25 de fevereiro de 2020

Preliminares - "Documentário" de stand-up comedy



Em 2018, depois de terminar a tour do meu primeiro espectáculo a solo (que podem ver no YouTube), decidi fazer uma tour em bares com vista a preparar e criar o meu segundo solo, Só de Passagem. Essa pequena tour por bares teve o nome de Preliminares e todo o processo foi filmado com foco nos bastidores e palermices que se iam dizendo.

Já lancei 8 episódios, nas próximas semanas sairão os três últimos. Podem ver os dois últimos aqui em baixo e todos os outros neste link.

Episódio 8, Guarda e Covilhã

Episódio 7, Bragança.

Obrigado a todos os que participaram, a todos os parceiros e, especialmente, ao público. Já agora, aproveito para anunciar que estou a preparar uma nova tour de Preliminares lá para Maio. Podem deixar sugestões de cidades, vilas ou aldeias para passar por lá.
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21 de fevereiro de 2020

João Moura gosta muito de animais



João Moura, cavaleiro tauromáquico, é suspeito de maus tratos animais. Sim, é difícil ler essa frase sem rir, mas ao contrário do que se possa pensar, não foi porque a polícia comprou bilhete para um dos seus espectáculos e percebeu "Espera lá? Isto afinal é que é tourada? Se calhar é maus tratos…". Não, foi porque tinha 18 galgos na sua herdade que estavam a morrer à fome. Há sites e páginas de apoio à tourada que dizem que o senhor João Moura está a ser alvo de uma campanha de fake news. Sim, foi um plano concertado por várias associações de defesa animal  e pela comunicação social que pegaram em cães magricelas e os atiraram de paraquedas para a herdade do senhor João Moura. Os cães foram resgatados e um já morreu, deve ter sido desgosto de ter sido retirado ao seu dono tão querido.

Em entrevista ao blogue tauromáquico Farpas, que aproveito para dizer, na qualidade de informático, que tem um layout e design horrível de fazer lembrar os primórdios da Internet, mas não sejamos muito duros com eles que já saberem mexer num computador já é bom para quem tem aquela condição, o senhor João Moura disse o seguinte:

"A tauromaquia não está a viver um momento fácil (…) e a verdade é que a imprensa tem os holofotes virados contra nós, daí o empolamento que desde ontem estão a dar a este caso."

Verdade até certo ponto, se fosse o Zé da Esquina a ter animais a morrer à fome não seria tão noticiado, da mesma forma que é mais noticiado um padre pedófilo do que um pedófilo não padre. É que ninguém estava à espera que alguém como o senhor João Moura, que diz adorar animais, que vive da sua relação com eles, fosse capaz de maltratar um touro, quanto mais cães. O senhor é conhecido, normal que seja notícia, mas acreditem que se fosse a Rita Pereira a ter os 18 cães em condições desumanas, com unhas de gel ou assim, seria ainda mais noticiado. Ele continua:

"É curioso que tenham aberto alguns telejornais com a notícia de que eu tinha sido detido... Se tivesse ganho um importante troféu em Espanha, como ganhei tantos, ninguém diria nada."

Se fosse um troféu de cinema, de desporto ou assim, seria noticiado certamente, mas a maioria da sociedade já chegou à conclusão que espetar ferros em animais vivos para divertimento humano não é um feito importante e, como tal, os troféus que se ganham nessa área são equivalentes dos de futebol feminino: ninguém quer saber e a falar-se neles é só para parecer bem. O cavaleiro das ceroulas continua:

"Mas estou sereno e tranquilo e tenho a consciência muitíssimo tranquila. Quem me conhece sabe o quanto gosto de animais, de maus tratos jamais me poderão acusar."

