25 de janeiro de 2021

O melhor resumo da noite eleitoral



Mais uma ficha da democracia, mais uma voltinha nas eleições. Desta vez, as presidenciais onde, sem surpresa, ganhou Marcelo Rebelo de Sousa à primeira volta. Isto das sondagens tira um bocado o suspense à coisa. As sondagens são uma espécie de spoilers que aceitamos como fazendo parte do jogo sem nos questionarmos que podem ser um bocado anti-democráticas. As sondagens favorecem o voto útil e, como tal, prejudicam os partidos e candidatos mais pequenos, além de potenciarem a abstenção porque "Vai ganhar o Marcelo e vai, vou votar para quê?". Mas pronto, é o costume, queixam-se todos da abstenção, mas nunca ninguém fez nada para a diminuir e como se ela fosse o problema e não um subproduto.


Bem, mas estas eleições foram como aqueles anos em que o Futebol Clube do Porto tinha os árbitros todos no bolso e já se sabia que ia ser campeão e a verdadeira luta que emocionava era a disputa pelo segundo lugar entre Sporting e Benfica ou, neste caso, entre André Ventura, aka Cara de Sapo, e Ana Gomes, aka Júlia Pinheiro. Ainda houve alguma emoção no início, mas no fim as posições ficaram como tinham previsto as sondagens, com Júlia Pinheiro a ficar à frente do Cara de Sapo, ainda que por uma margem menor do que a esperada. A noite foi abrilhantada com discursos e declarações dos candidatos e dos líderes de alguns partidos.


Vitorino Silva fez da garagem do irmão a sede da sua campanha e, nas suas declarações, percebemos que no meio daquela espuma que lhe sai da boca vêm algumas pérolas. Uma delas foi estar focado no número de votos e não em percentagens. Ele queria pelo menos mais um voto do que em 2016 e não lhe interessava as percentagens ou o lugar em que ficava. Foi o único candidato que ouvi a falar disso - do número de pessoas que confiaram neles - contrastando com todos os outros que falaram de décimas e lugares e ficar à frente deste e daquele.


A política precisava de mais Tinos porque se os políticos servem para representar o povo, Portugal é mais mini e bifana do que caviar e Pinot Noir.


O Tiago Mayan, o tal que tem nome de tarólogo ou de quem tem uma clínica de estética, é que lá se safou bem. Para quem apareceu do nada e tem o carisma de uma escada rolante, até teve uma boa votação, tirando proveito da campanha calma e limpa que fez. Nas freguesias mais ricas chegou a ter 9% de votos, nas mais pobres teve menos de 2%. Para azar dos liberais, Portugal tem muita gente pobre. Já os ricos, são espertos e sabem que serão os mais beneficiados. Mayan até inspira alguma honestidade, ao contrário do líder do seu partido que parece que a qualquer momento se transformará em Vampiro chupador de subsídios e Robin dos Bosques com as collants ao contrário, tirando dos pobres para dar aos ricos.


O Bloco de Esquerda levou forte e feio e nem o efeito lábios vermelho conseguiu tirar a derrota estrondosa a Marisa Matias que obteve menos de metade da percentagem que havia tido em 2016. Muito por culpa do voto "anti Ventura" de parte da esquerda que caiu no colo da Júlia Pinheiro. Marisa assumiu a derrota, coisa rara na política onde arranjam sempre forma de ganhar todos. Aliás, ganhar todos e todas, que é assim que se fala no Bloco, caso contrário implodem porque sentem que não estão a representar todos e todas, sendo que não se importam de não representar os portugueses e as portuguesas que não são das grandes zonas urbanas e que nunca provaram ovas de esturjão ou esturjona. 


João Ferreira fez o que faz sempre o PCP - ficar parado no tempo - e ficou um bocado na mesma que o candidato comunista em 2016. Com o PCP já se sabe que há duas coisas difíceis de admitir: a derrota e que a Coreia do Norte é uma ditadura nojenta. Jerónimo repetiu a cassete e quando digo cassete é mesmo cassete porque o PCP nunca chegou à era digital, mas a verdade é que Johnny boy nem com o voto das gajas das causas pseudo activistas do Twitter (que depois votam no candidato que acham mais bonito) conseguiu voos mais altos, mostrando que o Twitter representa menos a sociedade do que o Big Brother. 


