Então, parece que há restaurantes que agem de má fé com turistas? Ah, estou em choque! Sempre pensei que fosse mito como o a espécie elusiva do taxista que nidifica nos aeroportos. Uma espécie de Big Foot português que só quem sofre de miopia e se esqueceu dos óculos consegue ver ao longe. Embora ache que só é burlado, num restaurante, quem quer, já que Portugal não é um país de mafiosos que te partem as rótulas se refilares e chamares a polícia, vou deixar um breve guia para diminuir os casos de aldrabice em restaurantes. É dirigido a turistas, mas vou escrever em português e eles, se quiserem, que aprendam a língua que este blogue não é um restaurante em Vilamoura.
Restaurante sem preços à porta é caro.
É o bê-á-bá da restauração na óptica do utilizador. Um restaurante sem uma ementa colada numa vitrina à entrada é daqueles que se leva demasiado a sério e acha que o cliente vai lá para ter uma experiência sensorial e não porque tem fome e precisa de comer e ficar satisfeito. Se o restaurante tem preços à porta e decides não ver porque tens vergonha de ser de classe média e só percebes que o prato custa 100€ quando te sentas e vês a ementa, tens duas opções: sair ou ficar e pagar. Se optares pela segunda só para parecer bem, és uma palerma e mereceste ser roubado. Sim, porque um prato a 100€ é sempre um assalto mesmo que tenha trufas pretas que só crescem no rabo do menino Jesus.
Ver ou perguntar sempre os preços antes.
Não quiseste ver os preços à porta para não dares ar de pelintra? A ementa não tem preços e não queres perguntar para impressionar a menina que trouxeste no primeiro encontro? Temos pena. Se te cobrarem 100€ por um bitoque só estás a ter o que mereces. Das duas uma: ou és rico e não te preocupas com preços, ou não és rico e não perguntas para pareceres que és rico e assim até te estão a ajudar, já que a melhor forma de pareceres rico é pagares 100€ por um bitoque de frango.
Perguntar o preço de coisas que não estão no menu.
Vamos assumir que és vegan e que pedes um bitoque sem carne nem ovo e que passaram aquela parte constrangedora em que o empregado pergunta se queres uma fatia de fiambre e queijo e dizes que não comes carne e ele pergunta se queres omeleta por aí fora. Chegam à conclusão que é só mesmo batatas, arroz e salada, prato que, obviamente, não está no menu da tasca. Pergunta quanto é, caso contrário não podes refilar quando na conta vier o mesmo preço que terias pago se comesses o bife. Se, no fim, te armares em esperto ao dizeres que o teu prato feito à medida não consta na ementa e que por isso não pagas, és um palerma. Sim, lamento, mas os vegans também podem ser palermas.
O que vem para a mesa é oferecido?
Algures na lei diz que o que vem ou está na mesa sem ter sido pedido é, por defeito, oferta da casa. No entanto, deves assumir que não é e não vale a pena armares-te em esperto e comer tudo para depois refilar. Pergunta primeiro porque ninguém gosta de clientes armados ao pingarelho. Outra comum é quando vem o empregado todo simpático a dizer que tomou a liberdade de trazer uns ovos mexidos com farinheira e que são cumprimentos do chef. Perguntem quanto custa, já que, normalmente, cumprimentos do chef quer só dizer que ele manda um «Olá, tudo bem?» para a mesa. Se for caro e não quiserem, mandem para trás tal como quando uma prostituta se faz a vocês no Tinder.
Se comeste uma azeitona, mais vale comeres todas.
Eu sei que é chato pagar por um prato de azeitonas quando só comeste uma e sabes que as restantes vão ser reutilizadas para os próximos clientes, mesmo que as tenhas metido na boca e chupado o azeite. Sabendo disso, já que vais pagar, mais vale comeres todas ou trazeres para casa. Não só é mais justo para ti, como evitas reciclagem de acepipes. Se comeste uma e engoliste o caroço só para no fim te armares em chico-esperto e dizeres que não pagas, és um palerma.
