Para quem não leu, pode ser ver as partes que antecedem este texto.
A aventura por terras marroquinas estava a chegar ao fim. Restava-nos uma última paragem, onde iríamos estar duas noites: Moulay Bousselham, uma aldeia piscatória já perto da fronteira. Saímos cedo de Meknès e esperava-nos uma viagem de apenas três horas. Queríamos chegar cedo ao nosso último destino para aproveitar bem a piscina e a praia e conseguirmos descansar e relaxar depois de uma viagem tão cansativa. Chegámos ao hotel sem qualquer percalço, ao contrário do que havia sempre acontecido nas cidades anteriores. Fizemos o check-in e fomos directos à piscina dar uma mergulho e apreciar a vista paradisíaca para a praia. Bastava abrirmos uma porta e tínhamos os pés na areia. Na areia e em sacos de plástico e outro tipo de material não biodegradável. Fui dar um mergulho no mar que estava impecável e tentei ver onde andavam as gajas boas, aproveitando que a minha namorada tinha ficado na piscina do hotel. Depois é que percebi o porquê de ela não se ter importado que eu fosse sozinho: gajas boas, nem vê-las. Só havia mulheres tapadas do pescoço aos pés, fosse na areia a apanhar banhos de sol ou mesmo na água. Talvez um bom negócio para aqueles lados seja fazer túnicas e burkas em material dos fatos de banho ou de surf. Ou umas túnicas com um salva-vidas embutido, em que bastaria puxar um cordel para aquilo insuflar. Sabendo que os marroquinos têm excelente olho para o negócio, acredito que seja só uma questão de tempo até aparecer uma ideia destas no Arab Tank.
Depois de algumas horas a trabalhar para o bronze, fomos jantar fora a um restaurante aleatório no centro da aldeia. Pedimos para ir para o terraço, parecendo-nos que teria uma excelente vista para o pôr-do-sol.
Cadeiras e mesas de plástico todas pretas e partidas, mas com uns chapéuzinhos de palha a enfeitar. Demos meia volta e descemos. Nisto, vem uma senhora ter connosco, a perguntar o que íamos comer. Falou-nos em francês, língua que nenhum de nós sabe falar sem ser à imigrante que está em França há apenas uma semana. Ela, prestável, disse que o filho falava inglês e que podia traduzir. Nesso momento, percebemos que ela não trabalhava no restaurante! Queria colar-se ao nosso jantar em troca de serviços de intérprete dos quais não precisávamos. Quando a senhora vai à janela gritar a chamar o filho, «Muhammad Miguel», que estava do outro lado da estrada, nós efectuámos uma manobra evasiva de fazer inveja a um espião da CIA, a um ninja do Japão antigo, ou a um gajo que engravidou uma rapariga depois de uma noite no Urban. Fomos sentar-nos lá fora a um canto e nunca mais vimos a senhora. Finalmente, ao fim de vários dias em Marrocos, já estávamos a aprender com eles. A toalha de mesa pegava-se aos nossos braços e havia teias de aranha em todo o lado. Veio o empregado, extremamente simpático, de perfil magrinho e cenas pretas nos dentes que claramente não eram tinta de choco. Só falava francês mas lá nos desenrascámos apontando para o menu. Só não tínhamos a certeza do que significava «viande» e quisemos confirmar que não era borrego. Ninguém se lembrava da tradução de «vaca» para francês. Eu ainda tentei com um «Vaquê», «Vacoir» e um «Fanny», mas nada. Então, eu e a minha namorada dissemos em uníssono "Muuuhhhhhhh?" e ele riu-se e disse que sim. Foi um fartote de rir até eu depois descobrir que afinal «viande» quer dizer carnes vermelhas no geral e não apenas vaca. Resultado? As espetadas eram de borrego... O prato estava todo bem arranjado e bem servido, com a carne e os acompanhamentos deitados sobre uma cama de dois quilogramas de ramos de salsa que cobriam todo o prato, o que acabava por servir como barreira protectora contra a sujidade da loiça que estava patente nos copos e talheres com que nos presentearam. As primeiras garfadas até nos souberam bem, com a carne carregada de cominhos e tempero para disfarçar o bedum natural do borrego. No entanto, entre um e outro pedaço, foi-se instalando em nós um enjoo. Talvez fosse a carne, talvez todo o ambiente do restaurante que, apesar da vista, não era agradável.
