19 de fevereiro de 2017

Modas Parvas 2017: pitas, fotos de bebés, startups



Como já vem sendo moda, todos os anos faço um apanhado das novas modas parvas que deveriam acabar. São sempre textos que geram muitos comentários de pessoas ofendidas porque também é moda ser-se maneta e rir-se de piadas com pernetas, mas quando é ao contrário é de mau gosto. Vamos, então, às modas mais parvas a terminar em 2017.

Fotos de crianças com emojis
Se a tua criança é tão feia que precisas de lhe colocar um emoji a tapar a cara, então que tal não partilhares a foto dela no Facebook? Será que sempre quiseste adoptar uma criança asiática e meter uma carinha amarela no teu bebé é o mais perto disso que vais estar? O quê? É por questões de segurança?! Repara, ninguém quer o teu bebé. Ninguém vai ver a fotografia no seu mural e pensar «Epá, este bebé é mesmo bonito, se calhar vou raptá-lo e fazer amor com ele.», sabes porquê? Porque o teu bebé é feio. A sério que é. As pessoas à tua volta é que te andam todas a mentir para poupar os teus sentimentos. Se queres dizer a toda a gente que te reproduziste, como se isso não fosse um feito ao alcance de quase todos os mortais, então sugiro uma nova moda em vez do bebémoji: uma foto de um cabrito! É o desafio que lanço a todos: sempre que forem pais, publiquem uma foto com uma frase toda nhonhó a dizer «Bem-vindo a casa, meu novo amor.» e botam uma foto de um cabrito. Porquê? Porque os cabritos são fofinhos e sabem bem.

Dizer que estão a morrer mais celebridades
Não estão. Sempre morreu gente famosa. A diferença é que está a chegar aquela altura em que os grandes monstros dos anos de ouro da TV e da música, 60, 70 e 80, estão a chegar àquela idade em que as pessoas morrem. Ainda para mais porque a maioria não tinha um estilo de vida saudável. O álcool conserva, mas não é assim. Outra teoria é que há mais celebridades agora e que as suas mortes são amplificadas por todos os pategos que demonstram as suas condolências nas redes sociais. Ah, e podemos parar de ter pena de gajos que viveram à grande e morreram de overdose aos 60 anos? Morreram a fazer aquilo que mais gostavam: consumir droga. A parte da música era uma desculpa. E sim, sem a droga nunca teriam sido tão criativos. Por isso, se querem génios, aceitem que eles morrem com droga e álcool. Porque é que acham que antes de sair um disco novo do Jorge Palma é sempre difícil encontrar droga no Bairro do Amor? Ah e parem com o RIP. RIP parece uma cena a rasgar-se. E se disserem RIP in Peace era cortar-vos o acesso à Internet.

Startups
Toda a gente quer ser empreendedor, ter apps e startups. Toda a gente quer ir ao web summit fazer um pitch, falar com investors e mostrar que a sua startup tem uma excelente revenue. Vejo com maus olhos esta moda de todos quererem ter o seu próprio negócio, ainda pior se esse negócio for uma furgoneta que vende hambúrgueres e cachorros a preço inflacionado só porque são gourmet, do bairro, ou artesanais e, claro, em bolo do caco. Não dá para sermos todos chefes, lamento. Alguém tem de trabalhar. Por cada startup de sucesso há 1000 que foram à falência e quem diz que para singrar basta trabalhar, ou bater punho, está a levar ao engano muito boa gente que nem sabe gerir a mesada dos papás quanto mais gerir uma empresa. Despedires-te do call center para criar uma app que consiste num alarme que toca quando tens poucos ovos no frigorífico é uma má jogada de carreira. Já existe uma coisa parecida no mercado que é a de abrir a porta do frigorífico e ver quantos ovos há. Para quem sabe contar até doze é um método muito mais simples. Não compliquem.

