Tenho dois pesadelos recorrentes. O primeiro é que matei alguém, escondi o corpo e vivo em constante pânico de ser preso. O segundo, muito mais aterrador, é quando sonho que ainda me faltam cadeiras para acabar o curso.
O cenário é sempre o mesmo: vou à secretaria pedir o diploma e dizem-me que, afinal, ainda me faltam cadeiras para terminar o curso. Neste momento, instala-se o pânico e penso "O quê? Eu já nem sei estudar, há cadeiras que fiz sem saber como e só tenho a explicação da providência divina e agora ainda tenho mais para fazer?". O sonho torna-se num pesadelo e o desespero faz-me ponderar o suicídio já que nunca é uma cadeira simples de encher chouriços! É sempre um dos cadeirões com projectos complicados ou daquelas que passei apenas porque os planetas estavam todos alinhados e o professor tinha recebido um felácio e estava de bom humor. No meu caso, que tirei engenharia informática, costuma ser a cadeira de Sistemas e Sinais ou de Redes de Computadores que, ironicamente, me foram ensinadas por professores que só teriam felácios a troco de compensação monetária, o que pode explicar a grande concentração de prostituição à volta do Instituto Superior Técnico.
Há quem recorde com saudade os tempos de faculdade e há quem tenha estudado no IST.
São dois grupos cuja única intersecção são os nerds da primeira fila que iam à segunda data de exame fazer melhoria porque só tinham tido 19. Já escrevi várias vezes sobre a minha experiência nessa bonita instituição e, por isso, não me vou alongar muito e quem quiser ler ou reler ficam aqui estes links - A vida de um estudante de engenharia; Ser engenheiro informático tem glamour; O que realmente aprendi na universidade - mas resumindo: aprendi muito e teve bons momentos, mas o mesmo dirão os soldados que estiveram no Iraque.
Voltando ao pesadelo recorrente. Quando acordo, empapado em suor e virado ao contrário na cama de tanto espernear, ainda fico, durante uns minutos, naquele limbo entre o sonho e a realidade em o meu cérebro debate consigo mesmo, tentando acordar a parte responsável pela lógica que está desligada durante o sono REM, que é quando sonhamos. O meu cérebro tem este diálogo quando acordo desde pesadelo:
- E agora? Como é que vou acabar o curso?
- Ó burro, já acabaste o curso há oito anos!
- Não acabei, não, falta-me uma cadeira que o senhor disse.
- Foi um sonho!
- Será? Parecia mesmo real.
- Foi, já nem trabalhas em informática.
- Não?
- Não, agora escreves merdas na Internet e fazes stand-up, mesmo que não tivesses acabado o curso, se tudo correr bem já não precisas dele.
Ufa. Apercebo-me que foi tudo um sonho e há uma sensação de alívio e paz que só deve ser comparada à de vermos a nossa amante a dar à luz um filho que dizia ser nosso, mas que vai-se a ver e nasceu com traços de índio Cherokee.
- E agora? Como é que vou acabar o curso?
- Ó burro, já acabaste o curso há oito anos!
- Não acabei, não, falta-me uma cadeira que o senhor disse.
- Foi um sonho!
- Será? Parecia mesmo real.
- Foi, já nem trabalhas em informática.
- Não?
- Não, agora escreves merdas na Internet e fazes stand-up, mesmo que não tivesses acabado o curso, se tudo correr bem já não precisas dele.
Ufa. Apercebo-me que foi tudo um sonho e há uma sensação de alívio e paz que só deve ser comparada à de vermos a nossa amante a dar à luz um filho que dizia ser nosso, mas que vai-se a ver e nasceu com traços de índio Cherokee.