Enquanto nos íamos queixando de tudo, uma miúda pequena vem ter à nossa mesa e começa a pedir cenas na língua dela. Pensámos que fosse dinheiro e continuámos a comer e a ignorá-la. Ela insistiu. A minha namorada começou a pensar que talvez fosse comida o que ela queria e deu-lhe uma pedaço de pão. A miúda olhou para o pão com desdém de como quem é pobre e mal-agradecida, mas depois percebemos que queria carne para o pão! Demos-lhe duas fatias com carne lá dentro e ela foi toda contente ter com a mãe que a esperava sentada num muro em frente ao restaurante. Deu uma dentada na comida e vomitou-se toda com o nojo daquela carne.
Tal como havia acontecido com as crianças a pedir dinheiro em Meknès, foi um momento triste, mas, infelizmente, vamos ganhando carapaça e ficando insensíveis a estas situações. Pedimos a conta e o senhor vem todo sorridente com ela, feita à mão, pousada num pratinho com chocolates e rebuçados. O valor era astronómico, cerca de 55€ e eu, já resignado de tantas vezes que me tentaram enganar em Marrocos, nem ia ver, pois pensava que fossem taxas de serviço e o chá supostamente oferecido e que não iríamos conseguir não pagar sem armar confusão. Eu costumo confirmar sempre a conta e nunca deixo passar uma única azeitoninha que não tenha comigo, mas foi a Xana que insistiu desta vez. Lá abri o papel e vi que algo estava errado de mais. Havia números que não se percebiam bem e o total não fazia sentido. Passei ao André para ele ver e chegámos à conclusão que nos estavam a cobrar 5€ pelo serviço e 10€ por cada prato, sendo que na lista vinham marcados como 5€. Estavam a tentar mamar-nos 25€ à força! Olha-me estes aldrabões! Chamámos o senhor e ele disse que estava certo. O André refilou a dizer que os pratos não eram 100 dirhams mas sim 55 e o senhor ainda insistiu que estava certo e que eram 100 (não havia nada a 100 dirhams na carta). Pediu-se o menu para confirmar e viu-se o olhar de "Estou fodido..." nos olhos do empregado. Tentou não trazer mas voltámos a insistir. Foi lá dentro, apressado, demorou cinco minutos, durante os quais vimos o que pareciam ser os donos do restaurante a espreitar cá fora e observar-nos. Depois, o empregado vem todo sorridente a dizer que afinal tínhamos razão. Se fosse no primeiro dia em Marrocos, se calhar tinham nos encavado, agora assim, depois de uma semana, já nós estávamos peritos em detectar este tipo de aldrabice.
Fomos até à praça central onde decorria o festival das praias de Marrocos. Tínhamos visto, cerca de cinco horas antes, pessoas já junto às grandes do palco para ficar na fila da frente. O artista da noite devia ser o Tony Carreira marroquino. Ficámos ali uma meia hora a ouvir a música, a ver as pessoas a dançar, a bater palmas e a segurar cadeiras acima da cabeça como modo de celebração. Para meu desalento, não houve mulheres todas malucas a atirar as burkas para o palco. A praça estava cheia e cheirava a frutos secos torrados, possivelmente com pregos lá dentro. Abstivémo-nos de dançar já que a nossa dança ocidental podia ser mal interpretada. Era para fazer um twerkzito, mas não quis causar ataques cardíacos ao mulherio. Vimos o que tínhamos a ver e fomos para o hotel jogar às cartas e beber o vinho que reabastecemos no Carrefour, o único local que encontrámos a vender álcool. Cinco euros a garrafa, embrulha e vai buscar, e era o mais barato que havia. Ficámos a jogar até tarde e como se estivéssemos em casa, mas no terraço. Sei que fizemos barulho a mais porque um estrangeiro de um dos quartos veio cá acima em tronco nu e cara toda remelosa mesmo quando íamos a descer as escadas para irmos dormir. Olhou para nós sem dizer nada e voltou para o quarto. No dia seguinte, parecia meio chateado com a namorada, o que me leva a crer que ela esteve a noite toda a melgar-lhe a cabeça para nos ir mandar fazer pouco barulho e que, finalmente, quando ele teve deixou de ser xoninhas e ganhou coragem já não serviu de nada.
