13 de novembro de 2015

Escondam as ganzas e as criancinhas



Então diz que o Governo foi com o caralhinho? Está giro, sim senhor. Eu tenho andado demasiado ocupado com toda a azáfama do livro que acabo de lançar e só agora é que me consegui debruçar sobre o assunto. Debruçar não foi um verbo escolhido ao acaso, já que é nessa posição que os nossos políticos nos gostam de ver, e, ao que parece, nós também. 
Quando a PàF "ganhou" as eleições, não vi ninguém no meu mural de Facebook a celebrar. Achei estranho porque nem eu sei escolher assim tão bem os meus amigos. Agora, depois do Governo ter caído, o meu mural parece o mural das lamentações do pessoal com três nomes e cabelinho à foda-se. Uma pieguice capaz de envergonhar o seu maior ídolo.

Devem estar a pensar que eu gosto do Costa e que acho que o governo PS viabilizado pelos restantes partidos de esquerda vai ser impecável. Mentira. Não gosto do Costa e não acredito que alguém que queira mesmo fazer o bem do país faça carreira como político, seja no PS ou PSD. Não votei BE nem PCP nem me revejo na grande maioria dos seus ideais. Mas, se tiver de pesar os prós e contras, acho que um governo de esquerda será o menos mau. Só tenho pena do BE e do PCP limparem as mãos das responsabilidades e não integrarem também o Governo. Acho que a Catarina Martins e o Jerónimo deviam ser ministros de qualquer coisa só para verem se isto da política é mesmo para eles ou se fazer é mais difícil do que falar. Acho que lhes fazia bem essa oportunidade de coaching. 


No meio disto tudo, a única esquerda que me preocupa a sério é a da Selecção Nacional. Antes Jerónimo do que Eliseu.

Por mim já valeu a pena só de ver a cara do Passos após a moção de rejeição ter sido aprovada. Foi aquela cara de anticlímax de quem foi deixado a meio de um felácio. Uma sensação nova para o Portas, pelo menos do ponto de vista de quem recebe. Se repararem bem, a sigla PàF é muito parecida com APAF, Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol. Faz sentido, já que todos sabemos que há muitas coisas que unem políticos e árbitros. A diferença é que os políticos têm vouchers para jantares de luxo ilimitados e todos pagos por nós.

Cavaco Silva tem agora um dilema em mãos: indigita Costa para primeiro-ministro para governar com o apoio do BE e do PCP ou nomeia um governo de gestão até novas eleições. Pode também decidir formar governo de iniciativa própria e meter a Ana Malhoa como Primeira Ministra Turbinada. No fundo, ele pode fazer o que lhe apetecer. Vou fazer de analista político daqueles que sabem tudo no fim dos telejornais, mas que fazer alguma coisa, está quieto ó pessoa cujos antepassados recentes vieram de África! É nisto que Cavaco está a pensar enquanto degusta um belo de um bolo rei, cujo brinde é uma pastilha de Rennie:
  1. Nomeia governo de gestão e incendeia a esquerda, o que fará com que nas próximas eleições o PS ganhe por maioria absoluta, nem que tenha de se coligar antes da ida às urnas.
  2. Nomeia Costa e aqui há duas hipóteses:
    1. A coisa corre mal e temos eleições daqui a um ano, o que garantirá maioria absoluta ao PàF nas próximas eleições;
    2. A coisa corre bem, Portugal melhora incrivelmente e Costa fica na história como o melhor primeiro-ministro de sempre e a direita nunca mais cheira nada nas eleições das próximas décadas.
No fundo, se Cavaco indigitar o Costa, não será por respeito à democracia mas sim porque não confia que aquilo vá dar em alguma coisa e assim assegura o futuro do seu partido. Caso haja governo formado pelo segundo partido mais votado, não é algo assim tão fora do comum: na Bélgica, o atual primeiro-ministro é do quinto partido mais votado nas últimas eleições. Não sei qual é o estado atual da Bélgica, mas não me parece que esteja pior do que nós. Curiosamente na Noruega e na Dinamarca, esses países em crise, o caso é parecido. Uns para a direita, outros para a esquerda. A meu ver, quantos mais partidos estiverem a formar governo, melhor. Mais a vontade do povo está reflectida na Assembleia. Podemos discutir se a vontade do povo é a melhor mas isso são outros quinhentos ou seja lá qual for o valor do ordenado mínimo.

