4 de fevereiro de 2020

ÓSCARES: A minha review se eu fosse um crítico do Público



Em semana que culmina com a cerimónia dos Óscares, acho que faz todo o sentido eu fazer aqui uma espécie de review aos nomeados para a categoria de Melhor Filme. Para ser mais giro, vou fazer as reviews como se eu fosse um crítico de cinema do jornal Público, daqueles virgens com acne nas costas, muito entendido e nada presunçoso. Vamos a isso?

Neste filme estamos perante uma narrativa dentro de outra narrativa, quase que numa matrioska de histórias, onde o realizador desconstrói a realidade e a volta a construir ao seu gosto. Uma leve ironia marca todo o filme, tal com uma crítica à indústria de Hollywood, onde as referências históricas se misturam com o universo surrealista característico do autor que, infelizmente, já todos conhecemos. - Once Upon a Time ...in Hollywood.
Veredicto: Dou apenas 2 estrelas porque o Tarantino é muito mainstream agora e como já todos conhecem eu já não me sinto especial.

Pegando no seu universo favorito, o realizador conta a história de personagens reais em três pontos temporais diferentes, recorrendo à analepse e prolepse ao longo de toda a epopeia cinematográfica. O recurso a efeitos especiais desvirtua o cinema e tinha ficado melhor se inventassem mesmo um elixir que rejuvenescesse os actores, mas enfim, Hollywood cada vez mais agarrada ao CGI. - The Irishman.
Veredicto: Dou uma estrela porque não gosto da Netflix porque não sei bem como se usa e teve de ser o meu filho a ajudar-me para eu ver o filme.

Como se conta uma história com mais de 100 anos? Foi este o desafio a que se propôs o realizador que passa duas horas a mostrar-nos como sabe filmar tão bem, transportando-nos para o cenário apocalíptico, utilizando um plano apertado e subjectivo para nos colocar no meio da acção. - 1917.
Veredicto: Dou 5 estrelas porque quase ninguém viu.

Uma alegoria social que mistura o drama e a comédia, o terror e ironia. Num cenário e planos quase kubrickianos, o realizador coloca-nos de frente com mal que há no mundo e a desigualdade e luta de classes, numa metáfora e analogia surrealista de fazer lembrar Lynch mas com o suspense de Hitchcock e toques de Park Chan-wook e reviravoltas de Paul Pogba. - Parasite.
Veredicto: Como muita gente gostou, a minha vontade é dar 1 estrela, mas como é um filme falado numa língua estranha tenho de dar 5 para parecer culto.

Um conto de fadas sobre um dos períodos mais negros da humanidade, numa paródia ao estilo Calvinesco em que Hobbes não é um felino de quatro patas. Existem limites para o humor? Talvez, e esse limite será muito provavelmente a inépcia que não espoleta o riso. - Jojo Rabbit.
Veredicto: 0 estrelas porque não se brinca com coisas sérias.

Planos apertados em redor do mesmo actor tentam dar-nos a sensação de claustrofobia que ele tem na sua vida, numa sociedade que o aprisiona e lhe vai apertando a camisa de forças aos poucos. É uma espécie de pastiche pretensiosa, pouco orgânica e previsível, tentando inovar um universo que já foi feito e refeito mil vezes. A interpretação é boa, mas o filme falha ao ser estéril e oco nas suas referências existenciais e filosóficas. - Joker.
Veredicto: 0 estrelas ou perderia a licença de crítico de cinema intelectual.

Um filme Woody Alleniano, mas sem o humor. Uma narrativa plana com personagens unidimensionais e sem arco, tal como é a realidade. A realidade nem sempre tem plot twists para ser feliz ou dramática, a realidade simplesmente o é. A rotina e a estagnação são os ingredientes principais da vida e é nessa monotonia cinzenta que reside a força deste filme cujos últimos 10 minutos não visionei porque adormeci. - Marriage Story.
Veredicto: 1 estrela ao filme, bónus de duas estrelas por ser um filme chato e parado e mais 5 de bónus por ter a Scarlett Johansson dá uma média 4.

Uma adaptação de um clássico intemporal que tenta inovar algo que já foi adaptado ao cinema mais de uma mão cheia de vezes. Um universo feminino que tenta fazer rir e chorar, mas torna-se inócuo em todo o seu esplendor, o que não é bom nem mau, antes pelo contrário. - Little Women.
Veredicto: 5 estrelas porque é realizado por uma mulher e se dou menos ainda me cancelam. Por mim ganhava tudo.

Dois dos melhores actores da sua geração num filme biográfico que agradará aos fãs de automóveis que não é o meu caso pois tal não se coaduna com o facto de eu ser um intelectual. - Ford v Ferrari.
Veredicto: É sobre carros por isso nem tem direito a classificação.

E é isto, agora como crítico de cinema intelectual, vou recolher à minha caverna e ver se encontro alguém no Hi5 que me venha espremer os pontos negros das costas. Obrigado e boa cerimónia dos Óscares.


PS: Podem ouvir a versão audio nas plataformas de podcasts se pesquisarem por "Por Falar Noutra Coisa" ou aqui no player da Antena 3.




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