21 de outubro de 2019

Professor agride aluno: excesso ou justificado?



Um professor agrediu um aluno do 8º ano durante uma aula. Dizem as testemunhas que tudo começou quando o aluno, depois de ter sido avisado, foi ao telemóvel outra vez. Nisto, o professor passou-se e disse "Dá cá o caralho do telemóvel, filho da puta" e como o aluno não largou o telemóvel o professor agarrou-o pelo pescoço e atirou com a cabeça dele contra uma das mesas. Fatality.

Eu sei o que estão a pensar "Ser professor é muito desgastante e isto deve ter sido depois dele aturar muita coisa e passou-se". Não, foi no primeiro dia de aulas daquele professor naquela escola! Era uma aula de apresentação, nem estavam a dar matéria! Boss! Todos sabemos que os professores, nos primeiros dias de aula, têm de mostrar respeito, mas ser amigáveis, e têm de evitar situações constrangedoras para não ficarem com alcunhas para o resto do ano; que o diga a Queques, a Voz de Robô e o Pila Rota (não perguntem), meus professores do 7º ano. Se calhar foi por medo das alcunhas que este professor abordou o ensino do 3º ciclo como se fosse uma prisão, onde é preciso chegar e mostrar quem manda. O professor identificou o alfa da turma, que normalmente é o mais otário e que, por isso, é o mais popular, e fez-lhe uma manobra de wrestiling. Acham que alguém lhe vai dar a alcunha de caixa de óculos? Nada disso, o gajo vai ficar conhecido como o Mike Tyson.

O mais estranho deste caso é que foi numa escola de Alvalade. É que nas escolas onde eu andei, na Buraca e na Damaia, isto não era notícia, era uma segunda-feira normal, mas em Alvalade achei estranho. Pensava que as pessoas desta zona eram mais civilizadas e que resolviam os conflitos de outra forma que não a violência ou a linguagem obscena. Acho estranho o professor não ter desafiado o aluno para um duelo de esgrima ou uma corrida de cavalo com obstáculos. Na escola primária onde andei, na Buraca, havia uma professora infame que tinha na sua posse a Dona Chiba. A Dona Chiba era uma régua de madeira com vários buracos para criar menos resistência ao ar e, assim, atingir uma maior aceleração e velocidade para que a energia cinética fosse maior, o que resultava num choro mais agudo da criançada que se portava mal e levava com ela no lombo. Já no 5º ano vi uma aluna a agredir um professor. Ele era meio deficiente porque tinha tido um acidente e ela era um pequenito diabo da Tasmânia que andava à porrada com gajos nos intervalos e que decidiu, depois de ser mandada para a rua, empurrar o professor e dizer "Você é um atropelado" antes de sair. O professor tentou ir atrás dela, mas era meio coxo e ela corria muito. Gritou umas cenas, mas ninguém percebeu muito bem porque a baba atrapalhou.

Este acontecimento deu também para perceber que há uma distinção de tratamento por parte dos media. A notícia foi dada em muitos locais da seguinte forma "Professor agride criança em sala de aula de escola de Alvalade". Se o caso se tivesse passado na Damaia, garanto que a notícia seria "Jovem é agredido por professor depois de criar desacatos numa sala de aula de escola da Damaia". Se és de uma zona fina e tens 13 ou 14 anos, és uma criança, se és de uma zona com má fama, já és um jovem como quem diz que já devias ter mais juízo e portar-te melhor.

Acho que as pessoas exageram ao criticar este professor de Alvalade. Atirar com a cabeça contra uma mesa é agressão violenta? Por favor, ainda se fosse no meu tempo, em que as carteiras tinham farpas a sair e parafusos enferrujados. Hoje devem ser feitas de plástico reciclado e todas almofadadas nas quinas para os alunos não fazerem dói dói na zona do baço enquanto correm na sala de aula a experimentar métodos alternativos de ensino. Antigamente, um aluno portava-se mal, chamavam-se os pais e o aluno apanhava em casa. E bem, que a porradinha nunca fez mal a ninguém se dada em doses homeopáticas e compensadas com amor e carinho. Hoje, os pais vêm às escolas e fazem queixa do professor que acusa o seu rebento de ser meio burro sem perceber que ele é especial e que tem diversidade intelectual e que só anda aos berros e aos saltos dentro das aulas porque é diferente e não mal-educado. Os adolescente são um bocado insuportáveis, toda a gente reconhece isso, nem os pais gostam muito dos filhos quando estão nessas idades e pensam muitas vezes em como seriam mais felizes se o coito tivesse sido interrompido, mesmo que isso implicasse sujar os cortinados.

Outra nota importante é o facto de a aula em questão ser de TIC - Tecnologias de Informação e Comunicação - e, por isso, o professor seria, muito provavelmente, informático. Não estou a dizer que desculpa, mas é atenuante. Toda a gente sabe que os informáticos têm traumas do bullying que sofreram na escola e que ao verem um puto armado ao pingarelho podem passar-se e usar os truques que aprenderam a jogar GTA. O professor não ter usado um bastão e roubado o telemóvel ao aluno fim, já foi uma sorte.

Há quem se queixe que os professores só fazem greves e não querem trabalhar, mas afinal ainda há professores que trabalham mais do que as suas responsabilidades. Bater num aluno é fazer horas extra não remuneradas. A minha mãe é professora e já foi ameaçada de agressão algumas vezes. Nunca abriu a cabeça a nenhum aluno, não que não tivesse vontade, mas porque é boa professora. Isto é como a violência doméstica, não é que um gajo nunca tenha vontade de bater na namorada, mas simplesmente não se faz. Agora, acho que se um professor for agredido fisicamente, não deve enrolar-se em posição fetal e fingir de morto. Acho que aí tem legitimidade para se defender, embora não me pareça ter sido este o caso. Um professor de educação física é o único que pode agredir alunos de forma dissimulada. "Hoje é dia de luta greco-romana" diz o professor. Depois, chama o Martim para demonstrar à turma algumas técnicas. Nisto, entusiasma-se e parte a coluna do Martim em dois sítios, ficando o Martim tetraplégico e não podendo desta forma voltar a pegar no telemóvel e a desestabilizar a aula para os colegas. O professor diz que foi um acidente, leva uma reprimenda e fica tudo bem.

Obviamente que um professor nunca pode agredir um aluno, ainda por cima menor, mas devia poder chamar os pais à escola e aviar neles pelo comportamento de merda do filho. Pensemos pela positiva: antes um professor bater num aluno do que obrigar um aluno a bater-lhe.

***

PS: Relembro as últimas datas do meu espectáculo Só de Passagem:

7 de Novembro - Vila Real Clica aqui para bilhetes
14 de Novembro - Évora Clica aqui para bilhetes
15 de Novembro - Almada Clica aqui para bilhetes
21 de Novembro - Covilhã - Clica aqui para bilhetes
23 de Novembro - Damaia Clica aqui para bilhetes

Obrigado a todos e ajudem a partilhar a mensagem.




Gostaste? Odiaste? Deixa o teu comentário: