7 de outubro de 2016

Maria Leal, pouca ginga e muita vergonha alheia



Pois é, tinha de falar nisto. Custa-me, sinceramente, até porque é uma espécie de traição à minha musa Ana Malhoa, à qual costumo fazer este tipo de reviews altamente profissionais a todos os seus vídeos. Quem nunca leu pode vê-las aqui: Turbinada, Encaixa, Futura, Dame un besito. No entanto, tantas foram as mensagens que me enviaram que acabei por ceder à pressão e, com muito sacrifício pessoal, ver e rever o vídeo da Maria Leal a cantar para vos brindar com uma excelsa crítica. Quem nunca viu, pode ver e ouvir pela vossa conta e risco.


Vamos por partes: quem é a Maria Leal e porque é que ela tem tempo de antena na televisão quando há bons artistas que não têm? Ora aí está uma boa pergunta. A Maria Leal é ex-namorada de um ex-concorrente da Casa dos Segredos, Tiago Ginga. Isso explica um bocadinho a quantidade de azeite de má qualidade que brota a cada segundo do vídeo, como se a Maria tivesse uma oliveira acomodada entre as nádegas, algo que também explicaria a sua forma caricata de dançar, mas já lá vamos. 

0:06 – Começa a música e desde logo reparamos que todos os instrumentos utilizados pela "banda" são wireless. Temos um tocador de órgão, um DJ que fez um workshop durante o tempo em que esperava pela sua senha no Centro de Emprego, e uma bailarina. É logo aqui que percebemos que a Maria é uma artista inovadora pois, contrariamente à maioria dos cantores pimba, apenas tem uma bailarina e não duas, como lhes é apanágio. Pensei logo, «Bem, esta Maria deve dançar que se farta e nem precisa de uma segunda bailarina para nos distrair da sua voz que calculo ser má.». Como me enganei…

0:14 – A música começa com uma batida já batida, e com uma espécie de dialecto satânico, como que se toda a atuação fosse obra do próprio Belzebu, o que explicaria muito do que vem a seguir, embora nem uma possessão demoníaca fosse desculpa para tamanha blasfémia musical.

0:24 – De repente, entra o beat e vemos a dona Maria de frente. Toda ela é expressão de cólicas intestinais. Toda ela é apendicite aguda e guinadas no baixo ventre. Maria, mascarada de prostituta toxicodependente da estrada da Reboleira, tenta dançar, mas não lhe sai mais nada a não ser uma dança de acasalamento de suricatas inebriadas de absinto e laxante. O seu olhar disperso, qual criança que perdeu a mãe de vista no supermercado, é das coisas mais constrangedoras que já vi. Não percebemos que está para começar um ataque epilético, se está a tentar sacudir uma mosca da cara, ou apenas se tem a noção rítmica de um baterista com Parkinson.

0:38 – Quando pensamos que o melhor já passou, numa espécie de ejaculação precoce em que o clímax vem logo no início, eis que a Maria começa a cantar. Cantar talvez seja um verbo demasiado rebuscado para o que ela faz, confesso, mas nesta altura já ninguém acreditava que ela tivesse boa voz. «Dialectos de ternura» é o nome da música e são as primeiras palavras que a Maria balbucia, mas não pensem que isto é uma cover mal-amanhada da música homónima dos Da Weasel! Antes fosse! As únicas coisas semelhantes são mesmo o nome da música e o aspecto da Maria que se assemelha, efectivamente, a uma doninha. Aliás, ela é igual ao Sid, a preguiça da Idade do Gelo, como podem verificar na imagem do início. É igual!

0:55 – «Ohhh, ohhh, ohhh, ohhh. Hoje Maria Leal, aqui só para ti.» Chupem letristas portugueses! Chupa Carlos Tê! Chupa Pedro Abrunhosa! Chupa Carlos Paião! 

1:12 – «Pensamento proibido, entrar no teu olhar.». O problema não é tanto o olhar, Maria. O problema é a audição! Tive duas otites há pouco tempo e olha que me doíam menos os tímpanos. Aliás, foi com saudade que recordei essa semana em que tinha os ouvidos todos entupidos. Entras no nosso olhar como uma daquelas pestanas que não saem e um gajo coça e coça e depois dela sair continuamos a sentir uma impressão desconfortável.  

1:25 – «Estrada proibida, Entroncamento sem fim.». Não sei se é uma homenagem à cidade do Entroncamento ou se a um cruzamento. Se for a segunda, é, talvez, a primeira vez que tal palavra é utilizada na letra de uma música, romântica ou não. Percebe-se, rapidamente, que esta letra tem o dedinho de um instrutor de código da estrada e de um taxista. Estava à espera de um verso assim «O teu coração está em sentido contrário e vou ter de te autuar.» ou ainda um «Os teus olhos brilham qual colete reflector. Sinaliza a mudança de faixa, se faz favor.». Seja como for, a Maria está, de facto, ao nível dos fenómenos do Entroncamento. Preferia, honestamente, levar com uma abóbora gigante no nalguedo do que ter de ouvir a Maria a cantar durante mais de trinta minutos.  

1:36  Maria começa a soltar-se e avança, em passo de pirata com síndrome vertiginoso, e encara Manuel Luís Goucha e, depois, Cristina Ferreira. Um surdo que veja esta parte vai pensar que ela está a ameaçá-los, tal é a forma desengonçada com que tenta interagir, apontando-lhes o dedo enquanto arregala os olhos de forma que deixaria Charles Manson com complexos de inferioridade. 

2:38 – Depois de um minuto de mais do mesmo a cara de Maria deixa transparecer que começa a bater a segunda vaga de LSD, ou então que o Prozac começa a deixar de fazer efeito. Avança de forma descoordenada, e de olhar de quem já teve três traumatismos cranianos e foi deixada cair de cara no chão da janela de um carro em andamento quando era bebé. Senta-se no colo do Goucha. Goucha disfarça que está a achar piada.

3:10 – Maria, que já nos deu tanto durante estes três minutos, dá-nos ainda mais ao presentear-nos com uma dança indígena capaz de fazer chover no Sahara. A cara dela diz tudo: as cólicas que tinha no início voltaram. 

3:16 – Acabou. Finalmente. Manuel e Cristiana riem-se descontroladamente como quem nunca vivenciou tanta vergonha alheia e olhem que se há alguém na TV portuguesa que já viu de tudo, são eles os dois. Segue-se a conversa de circunstância onde a Maria nos deixa a saber que começou a cantar desde sempre. Atenção que Maria não canta desde sempre, nem começou a cantar desde cedo! Maria «começou a cantar desde sempre», o que é um conceito que nos poderia levar por caminhos altamente filosóficos e a discutir física quântica.

3:53 – «Desde que fui à Quinta, um produtor pegou em mim… e realizei um sonho.» diz. O que eu ouvi foi «Um produtor de azeite lá da quinta pegou em mim, espremeu-me e saiu isto.» Maria afinal não começou a cantar desde sempre, Maria começou a cantar desde 1919.

4:46 – Não sabia que a Rute Marlene tinha morrido. Reparem na forma como ela olha para cima ao agradecer à Rute, como se faz quando alguém morreu e nós partimos do princípio que essa pessoa foi para o céu. No fim agradece também ao Nuno Barroso como quem não gosta assim muito dele. 

Acabou e a única coisa que consigo sentir é pena. Pena de não haver videoclip. Espero que tenham gostado. Quanto a mim, despeço-me com tremores nas mãos e vou ali num instante tomar um banho, esfregar-me com pedra pomes e enfiar duas agulhas de crochet em brasa nos ouvidos.




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