11 de dezembro de 2018

Ela mexe - Review ao novo vídeo da Ana Malhoa



Então, não é que a minha musa tropical urbano me presenteou com um novo vídeo nesta quadra natalícia? Ainda dizem que Deus não existe. Como sabem, sou o crítico não oficial de todos os vídeos da Ana Malhoa e, como tal, não posso fugir a essa responsabilidade que não pedi, mas que vocês me deram. Sempre que recebo dezenas de mensagens no espaço de umas horas, nem preciso de ir ver que já sei que há novidades vindas do reino da Ana Malhoa. Por isso, sem mais demoras, aqui fica o vídeo que podem ver à vossa conta e risco, e, em seguida, a review detalhada e eloquente a que vos tenho habituado.


Gostaram? Razoável. Não há grandes dúvidas que a Sra. Malhoa já fez, num passado recente, muito melhor. Passámos de uma Ana turbinada, com carros artilhados na garagem do senhor Armindo, para uma Ana sem turbo numa pista de karts. É o que temos e com isso trabalharemos da melhor forma possível.

O vídeo começa com a nossa Ana vestida com um casaco feito de araras mudas e acompanhada de pessoas que se abanam. Desde logo se destaca, numa das bailarinas, o alto patrocínio do Santander, banco espanhol, que deve ter agora o slogan de "Juros no depósito a prazo? Sube-lo!". A nossa Ana tem aquelas argolas que foram moda na Damaia em 1999, mas que na indumentária dela ainda são obrigatórias. Sinto a falta de uma pequena caturra de cada lado a fazer segundas vozes no refrão, mas já se perdeu a tradição do circo com animais. No entanto, a Ana mostra que não perdeu o teor de gorduras saudáveis, vulgo azeite, usando óculos de sol num espaço fechado. Se o Anselmo Ralph e o Pedro Abrunhosa podem, a Ana também pode.

A batida começa e parece um xilofone tocado pelo meu avô com Parkinson e a Ana diz "La Duena, eu sei que tu queres, vai". Quando a minha namorada me diz "Vai lá sair com os teus amigos, eu sei que tu queres, vai" é porque é uma ratoeira e vai haver dois dias de trombas a dizer que não se passa nada. É nesta altura que percebemos que o cenário é uma pista de karts, embora a música fosse mais adequada a uma pista de carrinhos de choque.

"Quando ela mexe, ela mexe e já não pára / Quando ela mexe toda gente nela repara", diz a Dona Malhoa, utilizando a técnica básica de mudar o verbo para o final da frase para conseguir rimar. No tocante à construção lírica da sua poesia, a nossa musa nunca desilude. Qual Florbela Espanca, a nossa makina de fiesta é que é a poetisa contemporânea, não que precisamos, mas que merecemos. Continua com "Quando ela mexe eu espero que não parta nada". É um verso bonito pois pode ter várias interpretações. Não partir nada do seu corpo, dando a entender que ela dança a dar tudo e que pode ser uma octogenária a rebolar ao som da música, arriscando partir a bacia a cada movimento sensual da pélvis. Já estou a ver esta música a passar nas festas de Natal dos lares de terceira idade a ver quem consegue dançar sem partir um osso rendilhado. Podemos, também, interpretar que a Ana é a dona da danceteria e que a rapariga é daquelas bêbedas que dança como uma suricata a pisar brasas e que derruba os copos que estão no balcão, deixando a dona preocupada com a despesa. Qual Fernando Pessoa, a interpretação dos seus versos ficam à imaginação de cada um de nós.

