e que me causou alguma perplexidade foi ouvir a minha namorada a dizer «Então, mas este não sabe fazer rotundas? Parece que é parvo!». Olhei para ela com carinho e, de forma paternalista, disse-lhe «Oh... já mandas bitaites no trânsito?», que é como quem diz «Já a pulga tem catarro, hein?».

Quem a viu e quem a vê, qualquer dia já quer ir votar e tudo.

Entramos na autoestrada e ela continua a demonstrar a sua veia de condutora de sofá ao apontar o erro a todos os condutores que não utilizam o pisca e, principalmente, aos que andam na faixa do meio. Gosto de a ver assim toda confiançuda, mas não posso deixar de reparar que todos os condutores que ela critica não têm o carro todo raspado de ambos os lados como certas e determinadas pessoas que conheço, mas que para efeitos de não ter de dormir no sofá, não irei referir. Ver a minha namorada a mandar bitaites sobre a condução fez-me lembrar o dia em que ela me disse que ia ser administradora do condomínio. É como um padre dar educação sexual: pode saber as regras e ter visto uns vídeos no YouPorn, mas em termos de conhecimento empírico é tudo muito dúbio.

Para além da minha namorada, há outros tipos de pessoa que não se resignam ao seu lugar de pendura e decidem mandar bitaites sobre tudo. Desde logo, temos aqueles amigos que acham que o GPS é coisa de maricas e que um verdadeiro homem usa, no máximo, um astrolábio. Este é aquele que, embora o GPS indique um caminho, acha que tem um atalho muito melhor e que o software é que não está actualizado. Como é nosso amigo, confiamos. Resultado: queríamos ir para o centro de Lisboa e acabámos em Almada. É um facto que fugimos ao trânsito, mas duvido que tenha compensado fazer cinquenta quilómetros em vez de seis. Este tipo de caminhos, no meu círculo de amigos, tem o nome de Caminhos-à-Ricardo, de tantas vezes que aconteceu ir dar a volta a uma rotunda no Porto só para ir aos Pasteis de Belém. Há pessoal que nasceu para ser taxista, mas que não aproveitou o talento. É isso e aceitar sugestões de caminhos quando o pendura vai bêbedo:

- Sai antes na outra saída que diz Damaia. - diz o André.
- Mas esta diz Damaia. - indico.
- Mas a outra é melhor, acredita. - diz ele, a enrolar a voz, mas confiante.
- É nova? - pergunto, desconfiado.
- É, é. - afirma.
- ...
- Olha... afinal era a outra. Já agora, vamos aos bolos na Amadora. - diz.

Outro tipo de co-piloto que irrita um bocadinho é aquele que gostava de ter sido DJ e que, mal entra no carro, assume a função de escolher a melhor estação de rádio para a viagem. O problema é que, normalmente, este tipo de pendura apenas gosta de ouvir samples e troca de estação de rádio depois de dez a vinte segundos de cada música. Chegamos ao fim da viagem com a sensação de que ouvimos um medley de compilação ecléctica que foi desde C4 Pedro na RFM até Frederic Rzewski na Antena 2 e pelo meio ouviu-se golo do Benfica na TSF. Toda a uma esquizofrenia musical na busca da canção perfeita que só pode ser comparada à busca de filmes pornográficos, feita com a mão esquerda no rato, na demanda da cena perfeita para atingir o clímax onanista.

Por fim, temos a mãe. Há poucas coisas piores no mundo do que andar de carro com a minha mãe à pendura.

O kit de co-piloto da minha mãe inclui um conjunto de pedais imaginários dos quais o travão já está gasto.

Para além desse espectáculo sublime de air braking, capaz de deixar envergonhado o campeão mundial de air guitar, acompanha a sua performance com sucessivos comentários «Olha ali. Olha aqui.» e do «Não vais demasiado depressa?», enquanto faço uma rotunda a vinte à hora. Outra característica é o seu tique que consiste em levar as mãos ao tablier do carro como se fosse capaz de reforçar o habitáculo só com a força dos braços. Esse movimento é sempre acompanhado de um efeito sonoro que se assemelha ao de um aspirador de saliva que os dentistas usam. Para a minha mãe, todos os carros vêm contra nós quando eu estou a conduzir, como se Portugal fosse Marraquexe ou como se eu fosse um criminoso em fuga e todos os outros carros fossem policia a tentar albalroar-me. Respiro fundo e cedo aos impulsos de acelerar mais, fazer curvas a chiar pneu e inverter a marcha com o auxílio do travão de mão. Respiro fundo e tento compreendê-la, já que ela é mãe e toda a gente sabe que as mães, para além da sua profissão, tiraram os cursos de medicina, psicologia, nutrição, meteorologia e, claro, o de instrutora de condução. Por vezes, pico-a e faço uma travagem brusca: depois do pânico vem a agressividade que, a meu ver, só aumenta a tensão dentro do carro e prejudica o condutor. Há insultos, ameaças e súplicas para que pare o carro para ela sair. Escusado será dizer que já não conduzo com a minha mãe ao lado.

PS: Pessoal de Lisboa e arredores: dia 11 de Março vai haver stand up comedy no S. Jorge, comigo, com o Hugo Sousa e com o Gilmário Vemba. Bilhetes à venda neste link.
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Trocar o nome do parceiro durante o sexo



É Carnaval, galera. A noite de ontem foi fortíssima? Palhaços com enfermeiras? Pikachus com freiras? Padres com colegiais? Piada fácil. Vamos a mais uma consulta "Doutor G explica como se faz". 


Olá Dr. G, venho aqui expor o meu problema. Sou uma rapariga descomprometida e como tal nada me impede de explorar novos horizontes. Geralmente gosto de ir mais além com pessoas que já conheço minimamente e sinto alguma química. Até aqui tudo bem, seria pior se fosse para o urban sacar connects. Mas o problema é que depois de passarmos por bons momentos de conhecimento debaixo dos lençóis, descubro que ele tem namorada!! Quando acontece fico uns meses sem fazer novos conhecimentos e quando volto a investir volta a acontecer. Já é a 3ª vez. Mesmo que não há nada entre nós, todos os que se interessam por mim têm namorada. Dr. G achas que sou uma espécie de íman destinada a homens comprometidos?    
Filipa, 21, Lisboa

Doutor G: Cara Filipa, então, mas e o Facebook serve para quê? Sempre pensei que fosse para descobrir se as pessoas têm namorada. Se dizes que só vais para a cama com pessoas que conheces minimamente, era de esperar que já tivesses feito aquele diagnóstico inicial de pesquisar todas as redes sociais da pessoa e pedir a um amigo polícia para ver se ele tem cadastro. Bem, primeiro, desconfio que só esse tipo de homens é que se interesse por ti. Deves ter outros, mas aos quais não dás atenção porque não têm pinta de cabrões. Não te esqueças que és tu que os escolhes. No entanto, acho que deves levar a coisa como um elogio: sou tão gostosa que até os ursos comprometidos querem provar aqui o mel da menina.


Caro doutor, certo dia calhou em conversa com mais três amigos, qual é ou quais são as razões para que aconteça o seguinte: Duas pessoas (de géneros diferentes) envolvem-se e às duas por três, passado um mês ou dois, há um deles, sobretudo e na sua generalidade, os homens, que dizem "afinal não gosto assim tanto de ti"... e pronto, nesse momento, no geral, no more funaná pelado. Que razões acha que estão por detrás destas situações? São as mesmas para quando é a rapariga a fazê-lo? Mais uma vez espero o seu contributo de forma a esclarecer esta tão pertinente dúvida.   
João, 26, Coimbra

Doutor G: Caro João, isso da dúvida ser pertinente é um bocado relativo. Eu acho que é bastante parva, até. Nem percebi bem, se queres que te diga, mas vou responder na mesma só porque estou com boa disposição:

  • Se a dúvida é porque é que há homens que passado uns tempos dizem que já não gostam assim tanto, então a resposta é: o pipi em questão já não é novidade e fartam-se porque só estavam com a pessoa pelo sexo. Simples.
  • Se a dúvida é porque é que a partir desse momento já não há mais sexo: porque uma pessoa leva a mal quando nos dizem que já não gostam assim tanto de nós, mesmo que nós não gostemos assim tanto dela.
  • Sim, é igual para o caso das mulheres, apesar de os homens se importarem menos de continuar a fazer sexo com alguém que não gosta assim tanto deles. Se não houver mais nada e ela tiver uns seios de antologia, até nos pode odiar que não é por aí. Os homens são mais pragmáticos. Básicos, vá.

