14 de outubro de 2019

Casados à Primeira Vista - O Regresso dos encalhados



Está de volta o programa que apaixonou muita gente, menos os concorrentes que não conseguiram enamorar-se uns pelos outros, apesar do aval dos especialistas e dos algoritmos secretos que dizem possuir. Aliás, resultou tão bem que nenhum - repito: nenhum - dos casais formados está junto neste momento, o que prova que ou os seres humanos e o amor são muito imprevisíveis ou estes especialistas percebem tanto disto como a Diana Chaves de apresentação.

No entanto, é televisão e o propósito é entreter e não juntar forever alones. Teve muita audiência e parte desse sucesso deveu-se ao facto de muitos dos casais não se darem bem. O ódio gera mais audiência do que o amor, excepto nos filmes pornográficos. Os concorrentes também sabem disso e duvido que a maioria concorra a este programa para encontrar o par perfeito -  se o faz é meio burro. Os concorrentes do "Casados à Primeira Vista" são os que não são suficientemente bimbos para participar no "Love on Top". O Love on Top é o Eskada no Porto e o Casados à Primeira Vista é o Urban em Lisboa que, à primeira vista, parece ter menos doenças venéreas, mas acaba por ser tudo igual.

Acho que os concorrentes se encaixam todos num destes perfis:
  • Encalhado - o concorrente que verdadeiramente não consegue encontrar ninguém. Normalmente, se não for feio é de fazer soar logo o alarme de psicopata. Há uma tão encalhada que disse que inscrever-se foi "um grito de socorro". Acho que tomar comprimidos ou fazer uma tatuagem tribal no fundo das costas talvez desse menos trabalho e passasse a mesma mensagem de desespero.
  • Quer fama - Não tinha tatuagens e músculos suficientes para entrar na Casa dos Segredos e restou-lhe esta oportunidade para conseguir fazer presenças em discotecas. Este tipo de concorrente diz que participou "pela experiência".
Os especialistas são os mesmos da primeira temporada porque em equipa que ganha não se mexe. Com uma taxa de 100% de divórcios, a mudança seria contraproducente:
  • Um que diz que é "coach" e que faz "matches" e que ou é muito beto ou tem um problema da fala, pois diz "intessante" e "quemunicação".
  • Uma que é especialista em comunicação e que descobriu e passo a citar "que a comunicação é fundamental para o relacionamento com os outros.". Foda-se, a sério? E descobriste isso sozinha? Génio.
  • Um que é terapeuta sexual, mas que tem cara de periquito eunuco.
  • Um que é neuro não sei das quantas com quem não vou gozar porque já foi meu mestre de jiu jitsu e o respeitinho é bonito.
Vamos conhecer os casais, até agora, desta nova temporada. Temos de estar atentos que isto parece um episódio da série Dark e já não sabemos quem anda a comer quem.

Temos o Pedro e a Liliana. Faz lembrar a bonita história de amor de Pedro e Inês, mas das barracas. Ele é de Corroios e ela de Sacavém. Ele professor e ela fez questão de frisar que era secretária, mas clínica. No fundo, quando alguém diz que trabalha na área da saúde já sabemos que não estamos a falar com um médico. Casaram num ilhéu, com poucos convidados porque a família e amigos tiveram mais noção do que eles e ambos têm bom aspecto, mas escrevem votos como se fossem o Pedro Chagas Freitas. Quando as amigas da noiva viram o noivo sussurraram "Ela vai gostar" e "Ai não, já passastes" e decidiram meter-se com ele dizendo "A noiva é muito feia! Muito gorda". Isto dito por uma que tinha uma amiga bem gorda ao lado e mesmo a discriminar os mamutezinhos. Enfim, nisto as Capazes não pegam. O que é certo é que a noiva gostou e ele também e houve mamanço de boca com escalope de fora ainda antes de serem declarados marido e mulher. É assim mesmo, quem vai para este programa não pode estar com puritanismos. Quando parecia que podia tudo dar certo, até porque ambos acreditam nos signos, percebemos que ela usa o anel de outro gajo de quem ainda gosta e que o novo marido lhe ofereceu uns brincos que comprou uma vez em Timor e que tinha guardados para alguém especial.

Quem é o maluco que compra brincos sem ter ninguém a quem oferecer só para o caso de um dia dar jeito? É fugir.