Snapchat filters
O meu Instagram é o seguinte: fotos da minha cadela e fotos de raparigas com um filtro com orelhas e focinho de cadela. Já chega. Pergunto: se pintar a cara de preto, vulgo black-face, é racismo, dizem alguns, então o filtro do cão também é? Ainda por cima não há filtros de cão rafeiro. Já percebemos que gostam de usar a coleira e a gargantilha da moda e que o filtro com focinho de cão vos tapa o buço. Sim, ficam muito lindas com uma coroa de flores como se tivessem ido a um qualquer país exótico, mas vai-se a ver e foi numa discoteca da Margem Sul. Prevejo que num futuro próximo, quando todos utilizarmos lentes de contacto com realidade aumentada, que as pessoas vão escolher o filtro que usam na vida real. Pessoal das startups vejam lá isso que isso sim é uma boa app que vai fazer com que milhões de homens esperem menos tempo enquanto as namoradas se arranjam. Basta colocarem o filtro belezura e está feito. Deus nos livre é de uma avaria nas lentes a meio do sexo e vermos que afinal estamos a copular com uma espécie de Madame Min a ressacar de anfetaminas.

Fake news
Se calhar está na altura de parar de partilhar notícias sem fundamento propagadas por sites manhosos, não? Se calhar também está na altura dos media, ditos credíveis, perceberem que fazer click bait e dar títulos sensacionalistas a notícias que depois se lermos tudo não tem nada a ver, também não é bem ser-se jornalista. O Facebook quer filtrar as fake news e, a meu ver, isso é um erro. É tapar o sol com a peneira e fazer de paizinho das pessoas burras. Acho que a estupidez deve estar a céu aberto para que todos possamos ter noção da sua quantidade. Por exemplo, costumo aceitar muita gente que não conheço no meu perfil de Facebook pessoal. Normalmente a triagem é: ou têm amigos em comum ou são gajas boas. Sou um gajo que gosta de fórmulas simples. Ultimamente tenho removido muitas amizades e a fórmula é a seguinte: tem like na página do PNR ou partilha notícias de sites com zero credibilidade.

Calças rasgadas
Bem diz a minha namorada que guarda roupa antiga porque nunca se sabe se volta a ficar na moda. Como qualquer moda que volta, volta em pior. Já vimos isto acontecer com os bigodes. Lembro-me de calças com pequenos rasgões e buracos que a minha avó olhava de lado e ia buscar dois contos para me dar, pois na cabeça dela aquilo era sinal de que os meus pais andavam a passar dificuldades e nem umas calças novas me conseguiam comprar. Sorte a dela que morreu o ano passado e não tem de ver raparigas e rapazes que usam calças cujos rasgões são maiores do que as áreas com tecido. Pavoneiam-se com pernas que fazem lembrar um lombo de porco atado com cordel para ir ao forno, a pensar que estão sexys por mostrar muita pele. E homens, desde quando é que mostrar os joelhos é uma cena? Tenham juízo. 

Selfie no ginásio
Sim, já percebemos que vocês vão muito ao ginásio, mas a cena de tirar fotos do antes e depois é para ver os resultados e não para se gabarem de terem ido para a máquina de step depois de terem ido de elevador para o ginásio. Tirar selfies no ginásio, partilhar quantos quilómetros correram, é gabarolice pura. Ninguém quer saber. Não vos incomodo quando em vez de encomendar uma piza por telefone vou antes à loja a pé porque a promoção é maior, pois não? Muito menos tiro uma selfie todo suado depois de fazer quinhentos metros com dois pães de alho na mão a dizer «No pão, no gain». Quem tira selfies no ginásio e no espelho do balneário e depois diz «Só ando no ginásio por mim e não para agradar ninguém.» merecia fazer abdominais numa cama de pregos enferrujados.

