25 de novembro de 2014

Facebook de José Sócrates, as provas



Como sabem, sou uma pessoa com contactos nos sítios certos. Viver na Buraca tem destas coisas, há muitos ex-colegas dedicados ao mundo do crime e/ou são polícias. Como tal, consegui acesso ao mural do Facebook de José Sócrates, onde podemos ver a conversa com outras figuras importantes da esfera política, logo após a detenção de José Sócrates e os momentos seguintes a ter sido decretada a sua prisão preventiva.


(se estiveres a ver isto no telemóvel e estiver desfocado, clica na imagem)

E é isto. Espero que tenham gostado e se foi esse o caso, não se esqueçam de partilhar que isto deu-me mais trabalho do que ao Sócrates a roubar 25 milhões. Alegadamente.


Actualizado: Parte 2 aqui


PS: Para quem não leu aqui fica o texto que já tinha escrito sobre o facto do Sócrates ser um filho da pu...lítica e o Conto de Natal com Vale e Azevedo.
Ler mais...

24 de novembro de 2014

Sócrátes, o filho da pu...lítica



Ora bom dia, como foi o fim-de-semana? Foram detidos? Não? Então foi melhor que o do José Sócrates. Pois é, parece que o nosso ex-primeiro foi detido, por alegada fraude fiscal, corrupção e branqueamento de capitais. A santíssima trindade dos aldrabões. Só falta o tráfico de influências, mas ainda a procissão vai no adro. Este final de ano que tem sido prolífico em investigações e detenções de casos de corrupção, imagino que todos os que já fizeram traquinices, estejam com o rabinho mais apertado que um antílope a ser estrafegado por uma jibóia.

Muitas vozes vieram a público dizer que acharam indecente a forma como foi feita a detenção, logo à chegada do aeroporto. Eu cá, gosto mais de me focar no facto de alegadamente termos tido um Primeiro Ministro ladrão e do que isso significa sobre Portugal. Isso é que eu acho indecente. Sim, presume-se que ele é inocente até em prova o contrário. Sim, foi uma detenção um bocado a fazer pirraça mas a meu ver uma homenagem aos tempos do Duarte e Companhia. Podia ter sido feita de outra forma? Podia, mas não era a mesma coisa. Havia perigo de fuga? Não. Perigo de reincidência da actividade criminal? Não. Perigo de inquinação de provas? Talvez. Esse "talvez" para mim é suficiente para que o tenham prendido mal colocou aquele pezinho safado em solo português. Devia ter havido fuga de informação para que uma televisão soubesse da detenção antes dela acontecer? Não. Mas foi mais giro assim. Sócrates tinha para cima de uma dezena de motoristas quando era PM, por isso junta uns polícias a essa lista. O Natal chegou mais cedo para a comunicação social, o Correio da Manhã não precisa de colocar notícias da casa dos segredos na primeira página e nós, simples mortais, esquecemo-nos por alguns instantes dos nossos problemas e descarregamos as frustrações no Zé. 

Acho que é o mínimo que ele pode fazer por nós, depois de, alegadamente, nos ter andado a fazer toques rectais com o dedo grande do pé, sem sequer aparar a unhaca

Uma vez o Jel dos Homens da Luta foi processado por chamar filho da puta ao Sócrates. A meu ver é compreensível que ele tenha pensado isso, já que uma senhora com tanto dinheiro e três casas era de pensar que teria alguma actividade duvidosa. Se ele é um filho da puta, metaforicamente falando, ou não, ficará agora por provar agora. Caso seja culpado, a meu ver um Primeiro Ministro que rouba e ainda cria leis para o beneficiarem, como a lei que ele criou para pagar menos impostos ao trazer o dinheiro da offshore para Portugal, cai dentro do que eu classifico como um filho da puta. Neste caso um filho da política e essa é a pior das mães. Mil vezes pior que uma prostituta toxicodependente que deixa os filhos ao encargo do tio Alfredo, pedófilo condenado. Ser filho da política neste país é crescer num lar disfuncional, é ter o poder como padrasto abusador e o dinheiro como objectivo de vida, esquecendo o real propósito de uma profissão que não devia ser encarada como tal. Querer fazer carreira da política é o mesmo que ir para missionário em África só para ter um lugar no céu. É parvo e é pelas razões erradas. A política como está atrai a escumulha do colarinho branco, das luvas pretas e dos sacos azuis. Atrai quem acha que ser bem relacionado vale mais que ser competente. Quem acha que basta parecer e não ser, tal como bastam equivalências ou cursos tirados a um Domingo. 