Depois temos a Marta e o Luís. A Marta tem 37 anos, é jornalista e está desesperada por visibilidade e por ter filhos. O seu historial é sempre gajos que acabam por lhe meter os cornos. Todos. Ela pergunta-se "O que é que eu fiz?" e "O que é que eu não fiz?". O que fizeste não sei, o que não fizeste se calhar foi anal. Diz que gosta de aventuras e que é menina para, se lhe ligarem numa sexta-feira a dizer "Faz a mala que vamos de fim de semana", ela ir. Tchiiii, a louca! A vagabunda! Mulheres destemidas capazes de ir passar dois dias a Peniche sem saberem bem onde é que fica. O Luís vem da Austrália e como está habituado a animais venenosos não será problema se a noiva for uma jararaca, até porque ele tem ar de suricata. Não tem mau aspecto, mas parece uma caricatura de si mesmo, sempre encandeado com as luzes ou com o decote da Diana Chaves. A noiva chega ao altar, vê o noivo e, plot twist: já se tinham comido há uns anos. Deve ser mesmo coincidência, deve. A produção anda a dormir, queres ver?

Por fim, temos dois casais em um. Elas são irmãs e vão casar ao mesmo tempo. A Ana, de 42 anos e a Inês, de 38, que diz que é arquitecta, mas que não exerce. Têm ambas uma forte ligação que se percebe no facto de terem unhas de gel foleiras. A Inês considera-se muito inteligente, mas a escolha das unhas faz-me duvidar. Dizem ser duas princesas, mas apesar de serem de Aveiro, parecem ser princesas do Barreiro. É uma família de encalhadas que falhou a data limite de inscrição para o Love on Top.
  • À Inês calhou-lhe o Hugo, agricultor de 42 que diz ser formador, embora eu tenha percebido "fumador" o que faria sentido pois aparenta ter 55. Os especialistas enganaram-se e juntaram uma bimba de unhas de gel às cores com um agricultor, a pensar que estavam no outro programa do canal. Ele diz que as características mais importantes da noiva são ser "magra e morena" o que mostra desde logo que é um homem honesto e que não está ali com as tretas de o que conta é o interior. É um cavalheiro.
  • À irmã, Ana, calhou-lhe na rifa o Paulo, de 51, de quem claramente ela não iria gostar. O Paulo ficou encalhado à primeira vista. Até eu que não sou especialistas já sabia que ia dar merda e deu. Claramente ela queria um bimbo do Love on Top e deram-lhe um senhor de meia-idade sem gonorreia. O que ela não percebe é que lá porque na discoteca há gajos mais novos a quererem saltar-lhe em cima, dificilmente vão querer casar com ela. 
Ambas as cerimónias foram em Sintra, fez-me sentido serem na Linha de Sintra, mas teria feito mais se fossem para os lados de Massamá ou Cacém. Elas viram os noivos e ficaram desiludidas. A Inês conseguiu disfarçar, mas a Ana como é "mais transparente e frontal" que é sinónimo para "mais pessoa de merda" não conseguiu e mostrou logo o seu desagrado para com a rifa que lhe tinha calhado. Mais tarde, através dos votos da Ana, dos comentários da Ana e dos testemunhos para a câmara da Ana, percebemos que ela é maluca e que talvez seja por isso que ninguém a atura. Sim, há muitos homens que se sentem intimidados por mulheres fortes e independentes, mas também há muitos que não querem aturar malucas.

E, para já, foram estes os concorrentes apresentados. Sempre que perguntam a um deles as três coisas mais importantes numa relação, todos referem a fidelidade, respeito e amizade e ninguém refere pinar como gente grande. Deve ser por isso que estão todos encalhados. Continuo a sentir falta de diversidade: um cego que diga acreditar em amor à primeira vista; e não há gordas nem gordos, porque a produção sabe que isso de todos os corpos serem bonitos é treta.

Questiono-me se o pessoal que é contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo não se insurge contra este tipo de casamento. Então, não são eles que dizem que o matrimónio é um laço sagrado e o pilar da família que deve ser respeitado? Ou só há falta de respeito se houver pénis acondicionado em rabo macho? Vejam lá isso. Bem, cá estarei para ver e analisar para vos dar o resumo que vocês merecem sobre este programa que quebra estigmas antigos, pois sempre ouvi dizer "Não abras a porta a estranhos e não aceites doces de desconhecidos.", mas parece que faltava a parte de "A não ser que seja para casar com eles e esteja lá gente a filmar para a televisão."

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