Passos Coelho diz que quer uma revisão constitucional para permitir novas eleições. O nosso Pedro sempre teve um problema com a constituição. Eu, uma vez, também fui votado delegado de turma no 5º ano e não queria nada. No entanto, usei o meu poder como delegado de turma para convencer o professor a fazer uma nova votação. Votaram em mim outra vez. É o que dá ser o único branco da turma, os miúdos são preconceituosos e partiram do princípio que eu era um gajo responsável só pela cor da minha pele. Incrível a discriminação e racismo que ainda existe em Portugal.

Voltando ao tema, uma coisa temos a certeza: Passos e Portas são uns monos que para ali andam. Não percebemos ainda que a austeridade não é o caminho? Acreditam mesmo que Portugal está melhor do que há quatro anos? Já nos habituamos é a ser encavados e dói-nos menos agora do que quando nos enfiaram um dildo Rambo XXL pelo nalguedo acima sem pedir licença nem ter a cortesia de colocar uma vaselina, no início, e um Halibut, no fim. Aumentaram as exportações? Uau. Fixe. 

Eu também consegui vender um ralador velho no eBay a um gajo do Congo e não é por aí que a minha riqueza aumentou.

O desemprego diminuiu? Óbvio. Ninguém consegue passar tempo indeterminado sem trabalhar e mais cedo ou mais tarde tem de aceitar trabalhos onde é completamente explorado. A dívida e o défice que foram as razões principais pelas quais andamos a apertar o cinto estão piores. Por isso não me digam que estamos melhores. Estamos conformados e calejados, é o que é. Ao menos agora há suspense! Há novidade! É um pequeno sinal que as coisas podem mudar um pouco. Se para melhor ou para pior, não faço ideia. Pior é um bocado complicado, mas eu confio na incapacidade de todos os políticos para conseguirem sempre piorar a nossa situação. Há que lhes reconhecer esse dom.

«Ai porque a democracia não foi respeitada!», dizem alguns enquanto afastam o cabelo Playmobil da frente dos Arnette brancos. Engraçado que não se manifestaram quando os seus queridos políticos prometeram uma coisa em campanha e depois fizeram outra. Aí esses palermas não se pronunciaram sobre o respeito pela democracia.

«Isto adultera as eleições porque quem votou BE e PCP também não queria um PS a governar», dizem alguns, curiosamente que não votaram BE e PCP. Até pode haver alguma razão neste argumento, mas eu ainda não vi ninguém que votou nesses partidos a queixar-se. Arrisco, até, que se perguntarem a essas pessoas se preferem um acordo mal amanhado de esquerda ou o PàF no governo, a resposta será unânime e tenderá para o lado para onde o pénis normalmente descai.

Façamos uma analogia javarda para percebermos se a democracia não foi mesmo respeitada ou se isto foi um dos maiores exemplos de democracia que já tivemos: Estão numa despedida de solteiro com 10 amigos e estão a tentar decidir a que casa de strip querem ir. As opiniões dividem-se:
  • 4 amigos querem ir ao «Portas Abertas» ver strip masculino com homens oleados e cuequinhas rosa choque;
  • 3 amigos querem ir à «Mãe Gertrudes» ver strip feminino;
  • 2 amigos querem ir à «Mãe Alzira» também de strip feminino mas onde se pode fumar;
  • 1 amigo diz que quer ir à «Mãe Arlinda» porque para além das gajas tem lá garrafa.
Gera-se a rebaldaria e os que querem ir ao «Portas Abertas» dizem que a escolha deles é a que tem mais votos e que é isso que conta. Os outros refilam e torcem o nariz porque nenhum deles gosta de homens oleados. Têm a certeza disso porque no ano anterior foram obrigados e viram que não era a cena deles. Como têm um inimigo em comum, juntam-se e chegam a um consenso de ir à «Mãe Kikas». Nenhum deles gosta especialmente das meninas de lá, mas ao menos não têm pila. Agora, a votação da maioria é 6 para 4, ganha a «Mãe Kikas». Há uma nova maioria que chegou a um acordo para evitar ver rabos de homens depilados no varão. Neste caso, resta aos outros quatro comer e calar e ir à «Mãe Kikas». Podem refilar e ficar no balcão a dizer que nem sequer há um travesti ou uma gaja com a maçã de adão mais pronunciada, mas só lhes fica bem aceitar a decisão da nova maioria. Claro que o mais provável pode ser chegarem lá e o gajo que queria ir à «Mãe Arlinda» mudar de ideias e dizer que vai embora buscar a garrafa e beber sozinho num canto... mas isso é outra história. Se isso acontecer, os outros vão estrebuchar com um «Eu bem disse que devíamos ter ido ao "Portas Abertas"!» e vai gerar-se a mesma discussão inicial. No fundo, fica tudo na mesma e nós continuamos a ter apenas meios para ir às meninas de estrada.




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