Um dos grandes problemas deste país é sem dúvida a corrupção. Estudos da OCDE dizem que se não fosse ela, seriamos tão ou mais ricos quanto a Dinamarca. Mas não é só a corrupção que vem de cima, é a que começa no gajo do café, no taxista, na senhora Arminda da papelaria. Todos esses que tentam fugir aos impostos sempre que podem. Os que se queixam de ter uma reforma miserável mas que andaram a descontar o ordenado mínimo sempre que podiam durante a vida toda. 

Somos um país de chicos-espertos, a diferença é que uns roubam para sobreviver e outros roubam para enriquecer

Enquanto o exemplo que vem de cima for o que temos visto, quem está por baixo vai continuar a meter ao bolso as migalhas que conseguir apanhar dos pães saloios que os lá de cima vão dividindo para comer com caviar e pata negra. Pode ser que agora, com estes casos, as coisas comecem a mudar. Infelizmente vão mudar pelas piores razões, não vão mudar porque há mais gente honesta e íntegra, porque há mais informação e educação, se mudarem é porque há mais medo de serem apanhados. E mesmo assim, como temos visto em tantos casos como os da Fátima Felgueiras, do Valentim Loureiro e do Isaltino Morais, ainda impera a mentalidade do "Oh... roubou, mas fez muitas coisas boas". Temo que o José Sócrates se vá juntar a essa lista e que, um dia, ainda o vejamos no Palácio de Belém de cabelo grisalho ao vento a dizer "Corruption, what else"

Se ele for culpado, espero que seja preso e o coloquem numa cela com um Angolano de dois metros e trinta centímetros (se é que me entendem), chamado Wilson Cavalão. Espero que o Wilson tenha boa memória e mau gosto e se lembre de quem foi eleito do mais sexy do Correio da Manhã. Para além de ser o único político a ser eleito o mais sexy, José Sócrates foi também o melhor político que já tivemos em Portugal. Melhor, no pior sentido da palavra político. Era dos que melhor sabia falar, dos que saía sempre vencedor dos debates, dos que sabia discursar como poucos, mesmo quando saiu derrotado. Sabia que era importante parecer bem, sabia quando ser demagógico e populista e sabia, acima de tudo, sair por cima das inúmeras vezes que esteve por baixo. Não lhe assino para já a certidão de óbito política, porque este será como em todos os casos, se ele for inocentado haverá quem nunca acredite e diga que a justiça não funciona, como aconteceu com o Michael Jackson, se ele for culpado haverá quem diga que ele é inocente, que tudo não passou de uma cabala, como aconteceu com o Carlos Cruz. A diferença é que o Zé, a ser culpado, não fodeu só crianças, fodeu 10 milhões de pessoas, embora alguns tenham merecido, pela roupa provocadora que vestiram quando votaram nele. Aliás, para os que voltariam a votar nele se ele se candidatasse hoje, porque vos garanto, que mesmo depois disto tudo ainda ia ter umas boas dezenas ou centenas de milhares de votos, esses a meu ver, era colocá-los na mesma cela, tudo ao molho, nus, com o ar condicionado no máximo, cobertos de mel e depois um a um mandá-los ir tomar banho com o Wilson. Para os que até eram capazes de gostar desta última parte do castigo, era trocar o Wilson pela Odete Santos.

