18 de julho de 2016

Comecei a fazer dieta e... é uma merda



Devo começar por confessar que não tenho grande empatia para com os gordos. Para mim, a obesidade, salvo raras excepções onde há distúrbios psicológicos envolvidos, não é uma doença. É só gula, e que eu saiba isso é só pecado. Quando um fumador contrai cancro no pulmão toda a gente diz «É a vida, ele sabia os riscos e a escolha foi dele.» Quando é um gordinho que fica com a arteriazinha entupida e estica o pernil de porco, mesmo que a comida não tenha uma substância viciante com a nicotina, é toda a gente a dizer «Coitado. Entrou numa espiral depressiva em que não conseguia parar de comer. É muito triste esta doença.» Comesse menos, digo eu. Os únicos obesos pelos quais tenho alguma compaixão são os que sempre foram gordalhufos desde petizes porque os pais achavam que era giro ter a mascote da Michelin lá em casa e lhes davam Cerelac com ketchup entre as refeições. Dizem que a obesidade é uma epidemia e tem de ser combatida, mas se uns pais deixam um filho passar fome são logo sinalizados à protecção de menores, já aos que o engordam que nem um peru recheado ninguém diz, ou faz, nada. O que é certo é que ninguém faz dieta por questões de saúde. Fazemos dieta pelo ego e para nos sentirmos bem quando nos vemos ao espelho. Quem devia fazer dieta por questões de saúde, normalmente fala disso enquanto come um balde de gelado e se queixa do seu metabolismo. 

Cheguei àquele ponto em que se começa a sentir a barriga como que fosse um membro dormente do vosso corpo, sabem?

Sentem-na quando se sentam como se tivessem uma bolsa marsupial com dez cangurus bebés lá dentro? Foi a esse ponto que cheguei, depois de descurar a minha alimentação e de ter parado de fazer exercício físico regularmente. Sempre tive um ou outro quilito a mais, mas sempre fiz desporto e há uns anos fazia 5 ou 6 vezes por semana. Entre ginásio, futebol, jiu-jitsu e bicicleta semanalmente, conheci pela primeira vez os meus abdominais. Estava gostoso, pronto. Depois, vi que dava muito trabalho e que me tirava tempo para fazer coisas mais produtivas e parei. Mentira, desleixei-me e engordei uns bons oito quilos nos últimos dois anos e, desde então, nunca mais vislumbrei os meus abdominais a não ser quando a luz bate de lado e acentua as sombras quando nos vemos ao espelho e até achamos que não estamos mal. Mas, depois, olhamos para baixo ou para uma qualquer fotografia tirada na praia, em que estamos sentados, e percebemos que temos ali chicha capaz de fornecer uma noite movimentada no Chimarrão. Então, decidi que ia começar a fazer dieta há umas semanas e já perdi uns quatro quilos. Depois voltei a ganhá-los quando fui passar um fim-de-semana fora. Depois, perdi-os outra vez e voltei a ganhá-los quando fui a um casamento. E, agora, ando assim, nesse limbo do comer mais ou menos bem durante umas semanas para depois estragar tudo num fim-de-semana calórico. Ainda assim, a minha barriga já só seria capaz de albergar metade dos dez cangurus, algo que não vai durar porque vou de férias duas semanas.

O processo da dieta é sempre o mesmo: iniciamos em Janeiro porque foi uma das nossas resoluções de ano novo; começamos bem e entusiasmados, mas chega ali Fevereiro e Março e é uma desgraça porque temos muitos jantares de aniversário porque faz nove meses desde o início do Verão; chegamos a Abril e percebemos que já só faltam dois meses para o início da época balnear e começamos a desmotivar; chegamos a Maio e percebemos que já não vai ser neste Verão de 2016 que vamos estar sarados; desistimos e prometemos começar a fazer dieta logo em Setembro para estarmos em forma para o Verão de 2017. Sabemos que nos saiu a sorte grande quando podemos optar por fazer dieta. Quão privilegiados somos quando podemos decidir, de livre vontade, comer menos e melhor? Para os cerca de 900 milhões de pessoas que passam fome no mundo esse conceito é só parvo.

Comem o que houver e, garanto-vos, ninguém tem alergias ao glúten.

Filosoficamente, fazer dieta é como decidir usar menos as pernas e andar de Segway numa convenção de paraplégicos e mutilados de guerra. Outro indicador de que somos uns privilegiados é o facto de todos os restaurantes serem obrigados a ter um livro de reclamações. Não só temos comida acessível a toda a hora e em cada esquina, com pessoas a confeccioná-la para nós e a servir-nos, com uma diversidade de pratos de fazer salivar uma criança africana apesar de estar desidratada, como todos eles têm um livrinho onde podemos escrever uma reclamação caso alguma coisa não esteja do nosso agrado. Por isso, sempre que peço o livro de reclamações porque achei que a carne estava bem passada apesar de eu ter pedido «médio» deixo sempre um PS a dizer «Esta reclamação é ofensiva para os milhões de pessoas a passar fome no mundo, mas, no fundo, isso não me interessa porque eu paguei 10 euros pelo bitoque.».