Vamos por partes: tem a consciência tranquila? Claro que sim, disso não tenho dúvidas. Para estar intranquila é preciso achar que se fez algo de errado e o grande problema aqui é que o senhor João Moura não deve achar que matar cães à fome é fazer algo de errado. Um serial killer também tem a consciência tranquila. Quanto a gostar muito de animais e nunca o poderem acusar de maus tratos, só mesmo quem não souber a profissão dele, mas até posso ignorar a tourada, porque ele nasceu no meio e acha que o touro é um valente que até gosta de morrer na arena, mas acabou de lhe morrer um cão por negligência e ele está na boa? A teoria cai por terra, mas sim, ele gosta tanto de animais que numa entrevista à SIC há uns anos mostrou alguns dos seus troféus e, além das cabeças dos touros que matou penduradas na parede (há quem não goste de espelhos e então prefira ter animais cornudos pendurados, são gostos) tinha a cabeça de um cavalo seu e uma mesa cujas pernas eram as patas desse mesmo cavalo. No mínimo, estranho:

Quando tu gostas muito de um animal que tiveste, o que fazes quando ele morre? Cortas-lhe a cabeça, empalhas e metes na parede, óbvio. Mais, mandas esquartejar o bicho, cortar a cauda para um porta-chaves e as patas para fazer pernas de uma mesa. Aposto que deve ter a picha embalsamada a fazer de candeeiro de pé alto. Posso ser eu que não estou nesse mundo e não percebo, mas isto tem um leve aroma a psicopatia. Nem quero imaginar o que fará caso lhe morra a mulher. Um ancinho com as unhas, uma pandeireta com os dentes e as mamas e ainda aproveita para fazer um espanta-espíritos com os lábios da cona.

Por falar na família Moura, o seu filho, João Moura Jr (dar o próprio nome ao filho é mais um sinal de psicopatia narcisista) já tinha estado envolvido numa polémica em 2013 quando foram divulgadas umas fotografias que tinha no seu Facebook onde atiçava cães a touros, uma prática comum neste mundo tauromáquico, chamado bull bating, daí o "Bull" no nome de algumas raças de cães.

Quando houve gente indignada, vá-se lá saber porquê, ao ser apanhado disse o seguinte:

"Foi uma situação isolada quando os cães entraram inadvertidamente no recinto onde estava a vaca, não se tratando de nenhuma luta de animais".

Ah ah ah. Uma vez a minha cadela também entrou num galinheiro inadvertidamente e eu fui logo buscar a câmara fotográfica e tirei várias fotografias enquanto ela esfranganava as galinhas. Depois, selecionei as melhores e coloquei na minha página, sem me esquecer de colocar a minha assinatura no canto inferior direito para fazer publicidade. Burro. Bem, mas ao menos temos de perceber que a família Moura está a melhorar com as novas gerações: o pai deixa morrer cães à fome; o filho dá vacas vivas inteiras para os cães dele comerem; o ideal seria não continuar a linhagem, mas pode ser que o neto já venha normal sem taurossomia 21.

Podemos estar aqui a ser injustos com o senhor João Moura. Não querendo fazer fat shaming, o senhor está pesadote e todos sabemos que a obesidade é uma doença e que, muitas vezes, os gordinhos comem por impulso e não se controlam. Olham para donuts como o José Carlos Pereira olhava para uma garrafa de Absolut ou como o Cláudio Ramos olha para aquele objecto fálico que adora ter perto da boca, o microfone. O senhor João Moura pode ter adquirido um gosto especial por ração de cães. Há gostos para tudo, se há quem goste de peixe cru enrolado em alga e fique viciado de tal maneira que todas as semanas tem de ir ao sushi, haverá certamente quem fique viciado em ração de cão. Se calhar é como o sushi, tem de se provar várias vezes até gostar. Tal vício pode ter feito com que o senhor João Moura comesse a ração toda dos seus galgos deixando-os morrer à fome. Isso ou era parte de uma experiência a ver se os galgos conseguem voar. Seja como for, confesso que gostava de saber o segredo da dieta João Moura. A minha cadela está um bocado gorda e o verão está aí a chegar. Como é que ela vai publicar fotografias no seu Instagram se não tiver um dogkini body? Quando a minha cadela veio do canil é que estava boa, ali com as costelas a verem-se, pronta para uma passerelle, agora só se for para fazer de hipopótamo no Jumanji.