O paralelismo entre José Sócrates e o seu homólogo Grego sempre foi giro, mas agora ganha toda uma nova dimensão. Vejamos algumas frases do filósofo grego, que poderia ter sido o nosso Zé a dizer:
  • "Só sei que nada sei" - Será provavelmente o seu grande argumento de defesa, não dizer nada e esperar que não consigam provar que o dinheiro em nome do melhor amigo dele veio de fontes ilícitas.
  • "Para conseguir a amizade de uma pessoa digna é preciso desenvolvermos em nós mesmos as qualidades que naquela admiramos." - Em Paris, José Sócrates era muitas vezes visto com Sarkozy, ex presidente Francês, também envolvido num escândalo de corrupção. 
  • "Não penses mal dos que procedem mal; pensa somente que estão equivocados." - Poderá ser outro argumento de defesa, foi um equívoco, argumento já utilizado por outros que se "esqueceram" de declarar alguns milhões
  • "Creio que tenho prova suficiente de que falo a verdade: a pobreza." - Argumento de um homem digno e honesto que deu 25 milhões a outros, um rapaz que apenas trabalhava para ajudar em casa, ou nas três casas que a mãe tinha.
  • "A mentira nunca vive o suficiente para envelhecer." - Pode ser que neste caso esta afirmação utópica se verifique.
Não quero ser injusto, até porque mais uma vez digo que a presunção de inocência é uma coisa bonita e, por isso, tenho que colocar a hipótese disto não passar tudo de um mal entendido, e que as luvas que ele alegadamente recebeu, não passaram de presentes da Gertrudes, sua tia-avó, para fazer pandan com as meias das raquetes que todos recebemos no Natal.

Ler mais...

19 de novembro de 2014

Mea culpa



Alguns já devem ter lido isto ontem no Facebook, mas aqui fica o meu Mea Culpa.

Nunca pensei que ter um blogue de cariz humorístico me fizesse descobrir tanto sobre mim. Nestes 10 meses fez-me perceber que sou racista, sou xenófobo, sou machista, sou homofóbico e sou insensível a qualquer sofrimento de terceiros. Fez-me perceber que dou poder aos violadores e que acho a pedofilia aceitável. Que não respeito as crenças dos outros por fazer piadas sobre elas, mesmo que elas passem por ter amigos imaginários de barbas brancas. Fez-me perceber que o meu humor é fácil e básico e que só tenho mais de 16 mil likes porque a maioria das pessoas são burras e não gostam de humor inteligente. Fez-me perceber que sou má pessoa, não sei escrever e que o meu sotaque Angolano é tão bom que devia ser processado por racismo. Aliás, percebi que afinal sou tão racista que, no fundo, eu queria ter duas escravas para me roerem as unhas dos pés. 


Fez-me perceber que odeio mulheres, odeio tudo o que há de diferente nelas e que sou a favor da violência doméstica. 

No fundo gostava de estar na Arábia Saudita a apedrejar uma mulher, por ter feito a bainha demasiado subida à burca 

Fez-me conhecer o meu monstro interior e perceber que sou um sociopata insensível ao sofrimento dos outros, incapaz de nutrir empatia por quem tem dificuldades, já que ser a favor da proibição das touradas é não pensar nas pessoas que vivem dela. Fez-me conhecer o meu lado ordinário e brejeiro, por utilizar asneiras sem lhe colocar asteriscos. Fez-me perceber que sou um mau cidadão por não achar que toda a gente que se abstém se está a cagar. Que não me posso queixar de nada porque não contribuo para a sociedade.

Fez-me perceber que tenho mau gosto e que não me sensibilizo com pais que matam filhos na panela de água a ferver. Fez-me perceber que sou homofóbico com todas as forças do meu ser, que discrimino gays, lésbicas, transsexuais e anões transformistas. Que, apesar de achar que não tenho preconceitos, porque nunca discriminei e concordo com as suas causas, as minhas piadas falam mais forte do que eu. Percebi que afinal eu não sou contra a super protecção das crianças, mas sim a favor do bullying, qual Israelita que se esqueceu do Holocausto. Que sou a favor que se espanque crianças, principalmente as pretas, gays e com síndrome de down. Fez-me perceber que só escrevo sobre assuntos que me incomodam porque quero ter likes, que sou um narcisista acima de tudo, que não olha a meios para atingir os fins.