O dia seguinte foi de relaxamento, passado na piscina para ganhar uma corzinha e para não pensarem que as fotos que tirei eram todas do Martim Moniz. Havia alguma má disposição e enjoo, e alguns de nós já estavam com o intestino a mostrar fraqueza e soltura. Deve ter sido a carne do dia anterior que fez mossa. O que vale à miúda a quem demos a carne é que ela andava a vender pacotes de lenços na rua. É por estas e por outras que eu não gosto de dar nada a ninguém. Jantámos no hotel, couscous que a dona diziam ser muito bons, isto depois de nós lhe termos dito que até agora não éramos fãs da comida marroquina. Não estavam maus, embora para o preço não estivessem nada bons. O André deixou quase tudo no prato, dizendo: «Couscous Royal? Para que é que se põem a dar nomes maricas à comida? Porque é que não dizem que isto é couscous com cozido à portuguesa mas sem os enchidos e as carnes boas? Couscous Royal é o caralho!». Teve razão.
No manhã seguinte arrancámos por volta das dez, para termos tempo de apanhar o barco que era às 13.30h. Ao chegarmos ao porto disseram-nos que afinal o barco era só as 16.00h. Esperámos ali na fila durante umas horas e lá entrámos. A viagem foi curta e depois de esperarmos bastante tempo para sair do barco, lá pisámos terra europeia. Passámos por vários postos de controlo, numa fila de uma lentidão a fazer lembrar Portugal e as suas repartições das finanças. Veio um cão cheirar-nos as rodas do carro e claro que não encontrou nada. O polícia a quem mostrámos os passaportes era português! Ficou todo contente:
- Não se vê por aqui muitos portugueses! Fizeram boa viagem?
- Fizemos sim senhor.
- Então e estes passaportes são falsificados ou quê?
- Todos verdadeiros e novinhos.
- Sim senhor, e não têm nada que vos comprometa?
- Tenho uma túnica um bocadinho gay...
- ... e droga? Não há aí droga nessa mochila? Olhem que depois a guarda civil ainda vos vai revistar. - brincou ele.
- Nada disso, eu sou da Buraca... Acha que preciso de trazer droga de Marrocos?
- Está bem visto sim senhor. Vá, boa viagem e obrigado por este bocadinho em que pude treinar o português.
Passámos os pontos de controlo todos e fomos direitos a Sevilha, para jantarmos num restaurante que eu conhecia e que é do caraças. Jantámos divinamente, várias tapas e comidas boas, que nos souberam ainda melhor depois de tantos dias a comer mal e porcamente. Pagámos 15€ cada um, uma pechincha em pleno centro sevilhano e no 1º Mundo. Não nos assaltaram o carro, o que em Sevilha também foi de estranhar. A recta final até Lisboa estava à nossa espera e fizémo-la de seguida, chegando às três da manhã à bela localidade da Buraca.
Ao chegarmos lá acima, vemos o que parecia ser a esplanada do AquaParque depois de vinte anos de abandono e exposição às intempéries.
Cadeiras e mesas de plástico todas pretas e partidas, mas com uns chapéuzinhos de palha a enfeitar. Demos meia volta e descemos. Nisto, vem uma senhora ter connosco, a perguntar o que íamos comer. Falou-nos em francês, língua que nenhum de nós sabe falar sem ser à imigrante que está em França há apenas uma semana. Ela, prestável, disse que o filho falava inglês e que podia traduzir. Nesso momento, percebemos que ela não trabalhava no restaurante! Queria colar-se ao nosso jantar em troca de serviços de intérprete dos quais não precisávamos. Quando a senhora vai à janela gritar a chamar o filho, «Muhammad Miguel», que estava do outro lado da estrada, nós efectuámos uma manobra evasiva de fazer inveja a um espião da CIA, a um ninja do Japão antigo, ou a um gajo que engravidou uma rapariga depois de uma noite no Urban. Fomos sentar-nos lá fora a um canto e nunca mais vimos a senhora. Finalmente, ao fim de vários dias em Marrocos, já estávamos a aprender com eles. A toalha de mesa pegava-se aos nossos braços e havia teias de aranha em todo o lado. Veio o empregado, extremamente simpático, de perfil magrinho e cenas pretas nos dentes que claramente não eram tinta de choco. Só falava francês mas lá nos desenrascámos apontando para o menu. Só não tínhamos a certeza do que significava «viande» e quisemos confirmar que não era borrego. Ninguém se lembrava da tradução de «vaca» para francês. Eu ainda tentei com um «Vaquê», «Vacoir» e um «Fanny», mas nada. Então, eu e a minha namorada dissemos em uníssono "Muuuhhhhhhh?" e ele riu-se e disse que sim. Foi um fartote de rir até eu depois descobrir que afinal «viande» quer dizer carnes vermelhas no geral e não apenas vaca. Resultado? As espetadas eram de borrego... O prato estava todo bem arranjado e bem servido, com a carne e os acompanhamentos deitados sobre uma cama de dois quilogramas de ramos de salsa que cobriam todo o prato, o que acabava por servir como barreira protectora contra a sujidade da loiça que estava patente nos copos e talheres com que nos presentearam. As primeiras garfadas até nos souberam bem, com a carne carregada de cominhos e tempero para disfarçar o bedum natural do borrego. No entanto, entre um e outro pedaço, foi-se instalando em nós um enjoo. Talvez fosse a carne, talvez todo o ambiente do restaurante que, apesar da vista, não era agradável.