Quero terminar, dizendo que acho que a maioria das pessoas que gosta de touradas nunca seria capaz de maltratar animais noutro contexto, muito menos de deixar cães a morrer à fome. Não acho que gostar de tourada seja sinónimo de ser má pessoa, tal como não acho que ser vegan seja sinal de ser boa, embora aumente a probabilidade de se ser chato. Por isso, quem gosta de tourada e não se revê nestes maus tratos a animais é que devia estar indignado porque a mim não me surpreende nada.
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18 de fevereiro de 2020

Caso Marega: meteu-se a jeito



Se há 30 anos me perguntassem, se em 2020 ainda se iria falar tanto de racismo, sabem o que diria? Diria o seguinte: "Sei lá, caralho, tenho 5 anos, que pergunta de merda para se fazer a uma criança. Dêem-me um push pop, mas é."

Bem, mas já estamos todos a par da polémica com o jogador de futebol Marega, insultos racistas das bancadas, que deu origem a todo um pandemónio no desporto, nas redes sociais e na sociedade no geral. Quando há polémicas destas é preciso debater e, então, a TVI decidiu convidar o André Ventura para falar sobre o assunto porque nestas situações de racismo há que chamar os especialistas na prática. Na prática do racismo, entenda-se. Ele começou por afirmar que não é racista e até disse, e passo a citar, "Já festejei muitos golos de negros". 

O antigo "Não sou racista, até tenho um amigo pretoé assim substituído por "Não sou racista, até festejei o golo do Éder".

O André Ventura, não sendo racista, tem feito confusão em como se deve demonstrar isso. Em vez do típico "Não sou racista, até tenho amigos que são… pretos." ele acha que é o "Não sou racista, até tenho amigos que são… racistas", daí se explica que ele não se importe de apelar à falta de inteligência dos racistas para ter mais votos. Chamar o André Ventura para identificar racismo é como chamar um toureiro, ou o Miguel Sousa Tavares, para explicar se algo é abuso animal. É como um gajo saudável a dizer se a eutanásia deve ser legalizada ou não. É como chamar o Schumacher para o Dança com as Estrelas.

Mas bem, esta discussão do Marega é complicada porque temos de ver os dois lados. Sei de fonte segura que o Marega andou a provocar os racistas. Pelo que apurei, ele entrou em campo com pele escura e andou lá a ser preto de um lado para o outro, mesmo a provocar quem não gosta de pretos. Queriam o quê? Meus amigos, cada um colhe o que semeia, e o Marega não teve respeito pelos racistas. Aliás, o Marega foi o primeiro a ser racista porque escolheu ser preto. Porque é que o Marega não escolheu ser branco neste jogo? Pois, mesmo a provocar os racistas. Disto ninguém fala. Há sempre dois lados numa discussão e não existiria racismo se não houvesse as duas partes: os racistas e as pessoas que eles odeiam. Agora pensem. O Marega meteu-se a jeito, ora vejamos:
  • O Marega podia ter sido mais discreto, podia ter usado uma base para aclarar a pele ou assim, que ia saindo ao longo do jogo, para os racistas se irem habituando aos poucos. Uma espécie de homeopatia do racismo.
  • O Marega começa logo a provocar quando decide chamar-se Moussa. Moussa Marega. Os racistas odeiam nomes que não sabem escrever, daí odiarem quem se chama Helena porque não sabem se leva H ou c com cedilha.
  • Pior, o Marega tem de decidir se quer fazer parte do problema ou da solução. O que é que os racistas acham sobre os pretos? Que são preguiçosos e não gostam de trabalhar. O que é que o Marega fez? Saiu do jogo antes do fim. Isto é dar razão aos racistas, como toda a gente sabe.
  • Isto para não falar que o Marega provocou os racistas que tinham atirado uma cadeira das bancadas, colocando-a na cabeça. Ora, os racistas tinham atirado a cadeira para ele se sentar e ficar confortável e ele decidiu faltar ao respeito, gozando com essa oferta. O Daniel Alves, há uns anos, aceitou a oferenda dos racistas e comeu a banana que lhe foi enviada das bancadas. O Marega devia aprender com o Daniel Alves a não provocar os racistas. Na altura fomos todos macacos, embora isso não seja muito preciso cientificamente: somos é todos símios, mas uns são mais primatas do que outros.
Ao Marega, que tenha mais respeito pelos racistas numa próxima. Só faltou baixar os calções e exibir aquilo que os racistas mais odeiam porque é o segundo órgão que têm mais pequeno do que o normal. O primeiro é o cérebro, claro.