Agora que desabafei sinto-me melhor e em paz com a minha besta negra. Foi bom ter-me conhecido melhor. Agradeço a quem me chamou racista, xenófobo, machista, homofóbico, sociopata e filho da puta. A quem desejou que eu morresse, que tivesse um AVC e ficasse entravado, a quem desejou que a minha mãe tivesse Alzheimer, que todos os meus entes queridos morressem de Legionella ou Ébola, se possível dos dois, e a quem me ameaçou de morte por dizer que o FCP já foi beneficiado pelos árbitros. Obrigado a essas pessoas todas pela compreensão demonstrada por quem tem uma opinião diferente das delas, sobre o que se deve ou não brincar. Por não me julgarem pelo meu sentido de humor que não é o mesmo que o delas. É bom saber que ainda há gente moralmente superior por aí, que não se importa de perder alguns minutos do seu precioso tempo para andarem em páginas de facebook de pessoas tão nojentas como eu e para fazer ver aos outros o que é realmente uma boa pessoa. Mas mais que agradecer, queria pedir desculpa. Pedir desculpa a quem gosta do que eu escrevo, por este texto não ter piada. Aos outros, não aos que apenas não gostam, mas os que não gostam e criticam ofendendo, esses podem ir para o CARALHO. Sem asteriscos e com maiúsculas.

Ter like numa página de facebook só para estar atento às novidades e poder ir lá dizer mal, é o mesmo que um homem efectuar um felácio a outro, só para o acusar de ser gay

Este foi o meu manifesto à lá Tatiana Neves, uma espécie de #pissasposjeiters, mas mais elaborado. Foi uma egotrip narcisista, temperada com a arrogância de quem tem a consciência tranquila. No fundo só escrevi isto, não por estar ofendido ou para fazer queixinhas, mas porque achei que era giro e podia ter comentários fofinhos, likes e partilhas  Não me desiludam agora 

PS: Vocês que seguem a página deviam ter igualmente vergonha. São quase tão execráveis quanto eu. Suas bestas cafajestes fofinhas.
Ler mais...

18 de novembro de 2014

Circo com animais é uma palhaçada



Era uma vez um tigre branco, que vivia aprisionado numa jaula, sem saber o crime que tinha cometido. Diziam-lhe que estava ali porque era raro e precioso, que era dos poucos que ainda existia no mundo e que, por isso, tinha que estar ali seguro, atrás das barras de ferro. Ele acatara a decisão, submisso aos anos que já lhe pesavam no pelo. Não se lembrava da vida de outra forma. Tinham-lhe dito que tinha vindo de uma selva linda, mas que não podia voltar, que era perigoso para um tigre desabituado às leis dessa e das outras selvas. Diziam-lhe que o melhor era estar ali, onde a comida lhe era oferecida apenas em troca da sua subserviência, da sua acomodação àquele espaço fechado, da sua aceitação da ocasional chicotada para corrigir aquilo que não lhe era natural. Só era preciso aceitar isso tudo e aparecer no trabalho às horas marcadas. Sentar, deitar, saltar por entre aros de fogo incandescente e rugir. Mas rugir baixinho e só sob comando! Todos os anos a sua vontade de fugir se foi tornando mais fraca, tal como todo o seu corpo. O medo de não sobreviver lá fora era agora maior que o desejo de cheirar a brisa desnorteada e livre da selva mais uma vez. Só lhe restava estar ali, morrer de uma doença que não compensasse a cura, ou de ser solto algures quando já fosse velho demais para o que o tinham contratado à força. Certo dia, depois de um treino violento demais para a idade que ele já tinha, decidiu que ia mudar de vida. Num último brandir do chicote do seu mestre, para que entrasse na jaula, atirou-se a ele. Cravou-lhe os seus dentes afiados na garganta e sentiu-o morrer por entre os seus maxilares. Provou-lhe o sangue quente, como nunca tinha sentido e sentiu-lhe o último respirar no céu da boca enquanto os seus olhos perdiam a vida que lhe aprisionara a sua. Não tinha fome. Não era um mau tigre. Era apenas um tigre que já não tinha nada a perder. Fugiu com as forças que julgava já não ter e refugiou-se no primeiro bosque que encontrou e escondeu-se o mais que pode. Ouvia as sirenes ao longe, os megafones que gritavam que havia um animal perigoso à solta, que tinha morto alguém e que precisava de ser abatido. Viu um pássaro a chegar ao bosque agitado, chilreando apressado que um tigre branco andava à solta e que era perigoso. O pássaro enquanto voava viu a cauda do tigre que estava a indicar onde ele se escondia. Num voo picado foi ter com ele e disse-lhe "Tigre, ouviste o eu disse? Anda aí um tigre branco perigoso! Tu estás magro e com um ar cansado para lutares, esconde-te melhor ou foge!". O tigre disse num ar envergonhado "Eu não sou perigoso...". Ficou aquele silêncio estranho e o pássaro falou-lhe com sotaque Pires de Lima: "Não estou a falar de ti, és daltónico ou és burro? Estou a falar de um tigre BRANCO! Duuhhh!". O tigre, confuso, julgando ele que o pássaro era daltónico, apressou-se a ver o seu reflexo num charco que estava ali perto. Quando se vê ao espelho, percebeu que a cor outrora branca, era agora laranja e castanha. O tigre que era branco tinha deixado de o ser. Quando foi solto e cheirou a liberdade voltou a ter as cores alaranjadas que eram as suas originais. O branco com listas pretas eram a cor que ele ganhou por estar tantos anos preso. O seu pelo, tal como ele, tinha perdido a cor e a alegria. Os donos do circo ao vê-lo perder a cor pressentiram uma oportunidade de negócio e fizeram-no sentir que era especial para o manter preso. Afinal era apenas mais um, como eram todos. Morreu de fome, porque naquele bosque não havia comida para ele, mas morreu feliz, porque mais vale ser comum e livre do que ser especial e estar preso.