Fazer pessoas sem talento famosas
Sabem porque é que a (ou as) Kardashian é famosa e multimilionária? Porque existe muita gente burra que a segue e faz dela rica. Pessoas cujo talento se resume publicar uma sex-tape onde nem têm talento para fazer sexo, e a publicar selfies todos os dias, serem pagas para continuar a fazer isso é sinal de que o nosso mundo está com uma virose. Reparem, essas pessoas são espertas e invejo-as, mas quem as segue e lhes dá essa visibilidade é gente burra. Por cá temos fenómenos como a Maria Leal que fica famosa porque o povo português tem uma atracção mórbida por acidentes de automóvel. «Ah, ó Guilherme, mas tu também fizeste um texto sobre ela e assim contribuíste para lhe dar fama.», pensam alguns de vós. Sim, é verdade, e então? Essa moda de não deixarem uma pessoa ser incoerente também tem de acabar. Nesta categoria entram também as modelos do Instagram. Raparigas cujo dia se resume a experimentar roupa e filtros em fotos "artísticas" em que o actor principal é o decote ou o pacote. Têm milhares de seguidores e as marcas pagam-lhes para promoverem o seu creme ou peça de roupa, a pensar que vão vender alguma coisa, sem perceberem que 99% dos seus seguidores são homens com as calças nos tornozelos. 

Cadeias de cenas
Um flagelo que parecia ter morrido há uns anos e que utilizava o email como canal preferencial, ressurge graças ao fácil acesso que mães, pais e tias velhas têm ao Facebook. Não, colar disclaimers no mural a dizer que não autorizam a utilização dos vossos dados por parte do Facebook não serve para nada. Serve só para mostrarem ao mundo digital que são uns pategos e ajuda na triagem de alvos para os príncipes nigerianos. Partilhar fotos de crianças com sida e fome não as faz ter menos sida nem menos fome. Colocar um amém é ofensivo e se Deus existir vai-vos enviar para o inferno pela vossa hipocrisia. E já chega de cenas virais ao estilo dos harlem shakes desta vida, o planking, o manequim challenge e aquela palhaçada de tirar fotos em locais altos a segurar o telemóvel só com dois dedos. Deviam era pendurar-se em penhascos só a segurar-se com um dedo e deixar a selecção natural seguir o seu curso. Ide tirar uma selfie na linha de comboio e com auscultadores.

Pitas histéricas
Troquem o trailer do Game of Trones ou Star Wars por uma foto dos One Direction e vão ver que o texto que o acompanha, cheio de excitação e histerismo, faria mais sentido nesse caso. Algo que parece saído da boca de uma adolescente que ainda mal começou a menstruar, mas que afinal é de um homem já adulto que ainda vivem na cave dos pais. «É a minha man cave!», dizem, mas não é. Moram lá porque os pais os escondem tal como antigamente se fazia aos filhos deficientes, para não afugentarem as visitas. Os mesmos que dizem mal das pitas que acampam à porta de um concerto do Justin Bieber são os que removem amizades no Facebook por ver alguém que fez um spoiler, mesmo que seja da 2ª season que já passou há uns anos. São os mesmos que dizem «Não festejo o Carnaval, é uma palermice.» ou «Halloween é uma tradição americana que só trouxeram para cá por questões comerciais e vocês papam tudo.», mas quando chega a estreia do Star Wars vão vestido de Princesa Leia para a fila do cinema ou vão à Comic Con vestidos de lula gigante a pensar que vão ter sorte com uma das raparigas que estão lá só porque lhes pagaram para atrair gajos. Por fim, quero deixar a minha palavra de apreço para quem vai para a fila da Apple, dias ou horas, para comprar o novo iPhone no dia em que ele sai: vocês são o reflexo do mal do mundo. São uma merda de putos mimados que não sabem esperar um dia para ter aquilo que querem. Tem de ser já e agora porque foi a educação de merda que os vossos paizinhos vos deram. Espero que um camião se despiste e vos varra a todos na fila para irem ter com o vosso Steve Jobs mais depressa.


Ufa, já está. Isto é melhor do que ir ao psicólogo. Dizer mal dos outros é, sem dúvida, a minha terapia. Obrigado por me ouvirem. Façam o que vos apetecer, se quiserem entrar em modas parvas é convosco. Cá vou estar para vos achincalhar, porque escrever textos a dizer mal de tudo também é uma moda irritante e eu adoro paradoxos.




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