***

PS: Datas de stand-up comedy em breve:
  • 7 de Março, em Águeda, juntamente com o Hugo Sousa e o Renato Albani. Info e bilhetes neste link.
  • 24 de Abril, em Ponta Delgada, nos Açores, levo um convidado comigo. Info e bilhetes neste link.

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13 de fevereiro de 2020

Aborto vs pedofilia: venha o diabo e escolha



Um padre dos Estados Unidos da América, de 72 anos, disse algo como "a pedofilia não mata ninguém e isto mata". Quando ele diz "isto" está a referir-se ao aborto e não a lutas de bebés com espadas ou a touradas com bebés montados em caniches, pois isso é óbvio que mata até porque o caniche não é bicho para aguentar uma trancada de um touro. O bebé tem os ossos muito maleáveis e safa-se desde que não aterre de moleirinha no chão.

Comparar o aborto com pedofilia é a mesma coisa que comparar cortar as unhas com amputar a perna… de outra pessoa e sem o seu consentimento. Comparar aborto com pedofilia é a mesma coisa que comparar um serial killer com um médico que é a favor da eutanásia… pensando bem, deve ser essa a linha de raciocínio do padre. Eu investigaria este padre que aquela cara bolachuda e aqueles óculos já são um sinal e, depois, a falar de pedofilia como se fosse doutorado nela, hum, quem fala assim é quem tem experiência na óptica do utilizador.


"Ao menos a pedofilia não mata ninguém". Só faltou dizer que o que não nos mata torna-nos mais fortes e que é de pequenino que se torce o pepino. No entanto, temos de ser justos, o senhor padre tem razão numa coisa: a pedofilia em si não mata, a não ser que seja muito à bruta e mal feita. O pedófilo normalmente não quer matar a criança até porque de que lhe serve um cadáver de uma criança? Vai fazer sexo com o cadáver? Há limites. Um pedófilo tem valores e toda a gente sabe que gostam delas a dar luta.

A pedofilia só mata se a criança for malcomportada e não souber guardar segredo. A pedofilia pode não matar, mas o que não mata engorda e uma criança gordinha sofre bullying na escola e isso ainda é pior que ser abusado sexualmente.

Os padres são sempre muito parciais nesta questão do aborto porque é normal que sejam contra, já que mais abortos significam menos crianças e as crianças dão imenso jeito aos padres, seja para o coro, a catequese ou para aquela actividade lúdica que 10% dos padres fazem com a pila em crianças, mas que não é bem sexo porque eles fizeram um voto de castidade. É desporto, vá. É hobbie. São "só" 10%. Imaginem se 10% dos professores fossem pedófilos!? Estatisticamente, na escola primária era mais tranquilo, mas mal chegávamos ao 2º ciclo ano era quase certo que íamos levar no cu.

A julgar pelos esforços de grande parte da Igreja Católica, que se empenha mais em fazer campanhas anti-aborto do que em expor e resolver os inúmeros casos de pedofilia que tem enraizados até às mais altas instâncias da sua empresa, Deus aceita melhor a pedofilia do que o aborto. Porquê? Porque o aborto, às vezes, impede que uma criança nasça para ser vítima de pedofilia e isso estraga o plano de Deus que tinha seleccionado minuciosamente, à mão, aquela alminha para ser abusada e agora a alma vem para trás como se fosse um bife muito mal passado e que quando volta ao lume fica sempre mais rijo e menos suculento. Deus fica muito chateado se lhe baralharem a gestão de stock de almas que, parecendo que não, o aborto é uma espécie de devolução e aquilo tem de voltar a ser embalado para o cliente a seguir não perceber que a alma já foi usada. Cada aborto é um nascimento refurbished.