Voltando à dieta, é difícil ser um homem heterossexual e fazer dieta. Com barba, ainda pior. Estão sempre à espera que que comamos um frango inteiro e cuspamos os ossos no fim durante um grande e sonoro arroto vindo das profundezas do nosso homem das cavernas. Lembro-me de pedir uma salada num restaurante conhecido pelos seus bifes e marisco e de ter esta conversa com o empregado:

- Vou querer a salada. - digo com uma voz máscula.
- Como assim? Para entrada? - diz ele sem conseguir prender o sorrisinho que lhe escapava pelo canto da boca.
- Não, não. Só quero mesma a salada. - digo enquanto coço os tomates para que não houvesse dúvidas da minha vincada masculinidade.
- Tem a certeza? Não quer antes um bife? - graceja.
- Não, não tenho muita fome...
- Ok, ok. E a menina o que vai querer - pergunta para a minha namorada.
- O bife. - responde ela.
- Isto está tudo mudado. - diz ele enquanto anota o pedido.

Só faltou perguntar-me se para sobremesa iria querer calipo de alheira congelada enquanto escolhia o padrão dos cortinados lá para casa. Os homossexuais queixam-se de discriminação, mas não sabem a sorte que têm por poderem ir a desfilar pela zona do hipermercado que tem cenas biológicas e saudáveis com embalagens verdes sem que ninguém os julgue. «Ah, é gay. Claro que quer granola, aveia e bagas de goji... diz que faz bem às hemorroidas.». Com as mulheres é igual, ninguém as julga por comprarem gelatina light! Já um homem heterossexual e de ar másculo é logo olhado de lado pelas senhoras com prisão de ventre que estão lá a vasculhar os alimentos com mais fibra que lhes façam funcionar o intestino, enquanto têm duas embalagens de Tena Lady já a contar com o ovo no cu da galinha. Não posso deixar de me sentir observado quando passeio o olhar por entre os rótulos cheios de buzz words como «Light», «Green», «Orgânico», «Biológico» e «Sem açúcar adicionado apesar disto já ter, de origem, 100 gramas de açúcar, mas não digas nada a ninguém.».

Quando pego numa embalagem e a viro para verificar as calorias, sinto olhares de reprovação homofóbica maiores do que se me tivessem apanhado fazer um felácio numa esquina. 

Por falar em contar calorias, há pessoal que foi para humanidades para evitar matemática que se tornam autênticos peritos euclidianos da dieta. Sabem todas as calorias de todos os alimentos e quantos gramas de cada um dos nutrientes têm 31,7 gramas de um qualquer superalimento. São um dos vários tipos dos maluquinho das dietas que agem como se estivesse numa seita que acabou de inventar uma religião que odeia o budismo com base no Índice de Massa Corporal de Buda. Outro tipo de maluquinhos das dietas são os que aderem a dietas da moda, uma e outra vez, todos os anos a experimentar uma que realmente resulte e lhe tire os pneus acumulados. Estes são os que, na verdade, nunca se esforçaram em nenhuma delas: «Pois, agora vou experimentar a dieta para o meu tipo de sangue, porque o meu estômago transforma os brócolos em chocolate e é por isso que nunca emagreci com as dietas normais. Agora, estou a experimentar a dieta da Alga do Tibete, que só cresce no rego de cabras montesas albinas e que dizem que é muito boa para pessoas sem força de vontade para fechar a boca e parar de comer Doritos com Cerelac a meio da noite sempre que vão à casa de banho aliviar a bexiga do chá diurético a preço inflaccionado que compraram no Celeiro.»

A minha dieta é muito simples e cabe em meia dúzia de linhas:
  • Comer menos quantidade. Não és um condenado no corredor da morte que tem de repetir três vezes e ainda ficar a olhar para as outras pessoas na esperança que elas não repitam para ires lá outra vez. 
  • Comer menos merda. Sim, comer tostas com queijo e beber Coca-Cola antes ir para a cama sabe bem; meter duas embalagens de Chipmix num copo de leite até ficar uma papa capaz de assentar tijolo, também. Não dá. Queres emagrecer troca isso por um copo de água e uma maçã, e vai chorar até adormeceres.
  • Mexer o cu. Levanta a peida do sofá nem que seja para ir apanhar Pokémons. É que por muito que isso diminua a qualidade, ou a probabilidade, da tua vida sexual, sempre é mais atraente do que ser gordo.
É simples! Não precisam de comprar livros de dieta, comprem antes o meu. Não precisam de nutricionistas que só vos vão ajudar porque as consultas são caras e ficam com menos dinheiro para gastar em fast food. Não dêem desculpas para não conseguirem emagrecer! Ficam ridículos porque toda a gente sabe que a real razão não são as hormonas, pelo menos as vossas. Quanto muito são hormonas que usaram para aquela vaca crescer depressa e dar origem a esse hambúrguer que estão a enfardar enquanto se queixam.




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