Serve esta bela e elaborada metáfora com a vida real para introduzir o tema do circo com animais. Quando eu era pequeno, fui ao circo 2 ou 3 vezes, não mais, não me lembro de gostar muito. Lembro-me de não gostar dos palhaços, de não lhes achar piada, e de achar que os números de trapézio eram apenas mais uns, apesar de dizerem sempre que era "a única pessoa no mundo a fazer um triplo mortal à retaguarda enquanto come uma sandes de torresmo e corta as unhas dos pés com os dentes". No entanto lembro-me de gostar de ver os animais, especialmente os tigres que eram os meus favoritos. Lembro-me também de gostar de ver uma equipa de futebol composta por cães em que as bolas eram balões de ar que rebentavam por entre as dentadas deles. 


Era fácil gostar daquilo, eram animais bem comportados e na altura ensinam-nos que quem é bem comportado e obediente é feliz

Por isso aqueles animais tinham que ser felizes, de tão obedientes que eram, mesmo os mais ferozes. Fui crescendo e continuei a não achar piada aos palhaços, a não me surpreender com os trapezistas e a ver que única coisa que eu gostava nos circos eram afinal a face mais nojenta, desumana e inconcebível que eles tinham.
Crescer é isto, é ter desilusões.


Não é a existência do circo com animais que me enoja, mas sim os moldes em que são feitos. As condições precárias em que mantém os animais, a forma de como os descartam quando são velhos, estão feridos ou doentes, tal como se fossem apenas e só adereços cénicos do espectáculo. E são, para eles são apenas isso. Deviam ser proibidos? Claro que sim. Os animais deviam ser retirados e colocados algures, não sei onde, mas estariam melhor em muitos outros locais. Agora como está a lei é dizer "Isto é mau, é terrível, não devia ser permitido, mas estes já que cá estão ficam até morrer e depois logo se vê". Como se não lhes fosse possível controlar esta situação de outra forma, a fiscalização em Portugal funciona mal em vários sectores, não me parece que seja no circo que seja impecável. Isto era o mesmo que ir a um lar que trata mal os seus idosos e dizer "Bem, quando estes morrerem não meta cá mais ninguém, ok? Estes pronto, até morrerem cá ficam".

aqui falei de touradas, que é um assunto semelhante a este, mas ainda assim apeteceu-me dissertar um bocado sobre o que os circos com animais representam numa sociedade que se diz civilizada. A tourada ainda assim parece-me mais genuína e com argumentos mais compreensíveis para que exista, do que o circo com animais. Quando digo que compreendo os argumentos é tendo em conta que há muita gente inculta e com falta de inteligência. O circo, nem dando esse desconto consigo compreender. Na tourada percebo mais os argumentos de quem vive dela e não do público. No circo é ao contrário, consigo perceber melhor quem vai ver algo que não é directamente sofrimento, mas que contribui para tal. Na tourada o público esta a ver o sofrimento em directo. Os touros sofrem mais dentro da arena, os tigres, leões e elefantes sofrem mais nos camarins de grades de ferro. Haverá quem diga que não há diferença para os jardins zoológicos e até certo ponto têm alguma razão. Um Zoo com boas condições não me choca, apesar de concordar que numa mundo perfeito não existiriam, mas ainda assim percebo o valor pedagógico que possam ter.

