Mais umas eleições, mais uma abstenção alta e culpa de todos os males. As críticas à abstenção vêm de todos os políticos, os mesmos que durante quatro anos nada fizeram para a combater e só se lembram no dia das eleições porque fica bem e deflecte a culpa que todos têm em que seja tão alta. A abstenção é efeito e não causa, mas tentam convencer-nos do contrário.
Cidadãos moralmente superiores, que publicam o seu boletim de voto nas redes sociais, fazem uma espécie de perseguição contra quem não foi votar, embora eles próprios não tenham ido votar uma vez porque estavam de férias, mas afinal é só dever quando dá jeito. São pessoas que, das duas uma: ou têm a presunção de achar que uma publicação sua vai diminuir a abstenção; ou só o fazem para ter atenção e se sentirem superiores. Muitas dessas pessoas, que dão lições de democracia, são as que em 2015 disseram que a PaF ganhou as eleições e foi roubada, mostrando que nem percebem que estão a eleger deputados e não o Primeiro Ministro e que não percebem nada desta democracia que tanto defendem. Como não gosto de criticar sem dar sugestões, aqui ficam ideias para diminuir a abstenção em futuras eleições:
- Votar dá desconto em cartão Continente. O desconto dependeria do partido votado. Se votássemos PAN, o desconto não poderia ser utilizado para comprar produtos de origem animal. Se votássemos PNR, o desconto não estaria disponível para produtos de porco preto.
- Votar dá dados móveis. Quem fosse votar teria direito a um pacote extra de dados móveis durante a legislatura. Mais uma vez, o tamanho do pacote dependeria do partido em que votássemos. Se votássemos CDS, os dados não poderiam ser utilizados em sites pornográficos porque é pecado, já se fosse no LIVRE, todos os sites estariam disponíveis, mas a Internet seria muito lenta e com soluços.
- As mesas de voto têm table dance. Já lá está uma mesa, falta a stripper. Ou o stripper que eu sou inclusivo. É uma estratégia simples e que pode funcionar. Votar já é para maiores de 18, por isso não havia problema. Para quem vota PNR, a stripper seria de nacionalidade portuguesa; para quem vota BE, a stripper seria meio negra, meio cigana, anã e com perna de pau para haver diversidade.
- Um Marcelo em cada mesa de voto a tirar selfies. Marcelo é o unificador da população portuguesa e a possibilidade de uma selfie com o presidente seria um grande impulsionador da ida às urnas. Se o boletim de voto nas redes sociais já dá likes, imaginem uma selfie com o Marcelo. Isto seria implementado através de clonagem ou figuras de cera, se bem que Marcelo tem energia para estar em todo o lado ao mesmo tempo.
- Votar através das redes sociais. Entre uma citação do Chagas Freitas e uma notícia do Correio da Manhã, aparecia uma publicação a dizer "Vote já no seu partido favorito". No fim era mais fácil partilhar no feed para mostrarem a todos que já votaram. Podia ser usado em jogos: estás no candy crush e de repente aparece um popup a dizer "Vote agora para desbloquear o nível secreto".
- UBER voto. Chamava-se um UBER voto e vinham trazer o boletim a tua casa para votares e iam entregá-lo no local certo. Eliminaria um dos problemas que é o facto de não se poder votar em qualquer sítio (um dos problemas da abstenção mas de que ninguém parece interessado em resolver) e, melhor, ainda podias pedir um cheeseburguer.
- Parceria com influenciadores digitais. Os influencers apelavam ao voto e tinham um cupão que as pessoas poderiam utilizar na altura de votar. Escolhiam o partido e colocavam o cupão no campo de desconto, UNAS10 ou URNAS10 neste caso, e tinham direito a desconto no IRS e o influencer recebia por afiliado.
- Fazer uma petição pública para censurar a música "Abstenção" do rapper Sam the Kid. Como temos visto ultimamente, o rap incentiva a coisas más e, tal como a música BFF do Valete é uma apologia à violência de género, penso que o Sam the Kid é o responsável por esta elevada taxa de abstenção. Censure-se que na altura de Salazar não havia abstenção.
- Retirar os doentes terminais dos possíveis eleitores. Pois é, isto quem está a quinar não devia votar que é muito giro decidir coisas e depois não estar cá para arcar com as consequências dessas escolhas. Velhos igual. Quer dizer, se tirarmos os velhos a abstenção sobe já que os jovens são quem menos vota. Esqueçam esta ideia.
- Não haver sondagens. Eu sei que as sondagens vendem muitos jornais e movimentam muito dinheiro, mas se ninguém tiver noção da intenção de voto, pode ser que haja gente que não pensa "Ah, isto já está ganho para o PS, não vale a pena ir votar". Eu sei que esta ideia faz sentido e que não devia estar aqui.
- Menos políticos corruptos, mais competentes, que se preocupem com as pessoas, falem a língua delas e que não façam promessas em vão para caçar votos. Ah, esta é capaz de dar muito trabalho, esqueçam.
Não sou a pró-abstenção, acho que todos deveriam votar, mas faz-me comichão ver políticos a falar da abstenção sem fazerem nada para a mudar. Faz-me confusão enfiarem todos os que se abstêm no mesmo saco e usarem-nos como bode expiatório. Parecem uma namorada que trai o marido e depois o acusa de estar ausente, tentando desviar a atenção do cerne da questão que é o facto de todos já termos sido enganados por falsas promessas de políticos. A abstenção é como os árbitros no futebol: não quer dizer que a maioria não seja uma merda, mas são sempre usados como desculpa para ninguém assumir que jogou mal e mereceu a derrota.
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