Boa tarde Doutor G, namoro à 4 meses e não tenho quaisquer problemas é tudo óptimo. Mas desta vez  disse o nome de outro homem enquanto fazíamos amor. Nunca tive qualquer relação com o outro homem cujo o nome prenunciei, acho que foram assuntos profissionais pendentes do dia que estavam na minha cabeça. Não tenho a certeza que o meu namorado tenha ouvido, porque disse baixinho (saiu-me!) e corrigi gritando o nome dele. No dia seguinte estava tudo óptimo como de costume. Devo falar sobre o assunto com ele, ou devo enterrar bem fundo o assunto e evitar o drama. Gostava de ouvir a versão do homem sobre o assunto, (já que as Mulheres preferem sempre o lado mais dramático e preferia evitar dramas). Doutro G tem algum fluxograma para o meu problema?
Maria, 27, Lisboa

Doutor G: Cara Maria, desde logo noto o problema de não saberes conjugar o verbo haver, mas pronto, já desisti. Tal como sugeriste, vou responder-te em forma de fluxograma:
Simples. Percebo que estejas ali naquele ponto de decisão em que não tens a certeza se ele ouviu ou não. À partida não deve ter ouvido, mas podes testar e de hoje em diante chamar-lhe um nome diferente sempre que fizerem sexo. Começa com Alfredo e vai até Zacarias. Diz que é uma cena tua. Podes também pedir durante o acto «Chama-se Kátia com K.», por exemplo. Mais vale ele pensar que és extravagante (maluca) do que andas a comer outro em part-time. Desde que não lhe chames "Pai", está tudo bem.


Boa tarde dr. G, falo com um rapaz já a algum tempo dele (3anos) e nós sempre tivemos uma química forte , mas durante dois anos nunca combinamos nada ... entretanto eu comecei a namorar e deixamos de falar .. este ano o meu namoro terminou e, eu e o outro rapaz, começamos logo a falar e até já estivemos juntos duas vezes .. o "problema" é que as coisas não evoluíram , ele diz sempre que as coisas levam tempo, por outro lado já me apresentou a alguns amigos, diz que quer estar comigo, que tem saudades minhas e que gosta de mim ... e porque que não evolui?? Já não sei o que pensar ...
C. P , 20, Porto

Doutor G: Cara CP, deixa de ser uma xoninhas e espeta-lhe um beijo e enfia-lhe a língua até às amígdalas e logo vês. Estas dúvidas são o equivalente às velhas que vão entupir as urgências dos hospitais porque têm pontadas na barriga e afinal eram só gases. Perguntar «Porque é que a coisa não evolui» sem fazer nada por isso é o primeiro sintoma da síndrome xoninhus cronicus. Tens 20 anos, ainda vais a tempo de lutar contra isso. Agarra-o pela cara e trata dele como aquelas aranhas que metiam um Alien bebé no bucho das pessoas. 


Caro Dr. G, boa tarde, sou solteiro e bom rapaz, já tive os meus (vários) momentos de funaná pelado, só que, por agora, ando um bocado parado. Entretanto conheci uma rapariga da qual estou bastante interessado e até propus combinar um jantar com ela para provarmos um bife tártaro. Na altura a irmã gémea dela estava presente e fez-se convidada para o jantar. O problema é que com o trabalho e as idas ao fim de semana às Caldas da Rainha para ver a família ainda não tive oportunidade de combinar o dito jantar. Os meus amigos já me disseram para marcar o jantar com ambas as gémeas e deixar de ser coninhas. Eu estou apenas interessado numa delas e receio que a outra fique chateada e/ou ciumenta ao ponto de atrapalhar o arranjinho e prolongar a minha travessia do deserto. Sem querer abusar da confiança, como sou engenheiro creio que uma resposta com um fluxograma iria ajudar a clarificar as várias possibilidades e simplificar o entendimento da sua opinião especializada nestes assuntos do amor e sexo!  
Ricky Muchovery, 26, Amadora

Doutor G: Caro Ricky, nunca percebi bem a fantasia com gémeas, muito menos monozigóticas. Porquê? Imagina que vais à Zara comprar uma camisola e dizem que pagas o mesmo se levares duas. Vais levar uma igual? Não, vais escolher uma do mesmo modelo, mas com outra cor, ou levas uma completamente diferente. Igual com o sexo a três. É muito mais giro com duas que sejam diferentes. Para fazer sexo com gémeas uso um jogo de espelhos no quarto. Outra coisa é que no sexo a três com duas mulheres é giro que elas interajam uma com a outra, até para ajudar, e ver duas irmãs a ajavardarem-se, embora seja apelativo ao camionista que há dentro de cada um, se um gajo pensar bem é capaz de ser nojento e demonstrativo de algum problema mental que pode acabar em picadores de gelo empalados nas costas. Posto isto, obviamente que não se deve recusar uma ménage com duas gémeas porque até o próprio Deus leva a mal desperdiçar comida. Aqui fica o fluxograma, como pedido. Em troca, compras o meu livro que está à venda na FNAC ou neste link.
Posto isto, marca o jantar e logo vês. Mesmo que a outra estrague o arranjinho nessa noite, vais ganhar pontos. Agora, provavelmente, a outra não está muito interessada, caso contrário dizia à irmã para se desmarcar.


Querido Dr., tenho um amigo com benefícios há já algum tempo e recentemente num dos encontros de simbiose (em que ambos saem a ganhar), ele sugeriu-me que não explorássemos anatomias alheias e nos restringíssemos apenas à anatomia um do outro. Tendo em conta que é uma relação que tem como único fim o funaná pelado, será que ele quer algo mais sério ou está só a ser esquesitinho? É que o sexo é bom mas gosto de ter outras opções em aberto. O que devo eu fazer?  
Stéphanie, 23, Portimão 

Doutor G: Cara Stéphanie, eis as opções:

  • Ele quer algo mais - razão pela qual não quer que tu andes com outros. Pergunta-lhe directamente e logo vês. Se, por acaso, sentes o mesmo, força nessa relação exclusiva. Se não sentes, diz-lhe e não me chateies. 
  • Ele quer exercer usocapião do teu pipi - ele náo quer nada mais sério, mas como qualquer homem, é possessivo relativamente ao seu brinquedo novo. É inseguro e não suporta a ideia de haver outro homem a desbravar o mesmo terreno e com uma enxada maior e mais competente. 
  • Ele é hipocondríaco - tem medo que ao andares com outros apanhes algum tipo de bicheza na zona envolvente à boca do corpo. Há muitos homens que parecem estar apaixonados e que querem exclusividade, mas que afinal é só medo de apanhar gonorreia. 
De qualquer das formas, calculo que ele não esteja a fazer um bom trabalho porque pela minha experiência, quando uma mulher diz que «só quer sexo descomprometido», se o sexo for épico a história muda logo e começam a deixar escovas de dentes em minha casa. Mas lá está, essa é a minha experiência empírica e o Doutor G não serve de exemplo para ninguém. Seja como for, só tens de decidir se queres um dildo de chicha amestrado ou se queres andar por aí a montar póneis selvagens.


Está feito. Até para a semana. Partilhem e continuem a enviar as vossas dúvidas para porfalarnoutracoisa@gmail.com. 


Façam amor à bruta porque de guerras o mundo já está cheio.

