Pois é, estou de volta! Estive duas curtas semanas de férias e agora é hora de voltar ao trabalho e, como muitas pessoas, estou com alguns sintomas que podem indicar uma condição psicológica preocupante à qual se dá o nome médico de «Depressão pós-férias» (DPF), ou, em termos leigos «Aquele sentimento de um gajo não querer trabalhar mais. Nunca na vida.». É um assunto que não é levado a sério pela sociedade que parte do princípio que as férias são sinónimo de recarregar energias e não tem em consideração que estas podem ser interiorizadas como uma espécie de saída precária da prisão. Neste artigo altamente científico, pretende elucidar-se o trabalhador, ou estudante, sobre os principais sintomas, causas e tratamentos desta epidemia.
O que ê?
Como o próprio nome indica, a depressão pós-férias é o sentimento de depressão depois de um período de férias. Acho que era preciso explicar esta parte porque há muita gente burra por aí, embora os burros tenham menos tendência para a depressão porque a ignorância é uma bênção e quem não pensa nas coisas não se deprime. A DPF é uma patologia que foi diagnosticada pela primeira vez em meados do Séc. XX, altura em que as pessoas começaram a ter alguns dias férias para gozar por ano. Um trabalhador de uma linha de montagem, 16 horas por dia, sem dias de férias, está imune a este tipo de doença de gente que não sabe o que custa a vida. A cada nova geração, a taxa de incidência aumenta, porque toda a gente sabe que a juventude não quer trabalhar e só quer é sexo, drogas e Pokémons.
Diagnóstico
O diagnóstico da depressão pós-férias é de precisão difícil. Muitas vezes, confunde-se a preguiça crónica do trabalhador mandrião com um quadro de depressão pós-férias. É preciso saber separar as coisas, porque a utilização da desculpa por parte do preguiçoso «Chefe, sabe como é que é, não tratei do relatório porque estou em depressão pós-férias...» tende a desvalorizar uma doença que deve ser levada a sério. É comum a DPF ser assimptomática e vermos doentes a afirmarem que «Preciso de férias das férias!» o que seria o mesmo do que curar a ressaca de um alcoólico com um shot de absinto. O diagnóstico deve ser feito por um médico que não tire férias há cinco anos, impedindo assim que ele inconscientemente vicie os resultados por, também ele, sofrer da mesma enfermidade psicológica. Pode, também, ser efectuado por um gestor de recursos humanos que tenha tirado uma certificação em «Motivação no local de trabalho», «Desmotivação ou preguiça?» e «Como identificar colaboradores que estão a ver se mamam subsídio de desemprego?». Em último recurso, pode ser feito o diagnóstico através da Internet, em sites fiáveis como este e se tiverem três ou mais dos seguintes sintomas é certo que sofrem de DPF. Se forem hipocondríacos como eu, com essa pesquisa no Google também vão perceber que têm SIDA, Cancro, e todo o tipo de doenças raras que matam depressa e de forma dolorosa.
Sintomas
- Ver as fotografias das férias 72 vezes de seguida e partilhá-las em todas as redes sociais, inclusivamente recuperando a password do Hi5 para ir lá publicá-las. Recorrer rapidamente às urgências quem der por si num círculo infinito de refreshs para ver se as fotografias têm mais likes;
- Achar que em vez de se trabalhar no primeiro dia de volta ao emprego se deve fazer o planeamento do trabalho só para queimar tempo;
- Contemplar o suicídio como uma opção válida para resolver os problemas naquela primeira segunda-feira de manhã;
- Chegar ao trabalho e verificar a folha de férias para ver quando são as próximas;
- Aquando da pergunta «Então essas férias?» dar sempre a mesma resposta: «Curtas...»;
- Enviar mensagens a todos os médicos que encontrar no Facebook a perguntar se passam atestados por dez euros;
- Fantasiar com o fim do mundo: incêndios, terramotos, quedas de asteroides e outras catástrofes naturais que pudessem destruir o local de trabalho;
- Gastar tudo o que sobrou na conta, depois de gastar o subsídio de férias, no Euromilhões e em Raspadinhas «Pé-de-Meia»;
- Sentir taquicardias quando se desliga o "Out of office" automático do email.
Causas
- Ter demasiado dinheiro para gastar em boas férias que fazem com que o resto da nossa vida pareça inútil. Voltar de Bora Bora para a Zona Industrial do Barreiro é um choque que deve ser evitado;
- Ter um trabalho de merda. A tendência para a DPF é proporcional ao desfasamento entre a qualidade férias/trabalho. Exemplos:
- Passar férias num local onde há mais gajas boas do que no nosso local de trabalho. Voltar de uma praia onde abundam bundas em fio dental e seios empertigaitados de moças jovens, e sexualmente gulosas, para o meio de uma empresa cheia de informáticos, aumenta em 80% a probabilidade de incidência de DPF. O mesmo é válido para mulheres que voltem de um resort onde estavam hospedados todos os nadadores olímpicos, e que voltem, também, para uma empresa onde a fauna mais abundante são informáticos;
- Férias longas. Por cada dia de férias tirado, a probabilidade de contrair depressão pós-férias aumenta em 5% (desde que dentro da proporcionalidade do rácio de qualidade Emprego/Férias da tabela acima);
- Não ter feito o trabalho que devia ter sido feito na última semana que antecedeu as férias. Soube bem, na altura, fingir que se trabalhava nos últimos dias quando, na realidade, se esteve a ver fotos de gajas boas nas discotecas da cidade que iriamos visitar, mas agora vai doer mais o regresso à vida real.
Tratamento
- Obrigar os amigos e conhecidos a verem todas as nossas fotografias de férias a um ritmo de dez minutos por fotografia com direito a zoom em todos os detalhes. Isto fará com que vejamos tristeza e desespero nos olhos deles, enquanto sorriem e dizem «Boas vidas, deve ter sido muito giro...» e «Ahhh, ainda faltam as que tiraste com o telemóvel? Fixe...». Toda a gente sabe que a melhor cura para a depressão, seja ela de que tipo for, é vermos pessoas mais deprimidas do que nós;
- Despedir-se (ver formas criativas para o efeito);
- Substituir os tradicionais leite e cereais ao pequeno almoço por bebidas alcoólicas destiladas. Sugestão: papas de aveia com vodka, numa massa consistente para libertação lenta ao longo do dia;
- Marcar reuniões fictícias para dormir;
- Dizer que se comeu comida marada nas férias e passar pelo menos quatro horas por dia na sanita, alternando entre sesta e choro abafado por um rolo de papel higiénico amarfanhado.
- Atualizar o perfil de LinkedIn só para nos enganarmos a nós próprios com promessas de procura de um emprego melhor;
- Depois de regressar ao trabalho, ir colocando fotos das férias no Instagram para as pessoas que nos seguem pensarem que ainda estamos de férias e nos sentirmos melhor ao meteres-lhes nojo.
Se os sintomas durarem vários meses, sugere-se que o doente faça por mudar de vida e pare de se queixar porque já ninguém tem paciência para o ouvir. Pode, inclusivamente, experimentar os conselhos do Quintino Aires e converter-se à etnia cigana.