Mesmo para quem é contra o aborto, uma posição que eu até percebo em certa medida, acho que ninguém, a não ser muito radical, acha que são situações comparáveis. Se alguém acha que uma mulher que decide fazer um aborto é pior do que um pedófilo, lamento, mas essa pessoa é uma atrasada mental. O aborto é a interrupção voluntária da gravidez. A pedofilia é a interrupção involuntária da inocência. Dá para ter um aborto espontâneo. Não dá para fazer pedofilia espontânea. Quer dizer, muitos dirão que tiveram um impulso espontâneo e incontrolável e que não têm culpa.

Percebo que há dois tipos de pessoa que queira criminalizar o aborto: os muito religiosos e os pedófilos. Este padre tem cara de ser intersecção dentre os dois grupos.

Para alguém muito religioso, um aborto é a morte de uma vida. Para um pedófilo, um aborto é uma encomenda da Amazon que foi extraviada.

Para os padres, o aborto é pecado até ser uma beata que engravidou deles. Aí ou é aborto ou é filho de pai incógnito que Deus que é avó que cuide, crie e dê pensão de alimentos. A quantidade de filhos de padres não perfilhados e o facto de o Vaticano ter regras secretas para os padres que têm filhos, leva-me a crer que a Igreja é a favor do aborto teórico. É abortista não praticante. Por isso, sempre que virem um padre a conduzir um carro que diz "Bebé a bordo", não é alerta, é Uber Eats.
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10 de fevereiro de 2020

Óscares 2020 - Os piores looks da passadeira vermelha



Mais uma cerimónia dos Óscares em que eu fiquei acordado até às 3h da manhã e desisti, vendo assim a entrega de todos os prémios que não interessam e deixando para o dia seguinte os que realmente fazem a pena. A cerimónia dos Óscares é como sexo demorado, mas mal feito, se tudo correr bem só vale a pena pela parte final.

Sobre os prémios em si não vou escrever que isso não interessa para nada, acho que a maioria das estatuetas ficaram bem entregues, tivemos daqueles bonitos discursos de milionários a falar de igualdade e a tocar nas campainhas todas para sinalizar a virtude. O que está a bater é falar de mulheres realizadoras? Vamos falar disso. Ah, é alterações climáticas? Deixa só ir ali reescrever o meu discurso num instante.

Bem, como os Óscares são muito parecidos aos Globos de Ouro da SIC, tanto que em Hollywood até se referem a eles como "Os Globos de Ouro da SIC à americana", decidi fazer o que faço sempre e comentar aquilo que é a minha especialidade: as roupas. Toda a gente sabe que passei ao lado de uma grande carreira de comentador de passadeira vermelha, tudo culpa dos meus pais que me deram objectivos na vida. Não querendo ser um nacionalista, mas isto com estrangeiros não tem a mesma piada já que duvido que algum deles vá ficar ofendido e ameaçar-me de processo, mas nunca se sabe, por isso vou esmerar-me na mesma. Segue a análise aos looks mais estranhos dos Óscares 2020.


O Spike Lee veio vestido à pica da CP de Hogwarts. Ele diz que é uma homenagem ao Kobe Bryant e não vou comentar se não ainda aparece aí o filho do Bolsonaro outra vez a falar mal de mim e tenho de aturar ofensas em português do Brasil. Reparem na calça curta e de quem parece que se vai descalçar e apanhar lamejinhas a qualquer momento. Depois, desconfio sempre de homens adultos com pulseiras. Sempre. São sempre homens que vêm com conversas de que querem abrir um bar em Albufeira porque estão na crise da meia-idade.


Ela bem tentou que ninguém reparasse na sua cara esticada, mostrando perna inteira e meia mama, mas falhou. Parece que fizeram um transplante de cara em que lhe meteram um focinho de gato esfinge, mas afinal era dois números abaixo e tiveram de o esticar bem para conseguir prender às orelhas. Se a Kim Kardashian é a Paris Hilton dos trezentos, a Blac Chyna é a Kim Kardashian do chinês.