Enquanto nos íamos queixando de tudo, uma miúda pequena vem ter à nossa mesa e começa a pedir cenas na língua dela. Pensámos que fosse dinheiro e continuámos a comer e a ignorá-la. Ela insistiu. A minha namorada começou a pensar que talvez fosse comida o que ela queria e deu-lhe uma pedaço de pão. A miúda olhou para o pão com desdém de como quem é pobre e mal-agradecida, mas depois percebemos que queria carne para o pão! Demos-lhe duas fatias com carne lá dentro e ela foi toda contente ter com a mãe que a esperava sentada num muro em frente ao restaurante. Deu uma dentada na comida e vomitou-se toda com o nojo daquela carne.
Mentira! Comeu e lambeu os dedos. Quem tem fome a sério não liga se o tempero está q.b. e se a massa está al dente.
Tal como havia acontecido com as crianças a pedir dinheiro em Meknès, foi um momento triste, mas, infelizmente, vamos ganhando carapaça e ficando insensíveis a estas situações. Pedimos a conta e o senhor vem todo sorridente com ela, feita à mão, pousada num pratinho com chocolates e rebuçados. O valor era astronómico, cerca de 55€ e eu, já resignado de tantas vezes que me tentaram enganar em Marrocos, nem ia ver, pois pensava que fossem taxas de serviço e o chá supostamente oferecido e que não iríamos conseguir não pagar sem armar confusão. Eu costumo confirmar sempre a conta e nunca deixo passar uma única azeitoninha que não tenha comigo, mas foi a Xana que insistiu desta vez. Lá abri o papel e vi que algo estava errado de mais. Havia números que não se percebiam bem e o total não fazia sentido. Passei ao André para ele ver e chegámos à conclusão que nos estavam a cobrar 5€ pelo serviço e 10€ por cada prato, sendo que na lista vinham marcados como 5€. Estavam a tentar mamar-nos 25€ à força! Olha-me estes aldrabões! Chamámos o senhor e ele disse que estava certo. O André refilou a dizer que os pratos não eram 100 dirhams mas sim 55 e o senhor ainda insistiu que estava certo e que eram 100 (não havia nada a 100 dirhams na carta). Pediu-se o menu para confirmar e viu-se o olhar de "Estou fodido..." nos olhos do empregado. Tentou não trazer mas voltámos a insistir. Foi lá dentro, apressado, demorou cinco minutos, durante os quais vimos o que pareciam ser os donos do restaurante a espreitar cá fora e observar-nos. Depois, o empregado vem todo sorridente a dizer que afinal tínhamos razão. Se fosse no primeiro dia em Marrocos, se calhar tinham nos encavado, agora assim, depois de uma semana, já nós estávamos peritos em detectar este tipo de aldrabice.
Fomos até à praça central onde decorria o festival das praias de Marrocos. Tínhamos visto, cerca de cinco horas antes, pessoas já junto às grandes do palco para ficar na fila da frente. O artista da noite devia ser o Tony Carreira marroquino. Ficámos ali uma meia hora a ouvir a música, a ver as pessoas a dançar, a bater palmas e a segurar cadeiras acima da cabeça como modo de celebração. Para meu desalento, não houve mulheres todas malucas a atirar as burkas para o palco. A praça estava cheia e cheirava a frutos secos torrados, possivelmente com pregos lá dentro. Abstivémo-nos de dançar já que a nossa dança ocidental podia ser mal interpretada. Era para fazer um twerkzito, mas não quis causar ataques cardíacos ao mulherio. Vimos o que tínhamos a ver e fomos para o hotel jogar às cartas e beber o vinho que reabastecemos no Carrefour, o único local que encontrámos a vender álcool. Cinco euros a garrafa, embrulha e vai buscar, e era o mais barato que havia. Ficámos a jogar até tarde e como se estivéssemos em casa, mas no terraço. Sei que fizemos barulho a mais porque um estrangeiro de um dos quartos veio cá acima em tronco nu e cara toda remelosa mesmo quando íamos a descer as escadas para irmos dormir. Olhou para nós sem dizer nada e voltou para o quarto. No dia seguinte, parecia meio chateado com a namorada, o que me leva a crer que ela esteve a noite toda a melgar-lhe a cabeça para nos ir mandar fazer pouco barulho e que, finalmente, quando ele teve deixou de ser xoninhas e ganhou coragem já não serviu de nada.
