13 de maio de 2017

Salvador Sobral, aqui só para ti



A vida dá voltas... se eu alguma vez pensei ver o festival da Eurovisão inteiro em idade adulta. Já agora, só para ter a certeza: o pessoal que disse mal do Salvador Sobral e torceu para que ele não ganhasse é o mesmo que fica triste quando o Ronaldo ganha uma bola de ouro, não é?

«Agora sou obrigado a gostar?», perguntam alguns. Claro que não, mas só podemos apoiar o que adoramos? Não gostar é normal, agora torcer para que ele não ganhe é só ressabiamento de quem nunca viu o seu trabalho reconhecido nem alguém a dizer «Epá, aquele gajo serve mesmo bem cafés.» ou «Sim senhora, serviu-me as melhores batatas fritas de sempre aqui no McDonald's.». Isto tudo não quer dizer que não se possa fazer piadas com ele, claro que sim. Ele canta com uma cara de cão a implorar por biscoitos e depois faz aqueles movimentos a fugir como quando dou limão à minha cadela só para ela aprender a não vir pedir comida enquanto eu estou a comer. Tem aquele casaco de quem vai a uma festa de anos e quer trazer sandes mistas, mini pasteis de nata e pacotes de Bongo escondidos. Agora dizer que ele parece que se drogou? Ridículo!

Ele não precisa de se drogar quando claramente caiu no caldeirão de LSD quando era pequeno e ficou uma espécie de Obélix da drogaria.

Uma coisa é certa, foi a minha música preferida da Eurovisão. A da Bélgica também não era má, apesar de ela cantar de como se estivesse a explicar aos pais porque é que bateu com o carro. A grega e a francesa também eram, menos a parte da música. Todas as outras "músicas" eram merda embora saiba que em inglês soa melhor, mas se formos a traduzir são líricas menos capazes do que muitos poemas de porta de WC público. Depois, o Salvador tem outra coisa que me agrada bastante: está-se a cagar. Se calhar é a doença de que tanto se fala que lhe dá essa atitude do «Vou é aproveitar porque esta merda acaba rápido.». Nem que seja só isso, devíamos aprender com ele. Merece todo o respeito especialmente dos sportinguistas e portistas por nos distrair neste dia triste. Até da França ele recebeu 12 pontos.

Vivemos num país onde se celebra a mediocridade. Onde gente sem talento é famosa. Onde gente que não trabalha ganha milhões. Não é só em Portugal, é um pouco por todo o mundo, embora me pareça que na Etiópia haja menos modelos de Instagram e menos cantores famosos que não acertam uma nota. Por cá, são mais os que conhecem Maria Leal do que o Manel Cruz. São mais os que se lembram do «Deixei tudo por ela» do Zé Cabra, do que do «FMI» do José Mário Branco. São mais os que partilham textos lamechas e básicos do que os que já leram alguma coisa do Fernando Pessoa fora das aulas de português. Sempre foi assim e por algum motivo se acha que ser comercial ou mainstream é mau: é porque, por norma, a qualidade não agrada às massas pois apenas num mundo onde a mediocridade não é celebrada, e onde a maioria das pessoas tem bom gosto, ninguém seria malvisto por agradar às massas.

Portugal sempre teve um problema de autoestima. A coisa está a mudar e aquele golo do Éder teve muito a ver com isso. Não sou fanático por futebol, mas percebo a importância que tem e sem dúvida que ganhar aquele Europeu teve o condão de nos fazer crer que podemos ganhar mais coisas. Claro que só acreditámos na vitória do Salvador porque os estrangeiros gostavam da música e disseram que Portugal era um dos favoritos. O que não deixa de ser triste que só nos unamos quando há hipótese de ganharmos. Estivesse o Salvador em 15º lugar nas casas de apostas e a história seria diferente. Mesmo com isto tudo, o Salvador é uma lufada de ar fresco para Portugal. É um aumento peniano do ego lusitano. Mostra que música feita em português pode conquistar o mundo. A música é genial? Não. O arranjo musical é muito bom, a letra também é boa, mas tem apenas três estrofes. Escrever três estrofes boas é relativamente fácil, fazer o que faz o Sam The Kid que é contar histórias com várias estrofes, métricas maradas e versos silábicos é muito mais difícil. No entanto, para que é que uma música escrita em português que concorre a um festival internacional iria ter mais estrofes se ninguém percebe nada? O essencial era passar a emoção e tal como o fado emociona pessoas pelo mundo fora que não percebem uma palavra de português, também o Salvador conseguiu. Marcou pela diferença, mas também pela qualidade. Ser diferente e único nem sempre é bom. Também tinha um colega na primária que era diferente e único e não era por aí que era especial ou alguém queria brincar com ele.

Bem sei que se o Salvador tivesse subido ao palco da Eurovisão com dez bailarinas seminuas, um coro de dez pessoas a disfarçar os desafinanços e uma batida de carrinhos de choque a coisa teria sido mais divertida. Isso e se ele tivesse abdominais definidos e fizesse questão de os mostrar. O Salvador é a prova de que não é preciso um gajo vestir-se de mulher barbuda nem ter uma trança de fazer inveja a qualquer cigana, para se ter atenção e se ganhar um concurso que durante alguns anos chegou a ser mesmo de música.

Levar a música do Salvador a um festival da eurovisão foi o mesmo que levar chouriço assado a uma reunião de vegans.

Não faz sentido e é desperdiçar enchido, mas o aroma estranho a entranhas de cadáver fumado vai-se entranhando e acabam por cair na tentação de o comer. Calma, vegans, a metáfora podia ser ao contrário e dizer que seria o mesmo que levar soja e seitan para um churrasco, com a diferença que ninguém ia querer comer da vossa comida que nunca sofreu para morrer. Não estou a dizer quem está certo, só estou a dizer a verdade.

Por isso, parabéns ao Salvador e à irmã do nariz entupido. Ah, parabéns ao Benfica que é tetracampeão. Para o ano é do Sporting. Estou a gozar, provavelmente não é.




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