4 de agosto de 2014

Pessoas que têm nojo de cenas invisíveis



O meu irmão quando era mais novo lavava as mãos depois de tocar em qualquer lado e andava a cheirar os dedos de 5 em 5 minutos num ritual que era mais nojento do que o nojo que ele tinha dos germes. Depois passou-lhe e hoje em dia é, aparentemente, uma pessoa normal. Mas há quem viva com essa mania, uns casos mais graves que outros. Há pancadas para tudo e algumas, como esta, não consigo perceber. Ainda por cima este cuidado com os germes tem o efeito contrário. Quando menos exposição a eles, com menos defesas ficamos, portanto é uma pancada que para além dos males que pode causar à vida pessoal acaba por poder afectar realmente a saúde. A ironia é uma badalhoca do caraças. 

Uma vez estava na fila do supermercado e o senhor que estava à minha frente virou-se para mim num tom altamente agressivo: "Já é a segunda vez que me respira para cima, que falta de educação!". Só me apeteceu dar-lhe um par de estalos mas como ainda só tinha 15 anos e era um xoninhas, pedi desculpa. Mas no fundo compreendo, ele tinha menos 20cm que eu e era careca, deve ter sentido bem o vento na moleirinha. Fora a forma como falou talvez tenha tido razão, eu também não gosto que me respirem para cima, ou que pessoas sebosas me toquem e eu tinha vindo da praia e estava realmente um bocado sarrabeco.

O medo obsessivo-compulsivo dos germes é uma doença psicológica grave, chama-se misofobia é uma forma de alucinação e distorção da realidade. Imagino que vejam gafanhotos gigantes e santolas de língua de fora em qualquer local passível de haver germes. Pessoas que abrem a porta com os cotovelos? Era uma cotovelada na nuca para deixarem de ser parvos. Quando funcionar tudo com impressão digital como é que eles fazem? Abrem uma porta e toca a esfregar o dedo?

E se uma pessoa com misofobia só arranjar um trabalho que envolva merda? Desentupir sanitas, estrumar terra, ou trabalhar na Assembleia da República?

Como é que mexem no dinheiro? Dinheiro deve ser a coisa mais nojenta que existe se formos a pensar bem nisso. Aquelas notas e moedas que temos na carteira, provavelmente já passaram pelas mãos de uma prostituta de rua suada, que acabou de receber o pagamento por um serviço e guardou as notas no meio do decote, possivelmente sujo de girinos. Nojo. E se quem sofre desta doença (pancada) ficar temporariamente cego e alguém os tiver que levar por uma mão? Estou bem tramados... aliás em qualquer cenário de guerra e apocalíptico esta gente é a primeira a ser morta porque ninguém está para os ouvir com as preocupações de higiene desnecessárias.

E agora o mais importante: como é que esta gente se governa na vida íntima? Haverá chavascal do bom, ou é tudo a meter nojo e com o menos contacto possível? Calculo que sejam os maiores compradores de toalhitas e sprays desinfectantes. O pior é que estes últimos devem arder. Quem tem esta pancada, a namorada ou namorado estão tramados, devem ter a genitália mais gasta que a de uma actriz porno em fim de carreira, de tanta vez que têm que ir lavar as vergonhas com água rás para matar a bicharada. Não sei porquê, mas imagino este pessoal como sendo sempre da zona de Cascaias: "Ó crido, vá lá lavar o Bernardinho com água de rosas importada da Polinésia, se não não entra aqui na vagina. E com as mãos e boca já sabe que é nojento isso, só com luvas de cirurgião e a bochechar elixir bocal entre cada basculação".

Por fim temos os campeões do mete nojo que são os asiáticos de máscara. Só dá vontade de lhes ir levantar aquilo e tossir-lhes na cara. 

Mas aquelas tosses puxadas cá do fundo da alma que se ouve o ronco do motor e quase que sai sangue. Na altura da gripe A e tal, com o pânico todo que havia ainda compreendo, ou nas cidades da China em que o ar é irrespirável também. Agora nos aeroportos e a passear por cidades da Europa? Um par de estalos.

Há ainda aquele pessoal que não tendo misofobia, faz aquele ritual de estofar o tampo da sanita com papel higiénico. Esse ritual também é bastante parvo, já que é sabido que em termos de servir como barreira aos germes não serve para nada, só mesmo como barreira psicológica. Eu nunca me preocupo com isso, sou um javardão, se parece limpo, passa-se papel para confirmar e toca a sentar meus delicados glúteos. O pior é quando o tampo ainda está morninho e se dá uma verdadeira dicotomia de sentimentos: por um lado sabe bem não ter que sentir o frio nas nalgas, especialmente no Inverno, mas por outro é um bocadinho nojento.




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