Não se pode dizer que o verniz tenha estalado nos Estados Unidos da América, porque no que diz respeito a questões raciais, o verniz nunca deixou de estar todo gretado e remendado como as unhas da Kátia no fim de 15 dias de férias em Quarteira. Vamos por partes:
Tudo começou com um cidadão morto às mãos, ou ao joelho, de um polícia. Calhou o cidadão ser negro e o polícia ser branco. O problema é que nos EUA calha muitas vezes esta chave de prémio e é de um gajo começar a desconfiar que não é coincidência e que a máquina está viciada. Desta vez, pudemos todos assistir a vários minutos onde o civil implora por ar e o polícia lhe calca ainda mais o pescoço com o joelho até que ele acaba por morrer, estranhamente. Parece que o ar é um bem essencial à vida e ninguém sabia. Se o gajo dissesse que estava com falta de rede ou bateria no telemóvel, talvez o polícia percebesse a gravidade da situação e saísse de cima dele.
A culpa é claramente do cidadão negro que andou a gastar dinheiro em ténis da Nike em vez de instalar um sistema de guelras ao fundo das costas por onde poderia respirar tranquilamente em caso de algum dia alguém usar o seu pescoço como joelhódromo da igreja. A autópsia do George Floyd diz que a causa da morte pode ter sido devido a condições de saúde não conhecidas e substâncias no organismo. Os negros não gostam muito de nadar, yo, já sabemos todos desde o tema dos Black Company em 1994 e deve ser por isso que o George não sabia fazer apneia durante 9 minutos. Se soubesse, se fosse saudável e fizesse desporto como o Michael Phelps, nada disto teria acontecido. Ainda se há de descobrir que o Floyd fumava e toda a gente sabe que o tabaco mata.
Bem, não é que interesse a alguém, mas apetece-em dar a minha opinião séria sobre o assunto. Ora, penso que se alguém diz que não consegue respirar, já está imobilizado, chega até a deixar de se mexer, e não tiras o joelho do pescoço, é homicídio. É uma pergunta de primeiro nível do Quem Quer Ser Milionário. Se é voluntário ou não, só o polícia o saberá e cabe a um juiz decidir. Sim, porque eu acho que o polícia merece aquilo que não deu ao Floyd: um julgamento justo e imparcial. Os polícias que estavam do lado são cúmplices e devem ser julgados também, mas pode haver atenuantes, até porque quando ensinas pessoas a não questionar a autoridade e a hierarquia, tens este resultado e o problema será mais do sistema do que dos indivíduos em si.
Eu para mim, os polícias são como os pretos: não são todos iguais. Até tiveram de ler duas vezes, não foi? Sou bué ninja.
Isto leva-nos aos acontecimentos seguintes que foram os protestos e manifestações pela igualdade e a favor que se faça justiça e que casos com o do George Floyd não voltem a acontecer. Agora vamos fazer um pequeno teste: quando eu disse "protestos e manifestações pela igualdade e justiça" em que é que pensaram? Se pensaram nos motins e vandalismo que também estão a acontecer, podemos ter aqui um problema. Significa que na vossa cabeça houve algo a associar "Pretos a protestar = motins e ténis da Nike roubados". A culpa até pode não ser vossa, pode ser dos media e das redes sociais que dão mais destaque à violência, mas temos um problema. Isso percebe-se facilmente num tweet que fiz em que referia o facto de "Milhares protestam pela igualdade" e tenho respostas como "Pilhar e roubar é protestar igualdade onde, seu esquerdolas de merda paneleiro do caralho?". Reparem que nesse tweet, tal como no início deste parágrafo, nunca me referi a pilhagens, referi-me a protestos pela igualdade que realmente estão a acontecer, pacíficos, com milhares de pessoas. Nunca disse que tudo o que está a acontecer são protestos que eu considero pela igualdade, disse apenas que havia desses. Por isso, se a morte do George Floyd te passou ao lado e não viste o vídeo ou se viste não lhe deste muita atenção; se os protestos pacíficos e discursos emotivos te passaram ao lado e não lhes deste muita atenção; mas decidiste dar atenção aos motins e roubo a dizer "Não é assim que se combate o racismo", lamento, mas acho que não estás focado no que realmente interessa, nem estás do lado certo. Sim, porque aqui há um lado certo, aceitar racismo não é uma opinião, é ser um monte de merda.
