4 de maio de 2016

Diferentes tipos de mães


Este texto era para ter saído no dia da mãe, mas como dia da mãe é quando um filho quiser e não tive tempo antes, só agora é que acabei. Dizem que mãe há só uma, mas há vários tipos diferentes de mãe.

A porteira
É aquela mãe que quer saber tudo. Cusca-te as gavetas em busca de mortalhas, vasculha as tuas conversas de Facebook, e vai ver-te os dossiers da escola a ver se andas a tomar notas ou a desenhar pénis e corações. É aquela mãe que quer saber tudo da tua vida e que quando chegas à puberdade fica à espera que lhe contes quando te nascer o primeiro pelo púbico. É a mãe que sustem a respiração quando estás no quarto com alguém para ver se ouve as conversas, algo comum em todas as mulheres nas mesas de café para cuscar a conversa do lado. Sabe as notas primeiro do que tu porque ligou para a escola a perguntar, acha que se deve meter nas tuas relações amorosas e ligar à tua namorada a dizer-lhe para ter paciência contigo e que no fundo até és bom rapaz apesar das mortalhas que encontrou e de andares no Facebook a falar com o Vasco sobre o tamanho das mamas da Carla.

A galinha
A mãe galinha toda a gente sabe que tipo é. Para além de também quererem saber tudo da tua vida, fazem questão de te tratar como uma peça de arte rara ou uma cristaleira da Vista Alegre que à mínima corrente de ar vai ter uma pneumonia e morrer engasgado na própria expectoração. Como identificar o filho de uma mãe galinha? Fácil, são os miúdos que em pleno Agosto estão de calção e t-shirt, mas com um casaquinho de malha no braço. Foram as suas mães galinha que os obrigaram a sair de casa preparados para a eventualidade de uma frente fria do Polo Norte atacar sem avisar. Este tipo de mãe é bem-intencionada, como todos, quase, e não percebe que está a ser uma espécie de incubadora de xoninhas que vão ter vergonha de ligar para a Telepizza ou de pedir um copo de água no café sem a ajuda da mãe. Para além de xoninhas ficam, muitas vezes, hipocondríacos porque desde novos se habituaram a ver a mãe reagir a um espirro deles como se acabassem de ter recebido um teste de HIV positivo. Por vezes, a mãe galinha tem tiques salazaristas e, embora todas as mães tenham um pequeno ditador dentro delas, não no sentido literal como a mãe do Hitler teve durante 9 meses, uma mãe galinha e ditadora faz o serviço militar obrigatório parecer ainda mais obsoleto.

A quessafoda
Este tipo é a antítese do anterior e é aquele tipo de mãe que faz com que as outras pensem que ela é uma espécie de Kate Mccann. Deixa os filhos comerem peças de fruta que caíram no chão, não protege as quinas das mesas com borrachas para que eles não faleçam com uma têmpora rebentada, e não anda com os filhos de mão dada para atravessar a estrada. A minha mãe tinha uma amiga que era assim e sempre que íamos de férias as filhas delas perdiam-se durante umas horas. A minha mãe entrava em pânico e a amiga dela calma que nem uma idosa acamada e sedada. «Ela aparece», dizia, enquanto a filha já podia estar em Budapeste a acabar o mestrado. Apareceu sempre, é um facto. É também aquele tipo de mãe que ao chegar a uma falésia deixa os filhos espreitarem lá para baixo, dando a sensação que por ela ser mãe foi um erro que está a tentar remendar. Os filhos destas costumam ser adultos muito mais desenrascados e independentes. Os que sobrevivem, claro.

A barraqueira
É aquela mãe que vai fazer escândalo à escola quando o seu mais do que tudo tem uma nota que ela acha injusta. A mãe barraqueira pode ser uma mãe qualquer, de todos os estratos sociais, credos ou etnia, e por vezes não se imagina que a aquela senhora bem vestida é capaz de se transformar numa espécie de belzebu cuspidor de vernáculo para defender a sua cria. A barraqueira envergonha os filhos até chegarem àquela idade em que eles próprios se tornaram barraqueiros. O seu filho nunca tem culpa de nada na escola, porque os filhos das mães barraqueiras são perfeitos, mas só fora de casa. Dentro do lar é que são umas bestas, mas ai de quem vier de fora dizer que o seu rebento tem a inteligência de um filho de primos direitos! Ela vai logo à escola armar peixeirada «0% no teste? Está a querer dizer qeu o meu Sandro é burro? Escrever o nome bem não conta? Só errou no apelido! Você é que não sabe ensinar! O meu Sandro com 6 anos já fazia cocó no penico, até a fazer o pino!» sem ela própria perceber que o filho, assim, iria borrar as costas todas.

A inconveniente
As mães deste tipo são peritas na arte antiga da vergonha alheia. A minha mãe, há uns anos, foi falar com uma rapariga em Lagos que vendia cachorros porque eu tinha comentado, a título de curiosidade, que já a tinha visto com um conhecido meu na noite em Lisboa. A minha mãe, só porque sim e porque não tem muita noção, decidiu perguntar-lhe:

- O meu filho diz que já a viu na Damaia.
- ... como? - diz ela completamente vermelha.
- Na Damaia, o meu filho diz que a viu lá.
- Não, eu nunca fui à Damaia... - diz ela como quem foi apanhada a roubar.

