Estava eu a fazer uma viagem pela Europa com um amigo e demos por nós a ir para a Noruega já quase sem dinheiro no bolso e por isso andávamos à procura de alguém que nos abrigasse em regime de couchsurfing, que dar 40€ por noite, cada um, num Hostel, nos pareceu um roubo maior do que, mesmo sendo portugueses estamos habituados. Então disseram-nos "Querem ficar numa Squat House?" e nós dissemos que sim.
Mas pelo sim pelo não, fomos pesquisar à internet e vimos que afinal é uma casa outrora abandonada, agora ocupada por pessoal à margem da sociedade, que é como quem diz bilús da cabecinha. Vimos que havia dois em Oslo, um deles tinha sido invadido por grupos de extrema direita o mês anterior e tinha havido tiros, esfaqueamentos e mortes. Depois havia outro que era mais calmo, que fazia parte de uma comunidade de artistas. 50% pareceu-nos uma probabilidade aceitável e então lá fomos. Chegando a Oslo pedimos indicações nas ruas a um casal e eles começam a falar entre eles em português sobre qual o melhor caminho. Nós dissemos admirados "Vocês falam português?", depois de uma pausa de 2 segundos os olhos do homem arregalam-se e diz "Claaaaaro, sou Angolano, ya?". E pronto gerou-se a galhofa, ele foi-nos quase lá levar a pé e disse "Vocês vão ficar nesse sítio? Porra... vocês são aventureiros, vá eu deixo-vos aqui nesta rua depois é seguirem caminho". Ficámos muito mais confiantes.
Sendo que squat quer dizer agachamentos pensámos que era uma casa cheia de mulheres de rabos torneados e coxas definidas.
Mas pelo sim pelo não, fomos pesquisar à internet e vimos que afinal é uma casa outrora abandonada, agora ocupada por pessoal à margem da sociedade, que é como quem diz bilús da cabecinha. Vimos que havia dois em Oslo, um deles tinha sido invadido por grupos de extrema direita o mês anterior e tinha havido tiros, esfaqueamentos e mortes. Depois havia outro que era mais calmo, que fazia parte de uma comunidade de artistas. 50% pareceu-nos uma probabilidade aceitável e então lá fomos. Chegando a Oslo pedimos indicações nas ruas a um casal e eles começam a falar entre eles em português sobre qual o melhor caminho. Nós dissemos admirados "Vocês falam português?", depois de uma pausa de 2 segundos os olhos do homem arregalam-se e diz "Claaaaaro, sou Angolano, ya?". E pronto gerou-se a galhofa, ele foi-nos quase lá levar a pé e disse "Vocês vão ficar nesse sítio? Porra... vocês são aventureiros, vá eu deixo-vos aqui nesta rua depois é seguirem caminho". Ficámos muito mais confiantes.
Depois de quase termos sido assaltos lá chegámos à casa, era a tal mais calminha. Batemos à porta e fomos recebidos por uma rapariga claramente lésbica, das más. Fomos encaminhados para o nosso quarto, uma sala grande com ligação a uma cozinha, com 2 beliches de 3 andares e 2 colegas de quarto que eram residentes permanentes. Um Nigeriano e um Alemão, sentados ao computador a jogar jogos do virar do século, à média luz. Janelas reparadas com fita adesiva, colchões claramente retirados do lixo, tal como tudo o resto que decorava o quarto. O que para nós era lixo, para eles era reciclagem. Havia casa de banho, sem chuveiro. Éramos para ficar lá 3 noites, decidimos ali que 3 noites eram 2 noites a mais. Lá nos instalámos, já eram cerca de 23h e o cansaço era muito. Fizemos um pouco de conversa de circunstância e tentámos dormir, algo que era impossível pelo desconforto de estar ali com dois desconhecidos que faziam o Júlio de Matos parecer uma colónia de férias. Dentro dos sacos cama, com uma almofada feita de tshirts, com os ombros a tocar no colchão comecei a sentir comichão no corpo todo mas lá consegui fechar os olhos 1 ou 2 horas. Acordámos por volta das 10h e eles ainda ali estavam, colados ao PC, a fumar cigarros de 5 em 5 minutos. Ao menos o fumo ajudava a aquecer, porque lá fora o termómetro já marcava os negativos.
Bem, lá fomos visitar a cidade e procurar artistas de rua para filmar, que era com esse propósito que já estávamos a viajar há quase 2 meses. Não encontrámos nada de jeito. Comprámos bilhete de comboio para as 8 da manhã do dia seguinte e lá fomos para os nossos aposentos depois de jantar. Lá estavam os nossos anfitriões no mesmo local e começámos a conversar. A conversa começou por religião, já não sei porquê, devo ter sido eu a ver se alguém nos dava uma facada. Felizmente as visões religiosas eram as mesmas que as minhas e a conversa começou a fluir por ai. O Nigeriano estava sempre calado mas o Alemão começou a soltar-se. De faca na mão a cortar cebolas ia entrando e saindo da cozinha para mandar bitaites, a revirar os olhos e a rir-se de forma maquiavélica entre cada argumento. A sério... saído de um filme de terror. Estava a cozinhar bacalhau e cogumelos. Na Noruega o bacalhau não é seco e salgado como o nosso, é fresquinho e aquele cheirava a bordel de vão de escada. Nojo. Perguntaram-nos se éramos servido, mas nós já tínhamos comido, embora não tenha sido apenas por isso que não aceitámos.
