30 de janeiro de 2014

Praxar é ridículo, e isso é bom



Bem, toda a gente fala de praxes hoje em dia e eu não gosto de ficar atrás, ainda para mais quando vejo tanta idiotice a ser dita e escrita, principalmente nos comentários de notícias. Já tinha falado um pouco deste assunto quando escrevi sobre o caso Lusófona, mas ainda tenho mais coisas para dizer, por isso venham daí comigo.

A praxe é como tudo, quando há idiotas a geri-la torna-se uma parvoíce. Se por outro lado forem pessoas com bom senso, torna-se gira, o que acredito ser a maioria dos casos. As praxes abusivas são como o Bullying. Não é culpa só do Bully, porque atrasados mentais vão sempre existir. É culpa de quem vê e assobia para o lado. Se numa praxe abusiva os outros baterem o pé por verem o colega a passar mal, acabam-se logo os abusos, garanto-vos.

Eu fui praxado, 1 semana, todos os dias. Foram actividades engraçadas, jogos divertidos, nenhuma humilhação, e serviu de facto para integrar o pessoal, que sendo de informática é na sua maioria coninhas e virado para si próprio. Gostei, foi giro, não foi essencial mas foi giro. Fiz o que quis, das vezes que achei que estavam a passar das marcas disse "Não obrigado, vai tu" e eles foram ter com outro caloiro mais disponível para a palhaçada. 

Nunca praxei ninguém porque nunca entram gajas boas no meu curso, e não me apetecia passar as minhas tardes entre 200 homens. Mas isto sou eu.

Eu sei que em alguns casos há coação, há instigação ao medo e que nem todas as pessoas foram ensinadas a dizer não a figuras autoritárias, aliás é por isso que as coisas estão como estão em tantas outras áreas. É por isso que há polícia abusiva, governos humilhadores, pais autoritários, igrejas castradoras e patrões exploradores. É porque não dizemos não vezes suficientes. Aqui é igual. Se o não basta para impedir abusos, e ele não é dito quando é preciso, então o problema não são as praxes, são outros, muito mais profundos que um ritual que na sua maioria é benigno. Se vier um filho da puta a dizer "Ahh agora vais-te atirar ali da ponte porque eu é que mando", vocês só têm que dizer. "E ires para o caralho, parece-te bem?". Ou um mais educado "Não obrigado" também serve, mas sou mais pelo aparato.

Dizem que os gajos à frente da praxe são uns "burros e estúpidos" que andam lá há não sei quanto tempo sem fazer nada, com muitas matrículas e que não têm valor para liderar seja o que for. Diz isto normalmente quem até já elegeu primeiros ministros com licenciaturas duvidosas... Não sou de julgar as pessoas pelo número de matrículas porque isso levar-me-ia a partir do principio que então quem tem curso superior é mais inteligente e tem mais valor do que quem não tem. E como vejo à minha volta tantas provas do contrário não consigo fazer esse juízo de valores.

Acho que quem chega a uma faculdade, não conhece ninguém, e se rejeita a ir às praxes sem experimentar é um coninhas. Eu sou um gajo tímido e fui. E fez-me bem. Faz bem rirmo-nos de nós próprios, expormo-nos ao ridículo de vez em quando. Por isso é que digo que praxar é ridículo e ainda bem. É bom fazer coisas ridículas de vez em quando, principalmente quando se tem 18 anos e não parece mal. Faz crescer o carácter e no processo ainda se conhecem umas gajas boas. Não no meu caso porque era tudo uma cambada de nerds com a ocasional gaja de bigode descolorado. Mas ouvi dizer que noutros cursos a há disso. Utopia para nós gajos de informática.

Portanto a proibição parece-me ridícula, porque se vamos proibir tudo porque de vez em quando acontece um acidente por causa de uns anormais que não sabem avaliar o risco, vamos ter que proibir muita coisa, e a vida vai ficar mais aborrecida. Deixem-se de histerias, morreu gente, sim, faz parte. Aposto que durante muito tempo ninguém vai para a praia do Meco à noite em alerta vermelho. A morte deles salvou outras.  

Não eram caloiros, estavam lá porque queriam, correu mal. A culpa não é das praxes, a culpa não é de ninguém, azares acontecem.

Vão às praxes, experimentem, curtam os melhores anos das vossas vidas mas se vos disserem para fazer alguma coisa que não querem, digam que não. Se vos forçarem a alguma coisa, decorem bem a cara do gajo e um dia mais tarde acertam-lhe o passo. A violência não resolve nada mas ajuda. Mas também não se armem em coninhas e digam que não a tudo, porque ai dão razões ao praxante para vos dar com uma colher de pau nos nós dos dedos.




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