Não sou um gajo muito conhecedor de política internacional, mas o caso do Bolsanaro extravasa a política e resvala para o humor porque as desgraças dos outros têm sempre alguma piada para nós, deste lado do Atlântico. Por isso, vou analisar algumas das frases mais polémicas do, aparentemente, futuro presidente do Brasil.
"O erro da ditadura foi torturar e não matar". Até aqui tudo bem, se eu fosse ditador também matava pessoas, nomeadamente violadores, mas o poder sobe-nos à cabeça e sei que depois ia alargando o critério e começava a matar quem trata os filhos por você e quem não mete piscas nas rotundas. No fim, sobrava eu e meia dúzia de pessoas e, apesar de ser um mundo quase perfeito, haveria poucas gajas boas para apreciar.
"Não empregaria homens e mulheres com o mesmo salário. Mas tem muita mulher que é competente". Discordo. Acho que existem poucas mulheres competentes, tal como existem poucos homens competentes. A grande maioria das pessoas é incompetente e passa o dia nas redes sociais a fingir que trabalha, enquanto fazem tempo até o chefe ir embora só para saírem cinco minutos depois e ficarem bem vistos.
"Fui com os meus três filhos, o outro foi também, foram quatro. Eu tenho o quinto também, o quinto eu dei uma fraquejada. Foram quatro homens, a quinta eu dei uma fraquejada e veio mulher". O que mais me assusta é este senhor ter procriado cinco vezes porque sejam homens ou mulheres vão, certamente, sair atrasados mentais como o pai. Quanto a dar uma fraquejada e sair uma mulher, toda a gente sabe que é verdade e que, no fim do sexo, quando há quebra de tensão é porque o bebé sai com pipi.
"Jamais ia estrupar [violar] você [a deputada Maria do Rosário] porque você não merece". Bom, acho que também não podemos demonizar tudo o que o Bolsonaro diz. No fundo, ele está a dizer que a Maria do Rosário não merece ser violada e isso parece-me uma coisa que toda a gente com bom senso achará ou haverá quem pense que ela merece ser violada? Nem estava a usar minissaia nem nada.
"Seria incapaz de amar um filho homossexual. Não vou dar uma de hipócrita aqui. Prefiro que um filho meu morra num acidente do que apareça com um bigodudo por aí". Eu a pensar que expressão "borra-gaitas" era a coisa mais ofensiva que se podia dizer sobre homossexuais, mas afinal o Bolsonaro prefere um filho morto do que gay. Mal ele sabe que maquilham os cadáveres para o funeral. Depois, parece-me que lhe escapou a boca para a verdade quando se refere a um bigodudo, mostrando que é pelos homens de bigode que ele sente maior atracção. Logo vi que o Bolsonaro seria o passivo.
"Não vou combater nem discriminar mas, se eu vir dois homens se beijando na rua, vou bater". Vai bater-lhes uma? Tipo "Olha eu aqui a tocar-te uma sarapitola num instante que ficas já satisfeito e paras com essas mariquices de beijo na rua"? É uma estratégia estranha para combater a homossexualidade, mas não vou rejeitar que possa funcionar.
"Através do voto você não vai mudar nada nesse país, nada, absolutamente nada. Só vai mudar, infelizmente, no dia em que partir para uma guerra civil (...) matando uns 30 mil. (...) Se vão morrer alguns inocentes, tudo bem, tudo quanto é guerra morre inocente". Bem, felizmente que o Bolsonaro estava enganado e parece que através do voto será possível mudar o Brasil para pior. Por isso, talvez reste mesmo a violência para combater a violência porque com manifestações e hashtags a coisa parece não ter dado resultado. Serviram mais para tirar selfies para o Instagram do que para tirar votos ao Bolsonaro.
"Se o filho começa a ficar assim meio gayzinho, [ele] leva um couro e muda o comportamento dele". Ora bem, já vi pessoal cujos pais descobriram que eles fumavam e levaram porrada e não mudaram o comportamento. Bem sei que a nicotina é viciante, mas duvido que se porrada não serve para tirar cigarros da boca, sirva para tirar pilas. Diria que quem gosta de pilas gosta mais de pilas do que quem fuma gosta de cigarros. Pelo menos, eu viveria mais facilmente sem tabaco do que sem pipi.
"Eu não corro esse risco (de um dos meus filhos se apaixonar por uma negra). Meus filhos foram muito bem educados e não viveram em ambiente como lamentavelmente é o teu". Acredito que ele não corra esse "risco" porque de, certeza, que os filhos dele são tão racistas quanto o pai.
"Ninguém gosta de homossexual, a gente suporta". Falso. Os homossexuais gostam bastante de homossexuais e o resto das pessoas suporta os homossexuais como suporta os heterossexuais, porque na verdade a vida é isso mesmo: suportarmo-nos uns aos outros.
"Os grupos fundamentalistas homossexuais querem que os heterossexuais gerem crianças para eles transformarem em gays e lésbicas para satisfazê-los sexualmente no futuro." Faz sentido, da mesma forma que eu gostava que todos os casais gerassem apenas filhas que se transformassem em mulheres safadas e tetudas, mas, infelizmente, não me parece que por muita pressão e campanhas que faça, com mensagens subliminares, a coisa funcione a meu favor. A natureza é que manda em ambos os casos.
"90% desses meninos adotados (por casal gay) vão ser homossexuais e vão ser garotos de programa com toda certeza desse casal". Como o Bolsonaro usou percentagens nesta frase, toda a gente sabe que é um facto verdadeiro, mas tenho algumas dúvidas sobre como funciona este tipo de prostituição dentro da família. As crianças só recebem mesada se fizerem a cama, lavarem a loiça e sentarem no colo dos pais? E se um casal de homens adoptar uma menina, como é? Garotos de programa? Anda um pai a pagar os estudos dos filhos e ainda vai ter de pagar para fazer sexo com eles? Realmente, as crianças adoptadas são umas ingratas.
"Fui num quilombo [onde atualmente vivem descendentes de escravos] e o afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada! Nem para procriador eles servem mais". Sete arrobas são mais ou menos 100 kg e não me parece que seja um peso impeditivo para procriar. Às vezes, quando vejo um casal de gordos de 200 kg penso que ele terá de ter um pénis bastante avantajado para conseguir chegar ao objectivo, mas com 100 kg não me parece proibitivo. Talvez o Bolsonaro lhes tenha pedido para lhe fazerem um filho no rabo e como depois deu negativo no teste de gravidez tenha ficado com essa ideia errada. Já agora, usar a unidade de pesagem "arroba" tem aqui um duplo sentido: por um lado, como era a medida usada para pesar gado, Bolsonaro está, (in)directamente, a chamar animais aos negros; por outro lado, faz algum sentido que ele use esta unidade antiga porque ele tem uma mentalidade que só faz sentido no séc. XV.
Sim, são mesmo frases dele e não de um taxista português. A grande diferença é essa: um taxista que pense desta forma, no máximo decide se vais do aeroporto de Lisboa até ao Chiado passando por Santarém; o Bolsonaro vai ter poder para decidir mais coisas sobre a vida das pessoas. Isto é muito simples: o Bolsonaro é um atrasado mental e quem vota nele porque concorda com estas frases é um atrasado mental ainda maior e um ser humano de merda. Quem vota nele porque acha que é o menos mau dos candidatos, parece-me que é só burro e desinformado.
***ALERTA***
A 2ª temporada do Falta de Chá está disponível neste link. Se gostam de sketches de comédia, façam o favor de ver, dar o vosso feedback e, caso seja positivo, partilhem com os vossos amigos. Obrigado!