10 de setembro de 2018

Serena Williams: mau perder ou sexismo?



Estão todos a par da polémica com a Serena Williams? Resumindo: recebeu um aviso por ter recebido instruções do seu treinador na bancada (algo que é ilegal no ténis), depois levou um ponto de penalização por partir uma raqueta no chão e, finalmente, recebeu um jogo de penalização por ter chamado ladrão ao árbitro, entre outras coisas. Ela afirmou que foi por ser mulher e que se fosse um homem não seria tão penalizada. Sexismo ou mau perder?

Será que o árbitro foi mais rigoroso por ela ser mulher? É possível, não digo que não. É possível que um mecanismo inconsciente no cérebro daquele homem branco o tenha levado a ser mais rígido por estar a ser insultado em voz alta por uma mulher negra. Ainda por cima, uma mulher que tem caparro suficiente para lhe acertar o passo, fazendo com que possa ter agido por se sentir inferiorizado. No entanto, talvez tenha sido só porque a Serena infringiu as regras e ele, como árbitro, aplicou a lei como lhe compete. O seu treinador admitiu o erro e o abuso verbal é evidente, exigindo um pedido de desculpas e chamando o árbitro de ladrão.

Se é sexismo, não conseguimos provar, mas o que sei é que se fosse um jogador masculino a gritar e insultar daquela forma uma árbitra feminina, era logo acusado de sexismo e discriminação.

A Serena é uma das melhores atletas de sempre e parte do que a faz ter sucesso é a sua vontade e paixão pelo jogo o que implica extravasar em alguns momentos. Não é o primeiro caso, já havia ameaçado de morte um juiz de linha, dizem, no mesmo torneio e perdido um jogo de maneira semelhante. Ela diz que sempre que vai ao US Open acontece o mesmo, e sendo que joga em casa, se acontece sempre o mesmo, talvez o problema seja dela. Talvez a Serena precise de ser mais serena. Trocadilho muito forte. Não a  condeno pois não sei o que é ser atleta de alta competição e ter de lidar com situações de stress com os olhos postos em nós, por isso desculpo-lhe a atitude até porque podia estar com o período ou com tensão pré-menstrual ou na fase de ovulação. As mulheres têm desculpas hormonais para todas as fases do mês.

As desculpas da Serena são as mesmas que os putos dão na escola primária e cujo argumento se resume a "Mas o Joãozinho já fez igual e não levou reguada". As regras existem para todos e se houve quem passasse incólume noutras situações, isso não é desculpa para fazermos igual. Quando recebi uma multa de excesso de velocidade, também liguei para a polícia e disse "Mas toda a gente anda a mais de 120km/h na autoestrada e nem todos são multados, por isso penso que não mereço a multa. É por eu ter um Clio cinzento? Racista!". A chamada, estranhamente, caiu.

Este árbitro já perdoou situações iguais, várias vezes, a tenistas masculinos? Só se for esse o caso é que poderíamos estar a falar de algum tipo de discriminação e, mesmo assim, todos temos dias em que estamos mais flexíveis relativamente ao comportamento dos outros e isso pode não ter nada a ver com a genitália que apresentam entre as pernas. Partir do pressuposto que é por ela ser mulher é uma vitimização que só prejudica o feminismo. Para haver igualdade temos de nos responsabilizar e assumir os erros. No meio de tudo disto, a vitória da sua adversária, também mulher e negra e com o bónus de ser asiática, ficou ofuscada.

Os gritos de muitas pseudo feministas têm este condão: o de prejudicar as vitórias das outras mulheres que lutam e não se queixam tanto.

Claro que este caso acende a chama dos pequenos Hitlers que habitam nos alter-egos digitais das pessoas. Basta percorrer os comentários de algumas das notícias para percebermos que o racismo e machismo ainda está na moda, especialmente em pessoas com fotos mal tiradas devido à pouca luz que têm na sua caverna. Contudo, sejamos honestos e admitamos que todos os desportos são um bocadinho machistas, até porque os homens são melhores do que as mulheres em em todos os desportos (já vou ser acusado de sexismo por pessoas que ficam com dói-dói com os factos), o que atrai mais espectadores para os desportos masculinos, criando uma discrepância de vários factores, inclusivamente no respeito com que se olha para os atletas. Isto só vai mudar se forem criados desportos ajustados à biologia das mulheres, como por exemplo um triatlo em que depois de correrem têm de arrumar a casa e preparar uma sandes. Ou uma corrida de estafetas em que em vez de passarem um testemunho têm de passar uma cusquice que ouviram no café.

O único sexismo que vejo neste caso é o facto de lhe estarmos a dar atenção. Se tivesse sido um homem a refilar com um árbitro, a notícia passava despercebida, mas vemos uma mulher a levantar a voz e, como não estamos habituados a não ser das nossas mães e namoradas, achamos estranho e decidimos criticar. Se calhar somos todos sexistas, a começar pela Serena que puxa dessa carta para desculpar o seu mau perder.




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