Os circo com animais existem pela nossa natureza perversa, de nos queremos sentir superior a todos os outros animais. Parece quase uma inveja da liberdade que eles têm e nós não. Queremos aprisioná-los em cubículos e obrigá-los a ir trabalhar às ordens de outros em troca da promessa de comida e uma vida remediada. Pode ser que um dia essa nossa faceta "Humana" mude. O Funchal foi agora a primeira cidade a proibir circos com animais. 


Acho estranho a primeira autarquia a tomar esta decisão ser uma que até está habituada a ver hipopótamos a sambar de cuecas no Carnaval 

Se me estou a referir a mulheres gordas e/ou ao Alberto João Jardim, fica agora para vossa interpretação que eu assim garanto que liga protectora dos hipopótamos não me processa. Querem circos com animais continuem a ver a Casa dos Segredos, que pelo menos esses estão lá por livre e espontânea vontade.
Ler mais...

17 de novembro de 2014

Entrevista com Lady Mustache




Então esse fim de semana foi guloso? Espero que sim. Hoje, para começar a semana em grande, uma entrevista à rainha das bojardas diárias, que é a Lady Mustache. A maioria de vós já a deve conhecer, mas se só agora ficam a conhecer vão gostar de certeza porque vós sois gente de bom e requintado gosto.

Segue então a entrevista, questionário ou inquérito, como lhe quiserem chamar. Seja o que for, está bem parvo, que é como Deus manda.
______________________

Há quanto tempo nasceu a Lady Mustache?
Há 1 ano e seis meses. Sou uma criança ainda. Se calhar é por isso que os escuteiros me adoram...

Não gostas de dar a cara porque achas que não é preciso, ou porque sabes que há pessoal atrasado mental capaz de agredir pessoas por uma piada na Internet?
Não sinto necessidade de me expor. A Lady Mustache é uma página de masturbação mental. Foi criada apenas para que pudesse escrever toda a merda que me vem diariamente à cabeça, sem filtros, apesar do Facebook ser o maior filtro de todos. 

Quem são as tuas referências no humor nacional, para além do Nilton?
Camilo de Oliveira e Alberto João Jardim.

E internacional?
Louis CK, Richy Gervais, Jimmy Carr, Zach Galifianakis, Anthony Jaselnik, Daniel Tosh, e por ai fora...     

Algum assunto com o qual não gostes de brincar?
Não gosto de brincar com comida. Coisas da minha avó.

Achas que se faz bom humor negro em Portugal?
Acho que ainda nos falta um bom bocado para chegarmos ao nível do que se faz além fronteiras. 

Há piadas de mau gosto ou apenas comentários sem piada?
Existem boas e más piadas e pessoas com e sem sentido de humor e depois existe o Nilton.

Já te arrependeste de alguma piada? Se sim, pediste desculpa ou apagaste-a?
Já escrevi alguns posts que antes de carregar no botão pensei duas vezes, mas depois cago e lá vão eles. Claro que deram merda, mas é como se fosse Natal para mim.

Já recebeste alguma ameaça de morte? Credível?
Ameaças de porrada, insultos e pedidos de casamento já tive vários, mas ameaças de morte infelizmente só tive uma e foi de um escuteiro. Não sei se chega a contar sequer. Em todo o caso, se um dia for encontrada falecida com uma estaca de uma tenda de campismo no peito, já sabem.

Já foste abordada por alguma "celebridade" com a qual tenhas feito uma piada e que ela não tenha gostado?
Já. Alguns. Dou valor aos que têm a capacidade de entrar na brincadeira e responder com uma piada, como já fez o Carlos Costa algumas vezes, por exemplo. Mostra inteligência e poder de encaixe.