André Ventura decidiu fazer declarações sem aceitar perguntas dos jornalistas no final. Foi o único a fazê-lo, penso eu. Os jornalistas, há uns tempos, decidiram que cobrir este tipo de conferências de imprensa sem perguntas não era uma boa prática jornalística porque era contribuir para propaganda, mas, claro que estiveram lá todos os meios de comunicação porque "Ventura é mau, buh!... mas dá um jeitaço para audiências e cliques por isso sa foda o código deontológico e a ética". André Ventura espumou-se mais do que o Tino, todo contente a celebrar vitória, mas na sua incoerência habitual, gritou vitória e derrota ao mesmo tempo por ter tido menos de 15% e ter ficado atrás da Júlia Pinheiro. Disse que esmagou a extrema-esquerda por ter mais votos que Marisa e João juntos, mas esqueceu-se que andou a campanha toda a chamar Ana Gomes de extrema-esquerda por ter feito parte do MRPP e que ela sozinha teve mais votos do que ele. Mais uma medalha de coerência para o candidato que se vendesse na feira só tinha produtos de contrafacção. A meio do seu discurso fiquei chocado com o que ouvi! Então, não é que André Ventura diz "treuze"? Foda-se, uma coisa é ser nazi, um gajo ainda desculpa, agora dizer "treuze" é inadmissível. Nem o Tino. A finalizar o seu monólogo diz o seguinte: "Humildemente posso olhar para mim próprio e agradecer a Deus por ter me colocado como a voz deste país". Mais uma contradição e incoerência.


Não se pode ser humilde e achar-se o escolhido por Deus. Aliás, por isso é que ninguém gostava de Jesus e acabou pregado na cruz, porque andava sempre todo arrogante a gabar-se "Tu por acaso sabes quem é o meu pai?".


Por falar em maluquinhos da Igreja, e aquele Pedro dos Santos Frazão, buddy do Ventura, responsável por aquele vídeo cringe onde pediam aos bispos para voltarem as missas, lembram-se? Bem, esse cantou vitória no Twitter de todas as maneiras e feitios. A bio dele no Twitter é a seguinte "Médico-Veterinário, Português, casado e pai de 8. Conservador da Natureza e da Família.". Primeiro, dizer médico-veterinário em vez de apenas veterinário já mostra um bocado complexos de inferioridade; e ser pai de 8 denota que, mais do que conservador da Natureza e da Família, é conservador do esperma, tal qual sketch dos Monty Python "Every sperm is sacred". Aliás, com esta votação de Ventura, o Pedro foi a correr introduzir o seu pénis meia-casa na vagina de sua mulher porque estava quase a vir-se e era pecado desperdiçar sémen sem ser para procriar. Por falar em veterinário no Chega, como aquilo é só animais eles não precisam de um médico a sério, lá isso é verdade. Por falar nisso, curioso como o PAN apoiou a Ana Gomes, mas houve tantos camelos e burros a votar no Ventura. Reparem que eu não disse que todos os que votavam Ventura eram burros ou camelos, por isso quem ficou ofendido enfiou a carapuça de lã, feito uma ovelhinha. Até acho que os 12% que votaram Ventura se distribuem assim:

  • 1% - Realmente fachos e nazis;
  • 3% - Gente burra como o caralho;
  • 6% - Gente decente, mas descontente com o sistema;
  • 2% - Malta que votou nele por ser do Benfica;
  • 1% - Malta que chumbou a matemática da 4ª classe.
Sim, fui alertado para o facto de poder haver alguma sobreposição entre das categorias, mas vocês percebem a ideia. A ideia é que demonizar o eleitorado do Ventura não é solução e que das quase 500 mil pessoas que votaram nele, a maior parte não será racista nem fascista. São apenas pessoas descontentes, são, mais uma vez, um sintoma e não o vírus. São aquele sinal estranho na pele que foi descurado por todos os outros políticos durante anos e que agora pode evoluir para melanoma. Há malta decente a votar no Chega, são só um bocado ingénuos por achar que Ventura é diferente e quer saber deles se um dia chegar ao poder. E um bocado burros, pronto. Algumas curiosidades: 

  • Porto foi onde Ventura teve menos percentagem. Quem come francesinhas não pode odiar emigrantes.
  • Se repararem bem, os distritos ou concelhos que têm menos vida nocturna são os que mais votam em Ventura. Pouca diversão e pouca foda dá nisto.
  • Na Buraca, agora Águas Livres, Ventura ficou em 3º com 11%, mas em Cascais e no Estoril ficou em 2º com 19%. E eu a pensar que Ventura era anti-sistema, está giro.

