8 de junho de 2018

Tu que percebes de computadores...



Já escrevi algumas vezes sobre o glamour da vida de um informático, sobre a vida de um estudante de engenharia e sobre aquela mítica frase que todos ouvimos, dita por um amigo, pela mãe ou por uma tia: "Olha, meu puto, tu que percebes de computadores..." que antecede o pedido para irmos lá a casa arranjar-lhes o computador de borla.

Partem do princípio que alguém que tirou o curso de informática está automaticamente habilitado para perceber um dos maiores mistérios do mundo que é o facto das impressoras terem vontade própria; acham que um gajo que sempre mexeu em PCs tem de saber tudo sobre Macs; acham que temos sempre os DVDs originais do Windows e do Office, que resolvemos todos os problemas de software e que somos uma espécie de Dr. House que sabe logo diagnosticar se o problema vem da motherboard ou do ecrã. Não sabemos.

Para nós e quando o computador é dos outros, 90% dos problemas resolve-se desligando e voltando a ligar e os outros 10% resolvem-se formatando ou comprando um novo.

Apesar de já não ser informático de profissão, a fama de que percebo de computadores persegue-me e continuo a receber alguns pedidos de ajuda e sinto-me uma espécie de call center sem fins lucrativos. Continuo, também, a receber propostas no LinkedIn porque os recrutadores no mundo da informática são piores do que as testemunhas de Jeová.

Se olharmos para o futuro e para a forma como tudo tende a depender cada vez mais da informática e do software, a tendência destes pedidos será a de piorar. Por exemplo, com a chegada dos carros autónomos, os informáticos vão passar a ser os novos mecânicos, recebendo pedidos de amigos para irmos lá a casa arranjar-lhes o carro que está lento ou que não está a emparelhar bem com o Instagram causando problemas aquando da selfie ao volante. Se pensarmos bem, os informáticos daquelas lojas de arranjo e os mecânicos são parecidos: ambos falam em termos que o comum dos mortais não percebe e para quem não sabe muito do assunto fica sempre no ar aquela sensação de que se acabou de ser roubado.

Com o progresso e o aparecimento dos robôs sexuais, vamos receber pedidos ao género "Meu puto, tu que percebes de computadores, podes vir cá a casa arranjar a minha namorada que está um bocado lenta e anda com mau feitio?". Lá temos de ir a casa do nosso amigo, enfiar um cabo de diagnóstico na namorada dele - que está toda pegajosa - e, afinal, não funciona porque ele se esqueceu de meter o anti-vírus na backdoor. Piada nerd.

Com a Internet das Coisas a tornar-se ubíqua, vamos receber pedidos de ajuda parvos dos mesmos amigos em pânico que nos fazem aquelas perguntas básicas que com uma simples pesquisa no Google ficariam respondidas:

- Meu puto, preciso da tua ajuda! O meu frigorífico inteligente está avariado e não sei quantos ovos tenho no frigorífico!
- Já experimentaste abrir o frigorífico e voltar a fechar?
- Já, mas continua a não aparecer nada no touch screen.
- Sim, mas era abrir, contar os ovos, fechar o frigorífico e deixares de me chatear os cornos às duas da manhã.
- Já fiz! Tenho meia-dúzia! És um génio, meu puto!

É e será sempre a nossa sina. Estou certo de que os médicos também recebem pedidos dos amigos hipocondríacos, mas, no futuro, os médicos vão ser substituídos por inteligência artificial e lá nos vai calhar a nós, informáticos, perceber porque é que a máquina de toque rectal não está a funcionar correctamente. Estamos cá para vos ajudar, mas, em nome de todos que "percebem de computadores", deixo um apelo: pesquisem primeiro no Google antes de nos virem chatear. Obrigado.




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