Isto não quer dizer que não se possa discutir ou apontar o dedo à violência, claro, mas acho que primeiro é que é preciso perceber como funciona a acção e reacção. Não foi do nada que começaram os motins, não foi porque a Shakira ganhou o prémio de melhor rabo à Beyonce. Ao contrário do que muitos labregos pensam, perceber o que leva a esta escalada de violência não significa legitimá-la ou concordar com as pilhagens, como é óbvio, mas para perceber isso é preciso também ter algum tipo de inteligência e pensamento crítico e nem todos tivemos sorte quando Deus distribuiu neurónios sem defeito.
Isto leva-nos a outro factor, para mim menos importante desta discussão (pelo menos para já) que são esses protestos violentos, os assaltos a lojas e as agressões. Um amigo meu que está lá no meio dos motins diz que está um caos tão grande que faz lembrar a corrida ao Pingo Doce de 2012. Claro que o racismo não se resolve assim, claro que a maioria do pessoal que entra pela loja da Nike a dentro nem sabe bem quem foi o Martin Luther King e só quer é uns ténis novos. Sabes que os motins não têm razões socio-económicas válidas porque ninguém está a roubar comida nem medicamentos para a avó. Claro que muitos nunca fizeram nada da vida e usam o racismo como desculpa para os seus fracassos. Agora, serão a maioria? Não me parece, com milhares e milhares nas ruas, a maioria dos protestos são pacíficos e ainda é preciso compreender que existem anos de protestos civilizados e nada tem mudado muito. Só nós portugueses que tivemos uma revolução calminha para achar que a violência não resolve nada. Mesmo que não resolva, às vezes ajuda, e, mais uma vez, não estou concordar com esta violência, mas se os lesados do BES tivessem invadido os bancos e partido tudo e aberto lenhos nas cabeças de uns banqueiros no caminho, teríamos condenado assim tanto? Se calhar não. Fossem todos os roubos de ténis e plasmas e o mundo teria muito menos desigualdades.
Por falar nisso, deve ser tramado para o pessoal que participou nas pilhagens, chegar a casa e perceber que com a pressa trouxe o número errado e os ténis não lhe servem. Duvido que as lojas façam trocas nesta altura, deve ser como nos saldos. Não me vejo a participar em pilhagens porque já me estou a ver a chegar a casa com uma televisão de quinhentas polegadas 16k e a minha namorada dizer-me "Foste ao motim roubar a FNAC e não passaste na Zara para roubar um vestido para mim? Só pensas em ti." Se isto acontecesse em Portugal em vez dos militares enviávamos os trabalhadores da Primark que já estão habituados à confusão. Se as pilhagens fossem cá, já estou a ver o pessoal do Passadeira Vermelha a comentar os motins: "Esta situação é ridícula! Roubar Nike e Louis Vuitton? Não combina, que pindéricos.". Agora que penso no Passadeira Vermelha, com esta situação toda dos motins, a Joana Latino já tens imagens de sobra para ilustrar uma notícia sobre a pandemia de 2035.
Voltando ao caos dos Estados Desunidos da América, claro que quem agrediu violentamente outros nos protestos só porque estavam a defender a sua propriedade, deve ser julgado e condenado da mesma forma que se o tivesse feito numa segunda-feira normal. Mas esse não é o ponto em que escolho focar-me nesta altura. Escolho focar-me nos protestos pacíficos, até porque acredito que sejam muito difíceis de fazer no meio de tanta raiva acumulada; focar-me nos polícias que marcham com os manifestantes e estão do lado certo, mesmo desafiando a chefia e arriscando consequências profissionais num país liderado por Trump. Não quero fazer isto sobre o Trump porque isto já aconteceu com outros presidentes, mas ter um chefe de estado que ameaça a própria população com tiros dos militares, isso é a quebra de toda a democracia e da separação dos três poderes. Mas pronto, como já todos sabemos que ele é meio atrasado, parece que até nos passa ao lado a gravidade do discurso dele porque, coitado, é tolinho, diz tudo como os malucos.