Por falar em sistema, agora vem aquele circo em que ele se demite e temos burros de um lado a celebrar "Demitiu-se!!! Ganhámos, vencemos o fascismo!" e burros do outro lado a chorar "Bem, ele é mesmo honesto, cumpriu a palavra". No fim, ele recandidata-se e é eleito e fica tudo na mesma e os burros fomos todos nós ao dar-lhe tanta atenção.


Para finalizar a conversa do Ventura, também não vale andar a campanha toda a dizer "Vão votar! Votem! Quem não vota é mau!" e depois agora queixarem-se "Como é possível tanta gente votar no Ventura?". Democracia não é só quando dá jeito. Dito isto, o discurso de ódio e saudações nazi não são liberdade de expressão nem democracia, são crime.


A Ana Gomes celebrou a vitória de ter ficado à frente de André Ventura, dizendo que se não fosse ela a extrema-direita teria mais votos. Não é que eu seja politólogo, mas acho uma análise errada. Sem Ana Gomes, Ventura teria ficado em 2º mas com menos votos do que os que teve. Ninguém deixou de ir votar Ventura por causa da Ana Gomes (acho eu, há realmente gente que vota à parva), mas há quem tenha ido votar Ventura por causa da Ana Gomes. Perceberam? A rivalidade entre eles acicatou malta a não se abster, seja para votar nele ou nela. Ambos ganharam com as picardias e ambos fizeram o outro crescer. Uma espécie de Messi e Ronaldo, mas sem vantagem nenhuma para o mundo. Com isto não digo que não seja importante ela ter-se candidatado para o Cara de Sapo não ficar a cantar de galo em segundo lugar. De notar que Paulo Pedroso também discursou e disse, com a sua voz fininha de Michael Jackson, estar satisfeito por ter tido o apoio dos partidos mais pequenos. Eu teria evitado essa referência.


Restava falar o presidente re-eleito, mas antes ainda falaram líderes de partidos que o apoiaram. Rui Rio veio cantar vitória, também, e eu por momentos fiquei na dúvida se isto eram as legislativas ou as presidenciais, mas isto quem não ganha nada tem de apoiar nas vitórias dos outros. É como a malta do Sporting que só vê futebol quando joga a Selecção. O Ventura chamou ao Jerónimo avô bêbado, mas esqueceu-se que, normalmente, os jantares de família são mais desestabilizados pelo tio bêbado e esse é Rui Rio.


Rui Rio elogiou tanto a vitória da direita sem problemas de se colar à extrema-direita que aposto que na mensagem de parabéns que enviou ao Cara de Sapo mandou como anexo uma nude do seu próprio cu.


Depois, veio o mais toino deles todos declarar vitória. Quem? O Chicão, "líder" do CDS. Ele a falar, com aquela cara de suricata com medo que venha um tremor de terra ou que apareça o Ljubomir do nada a dizer-lhe "Porque não te calas e vais para o caralho, meu querido?". Quase inexistente nas sondagens, um dos responsáveis pela debandada de votos do CDS para a direita mais extremada, vem cantar de galo como se ainda tivesse crista, dizer que a direita ganhou e que o CDS, como apoiou Marcelo, era um dos vencedores da noite. Chicão tem nome de super-herói e parece que por baixo daquele fato tem uma vestimenta com cores berrantes, mas em vez de ser o fato do super-homem tem cara de que tem roupa de forcado, mas dos que ficam para o fim para segurar a cauda do touro porque nem para o pegar de caras tem tomates.


No final, Marcelo foi igual a eles mesmo, para ele foi só mais um domingo de pandemia sem missa. Fez aquele discurso bonito do costume, focado nas vítimas da covid e essas coisas. Em tempos de pandemia, Marcelo é um presidente um bocado inútil. Não dá para beijinhos nem selfies nem abracinhos, vai fazer o quê? Dar afectos pelo chat roulette? É o que é, estas eleições para mim serviram para duas coisas: primeiro, para durante duas ou três horitas num domingo à noite me esquecer que havia pandemia; segundo, para percebermos que aquela estratégia "activista" de chamar facho ou esquerdalha a toda a gente que não concorda connosco está a funcionar tão bem como o sistema nervoso central do Schumacher. 


Queria só terminar dizendo que eu, humildemente, acho que esta análise às eleições é a melhor do mundo e que, por isso, vocês deviam partilhar. Obrigado a Deus por me ter dado este dom humilde e genial da escrita e do humor.





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