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27 de fevereiro de 2017

Cronologia dos Oscars feita por quem sabe



Devo começar por dizer que não tinha visto nenhum dos filmes nomeados, à excepção do The Arrival. Portanto, senti-me como quem vai a um concerto em que vês toda a gente a cantar as músicas e tu não conheces nada, mas tentas acompanhar o refrão a meio da música e fazes aquela figura de começar a cantar e afinal era parte só instrumental. Ris-te e fazes aquela piada do «Ele enganou-se.».

00:00h - A cerimónia começou com o habitual desfile na passadeira vermelha, ou, como dizem os nossos VIPS que foram ver os Oscars pela televisão no Amoreiras, a passadeira encarnada. Pessoas vestidas com cortinados e tapetes de Arraiolos. Alguns foram vestidos por Chanel, Tom Ford ou Gucci e outros foram vestidos pela mãe daltónica. 

01:00h - Começa a entrega de prémios e pouco nos interessa quem vai ganhar, o que queremos ver são os discursos de aceitação, leia-se anti-Trump, e ver pessoas a fazer discursos sentidos sobre desigualdades com uma estatueta de ouro na mão e com vestidos que davam para alimentar uma família que goste de comer seda e brilhantes.

01:30h - O primeiro vencedor é logo uma entrada à bruta por trás nas políticas de Trump. Ganhou um preto muçulmano. Trump só não refilou porque foi o Oscar de actor secundário.

01:45h - Um dos comentadores da SIC diz «O Jimmy Kimmel tem sentido de humor.». Ya, e o Ronaldo sabe dar uns toques na bola, capitão óbvio.

01:50h - Percebemos que estamos na presença dos melhores actores do mundo quando conseguem bater palmas com convicção quando são anunciados os vencedores daquelas categorias que não interessam a ninguém.

01:55h - A minha namorada pergunta, pertinentemente, se nunca houve feministas de meia-tigela a indignar-se por as pessoas receberem um Oscar em vez de uma Oscarette. Eu digo que não, mas só porque a estatueta não tem pila e é, claramente, um transexual de cabelo curto.

02:10h - Um dos comentadores da SIC diz que aquela curta metragem que ganhou o prémio está disponível online para vermos gratuitamente. Ri-me. Todos os filmes estão disponíveis online para vermos gratuitamente. Burro.

02:20h - Um dos milhares de intervalos, nos quais há sempre um anúncio da Rolex, só para mostrar às pessoas que estão acordadas que é por não dormirem bem e não acordarem cedo para trabalhar que nunca vão ter um Rolex.

02:30h - Viola Davis ganha o prémio de melhor actriz secundária num papel principal. Este ano os Oscars são os 100 metros: os brancos ficam a vê-los passar.

02:35h - Nicole Kidman mostra que se está a transformar num dos robôs do filme Stepford Wives, mas que faltou ao update que tem a função que ensina a bater palmas. Parece que aprendeu na mesma escola do Balsemão. Isso não é bater palmas, Nicole, isso é um ritual de acasalamento de leões marinhos. Enfim, com tantas plásticas nem consegue encolher os dedos que ainda lhe saltam as unhas dos pés e descola a bacia.

02:45h - Aparece o actor mais bem pago do mundo: The Rock. Ya, é verdade. A cara dele faz-me lembrar manteiga de amendoim, não me perguntem porquê.

02:55h - Aparece uma senhora em cadeira de rodas. Ovação em pé, mesmo a gozar com ela.

03:00h - Pergunto-me porque é que nunca ninguém agradeceu aos pais que eram umas grandes bestas e que os obrigaram a fugir de casa aos 12 anos em busca de uma vida melhor em Hollywood. Ingratos.

03:10h - Há um gajo que não me lembro quem é que faz um discurso feminista e que diz que as mulheres são melhores do que os homens a fazer oposição sem ódio. Ri-me tanto. Sem violência física, sim, mas sem ódio? Este gajo não sabe nada do universo feminino.

03:15h - Jimmy Kimmel preparou uma partida e vai apanhar cerca de meia dúzia de pessoas que pensam que vão a um museu e vão entrar em directo do Dolby Theater. Uma ideia gira, mas Jimmy esqueceu-se que as pessoas são pategas. Para além de vermos as elites todas a bater palmas enquanto pensam «O quê? Vão deixar entrar pobres aqui?» e «Devia ter tomado o desparasitante.», vemos os incautos turistas a entrar e a protagonizar aquela vergonha alheia de antologia. Pessoas que em vez de aproveitarem o momento vêem tudo pelo ecrã do telemóvel enquanto filmam e tiram selfies, com e sem pau de. Onde é que está um daqueles Samsungs que explode quando um gajo precisa deles? Enfim, espero que naqueles novos planetas que a NASA descobriu haja vida inteligente.

03:30h - Aparece o carro do Regresso ao Futuro com o Seth Rogen e, quem é que vai a conduzir? Michael J. Fox. Grande perigo. As pessoas levantam-se e dão mais uma ovação em pé, mesmo a esfregar na cara do Michael «Olha nós que nos levantamos na boa e batemos palmas sem ser involuntário.». Falta de respeito.

03:40h - Apercebo-me que são três e tal da manhã e que ainda nem deu aquela montagem com o pessoal que morreu no ano passado. Isto é coisa para só acabar depois de almoço.

03:45h - Os comentadores da SIC tentam falar sobre política e quem já estava com sono acaba por adormecer. Ver realizadores e críticos de cinema a falar de política internacional é o mesmo que ver o Pedro Arroja falar de Darwin. Para além de que o problema na Síria não é bem culpa do Trump. Ele vai tornar a coisa pior, sim, mas não foi ele que fez aquela merda.

04:00h - Adormeci.

09:30h - Dá entrada na esquadra da polícia um grupo de brancos a dançar e a cantar «Senhores guardas! Tínhamos uma estatueta de ouro na mão e veio um grupo de negros roubar-nos aquilo! Agarra que é ladrão!». Acordei e percebei que, num twist épico, mas que foi plagiado ao Humberto Bernardo, afinal o vencedor não foi o La La Land. Uma troca de envelopes lançou o caos no palco e, afinal, o vencedor foi o Moonlight. Pareceu-me uma metáfora dual à política norte-americana: por um lado, La La Land tinha ganho o voto popular e era dado como vencedor em todas as sondagens, mas viu-lhe retirado o galardão ao cortar a meta; por outro, todos gostavam que viesse um senhor de envelope na mão a dizer «Esperem, afinal o Trump não ganhou. Foi engano.».

Pronto, e foi isto. Escusam de passar para trás na box. De nada.
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22 de fevereiro de 2017

Buraca first! America second!



Caro presidente Trump,

Sei que já deve estar farto destes apelos que foram feitos por muitos países e cidades que manifestam o interesse de ver as suas zonas em segundo lugar no ranking das maiores nações mundiais, logo a seguir, obviamente, à grande nação da América, que por acaso até é um continente, mas que para facilitar e não confundir as pessoas que votaram em si, irei utilizar como referência aos Estados Unidos da América. Ia fazer um vídeo, mas a verdade é que já é um formato muito batido e, bem, dá mais trabalho porque é preciso levantar o rabo do sofá e o meu sofá é muito confortável. O mais confortável de todos! Então, escrevo-lhe e, ao contrário dos outros vídeos, não quero que a minha terra, a Buraca venha em segundo. A Buraca vem primeiro! Deixo alguns bons exemplos que poderá seguir se quer tornar a América grande outra vez.

Vocês têm o Central Park em Nova Iorque. Na Buraca temos o Jardim dos Aromas. O melhor jardim. Grande. Nem dá para acreditar! Tem esse nome devido aos perfumes que se sentem no ar: da erva, do chamon, do pólen e dos canabinóides no geral. Aqui ninguém manda consumidores e pequenos traficantes de drogas leves para a prisão durante anos, somos pessoas com bom senso. Em vez disso, a polícia leva-os até à esquadra e dá-lhes um enxerto. Dos melhores enxertos do mundo! Grandes! Enormes! Antes, neste parque, havia um muro de onde eu me pus a saltar com oito anos e fracturei a perna. Péssimo. A maior fractura de sempre. Horrível! Tive de andar com gesso dois meses. Não fiquei coxo por acaso.

Vocês têm o «Born in the USA» do Bruce Springsteen, nós temos o «Quero ir à Buraca» dos Fúria do Açúcar. Um hino feito na altura em que as pessoas não ficavam ofendidas com regionalismos bacocos. Ninguém da Buraca boicotou os concertos deles, nem queimou as suas cassetes. As pessoas da Buraca têm sentido de humor porque desde cedo percebem que rir é a melhor forma de lidar com o facto de se viver numa terra chamada Buraca.

A Buraca está inserida numa espécie de Estados Unidos: a Linha de Sintra. Pense em Benfica como sendo São Francisco, onde as elites moram. Pense na Amadora como se fosse Nova Iorque, onde existe uma espécie de melting pot. Vocês têm o Empire State Building, nós temos o centro comercial Babilónia que, tal como a mítica capital suméria com o mesmo nome, também é uma espécie de meca do progresso e tecnologia com 300 lojas de indianos que reparam telemóveis. Pense em Massamá como Chicago, com prédios altos e vento. Pense no Cacém como uma espécie de Detroit, mas ainda com mais mitras. Os melhores mitras!

Vocês têm Las Vegas, mas nós temos o Bingo da Reboleira.

Também temos um muro na Buraca: o Aqueduto das Águas Livres, Free Waters. Curioso que haja muros que tenham derivados de liberdade no nome e que serviam para levar bens essenciais às pessoas. Ainda temos outro muro, mesmo ao lado, na Damaia. Lindo. Grande. O melhor muro. É o muro da Escola Secundária D. João V, onde fui aluno durante cinco anos. Não chumbei nenhum, o que pode parecer estranho aos olhos dos seus eleitores. Era um excelente aluno. O melhor. O conceito de escola secundária também pode parecer estranho aos seus fãs que são filhos de primos direitos. Bem, este muro separa a escola do seu exterior, já que a escola é paredes meias com a Cova da Moura que é o melhor bairro social de Portugal. Grande. O maior. Contrariamente ao que se possa pensar, este muro não serve para segregar, serve para manter as bolas de futebol de educação física dentro do campo, já que quando iam parar à Cova da Moura não voltavam. Este muro, para além das funções básicas dos muros, tem outra: a de ser uma tela onde vândalos rabiscam coisas. Na fotografia pode ver alguns exemplos do vândalo Odeith. Enfim, uns a usar muros para separar pessoas, outros a enchê-los com arte e cultura. Sad.

Vocês têm o Rodeo Drive e a 5ª Avenida onde as pessoas podem fazer compras de luxo, mas a Buraca está a uma distância de dois minutos do Colombo, da Decathlon e do IKEA. Temos bons artistas. Vocês têm o Louis CK, mas foi na Buraca que nasceu o Bruno Nogueira. Vocês têm a Oprah, mas nós temos o João Baião. Vocês têm o Dr. Phill que não vale nada ao pé do nosso Quimbé. Temos, ainda, os Buraka Som Sistema, grupo no qual nenhum dos elementos é da Buraca, só para ver o impacto que esta localidade tem que até quem não mora lá quer fazer de conta que sim.

Na Buraca não temos mexicanos, mas temos Guineenses, São-Tomenses, Cabo-Verdianos, Angolanos, Brasileiros, etc. Muitos deles são portugueses, já. Vivemos todos em harmonia... estou a gozar, há muita merda. Há tráfico de droga, há assaltos, há criminalidade no geral. A diferença é que percebemos que não é a cor da pele nem as raízes geográficas que provocam isso. Percebemos que as desigualdades, a discriminação e a situação económica e social são a base do problema. Conseguimos resolver? Não, mas está melhor do que há uns anos, especialmente porque quando mandaram abaixo o Casal Ventoso, Windy Couple, o tráfico veio para aqui e a criminalidade na rua diminuiu porque o pessoal faz mais dinheiro a vender droga do que a assaltar na rua. Como pode ver, vocês têm o Steve Jobs, mas nós temos o Celestino Mata-Bófias que também era empreendedor. Depois foi morto pela polícia, mas o Steve Jobs também morreu, por isso vai dar ao mesmo. No entanto, mesmo com isto tudo, não colocámos muros à volta de bairros de má fama, nem deportámos toda a gente para o Cacém. Eles já têm chungaria que chegue de todas as cores.

A verdade é que esses muros sempre existiram. Há quem nasça do lado do muro que tem menos oportunidades. Há quem nasça do lado do muro que lhes baixa as expectativas porque ninguém espera nada deles e até ficam surpresos se não forem por maus caminhos. Os muros já existem e enquanto há uns que os tentam derrubar, há outros que os querem erguer e torná-los de pedra e cimento. Mesmo numa zona complicada em que é fácil encontrar racismo, dos dois lados da barricada, tenho a certeza que se o senhor Presidente concorresse à Junta de Freguesia da Buraca, pouca gente votaria em si. Por isso, a Buraca vem primeiro e a América vem depois. Não vamos fazer a Buraca grande outra vez, porque a Buraca nunca foi grande, nem nunca vai ser. Mas é cada vez menos má, tal como Portugal. Porque em locais onde as pessoas são boas, as coisas tendem a melhorar e nunca precisam de ser como já foram.
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21 de fevereiro de 2017

Ser solteiro vs rotina de uma relação longa.



Mais uma terça-feira, mas uma consulta "Doutor G explica como se faz".


Olá Doutor G, em primeiro lugar sou um grande fã e tenho lido o seu livro, que está 5 estrelas. À 4 meses eu e a minha ex acabámos. Desde ai tem sido um deserto em termos de luta pelada. Apesar de ser um tipo tímido, tenho tentado. Simplesmente as raparigas com que eu tentei falar deram pra trás. Sendo que tinha sido a minha primeira o mais provável é eu estar a fazer algo de errado, mas não faço a menor ideia o quê. Será que estou a fazer alguma coisa de errada? E, já agora, pode dar alguns conselhos nesta matéria uma vez que sou iniciante?  
JC, 22, Coimbra

Doutor G: Caro JC, obrigado por teres comprado o meu livro, (à venda neste link) mas não deves ter lido com atenção, caso contrário saberias conjugar o verbo haver. Toma nas orelhas que já almoçastes. Estou a gozar, é almoçaste. Uma rapariga inteligente pode deixar de ter interesse em ti com base nos erros ortográficos do chat, por isso, o melhor será investires nas mais burras. JC, estou farto de responder a dúvidas do género, pá. Não há segredo. É tentar. Falar. Implorar. Alguma irá querer. A rejeição faz parte da vida dos homens e tens de te habituar e não desanimar. Quanto mais te habituares à rejeição, mais confiança irás ter e as mulheres têm um nariz especial que detecta machos confiantes à distância. Não estás a fazer nada de errado, estás só a ser tu mesmo e isso às vezes prejudica porque podes não ser muito interessante. Estou a fazer sapateado em cima do teu ego para o calejar e te ajudar. É tough love, não é sadismo. Usa apps de dating e sai à noite com os amigos. Vive. Tens 22 anos e ainda vais conhecer muita gente e fazer muito sexo. As tuas iniciais são JC e só isso é uma arma para sacar miúdas católicas que, ao contrário do que se possa pensar, são as que mais facilmente irão cair-te no colo para meter um terço na mão e dois terços na boca.