Do outro lado, claro que há quem caia na mesma narrativa de generalizar os polícias e é óbvio que isso é estupidez também. Há cerca de 800 mil polícias nos EUA e em 2019 foram mortas 1009 pessoas por agentes da autoridade. Significa que cerca de 799 mil não mataram ninguém. Mesmo que consideremos que uns não mataram porque não acertaram bem e a pessoa ficou só meia vegetal, ainda devem sobrar muitos polícias que não matam pessoas, isto não contando que provavelmente mais de metade dessas pessoas que levaram um balázio até mereceram e teve mesmo que ser.
George Floyd tornou-se um símbolo. Imaginem agora descobrirem que ele tinha assediado mulheres. Bem, o mundo entrava num paradoxo de espaço tempo e explodia.
Acho que tudo isto, juntamente com a forma como o país está a lidar com a pandemia que estará intimamente ligada a este rebentar de emoções, só vem mostrar uma coisa que já era óbvia e que é o facto de os EUA serem um país de terceiro mundo que toma banho todos os dias e vai disfarçando. Aliás, domingo foi uma metáfora perfeita para o sonho americano: um imigrante tornou-se bilionário e lançou homens no espaço através da sua empresa, enquanto milhares estão nas ruas a reivindicar direitos básicos. A antítese económica e o pináculo da tecnologia e avanço da humanidade face ao que já deveria ter sido solucionado há muito. É outra realidade. Nós por cá andamos a discutir porque há muita gente na praia, lá discute-se porque há muita gente na rua a protestar e a partir tudo. Não estamos mal, aqui, apesar de muitos também quererem transpor o racismo que existe lá para cá, comparando o incomparável só para sinalizar virtude nas redes sociais. Racismo é sempre mau, pouco ou muito, atenção, mas comparar as duas realidades é como dizer que Salazar era igual ao Hitler e não era, porque o Hitler era um ditador muito mais organizado e mais focado, além de que mamou cianeto como gente grande, não foi cá cair da cadeira feito um labrego bêbedo na esplanada do café. Temos também outro tipo de aproveitamento como o que o André Ventura faz, não percebendo a diferença entre um polícia matar um civil e um civil matar outro civil numa discussão. É uma espécie de sinalizar virtude para os burros, tal como meter uma hashtag ou uma foto no perfil não é tomar uma posição, é só querer aparecer.
Ainda há outra questão que são os ANTIFA. Não falo de anti-fascistas a sério porque isso somos todos os que não são fascistas, falo dos que no escudo de que estão a combater o fascismo, estão apenas a tentar impor o seu fascismo de esquerda que também existe. Esses que vandalizam tudo por vários motivos entre os quais "Olhem para mim", são uma espécie de hienas que só atacam em grupo porque sozinhos levam na boca e que se aproveitam das carcaças e do caos para se sentirem melhor com a sua insignificância e irrelevância. Em todos os protestos válidos, muita vezes sobressaem os idiotas, mas não é por aí que não se deve protestar. No entanto, esse é o último dos focos que deve haver nesta questão, mas o facto de o Trump lhes ter dado mais atenção a eles do que aos protestos pacíficos, mostra bem de que lado ele está e da agenda que tem.
O racismo não é de esquerda, nem de direita. O racismo é humano, sempre houve e sempre haverá. Resta-nos saber lidar com ele da melhor maneira e isso é um trabalho de todos como são todos os direitos humanos. Isto não é política. Isto não é ser do Chega ou ser do Bloco de Esquerda, isto é ser uma pessoa decente ou um monte de merda. Eu tento escolher a primeira sempre que consigo, mas às vezes também dou por mim a ter pensamentos racistas e a pensar que a raça humana é uma merda e fico do lado da pandemia.
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