O dia seguinte foi de relaxamento, passado na piscina para ganhar uma corzinha e para não pensarem que as fotos que tirei eram todas do Martim Moniz. Havia alguma má disposição e enjoo, e alguns de nós já estavam com o intestino a mostrar fraqueza e soltura. Deve ter sido a carne do dia anterior que fez mossa. O que vale à miúda a quem demos a carne é que ela andava a vender pacotes de lenços na rua. É por estas e por outras que eu não gosto de dar nada a ninguém. Jantámos no hotel, couscous que a dona diziam ser muito bons, isto depois de nós lhe termos dito que até agora não éramos fãs da comida marroquina. Não estavam maus, embora para o preço não estivessem nada bons. O André deixou quase tudo no prato, dizendo: «Couscous Royal? Para que é que se põem a dar nomes maricas à comida? Porque é que não dizem que isto é couscous com cozido à portuguesa mas sem os enchidos e as carnes boas? Couscous Royal é o caralho!». Teve razão.
No manhã seguinte arrancámos por volta das dez, para termos tempo de apanhar o barco que era às 13.30h. Ao chegarmos ao porto disseram-nos que afinal o barco era só as 16.00h. Esperámos ali na fila durante umas horas e lá entrámos. A viagem foi curta e depois de esperarmos bastante tempo para sair do barco, lá pisámos terra europeia. Passámos por vários postos de controlo, numa fila de uma lentidão a fazer lembrar Portugal e as suas repartições das finanças. Veio um cão cheirar-nos as rodas do carro e claro que não encontrou nada. O polícia a quem mostrámos os passaportes era português! Ficou todo contente:
- Não se vê por aqui muitos portugueses! Fizeram boa viagem?
- Fizemos sim senhor.
- Então e estes passaportes são falsificados ou quê?
- Todos verdadeiros e novinhos.
- Sim senhor, e não têm nada que vos comprometa?
- Tenho uma túnica um bocadinho gay...
- ... e droga? Não há aí droga nessa mochila? Olhem que depois a guarda civil ainda vos vai revistar. - brincou ele.
- Nada disso, eu sou da Buraca... Acha que preciso de trazer droga de Marrocos?
- Está bem visto sim senhor. Vá, boa viagem e obrigado por este bocadinho em que pude treinar o português.
Passámos os pontos de controlo todos e fomos direitos a Sevilha, para jantarmos num restaurante que eu conhecia e que é do caraças. Jantámos divinamente, várias tapas e comidas boas, que nos souberam ainda melhor depois de tantos dias a comer mal e porcamente. Pagámos 15€ cada um, uma pechincha em pleno centro sevilhano e no 1º Mundo. Não nos assaltaram o carro, o que em Sevilha também foi de estranhar. A recta final até Lisboa estava à nossa espera e fizémo-la de seguida, chegando às três da manhã à bela localidade da Buraca.
Foi uma experiência inesquecível esta minha primeira saída do velho continente. Marrocos é um país que vale a pena visitar, mais do que uma vez. Gostava de voltar a algumas das cidades e conhecer outras. Para não falar de que tenho que ir passar uma noite no deserto, que foi uma das grandes falhas desta viagem. É um país pobre, com miséria e lixo nas ruas, mas tem um povo que apesar de se ver obrigado a utilizar algumas técnicas de aldrabice, prefere fazer isso do que assaltar os turistas. Qualquer outro país pobre teria muito mais violência e insegurança! Aqui não e não acredito que seja só devido às leis duras que penalizam quem interfere com o turismo. Acredito que seja porque é realmente um povo bom, se esquecermos a parte de que muitos obrigam as mulheres a andar tapadas e as tratam como seres inferiores. São sinais do atraso devido ao tempo que passa mais devagar quando a religião está tão presente. Um dia, acredito que melhore. No fundo, Marrocos e Portugal não são assim tão diferentes: gostamos de enganar os turistas; os transportes estão sempre atrasados; e conduzimos sem qualquer tipo de civismo. Seja como for, vale a pena. Vão lá que não se vão arrepender e sai mais caro ir ao Allgarve.
PODES SEGUIR-ME NO INSTAGRAM