Está de volta o programa que apaixonou muita gente, menos os concorrentes que não conseguiram enamorar-se uns pelos outros, apesar do aval dos especialistas e dos algoritmos secretos que dizem possuir. Aliás, resultou tão bem que nenhum - repito: nenhum - dos casais formados está junto neste momento, o que prova que ou os seres humanos e o amor são muito imprevisíveis ou estes especialistas percebem tanto disto como a Diana Chaves de apresentação.
No entanto, é televisão e o propósito é entreter e não juntar forever alones. Teve muita audiência e parte desse sucesso deveu-se ao facto de muitos dos casais não se darem bem. O ódio gera mais audiência do que o amor, excepto nos filmes pornográficos. Os concorrentes também sabem disso e duvido que a maioria concorra a este programa para encontrar o par perfeito - se o faz é meio burro. Os concorrentes do "Casados à Primeira Vista" são os que não são suficientemente bimbos para participar no "Love on Top". O Love on Top é o Eskada no Porto e o Casados à Primeira Vista é o Urban em Lisboa que, à primeira vista, parece ter menos doenças venéreas, mas acaba por ser tudo igual.
Acho que os concorrentes se encaixam todos num destes perfis:
- Encalhado - o concorrente que verdadeiramente não consegue encontrar ninguém. Normalmente, se não for feio é de fazer soar logo o alarme de psicopata. Há uma tão encalhada que disse que inscrever-se foi "um grito de socorro". Acho que tomar comprimidos ou fazer uma tatuagem tribal no fundo das costas talvez desse menos trabalho e passasse a mesma mensagem de desespero.
- Quer fama - Não tinha tatuagens e músculos suficientes para entrar na Casa dos Segredos e restou-lhe esta oportunidade para conseguir fazer presenças em discotecas. Este tipo de concorrente diz que participou "pela experiência".
- Um que diz que é "coach" e que faz "matches" e que ou é muito beto ou tem um problema da fala, pois diz "intessante" e "quemunicação".
- Uma que é especialista em comunicação e que descobriu e passo a citar "que a comunicação é fundamental para o relacionamento com os outros.". Foda-se, a sério? E descobriste isso sozinha? Génio.
- Um que é terapeuta sexual, mas que tem cara de periquito eunuco.
- Um que é neuro não sei das quantas com quem não vou gozar porque já foi meu mestre de jiu jitsu e o respeitinho é bonito.
Temos o Pedro e a Liliana. Faz lembrar a bonita história de amor de Pedro e Inês, mas das barracas. Ele é de Corroios e ela de Sacavém. Ele professor e ela fez questão de frisar que era secretária, mas clínica. No fundo, quando alguém diz que trabalha na área da saúde já sabemos que não estamos a falar com um médico. Casaram num ilhéu, com poucos convidados porque a família e amigos tiveram mais noção do que eles e ambos têm bom aspecto, mas escrevem votos como se fossem o Pedro Chagas Freitas. Quando as amigas da noiva viram o noivo sussurraram "Ela vai gostar" e "Ai não, já passastes" e decidiram meter-se com ele dizendo "A noiva é muito feia! Muito gorda". Isto dito por uma que tinha uma amiga bem gorda ao lado e mesmo a discriminar os mamutezinhos. Enfim, nisto as Capazes não pegam. O que é certo é que a noiva gostou e ele também e houve mamanço de boca com escalope de fora ainda antes de serem declarados marido e mulher. É assim mesmo, quem vai para este programa não pode estar com puritanismos. Quando parecia que podia tudo dar certo, até porque ambos acreditam nos signos, percebemos que ela usa o anel de outro gajo de quem ainda gosta e que o novo marido lhe ofereceu uns brincos que comprou uma vez em Timor e que tinha guardados para alguém especial.
Quem é o maluco que compra brincos sem ter ninguém a quem oferecer só para o caso de um dia dar jeito? É fugir.
