Se há 30 anos me perguntassem, se em 2020 ainda se iria falar tanto de racismo, sabem o que diria? Diria o seguinte: "Sei lá, caralho, tenho 5 anos, que pergunta de merda para se fazer a uma criança. Dêem-me um push pop, mas é."
Bem, mas já estamos todos a par da polémica com o jogador de futebol Marega, insultos racistas das bancadas, que deu origem a todo um pandemónio no desporto, nas redes sociais e na sociedade no geral. Quando há polémicas destas é preciso debater e, então, a TVI decidiu convidar o André Ventura para falar sobre o assunto porque nestas situações de racismo há que chamar os especialistas na prática. Na prática do racismo, entenda-se. Ele começou por afirmar que não é racista e até disse, e passo a citar, "Já festejei muitos golos de negros".
O antigo "Não sou racista, até tenho um amigo preto" é assim substituído por "Não sou racista, até festejei o golo do Éder".
O André Ventura, não sendo racista, tem feito confusão em como se deve demonstrar isso. Em vez do típico "Não sou racista, até tenho amigos que são… pretos." ele acha que é o "Não sou racista, até tenho amigos que são… racistas", daí se explica que ele não se importe de apelar à falta de inteligência dos racistas para ter mais votos. Chamar o André Ventura para identificar racismo é como chamar um toureiro, ou o Miguel Sousa Tavares, para explicar se algo é abuso animal. É como um gajo saudável a dizer se a eutanásia deve ser legalizada ou não. É como chamar o Schumacher para o Dança com as Estrelas.
Mas bem, esta discussão do Marega é complicada porque temos de ver os dois lados. Sei de fonte segura que o Marega andou a provocar os racistas. Pelo que apurei, ele entrou em campo com pele escura e andou lá a ser preto de um lado para o outro, mesmo a provocar quem não gosta de pretos. Queriam o quê? Meus amigos, cada um colhe o que semeia, e o Marega não teve respeito pelos racistas. Aliás, o Marega foi o primeiro a ser racista porque escolheu ser preto. Porque é que o Marega não escolheu ser branco neste jogo? Pois, mesmo a provocar os racistas. Disto ninguém fala. Há sempre dois lados numa discussão e não existiria racismo se não houvesse as duas partes: os racistas e as pessoas que eles odeiam. Agora pensem. O Marega meteu-se a jeito, ora vejamos:
- O Marega podia ter sido mais discreto, podia ter usado uma base para aclarar a pele ou assim, que ia saindo ao longo do jogo, para os racistas se irem habituando aos poucos. Uma espécie de homeopatia do racismo.
- O Marega começa logo a provocar quando decide chamar-se Moussa. Moussa Marega. Os racistas odeiam nomes que não sabem escrever, daí odiarem quem se chama Helena porque não sabem se leva H ou c com cedilha.
- Pior, o Marega tem de decidir se quer fazer parte do problema ou da solução. O que é que os racistas acham sobre os pretos? Que são preguiçosos e não gostam de trabalhar. O que é que o Marega fez? Saiu do jogo antes do fim. Isto é dar razão aos racistas, como toda a gente sabe.
- Isto para não falar que o Marega provocou os racistas que tinham atirado uma cadeira das bancadas, colocando-a na cabeça. Ora, os racistas tinham atirado a cadeira para ele se sentar e ficar confortável e ele decidiu faltar ao respeito, gozando com essa oferta. O Daniel Alves, há uns anos, aceitou a oferenda dos racistas e comeu a banana que lhe foi enviada das bancadas. O Marega devia aprender com o Daniel Alves a não provocar os racistas. Na altura fomos todos macacos, embora isso não seja muito preciso cientificamente: somos é todos símios, mas uns são mais primatas do que outros.
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PS: Datas de stand-up comedy em breve:
- 7 de Março, em Águeda, juntamente com o Hugo Sousa e o Renato Albani. Info e bilhetes neste link.
- 24 de Abril, em Ponta Delgada, nos Açores, levo um convidado comigo. Info e bilhetes neste link.
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