O mundo está revoltado com a United Airlines por ter expulsado um passageiro, de arrasto, enquanto gritava e sangrava como gente grande depois de ter feito uma aterragem forçada de boca. As notícias e vídeos multiplicam-se onde se pode ler «Médico expulso à força de avião.» e acredito que se ele fosse caixa de supermercado haveria na mesma referência à sua profissão. Sobre este assunto, há vários pontos sobre os quais nos devemos debruçar, mas com jeitinho e sem afocinhar como o médico.
Primeiro, se fosse comigo as coisas seriam muito diferentes já que como tenho medo de andar de avião eu ter-me-ia logo voluntariado para ser um dos quatro passageiros a abandonar o avião. Não só adiava o meu sofrimento de voar como ainda ganharia 800€ com os quais podia sobreviver com latas de atum durante dois meses enquanto ia a pé. Achei ofensivo aquele médico estar a rejeitar dinheiro só porque já é bem remunerado. Devia, até, ter sido ele a voluntariar-se para sair e depois dar esse dinheiro a quem estiver necessitado. Os pacientes dele podem esperar até porque há muita gente que nem dinheiro para ir ao médico tem.
Segundo, faz-me confusão esta indignação selectiva que todos temos. O senhor a ser arrastado teve mais visualizações e notícias associadas do que aquela criança síria depois de uma explosão onde morreram os pais. Qual criança? Pois, essa. Até porque esta coisa de pessoas serem expulsas à porrada e de arrasto sem muitas vezes terem culpa de nada acontece todos os dias nas discotecas. Está bem que o Cajó é desempregado e estava com os copos e foi contra um rapaz de cadeira de rodas que estava na pista a dançar break dance e atropelar toda a gente sem pedir licença, mas, ainda assim, não é razão para levar um soco na nuca e ir arrastado pelos cabelos por cinco seguranças que parecem um cruzamento de um Bull Dog com um Orangotango. Parece-me pior um avião que cai por erro humano ou falta de manutenção e nesses casos há menos indignação e menos pedidos que a companhia sofra consequências.
O segurança que retirou o médico que guinchava que nem um porco a despedir-se da família antes de ir para a matança é mais odiado do que os pilotos do Chapecoense.
Terceiro, há um fenómeno estranho que é as pessoas ficarem contentes quando as marcas e empresas que fazem porcaria sofrem as piores consequências. No caso da United, as suas acções caíram cerca de 4% e a empresa desvalorizou mais de um bilião de dólares e toda a gente deseja que a companhia vá à falência. Já aconteceu com várias marcas devido a anúncios polémicos ou jogadas de marketing que foram um tiro no próprio pé e deixem-me traduzir esta forma de pensar das pessoas: A empresa tem centenas ou milhares de trabalhadores e pela atitude de um empregado mal-formado ou de uma equipa de marketing desejamos que a empresa sofra as consequências e perca tudo, mesmo sabendo que os donos e accionistas vão ficar bem na vida e quem vai sofrer vão ser os empregados que vão ficar no desemprego e as suas famílias. Aconteceu o mesmo por cá com o caso de um restaurante que fez um comentário no Facebook sobre a Érica Fontes em que algumas pessoas correram ao Zomato e Trip Advisor dar críticas de uma estrela para ver se o restaurante ia à falência, sem pensar que se o restaurante fechasse, para além de servir de castigo a quem fez essa maldade à nossa estrela maior da indústria pornográfica iria dar por tabela a todos os empregados que não têm qualquer culpa no assunto e que precisam daquele ordenado para sobreviver. É estranha esta nossa indignação por um senhor que foi arrastado que até é médico e pode curar-se sozinho, num dia aquilo já passou, e a nossa indiferença para com as consequências mais profundas que muitas outras pessoas poderão sofrer caso a empresa feche. Atenção que eu também me incluo nesse lote de pessoas que queria ver a United a ir à falência! Por mim, todas as companhias áreas fechavam e dar-se-ia lugar a um meio de transporte melhor do que um caixote de ferro com bombas penduradas nas asas. A diferença é que eu gosto de ver para além do óbvio e de pensar sobre as coisas e tentar ver todas as faces da moeda. É um hábito irritante, eu sei.
Por isto e por que estou preocupado com o futuro de muita gente, vou dar uma sugestão gratuita à United Airlines já que penso que é uma boa oportunidade para mudarem aquele discurso inicial sobre as normas de segurança do avião. É um discurso que não serve para nada e que só apoquenta ainda mais quem tem medo de andar de avião como eu ao pensar «Se isto fosse mesmo seguro, não era preciso avisarem-me que o meu assento flutua em caso de ficarmos à deriva no oceano.». Deixo a sugestão:
«Senhoras e senhores, bom dia, o meu nome é Bruno e em nome do comandante e da United Airlines, apresento as boas vindas à bordo do Van Damme, um Boing 747, com saída da Buraca e destino à Damaia. Durante a descolagem, o encosto das vossas poltronas deve ser mantido na posição vertical e a mesa fechada ou então vai tudo corrido com chapadas à padrasto e com os mamilos torcidos. Observem os avisos luminosos de colocar os cintos de segurança ou vamos aí nós apertar-vos essa merda até nunca mais conseguirem ter filhos. Em caso de despressurização, máscaras cairão automaticamente. Puxem uma delas, coloquem-nas sobre o nariz e a boca ajustando o elástico e só depois tentem ajudar os outros. Se tentarem ajudar sem meter a máscara ali o Raul faz-vos um mata-leão e põe-vos a dormir. Este avião possui seis saídas de emergência e 80 janelas por onde serão atirados caso demos conta que está gente a mais por culpa da nossa política de venda bilhetes para maximizar os nossos lucros. Como a viagem é nocturna, durante a descolagem vamos reduzir as luzes. Se alguém as tentar acender para ler, eu próprio me encarregarei de ter a certeza que depois de tanto sopapo no osso orbital as vossas pálpebras irão ficar mais inchadas do que o cu de um babuíno e nem com o sol dentro de uma lanterna vão conseguir ler. É favor desligar os aparelhos electrónicos ou prometo que só vão conseguir atender o telemóvel com contracções anais. Quando estabilizarmos podem ligá-los em modo voo, caso contrário, serão obrigados a fazer um Facebook conjunto com a vossa mãe. Espero que tenham uma boa viagem e obrigado por escolherem a nossa companhia. É um prazer servi-los.»
Moral da história: só falei neste tema para ter visualizações e partilhas. Fica a dica.
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