Depois temos a Marta e o Luís. A Marta tem 37 anos, é jornalista e está desesperada por visibilidade e por ter filhos. O seu historial é sempre gajos que acabam por lhe meter os cornos. Todos. Ela pergunta-se "O que é que eu fiz?" e "O que é que eu não fiz?". O que fizeste não sei, o que não fizeste se calhar foi anal. Diz que gosta de aventuras e que é menina para, se lhe ligarem numa sexta-feira a dizer "Faz a mala que vamos de fim de semana", ela ir. Tchiiii, a louca! A vagabunda! Mulheres destemidas capazes de ir passar dois dias a Peniche sem saberem bem onde é que fica. O Luís vem da Austrália e como está habituado a animais venenosos não será problema se a noiva for uma jararaca, até porque ele tem ar de suricata. Não tem mau aspecto, mas parece uma caricatura de si mesmo, sempre encandeado com as luzes ou com o decote da Diana Chaves. A noiva chega ao altar, vê o noivo e, plot twist: já se tinham comido há uns anos. Deve ser mesmo coincidência, deve. A produção anda a dormir, queres ver?
Por fim, temos dois casais em um. Elas são irmãs e vão casar ao mesmo tempo. A Ana, de 42 anos e a Inês, de 38, que diz que é arquitecta, mas que não exerce. Têm ambas uma forte ligação que se percebe no facto de terem unhas de gel foleiras. A Inês considera-se muito inteligente, mas a escolha das unhas faz-me duvidar. Dizem ser duas princesas, mas apesar de serem de Aveiro, parecem ser princesas do Barreiro. É uma família de encalhadas que falhou a data limite de inscrição para o Love on Top.
- À Inês calhou-lhe o Hugo, agricultor de 42 que diz ser formador, embora eu tenha percebido "fumador" o que faria sentido pois aparenta ter 55. Os especialistas enganaram-se e juntaram uma bimba de unhas de gel às cores com um agricultor, a pensar que estavam no outro programa do canal. Ele diz que as características mais importantes da noiva são ser "magra e morena" o que mostra desde logo que é um homem honesto e que não está ali com as tretas de o que conta é o interior. É um cavalheiro.
- À irmã, Ana, calhou-lhe na rifa o Paulo, de 51, de quem claramente ela não iria gostar. O Paulo ficou encalhado à primeira vista. Até eu que não sou especialistas já sabia que ia dar merda e deu. Claramente ela queria um bimbo do Love on Top e deram-lhe um senhor de meia-idade sem gonorreia. O que ela não percebe é que lá porque na discoteca há gajos mais novos a quererem saltar-lhe em cima, dificilmente vão querer casar com ela.
E, para já, foram estes os concorrentes apresentados. Sempre que perguntam a um deles as três coisas mais importantes numa relação, todos referem a fidelidade, respeito e amizade e ninguém refere pinar como gente grande. Deve ser por isso que estão todos encalhados. Continuo a sentir falta de diversidade: um cego que diga acreditar em amor à primeira vista; e não há gordas nem gordos, porque a produção sabe que isso de todos os corpos serem bonitos é treta.
Questiono-me se o pessoal que é contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo não se insurge contra este tipo de casamento. Então, não são eles que dizem que o matrimónio é um laço sagrado e o pilar da família que deve ser respeitado? Ou só há falta de respeito se houver pénis acondicionado em rabo macho? Vejam lá isso. Bem, cá estarei para ver e analisar para vos dar o resumo que vocês merecem sobre este programa que quebra estigmas antigos, pois sempre ouvi dizer "Não abras a porta a estranhos e não aceites doces de desconhecidos.", mas parece que faltava a parte de "A não ser que seja para casar com eles e esteja lá gente a filmar para a televisão."
PS: Vila Real, Évora, Almada, Covilhã e Damaia: bilhetes para as últimas datas do meu espectáculo de stand-up comedy a solo neste link.
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