Este vestido só dá jeito para a after party quando ela começar a beber da garrafa e o que vai entornando escorre e faz cascata ali na cintura e dá para cinco pessoas se ajoelharem e beberem também, numa bonita mensagem de reciclagem e reutilização.


Esta senhora pode vestir-se como quiser que eu deixo, mas aparecer vestida de filha de Eduardo Beauté nos Globos de Ouro de 2017 é um bocado falta de imaginação.


Quando só podes trazer um acompanhante, mas queres trazer a família inteira e a única forma de eles entrarem é irem escondidos dentro do teu vestido. Pensavam que eu ia dizer que ela comeu a família? Tenham juízo, todos os corpos são lindos e ser obeso mórbido é tão saudável como ter um peso dito normal. É como fumar, todos os pulmões são bonitos.


Esta pensou que era a Comic-Con. Agora pensem que, antes de sair de casa, esta menina olhou-se uma última vez ao espelho e pensou "É mesmo isto, não mexe mais".


Não sei se isto é um protesto a favor da igualdade, o que sei é que me faz lembrar vagina. Vagina ou pila de cavalo marinho. Faz lembrar um choco, também, ou o coronavírus visto ao microscópio. As possibilidades são muitas, mas a certeza é só uma: ridículo.


Numa altura em que se fala de inclusão e diversidade, devo dizer que sou a favor de quotas se as quotas forem 100% de Margot Robbie, em qualquer lado. Parlamento? 100% Margot. Empresa de mudanças? 100% Margot a carregar-me os móveis. Até num call center pode ser Margot, embora seja desperdício. "Estás a objectificar a mulher, Guilherme, ela é mais do que uma cara bonita.". Talvez, não a conheço pessoalmente, mas considero até que não objectificar a Margot é ofensivo para ela e para os pais que a fizeram tão perfeitinha.


Esta pensou "O senhor dos Parasitas ainda ganha e deixam de reparar em mim por causa das quotas de sul-coreanos" então toma lá um vestido com dois cus de ganso morto nos ombros. Esta senhora talvez tenha mais jeito para ser cirurgiã na vida real do que para se vestir.


Veio vestido à professor de educação física do colégio privado. Tem pinta de otário. Tem aquela cara de palerma que diz "Tu sabes quem é o meu pai?" e depois leva duas bofas e roubam-lhe o Bollycao. Se olharmos bem, assim vestido também passa uma vibe de guarda de Auschwitz.


A imitar a Inês Castel-Branco na última gala dos Globos de Ouro. Esta gente de Hollywood não pode ver nada por Portugal que é logo a imitar. O que vocês não sabem é que isto representa com exactidão a primeira aparição de Fátima em que os três pastorinhos, mocados depois de comer uma azeda estragada, viram e disseram "Vestida com um manto de brilhantes da cabeça aos pés, Nossa Senhora era preta e lésbica". A Igreja é que abafou a última parte porque já se sabe o que a casa do Senhor gasta.


Uma bonita homenagem aos primórdios da televisão, vindo vestida de monitor CRT com naperon em cima. Levou o Óscar de melhor actriz secundária, ou como se diz agora para não ferir susceptibilidades, "Melhor actriz num papel de apoio". Os figurantes agora devem chamar-se "Decoração humana para engenharia de cenários".


Esta senhora é igual à actriz portuguesa Ana Bustorff. Igual. Decidiu vir vestida à apóstolo de Jesus gay. Uma túnica com brilhantes para pregar aos senhores todos! A ideia foi essa ou ficar vestida pronta para os jogos sem fronteiras, já que virando o vestido ao contrário fica pronta para aquela prova das corridas com saco de batatas.


Aqui não dá para ver bem, mas o decote é bastante projectado para a frente, criando ali quase um babete saliente. À noite, o namorado dela escusa de comer antes de ir para a cama que pode alambazar-se com os restos dos croquetes e migalhas que ela foi acumulando no decote ao longo da noite. Nomeada para dois Óscares, não ganhou nenhum. Invejosas.


