27 de agosto de 2018

Tipos de pessoa nas piscinas dos hotéis



Quem não é rico tem de dividir a piscina com outras pessoas, nomeadamente em hotéis. Com quantas pessoas? Com muitas. Com tantas que a densidade populacional na piscina se assemelha à concentração de lojas de telemóveis no centro comercial Babilónia, na Amadora. 

O maior mal das piscinas são as crianças; as crianças são o melhor do mundo excepto nas piscinas dos hotéis e até os próprios pais gostariam de não as ter lá, perguntando-se, naqueles momentos, por que razão não optaram pelo coito interrompido. São manadas de pessoas pequeninas a correr de um lado para o outro aos guinchos e a chapinhar na água como se não tomassem banho em casa. Ao contrário do que vemos na praia, na piscina os pais estão mais tranquilos porque não há ondas ou correntes que os levem e, então, descansam e deixam-nos fazer o que querem. O Martim está a fazer bombas com mortal encarpado para cima dos vizinhos do lado? Deixa-o estar que é criança e as pessoas compreendem, deixa-me fingir que estou a dormir. A Benedita está a guinchar como se fosse um porco na matança porque o Bernardo lhe roubou os óculos da natação? É preciso deixar as crianças resolverem os conflitos por elas sem a interferência dos pais. E com isto, multiplicado por várias famílias, a piscina do hotel transforma-se numa festa de aniversário infantil para a qual fomos convidados, mas preferíamos não ir.

Normalmente, existe a piscina das crianças e a dos adultos, mas as crianças têm pressa em crescer e decidem ir para a segunda, munidas das suas braçadeiras com as quais dão duas braçadas à cão e os pais aplaudem como se fossem um mini Michael Phelps. É uma pena as piscinas dos hotéis não terem o mesmo serviço de manutenção que o Aquaparque. 

À partida, poderíamos pensar que as crianças não ocupam muito espaço e que, por isso, não incomodam, mas, normalmente, as famílias com crianças vêm equipadas para a piscina do hotel como se fossem para um parque aquático. Trazem pranchas, colchões, unicórnios e flamingos insufláveis; trazem bisnagas, bóias, barbatanas e óculos. Uma família de quatro passa logo a ocupar espaço para vinte. Se houver jacuzzi, mas vale esquecermos que existe. Será ocupado por crianças o dia todo, mesmo que diga para que ninguém use por mais de dez minutos para dar lugar aos outros. As crianças são um bicho anarquista que não respeita as regras. Nem vou falar do facto de a maioria fazer xixi na piscina, porque prefiro não pensar nisso já que tenho um ouvido entupido e preferia que fosse com água do que com urina de criança. Aliás, estou com o ouvido entupido há três dias e é chato, não vou dizer que não, mas, por outro lado, não oiço tanto os gritos das crianças na piscina. Deus tira de um lado, mas dá do outro.

Quando conhecerem alguém que vos diga que gosta de piscinas cheias de crianças aos saltos e aos gritos, já podem dizer que, muito provavelmente, conheceram um pedófilo. 

Vi um pai que não deixava o filho ir à água durante a digestão, mesmo com a criança a pedir de cinco em cinco minutos enquanto fazia birra; o mesmo pai que estava sempre a chamar o filho para meter creme, avisando-o que o sol estava muito forte e fazia mal; o mesmo pai que estava a usar uma tanga zebra. Foda-se. Uma coisa é o filho ter melanoma ou morrer de congestão, outra é ter traumas com o pai vestido de zebra que fugiu do Badoca Park e foi para o Zoomarine.

Só toleramos crianças mal comportadas porque são crianças e, se tudo correr bem, vão crescer e ser melhores pessoas. O problema é que a maioria das crianças resulta em adultos mal comportados. Desde logo, os que decidem deixar a toalha nas espreguiçadeiras, na noite anterior, pensando que isso lhes reserva o lugar. Ora bem, este tipo de gente é o que se designa em termos técnicos: otários. Acham que são mais espertos do que os outros; é o mesmo tipo de gente que passa à frente nas filas e que estaciona no lugar dos deficientes sem o ser, criando assim o paradoxo da deficiência, pois ao fazê-lo passam a ser deficientes mentais. Não, meus amigos, deixar a toalha na cadeira no dia antes, ou de manhã, não vos confere o estatuto de usucapião das espreguiçadeiras. Se eu tivesse um hotel, tinha uma pessoa cujo único trabalho era recolher estas toalhas, encharcá-las em gasolina, atirá-las à cara do dono e depois mandar um fósforo para os ver feitos atrasados mentais flambé a correr para a piscina que eles tanto gostam. 

Outra espécie autóctone às piscinas do hotel é o DJ Sunga. O DJ Sunga, como o nome indica, usa sunga e transporta consigo uma coluna portátil para dar música a toda a gente. Acha que o seu gosto musical é tão bom que é impossível alguém sentir-se incomodado com a batida de carrinho de choque que emana por baixo da sua espreguiçadeira. Se o ser humano não tivesse inventado auscultadores e estivesse um silêncio desconfortável, ainda percebia, mas com essa invenção e juntando o facto de o bar da piscina ter colunas que já estão a passar música, parece-me disparate. Em algumas zonas da piscina as duas músicas fundem-se, numa espécie de remix, cortesia do DJ Sunga. O DJ Sunga tem, claro, tatuagens tribais cujo significado profundo é o facto de marcarem um dia especial da sua vida: o dia em que ele conseguiu juntar dinheiro para as fazer.

Sabem qual é a parte boa das tatuagens tribais? O facto de já não estarem na moda. Sabem qual é a parte má? É que como são tatuagens continuam lá.

Depois temos as meninas das selfies. Dez da manhã e lá estão elas à beira da piscina, maquilhadas e com brincos, a fazer todo o tipo de poses para a câmara. A menina da selfie só vai à piscina para trabalhar para o bronze; parece uma flor e essa flor é o girassol que vai rodando a espreguiçadeira, consoante o ângulo do sol, para que o bronzeado fique perfeito. Dez minutos de um lado e vira o frango para tostar do lado contrário. Os homens só querem bronzear à frente, para um homem heterossexual, estar bronzeado nas costas não tem qualquer utilidade estética ou prática.

Por fim, há sempre um gajo sozinho, que pouco mais faz do que dar um mergulho e voltar para a toalha. É a única pessoa sozinha no hotel e está sempre a olhar com um ar psicopata para toda a gente, a observá-las como se estivesse a tramar alguma. Senta-se na espreguiçadeira com um bloco de notas e vai apontando o que vê para mais tarde publicar um texto no seu blog. Enfim, só malucos. 




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