As imagens de ontem deixaram-me a pensar que se os taxistas fazem aquilo aos carros da UBER com gente lá dentro, imaginem quando vierem os carros que conduzem sozinhos! Os taxistas vão ser o último reduto da humanidade contra a Skynet.
2042: Prólogo
Estamos em 2042 e o mundo mudou. Os humanos já não são o pináculo da inteligência e são as máquinas que ditam as regras. As máquinas são controladas pela Skynet, uma inteligência artificial criada pela empresa UBER, que se tornou consciente e tomou conta do mundo e, sobretudo, do negócio de transportes de passageiros com os seus carros que conduzem sozinhos e que não cheiram a sem-abrigo que tomou banho num cinzeiro. Os humanos tentam sobreviver como podem no subsolo, obrigados a uma vida de subserviência às máquinas que são donas de tudo. No entanto, há um último reduto de esperança da humanidade que não se deixa subjugar: os taxistas portugueses. Os taxistas portugueses não aceitam que a Skynet tome conta do que já foi deles e lhes encha as ruas de carros que se conduzem sozinhos de forma ordeira e sem acidentes.
2016: como tudo começou
Tudo começou em 2016, ano em que a UBER se começou a massificar em Portugal e foi aprovada para operar de forma legal neste pequeno retângulo à beira mar plantado onde o progresso teima em não chegar. Os taxistas portugueses desde cedo perceberam a ameaça, e a agenda escondida da UBER para controlar a humanidade, e formaram milícias armadas que perseguiam e agrediam os motoristas que lhes queriam fazer concorrência. A estratégia era simples: retomar o controlo do monopólio a todo o custo para impedir o fim da humanidade como a conhecemos. Foram confrontos, greves, e muita gente de palito na boca em forma de protesto. Infelizmente, a UBER venceu e conseguiu o apoio do resto da população que não teve a inteligência para ver para além das promessas de um serviço melhor, mais cómodo, e mais barato.
2042: Cajó Connor
A rebelião taxista é comandada pelo líder da resistência humana, elevado ao estatuto de herói, Cajó Connor. Chegara o dia D, em que os soltados de praça iriam tentar deitar abaixo a Skynet. Reunidos numa zona segura da cidade, Cajó faz um discurso inspirador às suas tropas. Da mesa do fundo de uma tasca e enquanto ia sorvendo golos de uma mini e coçando os tomates, disse as palavras mais inspiradoras que aqueles taxistas ouviram até então: «Vamos lá, caralho! Vamos mostrar a esses maricas da UBER e da Skynet quem é que manda nesta merda! Somos chauffeurs de praça ou somos ratos, foda-se?». A multidão aplaude Cajó de pé. Alguns sentados, porque eram três da tarde e o vinho do almoço já trazia alguma dormência àqueles corpos cansados de tantas lutas e reivindicações. As palavras do fogareiro Connor teve o efeito de um elixir e os taxistas ficaram mais motivados do que nunca para a batalha final. Munidos de maços de Ventil, anéis de ouro e uma unha ressequida do dedo mindinho que crescera até ser considerada arma branca, saíram a correr para a batalha final ao som da rádio Amália.
2015: O contínuo espaço-tempo
A Skynet envia uma máquina altamente avançada que se parece com um humano: o Taxirminator. Envia-o para matar Cajó Connor ainda jovem para que ele não cresça para ser o líder da revolução humana. O plano era simples: o Taxirminator chegaria a uma praça de táxis e entraria no táxi de Cajó onde pediria um serviço para depois o matar. No entanto, a inteligência artificial subestimou a esperteza saloia dos taxistas e, ao chegar ao Parque das Nações, não conseguiu que Cajó Connor o levasse até ao aeroporto. Confuso, e sem saber se Cajó desconfiaria de algo, tentou novamente. Nada. Cajó Connor disse-lhe que não faria o serviço e foi aí que a Skynet detetou o padrão e percebeu que Cajó não dava boleia a pretos. O Taxirminator tinha assumido a cor de pele escura para se assemelhar aos ídolos de Cajó Connor: Mantorras e Eusébio.
2017: Skynet Contra-Ataca
Frustradas as tentativas de matar o jovem Cajó Connor com o primeiro Taxirminator, a Skynet percebeu que para ganhar a confiança do taxista teria de enviar um modelo que se parecesse com outro ídolo de Cajó: Professor António de Oliveira Salazar. Não obstante, e para garantir o sucesso da missão, a Skynet decidiu enviar um modelo mais avançado, o T1000: feito de metal líquido e armado com o que os taxistas mais temem: conhecimento das tarifas que devem ser aplicadas. O T1000 teletransportou-se até ao aeroporto e esperou por Cajó Connor na praça. Entrou e disse-lhe que era para Sintra, numa rua isolada onde a máquina poderia matá-lo sem deixar testemunhas. Pediu-lhe para guardar uma mala na bagageira, para que o esperto Cajó não desconfiasse e, quando entrou no carro, reparou que o taxímetro já cobrava 20 euros e estava em tarifa 3. O T1000 confrontou-o com o facto, mas o Cajó esquivou-se dizendo «Ó amigo, eu não o ensino a fazer o seu trabalho, pois não?» O T1000 ficou sem argumentos, já que o seu algoritmo de processamento de língua natural não estava preparado para a chico-espertice tuga. Começou a viagem e, entre buzinadelas e caralhadas, o taxista lá se foi dirigindo até à morada de destino. No entanto, com o atalho demorado que levou Cajó a ir dar a volta a uma rotunda a Santarém porque «Este caminho é melhor para fugir ao trânsito que a IC19 está complicada.», após hora e meia e com mais de 200€ marcados no taxímetro, os planos da Skynet foram, novamente, por agua abaixo: com tanto tempo demorado o T1000 ficou sem bateria.
2042: O confronto final
Voltamos ao ano de 2042 e ao dia do confronto final. Os taxistas formam uma marcha lenta com os seus Mercedes de 1980 e gritando palavras de ordem como «Só queremos direitos iguais e também as regalias!» e «No tempo de Salazar nem os smartphones eram permitidos!». Chegam ao quartel general da Skynet e acampam à porta. Depois de umas horas em negociações inúteis, decidem, então, fazer algo arriscado. Cajó, perto de um cabo de alta tensão, comanda para que todos os taxistas formem um cordão humano. Pede-lhes que se unam numa corrente, lado a lado, encostando os bigodes uns aos outros, para que a cerveja ainda ressequida sirva como potenciadora da condução de corrente elétrica. Todos assumem os seus postos e no fim da fila está o Arnaldo, um ex-condutor da UBER que foi reprogramado pelos taxistas à base da chapada na nuca. Arnaldo coloca a mão no servidor da Skynet e Cajó completa o circuito. A Skynet explode com a sobrecarga, mas os taxistas sobrevivem devido aos crucifixos de borracha que tinham ao pescoço, pousados sobre uma fofa camada de pilosidades peitorais.
É o fim da Skynet. Obrigado taxistas. Obrigado Cajó Connor.
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