5 de fevereiro de 2015

Comida gourmet é disparate



Este texto é o 200º texto deste blogue e como tal, decidi trazer-vos um dos assuntos mais fracturantes da nossa sociedade, que é a moda (ou flagelo), já instalada há alguns anos, da comida gourmetQuando se fala num prato gourmet o que vos vem à memória? Um prato grande e quadrado, com um pedaço de comida cujo tamanho faz lembrar os tempos da outra senhora e claro, uma folha de rúcula.

Um mini prato com nome francês e um pénis desenhado na borda com vinagre balsâmico, que custa 9€ não é gourmet meus amigos, é um roubo.

Primeiro que tudo, gosto de ir a restaurantes em que eu possa fazer o pedido sem medo de passar vergonha por não saber dizer o nome correctamente. É um princípio que eu tenho, não comer nada que eu não saiba pronunciar o nome. Aplico essa regra também a mulheres, excepto quando vêm excepcionalmente bem temperadas. Quando não se sabe os nomes temos que fazer aquela técnica de fechar a ementa, para eles verem que já escolhemos, mas deixando o dedo a marcar a página, para quando o empregado chegar a voltarmos a abrir e dizer, "Era um destes...", enquanto apontamos com o dedo e lhe chegamos o menu ao nível dos olhos. Depois claro, acabámos de pedir um "Vol-au-vent com recheio de fricassê de frango", entusiasmados qual criança a abrir um ovo kinder, ansiosos pela surpresa e o que vem para a mesa? Uma empada de galinha...! Une putain de uma empada de galinha de merde.

É a moda do hambúrguer gourmet, prego gourmet e embora não tenha pesquisado, quase que aposto que já deve haver por aí a feijoada à transmontana gourmet. Já foram a Trás-os-Montes? Há alguma coisa de gourmet naquilo? Uma posta mirandesa é tudo menos gourmet e ainda bem. É comida de homem rude do campo e não de mariquinhas da cidade, que quando é para comer à mesa é aos bocadinhos e com delicadeza, mas quando é para comer na cama já comem um rolo de carne sem tempero e quanto maior melhor. Eu tentei controlar-me para não fazer nenhum paralelismo entre comida gourmet e homossexualidade mas não consegui. Fui fraco e peço desculpa por isso, mas no meu tempo os chefs de cozinha eram balofos, tinham o cabelo seboso e cheiravam a refogado, hoje em dia estão mais preocupados em ser o Gustavo Santos do empratamento do que em fazer boa comida. Desde quando é que é normal haver pratos com com espuma? Ele é espuma de cerveja, espuma de chocolate, espuma de sementes de sésamo da Polinésia. 

Tenham juízo, espuma no meu tempo era de limão, mas era dos restos do Super Pop, por não terem enxaguado bem o prato.

Os restaurantes ditos gourmets multiplicam-se em cada esquina, quais cogumelos recheados com queijo roquefort. A maioria deles são maus e caros, mas o pior de tudo é que estão a ameaçar a sobrevivência da espécie típica portuguesa que é a tasca. Sim, há tascas gourmets, mas isso era o mesmo que haver prostitutas de luxo à beira da estrada. Não faz sentido. Onde está o chão a colar, que se levamos uns ténis um número acima, corremos o risco de ficarmos sem eles, quais cinderelas badalhocas? Onde está o dono da tasca, que nos trata por "meu cabrão", enquanto coça a genitália e em seguida lambe o dedo para virar a folha do bloco de notas onde vai apontar o nosso pedido? Onde está o jarro de vinho, já lascado em sete sítios e cujo conteúdo se assemelha a vinagre para temperar a salada? Onde estão os empregados que chegam ao pé de nós e perguntam "Então, estava tudo bom ou quê, caralho?!", enquanto trazem a panela e nos despejam para o prato mais "um bocadinho", que muitas vezes é mais que a dose inicial? Onde estão as contas feitas de cabeça que vão sempre dar um número abaixo do que esperávamos? Onde é que agora se pode sair cheio, satisfeito, bêbedo e a cheirar a fritos, tudo por menos de 7€? Em quase lado nenhum, pelo menos em Lisboa. Não me interpretem mal, há restaurantes gourmets bons, em que o rácio qualidade-preço é aceitável, são é raros e eu prefiro uma boa tasca genuína do que um desses estabelecimentos snobs. Se calhar é porque não tenho dinheiro para andar a comer fora em restaurantes caros. Se calhar é isso.

Este texto hoje foi curto e com pouca qualidade, mas foi de propósito para ser gourmet. A diferença é que não vos cobrei dinheiro por isso. Vá agora, dêem-me os parabéns por este texto assinalar as duas centenas de parvoíces que eu já aqui escrevi e não se fala mais nisso.




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