13 de setembro de 2017

Tony Carreira é um cantor de covers



O Ministério Público acusou Tony Carreira por plágio de onze músicas. O choque! A pergunta que se impõe é: só onze músicas? Não acredito! Primeiro, o Ronaldo em tribunal por acusações de fraude fiscal, agora o Tony por plágio. Só falta descobrir-se que a Leopoldina aconchega o bico no rabo de crianças, para Portugal ficar sem heróis. O plágio é um assunto recorrente no mundo dos humoristas em que é mais fácil duas pessoas fazerem a mesma piada, sem querer, especialmente quando se fala de atualidade e há pressa em ser o primeiro a fazer uma piada sobre um determinado assunto: o resultado é uma piada pouco criativa na qual várias pessoas pensaram. Na música é diferente, já que é mais difícil duas pessoas lembrarem-se da mesma letra, música e melodia, mesmo que seja uma música de qualidade duvidosa, como é o caso. Aliás, o que não irá faltar são humoristas que plagiam outros a fazer piadas sobre o plágio do Tony Carreira. Haverá, certamente, quem plagie piadas sobre o plágio do Tony, criando assim um buraco negro no espaço-tempo contínuo.

O Tony Carreira é aquele aluno que leva cábulas para o teste e mesmo assim chumba. A pena para plagiar merda deveria ser mais pesada.

Plagiar o Tony dá cem anos de perdão porque, afinal, ele é apenas um cantor de covers. Nada contra, há excelentes bandas de covers, mas que são apenas isso e nunca ficam na história por muito boas que sejam pois falta-lhes aquilo que distingue os artistas dos restantes: a criatividade e originalidade. Por algum motivo, uma cópia perfeita da Mona Lisa de Leonardo Da Vinci não vale um trilionésimo do original.

Até tenho em alguma consideração a família Carreira. Das entrevistas que já vi, tanto o Tony como os filhos parecem gente decente que vieram do nada. Bem, o Tony veio do nada, os filhos já vieram com a Carreira escrita no nome. Apesar de não ser apreciador da música de nenhum deles, acho que tratam o público com respeito, sincero ou não. O Tony é dos poucos "artistas" em Portugal que sabe trabalhar o marketing como deve ser e que prefere ter 50 músicos em palco e ganhar um bocado menos, mas dar um bom espectáculo para os fãs, do que cantar meio em playback com o mínimo de banda possível e meter mais dinheiro ao bolso. Sim, é um cantor pimba, mas foi o primeiro a ser respeitado fora desse meio, com excepção, talvez, de Marco Paulo a quem todos reconheciam o potencial vocal (e o plágio que no caso dele era admitido e, pelo que sei, pagava os direitos de autor). Tony Carreira viveu tempos em que era mal-visto dizer-se mal da sua música. Mesmo outras celebridades, nomeadamente apresentadores de televisão do daytime, diziam gostar muito das músicas dele quando, na verdade, estavam a mentir e só o diziam porque ele falava para o mesmo público que eles. Acho que a música pimba tem mau nome e todos se esquecem que serve um propósito importante que é o de alegrar. Fado é muito lindo sim senhor, mas dêem-me uma bifana e uma mini enquanto o Quim Barreiros está a tocar no palco e serei muito mais feliz. No fundo, os fadistas também são quase todos cantores de covers, mas como é fado é para respeitar porque são artistas superiores aos pimbas. Tretas. A maioria é só gente com boa voz que canta covers.

Ao que parece, Tony já reagiu e diz que o assunto já foi resolvido há uns anos com os autores das músicas que é como quem diz que lhes pagou e não se fala mais no assunto. Não tenho nada contra isso se for honesto: vês uma música que achas que se adaptaria a ti, ligas ao autor e perguntas quanto é que ele quer para te ceder os direitos com a condição que podes ajavardar a letra à vontade e nunca dar créditos ao original. Ele diz-te o preço e tu pagas. Tudo bem, tudo honesto, mas ao que parece não foi assim que foi feito. Foi «Ora deixa cá usurpar isto sem dizer nada a ninguém porque hoje estou com pouca inspiração.». A folha em branco é tramada para quem cria algo, eu sei, mas plagiar deliberadamente alguém e recolher os louros (e dinheiro) por isso, é de quem desrespeita o seu público e a arte que representa. Pode dizer-se que o impacto das músicas dele não muda devido ao plágio e que emociona e inspira as pessoas na mesma. Talvez seja verdade e, no fundo, Tony esteja a fazer um favor a todos os portugueses que não sabem línguas que é o de traduzir músicas estrangeiras para que mesmo os com menos estudos possam apreciar.

A próxima edição do Festival Músicas do Mundo vai ser só com o Tony a cantar em português músicas de 200 países diferentes. 

O problema é que se Tony foi considerado culpado, irá apenas pagar uma multa que não prejudicará em nada o seu império. É como o Ricardo Salgado que pagou três milhões pela caução, milhões esses que, alegadamente, foram obtidos de forma ilícita e ainda lá ficou com uns quantos outros que mesmo que seja condenado, depois de um ou dois anitos de prisão, poderá utilizar para gozar uma bela reforma. No caso do Tony, penso que a multa não deveria ser paga em dinheiro, mas sim em canções originais que seriam avaliadas pelo júri do The Voice. Até o Tony conseguir virar as quatro cadeiras, não poderia sair da prisão. Como isto é coisa para demorar, provavelmente chegaria uma altura em que o Anselmo Ralph já nem precisava de estar de costas voltadas para ser considerada uma audição às cegas. Não me parece que este caso danifique a carreira do Tony, já que era um rumor bastante audível, há muitos anos, e parece-me que o público do Tony é o mesmo que vota Isaltino Morais ou noutros políticos corruptos. Desculpam-lhes tudo porque é isso que os fãs fazem. Os seguidores do trabalho de alguém são críticos a esse trabalho, os fãs estão enamorados pela imagem que têm do seu ídolo e estas polémicas só reforçam esse amor. Os fãs são como as mães de bebés feios: acham-nos lindos e ai de quem disser que têm cara de peru atropelado por uma carroça! Por isso, este caso ficará apenas na consciência do Tony ao qual gostava de deixar umas palavras:

Tony, plagiar é como ir para a cama com uma mulher, desligar as luzes, sair do quarto sem ela ver e mandar no teu lugar outro gajo que lhe dá uma esfrega daquelas de usar Halibut no dia seguinte. Incontáveis orgasmos múltiplos depois, o gajo sai do quarto e tu voltas a entrar e a acender as luzes. Ela olha-te como quem diz que foste o melhor que ela já teve. Tu recolhes os louros e ficas com uma boa imagem aos olhos dela, mas sabes, lá no fundo, que o mérito não foi teu. Sabes que, afinal, o menino não eras tu. Era outro.




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