Excelentissimo Dr G., em 22 anos de vida nunca consegui ter uma relação séria. Acho que assusto os homens, sempre que estou a conhecer alguém e penso “vai ser agora, acho que é desta” e isto passa por vários cafés, passeios, conversas de horas, etc, eles deixam de falar comigo, sem motivo aparente! Já conheci pessoas na vida real, nas redes sociais, em aplicações, mas o desfecho é sempre o mesmo. E muitas vezes esses rapazes aparecem uns meses depois com namorada nova e aí é que não entendo. Já tive vários rapazes a fazer-me propostas de "aventuras" e até tive 2 casos que duraram uns mesitos mas que não passaram de uns momentos debaixo dos lençóis e decidi-me que não era o que queria. Quero ter um namoro sério e ando à quase 4 anos... acha que vou ficar solteira para sempre?   
Raquel, 22, Porto

Doutor G: Cara Raquel, parece-me que eles deixam de falar contigo porque a coisa não passa de vários cafés, passeios e horas de conversa e festa rija no leito que é bom, nada. Se vais para um primeiro encontro com a postura do «Este tem de ser para casar.» claro que a coisa não vai correr bem. Os homens têm um radar para detectar desespero e percebem que de cada vez que se baixam para atar os atacadores tu ficas a pensar que te vão pedir em casamento. O segredo está em ires com calma. Queres forçar uma relação séria com um gajo que não vale a pena (a maioria)? Não. Então não forces. Deixa andar. Se a coisa se der, deu-se. És nova e os ovários não estão a secar. Quando dizes que andas à 4 anos a tentar, parece-me que podes ter o mesmo problema do JC. Se quiserem posso fazer de cupido e apresentar-vos que assim só se estraga um dicionário. Bem, aproveita a tua fase solteira, por muito longa que for, porque um dia vais sentir-lhe falta. O teu príncipe encantado está já ao virar da esquina, não é o que dizem? Mentira. Não há príncipes encantados e quando os há vocês trocam-nos por um badboy sarrabeco que vos trata mal.


Caro doutor G, nem sei se procuro ajuda ou apenas um desconhecido que espete com isto na net para eu desabafar. É o seguinte, tenho um namoro de anos e a minha vida sexual é uma merda! Nos primeiros tempos foi muito bom, era com cada esfoliação ao bicho que até ficava a arder para fazer xixi. Agora o apetite sexual dela é muito pouco, e quando lhe apetece é pumba pumba até ela estar satisfeita e eu acabo a fazer sexo com uma espécie de ser inanimado que nem geme, nem abre as pernas ou empina o rabo etc. Não ponho a hipótese de ela me andar a trair, ou não gostar de mim. Simplesmente acho que passou o entusiasmo do "fator novidade" e ela não é grande coisa na cama. Tirando isso sou muito feliz com ela, gosto mesmo dela é sei que ela gosta de mim, mas a minha vida sexual é tão aborrecida que ando com vontade de pular a cerca. O que devo fazer? Masturbar até passar?
De Alberto Constantino de Melo, 34, Porto

Doutor G: Caro De Alberto, é um caso muito comum em casais de longa data. Cabe aos dois falarem sobre o assunto e verem formas de apimentar a relação, sendo que se usarem mesmo pimenta é capaz de te voltar a arder a fazer xixi. Grande, grande trocadilho. Ao nível dos melhores escritores mundiais. Bom, sendo que ela não empina o rabo nem abre as pernas, por um lado é bom que não gema nem faça barulho pois podia ser sinal de que a estavas a violar. Formas de apimentar a relação:

  • Brinquedos sexuais. Compra cenas marotas, sendo que se comprares dildos opta sempre por um mais pequeno que o teu pénis. Caso contrário, se ela ficar maluca com aquilo vais saber a razão da sua falta de apetite contigo.
  • Ajuda nas lides domésticas: há estudos que dizem que os homens que ajudam em casa satisfazem melhor as suas parceiras na cama já que as libertam de várias tarefas que lhes ocupam a cabeça a as stressam. Não é por acaso que faço o jantar todos os dias, até porque se não o fizesse iria morrer à fome.
  • Se for a vossa cena, façam swing. Cuidado com as doenças, caso contrário vai voltar a arder-te a fazer xixi. Grande, grande callback.
  • Investiga o histórico de internet dela para perceber que tipo de pornografia ela vê e poderes dar vida aos fetiches dela. Se ela só pesquisar por «Gangbang big black cocks» já sabes que a tens de levar a ver jogos da NBA. Atenção no role-play que fazer black-face ou black-dick é racismo.
Pode dar-se o caso de só agora teres percebido que são incompatíveis sexualmente e, nesse caso, ou vais conformar-te e esperar que o teu desejo sexual vá pelo cano abaixo, ou vais pular a cerca. Não aconselho uma nem outra, antes pelo contrário.


Olá Dr. G! Modéstia à parte, considero-me uma rapariga gira e boa e, bem, gosto muito de fazer sexo! Mas a verdade é que o meu namorado de há 2 anos trata-me como uma princesa na cama! Já lhe expliquei que na cama não quero ser princesa nenhuma, mas ele diz que “uma dama” deve ser tratada com ternura... Acabei por pesquisar na net e encontrar festas para adultos, com ar super sexy, em que todos os participantes usam máscara! Achei top e, sabendo que não ia ser apanhada, inscrevi-me, arranjei uma desculpa ao meu namorado e no sábado lá fui à festa. E curti para o mundial! Ontem, ele propôs-me irmos os 2 a, precisamente, uma dessas festas! Fiquei verde e sem saber o que dizer. Que faço Dr. G? Finjo que nunca fui e aceito ir? Digo nem pensar e continuo a ir sozinha? Digo que fui? E explico-lhe que é só sexo e que, no fundo, o que gostava era de ir com ele fazer, como tu dizes, lutas greco-romanas? Lá no fundo, era o que gostava, porque o amo, mas tenho medo que ele me ponha nas couves se descobrir que já lá andei. Socorro, Dr. G!
Anónima, 27, Lisboa

Doutor G: Cara Anónima, foste a uma festa e fizeste sexo com desconhecidos sem dizer ao teu namorado? Agora aguenta. As tuas hipóteses são as seguintes:

  • Fingir que nunca foste e aceitar ir - chegas lá e alguém te reconhece devido a um sinal que tens no interior da coxa e pergunta «Olha, a menina outra vez. É o do costume? Um vodka e três moçambicanos?»
  • Dizes que não e continuas a ir sozinha - se queres ser uma cabra é contigo.
  • Dizes que foste - és sincera e arriscas que ele te dê um pontapé, sendo que se estão a ponderar fazer swing não me parece que ele vá ficar muito chateado. Quanto muito diz que agora tem créditos para gastar e que tem de comer duas gajas para ficarem quites.
Mas bem, se queres sexo à bruta com o teu namorado e ele não alinha, para além de namorares com um xoninhas, tens de lhe dizer que sem isso, vais andar insatisfeita. A melhor forma de conseguires que ele te dê com força e te açoite é riscar-lhe o carro a estacionar e dizer que não tiveste culpa, que o problema é do carro que tem a frente muito grande. Normalmente, depois disto, qualquer homem tem vontade de dar duas lambadas na mulher. Põe-te de quatro e deixa-o descarregar a raiva.


Boa tarde Doutor, tenho um namoro estável e feliz a mais de meia dúzia de anos, porém o raio da moça gosta pouco de chafurdar, se calhar porque vivemos com os nossos pais e a única maneira de nos afundarmos um no outro é no carro a meio da noite. As desculpas que ela dá nunca são dores de cabeça nem nada disso, é sempre que não lhe apetece ir para lá... e ai de mim que insista, só faço pior e a abstinência aumenta... Quanto à minha prestação ela diz que sou bom, a prova disse é que ela alcança o orgasmo sempre, e até sou muito bom de língua, excecional, dito por ela. A minha questão é a seguinte: devo continuar a minha vida feliz e meia assexuada ou devo procurar uma segunda opinião acerca da minha performance?
Jaime, 25, Santa Comba de Assobia

Doutor G: Caro Jaime, como está o tempo aí por Santa Comba de Assobia? Húmido? Ah, não, está seco, tal como a tua namorada e ao contrário dos teus testículos. Sou nojento. Bem, se não são compatíveis sexualmente, a relação não tem futuro. É assim a vida. O sexo não é tudo, mas é muita coisa. O dinheiro também não é tudo na vida, mas sem ele um gajo falece à fome. Compreendo que a rapariga possa não se sentir confortável a efectuar o coito no carro. Pode sentir-se exposta e insegura e fazer com que não consiga descontrair e aproveitar. Sugiro que testem um motel a ver no que dá. Se resultar, o problema não é teu nem dela, mas sim do contexto. Fazendo esse despiste, tudo fica mais fácil. Se ela continuar a só querer de vez em quando, é a vida. Há pessoas assim, tanto homens como mulheres. Tentem outras coisas se for esse o caso. Como uma vez um rapaz me disse numa festa académica «Convidas-li-a a jantar em tua casa, ya. Depois fazes uma sangria com fruta, vinho forte e duas aspirinas. Ela fica maluca, sócio. Agarra-te bem que ela vai-te montar-te até te deslocar-te a bacia.». Nunca experimentei.