A conversa passou por todos os assuntos possíveis e imaginários, política, física quântica, teorias da conspiração, desemprego e o estado do mundo e do ser humano. Percebi então que o Karl, era o nome dele, estava no limiar da genialidade e da esquizofrenia. Ele dizia ser Engenheiro Físico que deixou a carreira porque o seu trabalho estava a ser utilizado para desenvolver armas de destruição maciça. Ele dizia também ser mestre de Xadrez capaz de bater as máquinas que derrotaram o Kasparov.
Segundo ele porque já estava meio bêbedo e tinha fumado erva. Isto é mesmo que um gajo dizer que é dos actores porno mais requisitados da indústria e depois quando vai para a cama com uma gaja não conseguir pô-lo de pé. Ainda assim ele era sem dúvida uma pessoa extremamente inteligente e culta, disso não havia dúvida e ficava sempre entusiasmado quando falávamos de alguma coisa que ele não sabia para poder aprender, e esse é o maior sinal de inteligência que se pode ter.
Para nos provar, colocou o jogo de xadrez do Windows XP na dificuldade máxima e... perdeu... 3 vezes seguidas.
Segundo ele porque já estava meio bêbedo e tinha fumado erva. Isto é mesmo que um gajo dizer que é dos actores porno mais requisitados da indústria e depois quando vai para a cama com uma gaja não conseguir pô-lo de pé. Ainda assim ele era sem dúvida uma pessoa extremamente inteligente e culta, disso não havia dúvida e ficava sempre entusiasmado quando falávamos de alguma coisa que ele não sabia para poder aprender, e esse é o maior sinal de inteligência que se pode ter.
Fez-nos imensas perguntas sobre sobre Portugal e a nossa cultura. Mostrei-lhe no youtube Carlos Paredes, Amália e Mariza. Ele adorou, passou uma hora a ouvir fado e a pedir-me para traduzir as letras. Vi-lhe as lágrimas nos olhos e encheu-me de orgulho de ser Português.
A meio de uma conversa sobre alimentos geneticamente alterados ele diz "Não, eu nunca compro comida no supermercado"... e nós, "Say what?!", que é como quem diz "Oi?!". E descobrimos que a comida vinha sempre do lixo. Aquele bacalhau e aqueles cogumelos fresquinhos que nos tinham oferecido tinham vindo de um contentor algures ali na cidade. É por estas e por outras que as regras da boa etiqueta da Paula Bobone são parvas.
Passou a noite toda a cravar-nos tabaco de enrolar, que lá custava 25€ o pacote, ou seja, era o único que tínhamos porque trouxemos da Suécia, que 25€ para fumar nenhum de nós é assim tão viciado. O tabaco acabou, ele vem cravar mais um e nós dizemos "Já não há...". Ele agarra no cinzeiro e diz:
Fez mais uns 20 cigarros do cinzeiro, já com as mãos, os dentes e lábios todos cheios de cinza, realçando ainda mais os dentes podres que ele já tinha. Não sei se eu e o João conseguimos disfarçar a nossa cara de nojo. Mas no fundo no fundo o esperto foi ele, que nós bem nos apetecia mais um cigarro e ficamos ali de ressaca, mas com os dentes mais ou menos brancos.
"No problem... I'm hardcore muahahahaha" e começa a desfazer as beatas e voltar a enrolar cigarros.
Fez mais uns 20 cigarros do cinzeiro, já com as mãos, os dentes e lábios todos cheios de cinza, realçando ainda mais os dentes podres que ele já tinha. Não sei se eu e o João conseguimos disfarçar a nossa cara de nojo. Mas no fundo no fundo o esperto foi ele, que nós bem nos apetecia mais um cigarro e ficamos ali de ressaca, mas com os dentes mais ou menos brancos.
Eram 6 da manhã e começámos a arrumar as coisas para ir embora, sem termos dormido nada, depois de passarmos horas na conversa. Vi que tínhamos ganho o respeito deles, que vivendo fora do sistema olhavam para nós como 2 putos betinhos que andavam a passear. No entanto perceberam que não éramos assim tão diferentes em termos de valores como eles. E eu senti o mesmo por eles e percebi que foi talvez a experiência mais marcante e enriquecedora dessa viagem. Fomos ali muito mais bem tratados do que em muitos hosteis em que pagámos e sentimo-nos mal pelos nossos preconceitos iniciais, embora fosse impossível não os ter porque se alguém tinha ar de maluco, canibal e psicopata era o Karl e o amigo. Mas pelos vistos eram dos fofinhos ou acharam que a nossa xixa era rija. Fiquei a invejar-lhes a liberdade mas não os hábitos de higiene.
Muitas conclusões filosóficas se podem tirar desta experiência mas hoje não me apetece. Bom início de semana!
Muitas conclusões filosóficas se podem tirar desta experiência mas hoje não me apetece. Bom início de semana!
PS - Já aqui escrevi sobre outra personagem tenebrosa que encontrei num hostel, o Koala Zombie, é clicar aqui caso tenham interesse.
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