26 de março de 2015

Ana Malhoa, a cantar desde 1919



Ontem estava sem ideias para escrever, quando que por vontade de Deus a Ana Malhoa lança um novo video clip. A Margarida Rebelo Pinto diz que não há coincidências, mas todos sabemos que o que ela diz não se escreve. Ao saber de tal lançamento, soube automaticamente que iria ser uma mina de ouro, um refogado de azeite e cebola de fazer ir às lágrimas o mais circunspecto dos salazaristas. Esfreguei as mãos de contente, pensando no entanto que haverá quem esfregue outra coisa a cada novo video da Ana, dando festinhas na sua própria makina de fiesta, num ritual de onanismo em que o lubrificante é o azeite. São gostos, eu também gosto de tostas de queijo com chocolate e há quem ache nojento. Bem, lá cheguei a casa, recostei-me em frente ao computador, cliquei no play e comecei a degustação das gorduras monoinsaturadas que brotam a cada frame. Um mimo. Tudo o que eu sempre sonhei, uma galinha dos ovos de ouro de potencial humorístico. Não é nenhum "Tá Turbinada" atenção! É impossível fazer duas músicas de antologia labrega de seguida, mas é que é bom, lá isso é.


A música dá pelo nome de "Encaixa, baby, encaixa", um slogan que seria genial para uma campanha publicitária da LEGO. 

Para quem não viu, aqui fica, os primeiros dois minutos de introdução são a melhor parte, depois começa a música e estraga um bocadinho. Caso não queiram ver, em seguida descrevo em detalhe tudo o que lá se passa.


Gostaram? Pergunta parva, bem sei. Vamos então esmiuçar o vídeo, desconstruindo-o e analisando ao detalhe as várias camadas, que é como quem diz, vamos lá então ajavardar com classe.

O vídeo começa com uma sonoridade a fazer lembrar os filmes pornográficos dos anos 80, uma batida que convida ao sexo com prostitutas baratas. Nisto, coincidentemente ou não, uma personagem de botas vermelhas e casaco desapertado bate a uma porta. Vemos segundos depois que é efectivamente a nossa Ana Malhoa de sempre, mas com um estilo arrojado, de cabelo rapado e descolorado, como quem teve piolhos e os tentou primeiro matar com água oxigenada. Entra e despe o casaco, dando a entender pelas protuberâncias, que continua efectivamente turbinada e, pelo que vimos na Playboy, foi alinhar a direcção ao oftalmologista da Rita Pereira, onde também deve ter comprado os óculos que coloca. Óculos esses que nos fazem perceber que até então estava a ver tudo desfocado, tendo ainda mais valor por conseguir andar sem cair naqueles saltos de fazer corar qualquer stripper da margem sul. Acende uma TV, onde aparecem as Latina News, com notícias de última hora. Nem vou pegar no facto de faltar um acento na palavra "última", acho que saber escrever português (ou castelhano se era esse o caso) não é importante para artistas deste gabarito internacional. Nisto aparece uma repórter que deixa os da CMTV com boa imagem. Não sei se a senhora é invisual, ou se é todo um estilo de apresentação a olhar para o lado como quem não quer saber. Um SWAG jornalístico de quem é apanhado desprevenido numa fotografia em pose natural. Segue-se um dos momentos mais altos que é o conteúdo da notícia: "A bomba Ana Malhoa La Makina, durante estes 30 anos de música, já demonstrou que é a artista mais latina da Europa. Definitivamente a artista pioneira do género tropical urbano em Portugal (...) a artista mais camaleónica portuguesa vem estremecer o panorama musical (...)".

Isto é poesia meus amigos, poesia. Está cheio de metáforas e por isso sinto-me na obrigação de traduzir para os menos literatos: "O estalinho Ana Malhoa, La Makineta, durante os seus 30 anos do que dificilmente se chamaria música, já demonstrou que é a artista mais sarrabeca da Europa. Definitivamente a artista pioneira do género bardajão urbano em Portugal, até porque foi um estilo inventado agora e que mais ninguém quer seguir (...) a artista portuguesa que muda mais vezes as cores e os brilhantes das unhas de gel, vem fazer escorregar ainda mais o pavimento musical (...)". Sempre fui muito bom a interpretar os textos do Fernando Pessoa e a escrever por palavras minhas o que ele queria efectivamente dizer, por isso acho que podem confiar.

Começa o enredo, a Ana pergunta quem é o gajo com ar de machão que está no sofá a fumar como quem tem dois primos afastados que lhe devem dinheiro. Ela diz para lhe levarem uma bebida, que é um copo de whisky cheio até cima, como um homem de barba rija bebe. A empregada vai lá dar-lho e reparamos que o bar é uma espécie de casa de meninas da Rinchoa, daquelas deprimentes em que se o HIV se apanhasse por via aérea toda a gente usava máscara cirúrgica. Há um plano lindíssimo e a Makina avança, qual gazela com pernas de centauro, em direcção à sua presa.


Uma vestimenta a dar tudo, como só a nossa bomba tropical urbana é capaz de usar. Uma espécie de baby grow que faria as delícias de qualquer padre. 

De repente a magia acontece. Entra o beat, igual a tantos outros porque é preciso que as pessoas se identifiquem e temos o momento que a Ana já nos habitou de spoken word, com um poema belíssimo: "Uma trajectória. Muita sabedoria. Aprendam connosco... niños!". Aqui claramente que fazendo alusão ao furacão El niño que fustigou a costa sul americana e lá está, tropical. Ana Malhoa é a makina das metáforas. O resto é música para os meus ouvidos desde que com tampões devidamente colocados. Ele é DJ com SWAG, rabos a abanar, roçanço no sofá, mamanço da boca, planos a mudar com a batida e claro, uma letra e rimas aparentemente primárias, mas é só porque as pessoas não perceberam que menos é mais. Termina com um o plano da artista a fazer uma careta qual malucos do riso, mas em que não há claramente nenhuma cabecinha pensadora. Há tempo ainda para ver os patrocinadores, do qual se destaca novamente o Ginásio Olímpia, com nome homónimo ao extinto cinema de Lisboa, onde passavam películas pornográficas. A Margarida Rebelo Pinto se calhar até tem razão.

Eu sei que parece que eu não gosto da Ana Malhoa, talvez tenham ficado com essa sensação, mas é uma sensação errada. Não tenho nada contra ela como pessoa e sinceramente até a acho uma boa artista dentro do género, o género é que é uma merda.




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