Boa noite Doutor G, quero desde já dizer que o acho um génio e que devia sim ser reconhecido pelo trabalho que faz nesta rubrica, que é excelente. Recentemente, um rapaz, que já conheço desde a básica, mas nunca tivemos qualquer tipo de contacto, começou a mostrar um enorme interesse por mim. Ele afirma que quer realmente ter "uma cena" comigo, e que quer ver "no que isto dá", e que quer "tentar", mas ao mesmo tempo parece que só quer praticar luta Greco romano, o que me deixa confusa. Confesso que não é de todo um panorama que não desgoste, mas também não sei se quero ser levada e rotulada como "amiga do sexo" e porque, como acabei recentemente um relacionamento, não me quero já prender a uma pessoa e sim aproveitar mais um bocadinho enquanto não tiver idade para casar e ter filhos. Estarei a ser fácil demais ao dar-lhe já a minha caixinha da pandora?  
Anónima, 20, Lisboa 

Doutor G: Cara Anónima, obrigado por começares a tua dúvida a constatar o óbvio. Quanto à tua questão, vou responder em forma de fluxograma.
É isto. Se não te importas se ele só quiser sexo e até vês isso com bons olhos, força nisso. Aproveita. Se não queres nada sério, não te envolvas. Se te envolveres é porque te apaixonaste e já queres algo sério. Se ele depois não quiser, azar. É a vida.


Obrigado a todos e, como sempre, até para a semana. Não partilhem que não é preciso. Leiam às escondidas sem partilhar com os vossos amigos e depois venham chorar quando o Doutor G fechar as portas. Só falsos puritanos.


Façam amor à bruta porque de guerras o mundo já está cheio.

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19 de fevereiro de 2017

Modas Parvas 2017: pitas, fotos de bebés, startups



Como já vem sendo moda, todos os anos faço um apanhado das novas modas parvas que deveriam acabar. São sempre textos que geram muitos comentários de pessoas ofendidas porque também é moda ser-se maneta e rir-se de piadas com pernetas, mas quando é ao contrário é de mau gosto. Vamos, então, às modas mais parvas a terminar em 2017.

Fotos de crianças com emojis
Se a tua criança é tão feia que precisas de lhe colocar um emoji a tapar a cara, então que tal não partilhares a foto dela no Facebook? Será que sempre quiseste adoptar uma criança asiática e meter uma carinha amarela no teu bebé é o mais perto disso que vais estar? O quê? É por questões de segurança?! Repara, ninguém quer o teu bebé. Ninguém vai ver a fotografia no seu mural e pensar «Epá, este bebé é mesmo bonito, se calhar vou raptá-lo e fazer amor com ele.», sabes porquê? Porque o teu bebé é feio. A sério que é. As pessoas à tua volta é que te andam todas a mentir para poupar os teus sentimentos. Se queres dizer a toda a gente que te reproduziste, como se isso não fosse um feito ao alcance de quase todos os mortais, então sugiro uma nova moda em vez do bebémoji: uma foto de um cabrito! É o desafio que lanço a todos: sempre que forem pais, publiquem uma foto com uma frase toda nhonhó a dizer «Bem-vindo a casa, meu novo amor.» e botam uma foto de um cabrito. Porquê? Porque os cabritos são fofinhos e sabem bem.

Dizer que estão a morrer mais celebridades
Não estão. Sempre morreu gente famosa. A diferença é que está a chegar aquela altura em que os grandes monstros dos anos de ouro da TV e da música, 60, 70 e 80, estão a chegar àquela idade em que as pessoas morrem. Ainda para mais porque a maioria não tinha um estilo de vida saudável. O álcool conserva, mas não é assim. Outra teoria é que há mais celebridades agora e que as suas mortes são amplificadas por todos os pategos que demonstram as suas condolências nas redes sociais. Ah, e podemos parar de ter pena de gajos que viveram à grande e morreram de overdose aos 60 anos? Morreram a fazer aquilo que mais gostavam: consumir droga. A parte da música era uma desculpa. E sim, sem a droga nunca teriam sido tão criativos. Por isso, se querem génios, aceitem que eles morrem com droga e álcool. Porque é que acham que antes de sair um disco novo do Jorge Palma é sempre difícil encontrar droga no Bairro do Amor? Ah e parem com o RIP. RIP parece uma cena a rasgar-se. E se disserem RIP in Peace era cortar-vos o acesso à Internet.

Startups
Toda a gente quer ser empreendedor, ter apps e startups. Toda a gente quer ir ao web summit fazer um pitch, falar com investors e mostrar que a sua startup tem uma excelente revenue. Vejo com maus olhos esta moda de todos quererem ter o seu próprio negócio, ainda pior se esse negócio for uma furgoneta que vende hambúrgueres e cachorros a preço inflacionado só porque são gourmet, do bairro, ou artesanais e, claro, em bolo do caco. Não dá para sermos todos chefes, lamento. Alguém tem de trabalhar. Por cada startup de sucesso há 1000 que foram à falência e quem diz que para singrar basta trabalhar, ou bater punho, está a levar ao engano muito boa gente que nem sabe gerir a mesada dos papás quanto mais gerir uma empresa. Despedires-te do call center para criar uma app que consiste num alarme que toca quando tens poucos ovos no frigorífico é uma má jogada de carreira. Já existe uma coisa parecida no mercado que é a de abrir a porta do frigorífico e ver quantos ovos há. Para quem sabe contar até doze é um método muito mais simples. Não compliquem.

Snapchat filters
O meu Instagram é o seguinte: fotos da minha cadela e fotos de raparigas com um filtro com orelhas e focinho de cadela. Já chega. Pergunto: se pintar a cara de preto, vulgo black-face, é racismo, dizem alguns, então o filtro do cão também é? Ainda por cima não há filtros de cão rafeiro. Já percebemos que gostam de usar a coleira e a gargantilha da moda e que o filtro com focinho de cão vos tapa o buço. Sim, ficam muito lindas com uma coroa de flores como se tivessem ido a um qualquer país exótico, mas vai-se a ver e foi numa discoteca da Margem Sul. Prevejo que num futuro próximo, quando todos utilizarmos lentes de contacto com realidade aumentada, que as pessoas vão escolher o filtro que usam na vida real. Pessoal das startups vejam lá isso que isso sim é uma boa app que vai fazer com que milhões de homens esperem menos tempo enquanto as namoradas se arranjam. Basta colocarem o filtro belezura e está feito. Deus nos livre é de uma avaria nas lentes a meio do sexo e vermos que afinal estamos a copular com uma espécie de Madame Min a ressacar de anfetaminas.

Fake news
Se calhar está na altura de parar de partilhar notícias sem fundamento propagadas por sites manhosos, não? Se calhar também está na altura dos media, ditos credíveis, perceberem que fazer click bait e dar títulos sensacionalistas a notícias que depois se lermos tudo não tem nada a ver, também não é bem ser-se jornalista. O Facebook quer filtrar as fake news e, a meu ver, isso é um erro. É tapar o sol com a peneira e fazer de paizinho das pessoas burras. Acho que a estupidez deve estar a céu aberto para que todos possamos ter noção da sua quantidade. Por exemplo, costumo aceitar muita gente que não conheço no meu perfil de Facebook pessoal. Normalmente a triagem é: ou têm amigos em comum ou são gajas boas. Sou um gajo que gosta de fórmulas simples. Ultimamente tenho removido muitas amizades e a fórmula é a seguinte: tem like na página do PNR ou partilha notícias de sites com zero credibilidade.