A minha mãe, para além de ser totó, confundiu Lisboa com Damaia e, pela cara da rapariga, tinha efectivamente ido à Damaia, mas para ir para o banco de trás do automóvel do meu conhecido, daí o pânico de eu a ter visto na Damaia: ou aquela senhora inconveniente era a mãe de um fuck buddy dela, o que seria estranho, ou era a mãe de um voyer da Damaia que ronda os carros embaciados à noite.

A que não fala de mais nada
Normalmente é a mãe que acabou de ser mãe pela primeira vez e finalmente encontrou um sentido para a sua vida. Não fala de mais nada. Fala de fraldas com um brilho nos olhos, de tipos de leite qual enólogo que só pelo cheiro sabe se é colheita de mama de 83 ou 84, e do quanto a sua criança é inteligente. Muito mais inteligente do que as outras todas mesmo que a primeira palavra tenha sido um som impercéptivel aos três anos de idade, enquanto comia macacos do nariz. Todas as mães são um pouco assim e não percebem que o interesse dos seus petizes tende para zero aos olhos dos outros. E, já agora, ninguém está interessado em ver as mil fotografias iguais que tiraram ao primeiro banho do bebé. Aliás, quando alguém quiser ver as mil fotos do banho, com minúcia, enquanto lambem os dedos para folhear o álbum, ou fazer swipe no ecrã do smartphone, se calhar é melhor não deixarem a vossa criança aproximar-se dessa pessoa.

A Peter Pan
Um estilo muito comum nas mães de concorrentes de reality shows que são aquelas que acham que os cinquenta anos mal gastos não se notam quando se vestem como adolescentes. Usa a roupa das filhas, usa palavras como "bué", e fez o workshop de maquilhagem do Batatinha. Vai sair à noite com as filhas e acaba por ser levada em ombros do Plateau. «A tua mãe é muita fixe!» dizem os colegas, enquanto os filhos desejam descobrir, um dia, que foram adoptados.

A MILF
É a mãe jeitosa. A mãe que nenhum filho gosta de ter porque não quer imaginar que os amigos também gostariam que ela os tivesse amamentado, se possível até à idade adulta. Uma forma de se saber que os nossos amigos podem olhar para a nossa mãe dessa maneira, é ver quem tem o melhor computador ou consola para jogar jogos e em que casa é que normalmente o grupo sugere que se vá estudar. Exemplo: O João tem uma Playstation topo de gama, o Pedro uma XBox última geração, o António tem um PC todo artilhado e cheio de jogos, e o Rui tem mikado. Quando os primeiros três sugerem que se vá estudar a casa do Rui, é porque olham para a mãe dele com um ar de quem gostava de brincar lá em casa com outro pauzinho que não só os do mikado.

A tia
Espécie autóctone da Linha de Cascais, desde há muito deu origem sucedêneos amiúde, mesmo em bairros sociais. É a mãe que escolhe um nome como Martim, Bernardo, ou Salvador para o filho, e Pureza, Benedita, ou Matilde para a filha. Trata-os, invariavelmente, por você, inscreve-os na equitação, e nunca diz escola, diz sempre colégio. Veste-se bem, mesmo que coma massa com atum todos os dias para sustentar as aparências. Tem um Mercedes SLK que o marido lhe ofereceu no dia em que a quis convencer a casar com ele. Gaba as notas dos filhos a todas as amigas, mesmo que eles precisem de ter explicações para passar a Estudo do Meio ou a Métodos Quantitativos.

A Facebook-Mãe
Uma epidemia do séc. XXI! O Facebook trouxe consigo, para além do cyberbullying, um problema muito maior que são as mães que o usam. Trememos da primeira vez que vemos aquele pedido de amizade ou quando ela nos pede ajuda para criar um perfil de Facebook. Dizemos-lhe que não vale a pena, que depois ela não vai saber usar, e que não se passa nada de interessante lá dentro. Sugerimos-lhe o Hi5, o MSN, ou o Orkut, qualquer uma em que nós já não tenhamos actividade porque sabemos que vamos ter de apagar todas aquelas fotos de festas em que estamos com ar de quem caiu no caldeirão da sangria, ou de quem foi à piscina sem óculos e tem os olhos vermelhos por causa do cloro. Como se não bastasse o controlo, sabemos que ela vai fazer várias destas coisas e que nós sempre que as vimos vamos considerar bloqueá-la:
  • Partilhar citações em português do brasil ao género «Super-mãe é aquela que sai vestindo capa e tem por baixo um avental sujo de goiaba.»
  • Partilhar textos do Pedro Chagas Freitas com emojis daqueles cãezinhos que choram;
  • Vai comentar posts teus a dizer que és muito lindo. Sempre em maiúsculas que é para ser mesmo verdade e sentido;
  • Vai publicar fotografias tuas de quando eras novo. No banho e naquele dia em que faltou o gás lá em casa e a água estava fria.
O pior de tudo é quando tentam convencer o teu pai a fazer um perfil conjunto com ela e fazer-te ponderar o corte de relações familiares.


Muitos mais tipos haveria para listar, mas deixo esse trabalho para quem quiser acrescentar nos comentários. É de notar, também, que a maioria das mães acumula dois ou mais tipos. Um bem-haja a todas as mães, especialmente as solteiras, por terem filhas com daddy issues que são as mais fáceis de engatar nas discotecas.




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