Somos uma espécie capaz de se odiar por coisas simples como a cor da pele ou devido a divergências quanto ao nome do amigo imaginário que mora nas nuvens, mas quando o assunto é avisar os outros onde há operações STOP, somos uma raça que se une. Quais cordões humanos e minutos de silêncios por Timor, quais manifestações contra o trabalho precário, os portugueses unem-se é quando o problema se resume a: «Bebi uns copos a mais, mas apetece-me conduzir na mesma... quem me dera saber onde há operações STOP!». Desse problema generalizado da sociedade, nasceram grupos de Facebook com milhares de pessoas onde são publicados os locais onde há operações STOP, tudo em tempo real para o efeito do álcool não se desperdiçar. À primeira vista, tudo isto é inócuo e ingénuo, mas se pensarmos bem sobre o assunto, é um bocado parvo.
Imaginem o cenário: um gajo está bêbedo, mas quer levar o carro para casa porque está bem para conduzir, diz ele. Vai ao Facebook e vê que no caminho que ele faria normalmente há uma operação STOP. Decide, então, ir por outro lado. Como qualquer bêbedo que acha que está bem para conduzir, conduz qual Ayrton Senna e, tal como ele, perde o controlo do carro, galga um passeio e passa a ferro uma grávida que estava a passear um cão adoptado do canil. Morrem todos, incluindo o condutor e o pendura que ia a comer um pão com chouriço. De quem é a culpa? Do gajo que ia a conduzir bêbedo, claro. Mas se tivessem sido vocês a fazer aquela publicação e a avisar aquele gajo da operação STOP, e soubessem disso, não iriam sentir um bocadinho de culpa? Um bocadinho, só?
No fundo, estamos a ajudar outras pessoas a infringir a lei e a colocar a própria vida, e de terceiros, em risco. Se fosse só a tua vida em risco nem devia ser proibido conduzir inebriado. Acho que deverias poder andar sem cinto de segurança à vontade. Queres ir ver mais de perto a traseira de uma Renault Kangoo? Força nisso. Andas de mota sem capacete porque sempre sonhaste ter a cara metade pessoa, metade batata a murro? É na boa, força nisso. É como quem se vai encostar a uma arriba na praia mesmo juntinho ao sinal de perigo. Um gajo precisa de se livrar do peso morto para evoluir a espécie. Os burros estão a atrasar-nos demasiado e gostava que o mundo não acabasse antes de ser criado o teletransporte, de descobrirem o soro da imortalidade e, se não for pedir muito, do Sporting ser campeão outra vez.
«Banco Alimentar? Ui, hoje não, dei ontem.»
«Uma moeda? Ui, não tenho trocos.»
«Uma operação STOP? Deixa-me cá cumprir o meu dever cívico para com os meus conterrâneos. O táxi é caro e um gajo tem pouco dinheiro porque as bebidas estão caras. A culpa é do governo e dos turistas que inflacionaram isto, porque se o táxi fosse de borla eu não cometia contra-ordenações! Isso e para tramar esses gatunos da polícia que só andam é na caça à multa!»
As pessoas criticam a polícia por fazer caça à multa, mas há uma forma muito fácil de não cair nessas armadilhas que é, pasme-se: não infringir a lei! Ahhh, informação dramática! Também acho que se deve investir mais na prevenção e na educação do que na punição, mas até chegar uma geração mais consciente na estrada, temos de caçar o pessoal que trata o volante como as caixas de comentários do Facebook e só diz e faz merda. Longe de mim ser moralista, também já conduzi com um ou dois copos a mais, já liguei a amigos polícias a perguntar onde havia operação STOP e já fui, uma vez, a um grupo desses ver se a costa estava livre.
No entanto, acho que é nestas pequenas coisas que vemos que há esperança no mundo e que a nossa espécie é capaz de se unir e esquecer as diferenças. Aposto que já deve ter havido um gajo nazi a publicar num desses grupos sem se preocupar se está a ajudar bêbedos negros, ciganos ou muçulmanos. Bem, estes últimos só bebem em casa às escondidas e não pegam no carro a seguir. Esse nazi simplesmente quer ajudar o outro e quer sentir-se útil na sociedade, esquecendo-se de julgar pela diferença, tal como os nazis que aplaudem os jogadores negros da sua própria equipa, mas apupam com cânticos racistas os da equipa adversária. Não sei se isto prova que há esperança, ou só que o futebol e o querer conduzir embriagado são valores mais altos do que o racismo.
A diferença é que se eu vir uma operação STOP não vou lá publicar. Quero é que os outros se fodam. Às vezes, o egoísmo tem efeitos secundários positivos.