Calças rasgadas
Bem diz a minha namorada que guarda roupa antiga porque nunca se sabe se volta a ficar na moda. Como qualquer moda que volta, volta em pior. Já vimos isto acontecer com os bigodes. Lembro-me de calças com pequenos rasgões e buracos que a minha avó olhava de lado e ia buscar dois contos para me dar, pois na cabeça dela aquilo era sinal de que os meus pais andavam a passar dificuldades e nem umas calças novas me conseguiam comprar. Sorte a dela que morreu o ano passado e não tem de ver raparigas e rapazes que usam calças cujos rasgões são maiores do que as áreas com tecido. Pavoneiam-se com pernas que fazem lembrar um lombo de porco atado com cordel para ir ao forno, a pensar que estão sexys por mostrar muita pele. E homens, desde quando é que mostrar os joelhos é uma cena? Tenham juízo. 

Selfie no ginásio
Sim, já percebemos que vocês vão muito ao ginásio, mas a cena de tirar fotos do antes e depois é para ver os resultados e não para se gabarem de terem ido para a máquina de step depois de terem ido de elevador para o ginásio. Tirar selfies no ginásio, partilhar quantos quilómetros correram, é gabarolice pura. Ninguém quer saber. Não vos incomodo quando em vez de encomendar uma piza por telefone vou antes à loja a pé porque a promoção é maior, pois não? Muito menos tiro uma selfie todo suado depois de fazer quinhentos metros com dois pães de alho na mão a dizer «No pão, no gain». Quem tira selfies no ginásio e no espelho do balneário e depois diz «Só ando no ginásio por mim e não para agradar ninguém.» merecia fazer abdominais numa cama de pregos enferrujados.

Fazer pessoas sem talento famosas
Sabem porque é que a (ou as) Kardashian é famosa e multimilionária? Porque existe muita gente burra que a segue e faz dela rica. Pessoas cujo talento se resume publicar uma sex-tape onde nem têm talento para fazer sexo, e a publicar selfies todos os dias, serem pagas para continuar a fazer isso é sinal de que o nosso mundo está com uma virose. Reparem, essas pessoas são espertas e invejo-as, mas quem as segue e lhes dá essa visibilidade é gente burra. Por cá temos fenómenos como a Maria Leal que fica famosa porque o povo português tem uma atracção mórbida por acidentes de automóvel. «Ah, ó Guilherme, mas tu também fizeste um texto sobre ela e assim contribuíste para lhe dar fama.», pensam alguns de vós. Sim, é verdade, e então? Essa moda de não deixarem uma pessoa ser incoerente também tem de acabar. Nesta categoria entram também as modelos do Instagram. Raparigas cujo dia se resume a experimentar roupa e filtros em fotos "artísticas" em que o actor principal é o decote ou o pacote. Têm milhares de seguidores e as marcas pagam-lhes para promoverem o seu creme ou peça de roupa, a pensar que vão vender alguma coisa, sem perceberem que 99% dos seus seguidores são homens com as calças nos tornozelos. 

Cadeias de cenas
Um flagelo que parecia ter morrido há uns anos e que utilizava o email como canal preferencial, ressurge graças ao fácil acesso que mães, pais e tias velhas têm ao Facebook. Não, colar disclaimers no mural a dizer que não autorizam a utilização dos vossos dados por parte do Facebook não serve para nada. Serve só para mostrarem ao mundo digital que são uns pategos e ajuda na triagem de alvos para os príncipes nigerianos. Partilhar fotos de crianças com sida e fome não as faz ter menos sida nem menos fome. Colocar um amém é ofensivo e se Deus existir vai-vos enviar para o inferno pela vossa hipocrisia. E já chega de cenas virais ao estilo dos harlem shakes desta vida, o planking, o manequim challenge e aquela palhaçada de tirar fotos em locais altos a segurar o telemóvel só com dois dedos. Deviam era pendurar-se em penhascos só a segurar-se com um dedo e deixar a selecção natural seguir o seu curso. Ide tirar uma selfie na linha de comboio e com auscultadores.

Pitas histéricas
Troquem o trailer do Game of Trones ou Star Wars por uma foto dos One Direction e vão ver que o texto que o acompanha, cheio de excitação e histerismo, faria mais sentido nesse caso. Algo que parece saído da boca de uma adolescente que ainda mal começou a menstruar, mas que afinal é de um homem já adulto que ainda vivem na cave dos pais. «É a minha man cave!», dizem, mas não é. Moram lá porque os pais os escondem tal como antigamente se fazia aos filhos deficientes, para não afugentarem as visitas. Os mesmos que dizem mal das pitas que acampam à porta de um concerto do Justin Bieber são os que removem amizades no Facebook por ver alguém que fez um spoiler, mesmo que seja da 2ª season que já passou há uns anos. São os mesmos que dizem «Não festejo o Carnaval, é uma palermice.» ou «Halloween é uma tradição americana que só trouxeram para cá por questões comerciais e vocês papam tudo.», mas quando chega a estreia do Star Wars vão vestido de Princesa Leia para a fila do cinema ou vão à Comic Con vestidos de lula gigante a pensar que vão ter sorte com uma das raparigas que estão lá só porque lhes pagaram para atrair gajos. Por fim, quero deixar a minha palavra de apreço para quem vai para a fila da Apple, dias ou horas, para comprar o novo iPhone no dia em que ele sai: vocês são o reflexo do mal do mundo. São uma merda de putos mimados que não sabem esperar um dia para ter aquilo que querem. Tem de ser já e agora porque foi a educação de merda que os vossos paizinhos vos deram. Espero que um camião se despiste e vos varra a todos na fila para irem ter com o vosso Steve Jobs mais depressa.


Ufa, já está. Isto é melhor do que ir ao psicólogo. Dizer mal dos outros é, sem dúvida, a minha terapia. Obrigado por me ouvirem. Façam o que vos apetecer, se quiserem entrar em modas parvas é convosco. Cá vou estar para vos achincalhar, porque escrever textos a dizer mal de tudo também é uma moda irritante e eu adoro paradoxos.
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15 de fevereiro de 2017

Ir a uma discoteca depois dos trinta



Ir a uma discoteca depois dos trinta começa a ser uma experiência estranha. Para além de sentir que acabei de entrar numa escola secundária na qual sou o professor, o que mais me faz sentir desajustado são as músicas. Não estou a falar do estilo, mas sim das letras.

A forma alegre com que o Taio Cruz canta I got a hangover, whoa! já não faz sentido na minha idade. Não há razão para entusiasmo quando já sei que a ressaca vai durar dois dias! A ressaca não merece uma música de homenagem na qual ainda diz I got an empty cup pour me some more. Quanto muito enche-me um copo com água que é para ver se isto amaina e amanhã não tenho a cabeça como se estivesse a ser atacada por abelhas com ferrões em brasa.

Quando passa o «Save the world» dos Sweedish House Mafia tudo me faz sentir velho. Mal começa, dizem We never sleep, never get tired. Mentira. Quando não durmo pelo menos oito horas para além de cansado fico rabugento. Depois, no refrão, têm a lata de perguntar Who's gonna save the world tonight? Desvio logo olhar como quando fazia quando as minhas professoras perguntavam quem queria ir ao quadro. Peço imensa desculpa, mas não será possível ajudar a salvar o mundo a esta hora da madrugada. Isso é coisa para demorar e eu gostava de chegar a casa ainda com o sol a fazer oó. Se der para esperar até amanhã de manha, por volta do meio dia, vá, ainda posso dar uma ajudinha, agora, assim, de repente, a esta hora, perdoem-me o egoísmo, mas não vai dar. Who's gonna bring you back to life? perguntam, de seguida. Mais uma vez, finjo que não é comigo. Já não tenho energia para fazer manobras de reanimação seja a quem for. Ninguém lhe mandou ter um ataque cardíaco às duas da manhã. Provavelmente foi de misturar álcool com drogas. Fazer massagem cardíaca cansa os braços e amanhã tenho de aspirar a casa e lavar a loiça. Não me levem a mal, mas peçam antes a outra pessoa.