Segue o poema com "E podes molhá-la com Dom Pérignon / E vê-la abanar ao som deste som". Se, por um lado, temos uma boa rima de "Pérignon" com "Som", depois temos uma rima de "som" com "som". Podia ter usado "abanar ao som deste flow", ou algo do género, mas se "som" rima com "som" para que é que vamos estar aqui a inventar? E, pá, não faz sentido falar de Dom Pérignon, cujas garrafas mais baratas custam 150€, numa pista de karts que custam 30€ para dar uma volta de 15 minutos. Queres molhar alguém com Dom Pérignon tens de ter, no mínimo, um carro com mil de cilindrada. Por exemplo, tenho um Renault Clio de 2002, posso, no máximo, molhar a minha namorada com uma sangria do Lidl. Há que ter as prioridades ajustadas e não é poupar no carro para depois desperdiçar bebida cara em cima de alguém, especialmente nesta altura que está frio e nem dá assim tanto gozo. Já agora, não acham estranho falarem em Dom Pérignon e não terem uma garrafa no vídeo? 


Aposto que, depois de escreverem a letra, foram ao supermercado e viram que rebentava o orçamento do videoclipe e ainda tentaram mudar para "Podes molhá-la com Raposeira e vê-la a abanar a traseira", mas acharam que ficava com pouca classe.

Entra o refrão "Ela mexe mexe mexe mexe mexe / E a tua cresce cresce cresce cresce cresce." Não quero estar a fazer acusações de plágio, mas é impossível não notar semelhanças com outra música portuguesa. Vejamos esta passagem da música do poeta Agir, "O Teu Rabo": "gosto do teu rabo / principalmente quando ele mexe / e a minha cresce". Pois é, e depois o Tony Carreira é que fica com a fama. Mas bem, parece-me que este refrão discrimina as minorias, já que não é inclusivo para com as lésbicas. Se ela mexe e a tua cresce, só podemos estar a falar de um casal heterossexual. Porque não um "Ela mexe mexe mexe mexe mexe / E a tua shlack shlack shlack shlack shlack"? Fica a dica para a nossa Ana não ser apanhada pelos movimentos do politicamente correcto e guerreiros da justiça social.

A música continua com "E ela não pára não pára não / Não pára vai até ao chão". Da última vez que vi alguém que não conseguia parar de dançar e que foi até ao chão, estava toda minada e foi parar ao hospital. É preciso ter cuidado com isso. A partir do refrão, a letra volta ao início e toca o mesmo. A Ana é uma mulher pragmática e sabe que investir na escrita seria desperdiçar tempo e que o seu público não valoriza esses detalhes snobes da arte da canção. 

De resto, não há muito mais apontar a não ser o sapatinho de stripper da Madame Malhoa e o facto dos karts terem luzinhas. Devemos estar perante karts da Margem Sul porque um azeiteiro que é azeiteiro, tanto kita o carro, como o kart ou o triciclo do filho. Depois de escrever isto fui pesquisar e percebi que o vídeo foi feito no Kartódromo do Montijo. Ri-me sozinhoO mesmo aconteceu ao ver que que a produção está a cargo de "Atlas Vídeos" e pensei automaticamente «Nome de produtora porno». Fui ver os créditos aos detalhes do vídeo do Youtube - só para verem o quão empenhado sou quando faço uma review destas - e vi algumas pérolas como o facto do operador de câmara ter o nome de Miguel Cummins. Ai o cacete, se isto não é nome de actor porno, não sei o que será.


Vi, também, que a direcção artística e criativa foi da Ana Malhoa, Rui Ricardo e do Fran e achei estranho, porque nunca pensei que isto tivesse qualquer tipo de direcção artística e criativa.

De notar, por último, que uma das bailarinas da Ana Malhoa foi uma concorrente do The Voice e que isto prova que, afinal, esses concursos de talento são uma rampa de lançamento para o estrelato e uma carreira de sucesso.

Não há muito mais a dizer, sinto que este vídeo foi feito em cima do joelho e dou apenas 3 em 5, na escala Azeite Gallo. Como sempre, reforço que estas reviews devem ser interpretadas como uma homenagem. Respeito, genuinamente, o trabalho da Ana Malhoa e acho que é a nossa melhor artista dentro do género. Pena o género ser uma merda.




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