Quando o empregado sugere um vinho, é porque é caro.
Pedes um jarro de vinho da casa e o empregado diz que é melhor pedirem uma garrafa que é uma excelente pomada? Aceitas sem perguntar o preço? És patego. Pergunta quanto custa. Perguntar o preço das coisas não é sinónimo de ser pelintra, mas sim de quem trabalhou muito para ter o dinheiro que tem, seja pouco ou muito. Ninguém fica rico a gastar à parva sem se preocupar com o preço das coisas. Isso é só para quem já nasceu rico e não sabe o que custa a vida.
Manter registo das bebidas.
Estás num restaurante e já se pediram dez imperiais antes do jantar começar e já vieram vinte jarros de sangria para a mesa, só durante as entradas? Toma nota disso porque vai haver engano na ementa e em 99% dos casos é a favor do restaurante. Já deve haver uma app para este efeito que também podes usar quando te quiseres gabar de ser muito homem ao enumerares tudo o que já bebeste, enquanto tentas convencer um candeeiro de que estás sóbrio.
Sobremesas.
É nas sobremesas que, muitas vezes, os restaurantes fazem dinheiro. Há restaurantes em que o prato, sopa e bebida custam 5€ e depois uma mini fatia de bolo de chocolate custa 6€. É preciso ter atenção já que por alguma razão os empregados sabem sempre de cor as sobremesas que têm: para não terem de te trazer a lista e te assustar com os preços. Ah, e sempre que perguntares se a mousse é caseira lembra-te que nunca nenhum empregado de restaurante disse que "não" e, por isso, depois não te queixes se ela for caseira porque o preparado instantâneo foi feito em casa da cozinheira.
Confere a conta no final.
Tens vergonha de conferir a conta por teres medo que pensem que és pobre? Mereces ser enganado. Encontras uma entrada na conta que não comeste e decides não dizer nada para não pareceres um sem-abrigo? Mereces ser enganado. Bem sei que não conferes a conta quando vais ao hipermercado fazer as compras do mês, mas no restaurante é mais provável que se tenham "enganado". Se vires lá ver as entradas que não comeste, só tens de dizer ao empregado que houve um engano porque também não vale a pena começares logo a gritar que te estão a assaltar. Pode ter sido um erro inocente, pouco provável, mas pode.
Sair sem pagar é sempre uma opção.
Se tens a certeza que te estão a burlar e estás com demasiada pressa para chamar a polícia, ir embora sem pagar é uma opção válida. Ladrão que rouba ladrão tem um milhão de anos de perdão. Sim, eram menos anos, mas com a inflação agora é assim. Eles vão fazer o quê? Agarrar-te? Não. Chamar a polícia depois de te terem tentado burlar? Claro que não. Por isso, optas pela mesma política que está por trás destas armadilhas para turistas: «O turista só vem uma vez, podemos enganar e não é preciso fidelizar.» e usas a lógica do «Já que não vais voltar, podes sair sem pagar.». Não faças é a figura de um gajo que eu conheço que saiu sem pagar só porque sim e, depois, esqueceu-se e voltou lá passado um mês e foi reconhecido, claro.
Sê honesto que o karma é um prato gourmet.
Por fim, se reparares na conta que se enganaram a teu favor, avisa o empregado. Eu sei que custa ser honesto, mas assim podes queixar-te com mais legitimidade quando te tentarem enganar. Isso ou não digas que falta um prato na conta e deixas 10€ de gorjeta. No fundo, pagas o mesmo, mas fazes boa figura. Isto se preferires mandar pausa de rico em vez de honesto.
PS: Depois do verão vou estrear o meu espectáculo a solo de stand up comedy que vai passar por várias cidades. Se quiserem receber uma notificação por email quando as datas foram reveladas e os bilhetes estiverem à venda, deixem os vossos contactos neste link. Se não quiserem, partilhem este texto no botão em baixo ficamos amigos na mesma.
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