Inevitavelmente, ouvimos a SIA a cantar It's friday night and I won't be long... Pois, enganaram-me bem. Era para se ir só jantar e beber um copo e são três da manhã e eu aqui. É sempre a mesma coisa. Depois de o Sean Paul dizer palavras aleatórias que foram escritas com colheradas de uma sopa de letras, a SIA continua com Baby I don't need dollar bills. To have fun tonight. Não, que ideia! Só se forem as mulheres que entram à borla e ainda lhes pagam copos, ou quando era puto e eram os papás a pagar e um gajo ficava bêbedo só com duas cervejas. Agora, ponho-me a fazer as contas: ora bem, 20€ o táxi, mais 15€ o jantar, mais 12€ para entrar na discoteca, mais as cervejas e os gins que bebi no bar… na próxima semana como atum com massa para compensar. Ainda com a SIA: tem uma música em que se gaba, à boca cheia, só para me fazer sentir mal:  Uh-oh, running now, I close my eyes / Well, oh, I got stamina. Estamina com 32 anos? Não tenho, já. Correr? Nem durante o dia, quanto mais correr a esta hora. Nem vou até à praça de táxi, chamo o Uber que ele vem cá ter à porta e ainda me leva ao colo até à cama e me dá uma goma.

Quando o Justin Bieber pergunta Is it too late to say I'm sorry now? respondo logo que sim. É tarde para fazer seja o que for que não seja ir para casa beber um chá quentinho e dormir. A esta hora não vale a pena andar a pedir desculpa e a resolver problemas. Mais vale dormir sobre o assunto e amanhã de manhã, de cabeça fria, perceber se realmente queremos pedir desculpa ou se a culpa é da outra pessoa. A esta hora uma pessoa não deve tomar decisões importantes de vida.

Quando o Enrique Iglesias canta Bailamos hasta las diez / Hasta que duelan los pies. O caralhinho, Enrique, sim? Até às dez? Estás parvo, não? São duas e já me doem os pés, não é preciso esperar até às dez. Bem basta o caminho que ainda vou fazer a pé porque não vou encontrar lugar para o carro à porta de casa. Vou ter de andar uns 500 metros, Enrique. Está bom, já chega. Foi giro e se ficar mais tempo estraga. Com todo este cansaço claro que quando oiço um dos milhares de covers e remixes do «Sweet Dreams» só penso no quão bom seria estar na cama a sonhar que estou numa cama a dormir. Acontece o mesmo quando passa a música do Major Lazer onde refere que All we need is somebody to lean on. Verdade, nesta altura já me encosto a qualquer pessoa ou a qualquer canto para dormir. Não fosse isto tudo já suficiente para me deprimir, lá tem de vir a Rihanna com o seu Work, work, work, work lembrar-me que na segunda-feira vou ter de trabalhar. Obrigadinho, Rihanna, estou aqui a tentar aproveitar o meu fim de semana e tu com essas merdas.

Outra música que não me faz sentido naquela situação é a «The Nights» dos Avicii: So live a life you will remember / My father told me when I was just a child. Tenho a certeza que não era isso que o teu pai queria dizer. Tenho a certeza que estar acordado até esta hora a dançar feito pinguim de copo na mão e cigarro na outra não é propriamente uma vida que eu queira recordar, até porque se continuar a beber assim amanhã não me vou lembrar do que fiz e quando chegar a velho nem saberei o próprio nome. Prossegue com um These are the nights that never die. Era o que faltava esta noite nunca morrer. Para mim já morreu. Há vinte minutos que estou a dizer isso ao pessoal, a ver se vamos embora. Agora é ir comer um caldo verde e um pão com chouriço, xixi e cama. O mesmo artista ainda tem a lata de dizer, noutra música, So wake me up when it's all over / When I'm wiser and I'm older. Deixa-me dormir! Não me acordes que se eu quiser acordar faço-o sozinho. Amanhã é Domingo e se vou desligar o despertador não é para me vires acordar, se faz favor, mesmo estando já velho e sábio. Mais velho do que sábio, mas, ainda assim, deixa-me dormir até acordar e me arrepender de ter dormido tanto.

Um artista perito em fazer-me sentir velho é o David Guetta que, armado ao pingarelho, diz Work hard, play hard, work hard, play hard. Vê-se mesmo que nunca trabalhou a sério na vida. Isso de meter pens no computador e carregar no play e andar com os auscultadores a mandar pausa não é bem um trabalho. É por ter trabalhado no duro, durante a semana toda, que estou incapaz de play hard. Play razoavelmente? Sim. Play moderadamente até a uma hora decente? Tudo bem. Agora play hard é para quem andou a molengar a semana toda. O fim de semana com trinta é para descansar! Brincar só se for às empregadas domésticas. O David, mais uma vez com a mania que é jovem, diz noutra música You shoot me down but I won't fall / I am titanium e faz-me logo lembrar que não devia ter bebido aquele shot de absinto. O tempo em que o meu fígado era de titânio já lá vai. Agora é feito de iscas em vinha de alho.

Depois, vem a Icona Pop cantar I crashed my car into the bridge. / I don't care / I love it. Deve ser porque é o paizinho que paga o arranjo. Eu importava-me só de pensar que não tenho seguro contra todos os riscos! Mesmo que tivesse, o prémio iria aumentar uma brutalidade! Está bem que o meu Clio de 2002 está velho, mas daí a não me importar de o mandar para a sucata vai uma distância maior do que os 250 mil km que ele já fez. Esta gente não tem noção do que custa a vida. Desculpa lá Icona, mas se espetas o carro contra uma ponte (que nem sei bem como é que isso é possível) e, para além de não te importares, ainda "amas" fazer isso, então és uma mimada de merda.

I’m sexy and I know it, dizem os LMFAO. Nem por isso. Já tive melhores dias. Já fiz mais desporto. Já tive mais cabelo. Talvez esteja com um charme da idade, mas mais sexy não estou e recuso-me a cantar isso. Não há nada mais triste do que ver um gajo de trinta e tal ou quarenta anos, no meio de gente com metade da idade dele, a afirmar que é sexy e que sabe isso. Só ele é que sabe isso.

Clean Bandit diz no refrão de uma das suas músicas There's no place I'd rather be. Sem ter de pensar muito lembro-me de alguns locais onde preferia estar: na cama, no sofá, numa cadeira de pau com uma manta, no chão com um amontoado de roupa suja a fazer de almofada, etc. Para piorar isto aparecem o Deorro com Chris Brown a dizer-me que This right here is my type of party / 5 more hours, we're just getting started. Primeiro, este já não é o meu tipo de festa, se é que alguma vez foi. E só estamos a começar? Mais cinco horas? Mas está tudo doido?! São duas da manhã, pá. Achas que vou ficar aqui até às sete? Esta merda não fechava às seis? Tem juízo Chris Brown, se calhar é por dormires pouco e beberes demasiado que depois bates em mulheres.

E quando o DJ Snake na sua música «The Half» diz It's a Friday, I'm 'bout to go off? Sair à sexta-feira? Impossível. Sexta-feira é o dia da semana em que me sinto mais velho e cansado. Depois dizem See the hoes (...) e só penso que isso não é uma forma correcta de tratar as mulheres. Aliás, sinto-me velho quando vejo que o meu pensamento a olhar para raparigas de 18 anos seminuas, a dançar como quem está a fazer amor com o ar, passou de «Olha aquela gaja boa toda safadona a dançar como quem quer peso!» para «Mas os pais sabem que ela sai assim vestida à noite?».

Por fim, é na altura que aparece aquele Pedro que é patrocinado por um modelo da Citroen e canta Não, nós vamos ficar por aqui / A nossa história chegou ao fim que uma letra faz sentido. Acato o que ele diz e decido que a noite chegou ao fim. Uma coisa é estar num sítio a dançar ao som de músicas que me fazem sentir velho, outra é dançar ao som de quizomba.
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