Falei com um especialista de interpretação de sonhos e ele disse-me que este pesadelo recorrente significa que não gostei do curso. Pedi o meu dinheiro de volta e dei-lhe uma chapada na moleirinha por estar a constatar o óbvio. No entanto, gostei muito do meu 12º ano e também costumo sonhar que ainda não o acabei e nunca é agradável: apercebo-me tarde, quase que como se me esquecesse que ainda o tinha para fazer e quando dou por ela já faltei a muitas aulas e testes e já não o consigo acabar. Andei na secundária D. João V na Damaia, o que também pode explicar muita coisa. Talvez quando tiver 70 anos, estes pesadelos se tornem em sonhos nostálgicos porque a morte está mais perto. Ficou profundo, agora. Chupa Chagas Freitas.
Ao contrário do que seria de esperar, a recorrência deste pesadelo tem vindo a aumentar, e diria que o meu inconsciente decide fazer-me uma trollagem, pelo menos uma vez por mês. Talvez seja porque no último ano todas as semanas tenho de ir ao IST gravar o podcast Sem Barbas Na Língua; dizem que não devemos voltar a um sítio onde fomos felizes e por isso não há problema. Não me interpretem mal, gostei de lá estudar, mas só porque já não estudo lá, percebem? Até sinto alguma falta de aprender coisas novas a fundo e até me meteria num curso novo se tivesse tempo para isso, mas a perspectiva de ter de tirar novamente engenharia informática causa-me arrepios que descem pela espinha.
Como é óbvio, sendo uma pessoa minimamente inteligente, não acredito que podemos ver o futuro nos sonhos, caso contrário já teria feito uma orgia com as modelos da Victoria's Secret e a minha namorada nem tinha ficado chateada, mas a verdade é que no dia que fui à secretária pedir o meu certificado de habilitações, uns três anos depois de ter entregado a minha tese de mestrado (no primeiro trabalho que tive não me pediram provas de ter acabado o curso porque eu transmito muita idoneidade), o rapaz que lá estava deu uma olhadela para os meus dados no computador e disse-me "Ainda lhe faltam créditos para terminar, certo?". Devo ter ficado pálido e belisquei-me para ter a certeza de que não estava a sonhar. Seguiu-se esta conversa:
- Hum... acho que não, até tenho a mais.
- Aqui diz que faltam dez créditos.
- Pois, mas tem de estar mal. - digo, ponderando já o homicídio em massa ou o suborno. - Não há aí um processo de equivalências por causa da confusão de Bolonha?
- Ahhhh, está aqui sim, até tem créditos a mais, é verdade.
Há erros que não se cometem. Uma coisa é trocar o pénis por uma vagina a um paciente que só precisava de tirar uma verruga do ânus, outra é dizer a um aluno - especialmente se ele for do IST - que, ao contrário do que pensava, ainda não acabou o curso.
Passou, foi giro, rimo-nos, e até lhe sugeri que começasse a pregar esse susto a todos os alunos. É preciso um gajo divertir-se no trabalho, especialmente se esse trabalho for no mesmo local que causa pesadelos a tanta gente. Por isso, já sabem, se vos acontecer, podem estar a sonhar ou pode ser uma partida que eu iniciei. Podem agarrar-se a isso até perceberem que, afinal, ainda vos falta mesmo meio crédito para terminar o curso.
Há erros que não se cometem. Uma coisa é trocar o pénis por uma vagina a um paciente que só precisava de tirar uma verruga do ânus, outra é dizer a um aluno - especialmente se ele for do IST - que, ao contrário do que pensava, ainda não acabou o curso.
Isto é cutucar um ninho de vespas com a pila. Os gajos de Columbine mataram 13 pessoas por menos!
Passou, foi giro, rimo-nos, e até lhe sugeri que começasse a pregar esse susto a todos os alunos. É preciso um gajo divertir-se no trabalho, especialmente se esse trabalho for no mesmo local que causa pesadelos a tanta gente. Por isso, já sabem, se vos acontecer, podem estar a sonhar ou pode ser uma partida que eu iniciei. Podem agarrar-se a isso até perceberem que, afinal, ainda vos falta mesmo meio crédito para terminar o curso.
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