No entanto, acho que é nestas pequenas coisas que vemos que há esperança no mundo e que a nossa espécie é capaz de se unir e esquecer as diferenças. Aposto que já deve ter havido um gajo nazi a publicar num desses grupos sem se preocupar se está a ajudar bêbedos negros, ciganos ou muçulmanos. Bem, estes últimos só bebem em casa às escondidas e não pegam no carro a seguir. Esse nazi simplesmente quer ajudar o outro e quer sentir-se útil na sociedade, esquecendo-se de julgar pela diferença, tal como os nazis que aplaudem os jogadores negros da sua própria equipa, mas apupam com cânticos racistas os da equipa adversária. Não sei se isto prova que há esperança, ou só que o futebol e o querer conduzir embriagado são valores mais altos do que o racismo.
Uma vez fui apanhado com álcool numa operação STOP e não foi com uma garrafa na mão, foi mesmo no sangue. Foi há uns 4 ou 5 anos e até vi a operação ao longe e podia ter virado ou invertido a marcha, mas, como qualquer bêbedo, achei que estava bem. Não estava. Acusei 0.9 g/l e arrotei 500€ que bem mereci. Voltarei eu a pegar num carro com os copos? É provável que sim, mas se a multa em vez de 500€ tivesse sido de 5 mil, ainda a estava a pagar às prestações e se calhar não pegava. Uma vez passei numa operação STOP com um olho fechado e outro aberto porque era a única forma que conseguia focar. Desta vez, também os vi antes, mas até chegar perto pensava que eram os homens do lixo com uma farda nova. Não fui parado, infelizmente. Merecia ter levado uma multa valente e ficado sem carta uns meses para aprender e não voltar a fazer. Quer dizer, até acho que estava naquele ponto em que nem é muito perigoso conduzir porque tinha a perfeita noção de que nem para andar estaria bem. Então, fui devagarinho e a cumprir todas as regras.
Até em passadeiras sem ninguém eu parava, não fosse estar a ver mal. Nesse estado fim de festa é melhor do que só bêbedo party mode porque é aí que um gajo acha que está na boa e que fazer curvas a chiar pneu é fixe e que dar 150 km/h dentro da cidade é bué racing. Nesse estado, vem à tona o condutor de UBER que já foi taxista que há dentro de nós em que há toda uma veia de campeão da estrada reprimida.
Voltando aos grupos, imaginem que havia grupos de Facebook para outros crimes que, por exemplo, avisavam sobre a presença de rondas policiais para auxiliar quem está a pensar assaltar uma ourivesaria. Se calhar estou aqui a dar boas ideias de borla, mas pronto. Estes grupos que avisam desconhecidos sobre operações STOP são a versão 2.0 dos sinais de luzes na estrada. Um gajo pode chamar filho da puta a quem não mete os piscas, pode fingir que abalroa o carro de quem nos vai a ultrapassar pela direita, mas não somos animais! Há que ser cortês e avisar o incauto colega de estrada que há polícia mais à frente, não vá ele ser multado só porque vai a 200 km/h na nacional com o seu Fiat Punto kitado. É este altruísmo enquanto espécie que está na base destes grupos de Facebook.
Quando vês um gajo sozinho, numa rotunda vazia, a fazer piscas já sabes que ou fez merda ou está para fazer.
Até em passadeiras sem ninguém eu parava, não fosse estar a ver mal. Nesse estado fim de festa é melhor do que só bêbedo party mode porque é aí que um gajo acha que está na boa e que fazer curvas a chiar pneu é fixe e que dar 150 km/h dentro da cidade é bué racing. Nesse estado, vem à tona o condutor de UBER que já foi taxista que há dentro de nós em que há toda uma veia de campeão da estrada reprimida.
Voltando aos grupos, imaginem que havia grupos de Facebook para outros crimes que, por exemplo, avisavam sobre a presença de rondas policiais para auxiliar quem está a pensar assaltar uma ourivesaria. Se calhar estou aqui a dar boas ideias de borla, mas pronto. Estes grupos que avisam desconhecidos sobre operações STOP são a versão 2.0 dos sinais de luzes na estrada. Um gajo pode chamar filho da puta a quem não mete os piscas, pode fingir que abalroa o carro de quem nos vai a ultrapassar pela direita, mas não somos animais! Há que ser cortês e avisar o incauto colega de estrada que há polícia mais à frente, não vá ele ser multado só porque vai a 200 km/h na nacional com o seu Fiat Punto kitado. É este altruísmo enquanto espécie que está na base destes grupos de Facebook.
O Homem, especialmente do sexo masculino e especialmente português, já conduz normalmente como se estivesse bêbedo. Já pensa que é herói, não respeita traços contínuos nem limites de velocidade e nem sóbrio sabe fazer uma rotunda, imaginem com os copos. Imaginem que iam de carro ou a pé e que todos os outros carros eram taxistas depois do almoço. Então, para quê ajudar os bêbedos? Longe de mim dar-vos conselhos ou estragar a festa de quem quer beber uns copos e a seguir pegar no carro, mas da próxima vez que forem avisar pessoas que não conhecem de lado nenhum, que podem conduzir feitos atrasados mentais mesmo quando estão sóbrios, pensem nisso.
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