Qualquer outra pessoa vestida assim e era ridículo, mas como é a Billie Eilish tudo bem porque ela é única e irreverente neste mundo de coisas formatadas. Spoiler alert: a Billie toda ela é um produto formatado para agradar a uma geração. Atenção que eu até gosto da música dela, mas unhas de gel daquele tamanho é deitar gasolina e pegar fogo. É sempre unha de quem não trabalha muito nem faz nada em casa. Quem trabalha ou lava a loiça não pode ter unhas destas, por isso que não venha com tretas de que faz tudo sozinha ela e o irmão. Sim sim. Ah e o pijama polar? Ainda se fosse da Primark, agora assim é: Tipo, I don't give a fuck, mas é Chanel. lol, whatever.


"Eu gostava de ir vestida de vilão da Disney, mas com um fato de mãe solteira com dois filhos que lhe escrevem na roupa merdas sem sentido nenhum". Não diga mais nada, minha cara. E, assim, nasceu o Joker de Massamá que à noite espalha o terror na linha de Sintra e durante o dia trabalha no Papagaio Sem penas.


Isto é muito simples: cada um se veste como quer e se o Billy Porter quer ir mascarado de assessor de Joacine Katar Moreira, não tenho problemas nenhuns. Ele diz que é activismo, mas a verdade é que é necessidade de aparecer e ser falado. É o que é. Nada de mal nisso, todos os que vão à passadeira vermelha querem aparecer e ser falados. É uma questão é de admitir e ser honesto. De resto, fica-lhe bem, eu não usaria, mas só porque o dourado não fica bem com o meu tom de pele.


Nada a dizer, Natalie também pode quase tudo. De realçar que ali na capa ou lá o que é aquilo, ter bordado os nomes das realizadoras que não foram nomeadas para o Óscar. Nunca pensei que houvesse tão poucas realizadoras ou então só bordou as amigas. Um bom protesto pela igualdade e bem pensado, porque se calha ela bordar os nomes das mulheres que sofrem mutilação genital ou que não têm acesso à educação e que sofrem uma discriminação real em todo o mundo, tinha de ter uma capa muito maior e depois ainda tropeçava na hipocrisia. Se quer ser coerente é melhor mudar o nome para Natalie PortWoman. 


E foi isto. Antes que venha alguém dizer que esta publicação contém machismo ou objectificação de mulheres, deixem-me dizer-vos que a culpa é dos homens que usam quase todos os mesmo fato, iguais e sem arriscar. Depois, eu pesquisei "Worst dressed men oscars 2020" no Google e nada, mas se pesquisar mulheres há toda uma panóplia de publicações o que mostra como estes eventos, passadeiras vermelhas e a própria indústria são inerentemente machistas, metendo pressão nas mulheres para se vestirem bem. A culpa não é minha, nem dos homens, a culpa é de todos e todas que se sujeitam a isso e que consomem isso. Quem vê os Óscares sem ter visto nenhum filme e só para comentar os vestidos da passadeira vermelha, não tem qualquer moral para criticar seja o que for. É como ver uma super-modelo a falar dos padrões de beleza irrealista que tentam impor às mulheres. Quando és o problema, não tentes mandar bitaites sobre a solução.
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4 de fevereiro de 2020

ÓSCARES: A minha review se eu fosse um crítico do Público



Em semana que culmina com a cerimónia dos Óscares, acho que faz todo o sentido eu fazer aqui uma espécie de review aos nomeados para a categoria de Melhor Filme. Para ser mais giro, vou fazer as reviews como se eu fosse um crítico de cinema do jornal Público, daqueles virgens com acne nas costas, muito entendido e nada presunçoso. Vamos a isso?

Neste filme estamos perante uma narrativa dentro de outra narrativa, quase que numa matrioska de histórias, onde o realizador desconstrói a realidade e a volta a construir ao seu gosto. Uma leve ironia marca todo o filme, tal com uma crítica à indústria de Hollywood, onde as referências históricas se misturam com o universo surrealista característico do autor que, infelizmente, já todos conhecemos. - Once Upon a Time ...in Hollywood.
Veredicto: Dou apenas 2 estrelas porque o Tarantino é muito mainstream agora e como já todos conhecem eu já não me sinto especial.

Pegando no seu universo favorito, o realizador conta a história de personagens reais em três pontos temporais diferentes, recorrendo à analepse e prolepse ao longo de toda a epopeia cinematográfica. O recurso a efeitos especiais desvirtua o cinema e tinha ficado melhor se inventassem mesmo um elixir que rejuvenescesse os actores, mas enfim, Hollywood cada vez mais agarrada ao CGI. - The Irishman.
Veredicto: Dou uma estrela porque não gosto da Netflix porque não sei bem como se usa e teve de ser o meu filho a ajudar-me para eu ver o filme.

Como se conta uma história com mais de 100 anos? Foi este o desafio a que se propôs o realizador que passa duas horas a mostrar-nos como sabe filmar tão bem, transportando-nos para o cenário apocalíptico, utilizando um plano apertado e subjectivo para nos colocar no meio da acção. - 1917.
Veredicto: Dou 5 estrelas porque quase ninguém viu.

Uma alegoria social que mistura o drama e a comédia, o terror e ironia. Num cenário e planos quase kubrickianos, o realizador coloca-nos de frente com mal que há no mundo e a desigualdade e luta de classes, numa metáfora e analogia surrealista de fazer lembrar Lynch mas com o suspense de Hitchcock e toques de Park Chan-wook e reviravoltas de Paul Pogba. - Parasite.
Veredicto: Como muita gente gostou, a minha vontade é dar 1 estrela, mas como é um filme falado numa língua estranha tenho de dar 5 para parecer culto.

Um conto de fadas sobre um dos períodos mais negros da humanidade, numa paródia ao estilo Calvinesco em que Hobbes não é um felino de quatro patas. Existem limites para o humor? Talvez, e esse limite será muito provavelmente a inépcia que não espoleta o riso. - Jojo Rabbit.
Veredicto: 0 estrelas porque não se brinca com coisas sérias.

Planos apertados em redor do mesmo actor tentam dar-nos a sensação de claustrofobia que ele tem na sua vida, numa sociedade que o aprisiona e lhe vai apertando a camisa de forças aos poucos. É uma espécie de pastiche pretensiosa, pouco orgânica e previsível, tentando inovar um universo que já foi feito e refeito mil vezes. A interpretação é boa, mas o filme falha ao ser estéril e oco nas suas referências existenciais e filosóficas. - Joker.
Veredicto: 0 estrelas ou perderia a licença de crítico de cinema intelectual.

Um filme Woody Alleniano, mas sem o humor. Uma narrativa plana com personagens unidimensionais e sem arco, tal como é a realidade. A realidade nem sempre tem plot twists para ser feliz ou dramática, a realidade simplesmente o é. A rotina e a estagnação são os ingredientes principais da vida e é nessa monotonia cinzenta que reside a força deste filme cujos últimos 10 minutos não visionei porque adormeci. - Marriage Story.
Veredicto: 1 estrela ao filme, bónus de duas estrelas por ser um filme chato e parado e mais 5 de bónus por ter a Scarlett Johansson dá uma média 4.

Uma adaptação de um clássico intemporal que tenta inovar algo que já foi adaptado ao cinema mais de uma mão cheia de vezes. Um universo feminino que tenta fazer rir e chorar, mas torna-se inócuo em todo o seu esplendor, o que não é bom nem mau, antes pelo contrário. - Little Women.
Veredicto: 5 estrelas porque é realizado por uma mulher e se dou menos ainda me cancelam. Por mim ganhava tudo.

Dois dos melhores actores da sua geração num filme biográfico que agradará aos fãs de automóveis que não é o meu caso pois tal não se coaduna com o facto de eu ser um intelectual. - Ford v Ferrari.
Veredicto: É sobre carros por isso nem tem direito a classificação.

E é isto, agora como crítico de cinema intelectual, vou recolher à minha caverna e ver se encontro alguém no Hi5 que me venha espremer os pontos negros das costas. Obrigado e boa cerimónia dos Óscares.


PS: Podem ouvir a versão audio nas plataformas de podcasts se pesquisarem por "Por Falar Noutra Coisa" ou aqui no player da Antena 3.
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