Imagina que tinhas uma piada épica, mas que sabias que um dos teus melhores amigos ia ficar mesmo ofendido. Perder a piada ou arriscar perder o amigo?
Se perdesse um amigo por causa de uma piada, era porque esse amigo era uma merda de amigo e eu não tenho amigos de merda.

Sentes que o teu tipo de humor te fechou algumas portas a nível profissional?
Não. Felizmente a maioria das pessoas da minha área são inteligentes e não me levam a sério.

Portugal sabe rir ou ainda tem a mentalidade do "muito riso, pouco siso"?
A maioria dos portugueses sabem rir das piadas com puns, asneiras e trocadilhos, mas quando apresentas uma critica social ou política, usando sarcasmo e ironia, ficam ofendidos. O português não sabe gozar com ele próprio, só se sabe rir dos outros. É um povo que se leva muito a sério.

Davas um jantar em tua casa e podias convidar 5 personalidades da história, vivas ou mortas, mas as mortas estariam vivas, porque segundo a Paula Bobone, cadáveres com mais de 3 dias à mesa é de mau tom. Quais seriam e porquê?
Rei Ghob, Gustavo Santos, Jorge Jesus, Deus e uma puta.

Pensa rápido

Quem merecia mais uma chapada na moleirinha: Nuno Eiró, Carlos Costa ou Léo Caeiro? 
Aqui vou optar pelo Léo (espero que o Carlos não fique triste).
Não porque tem uma página de "fans" criada por ele, ou porque faz "carreira" a aplaudir programas da tv, como a Casa dos Segredos, ou porque envia as suas fotos ao lado de famosos para a rúbrica "Tu queres é fama" do Fama Show, ou até porque é figurante em novelas da TVi, mas porque faz EXACTAMENTE A MESMA CARA EM TODAS AS PUTAS DAS FOTOS QUE TIRA! TODAS! Foda-se... A não ser que tenha tido uma trombose, não há desculpa possível para isto.  

Melhor fonte de inspiração: Correio da Manhã, Casa dos Segredos ou Instagram da Lili Caneças?
Correio da Manhã, sem sombra de dúvidas. 

Preferias passar uma noite numa tenda de uma pessoa, com 30 graus, com o Toy, ou teres que te sentar numa sanita com o tampo ainda morno, de onde acabou de sair a Alexandra da Casa dos Segredos ?
Numa tenda com o Toy, sem dúvidas. Adoro lagosta suada.

Qual é a melhor piada que já ouviste? A primeira que te vier à cabeça.
"Deus existe." 

O que dizem os teus... o teu bigode?
Que já perdi tempo demais com esta entrevista de merda.

***

E é isto. Eu gosto da Lady Mustache, pelo sentido de humor que tem, mas principalmente por não ter papas na língua e não se limitar a mandar bojardas no café com os amigos e depois achar de mau gosto quando vê alguém a fazê-lo publicamente. São precisas mais pessoas com esta mentalidade para deixarmos de ser um país ainda com vergonha em se rir, com medo que apareça um agente da PIDE e lhes dê com o cassetete nas nalgas. Muito obrigado à Lady, por se ter disponibilizado para responder a estas perguntas parvas, lá no fundo é uma Lady com um enorme coração, tão grande que é capaz de albergar ódio para distribuir para toda a gente por igual.

PS: Se não perceberam que clicando no nome iam parar à página de Facebook dela cliquem agora aqui! Se ainda não têm, deixem lá o vosso like para ficarem um bocadinho mais perto do inferno.
Ler mais...

14 de novembro de 2014

Se não tem saldo, então agora não me toca




Desta feita um post com vídeo, que é para ficar aqui eternizado como um dos momentos mais parvos deste blogue. Fala-se que Isabel dos Santos, filha do presidente de Angola irá comprar a PT. Já fez até mesmo uma generosa oferta de aquisição pública, a chamada OPA, de mais de mil milhões de euros. Haja dinheiro senhora filha do presidente de um país em que a maioria da população vive na miséria. 


Em terra de cego quem tem olho é rei, ou em terra em que o pai é rei, só um cego é que não vê o que se passa

Bom, mas adiante que politiquices não é comigo. Querem então saber o que muda na PT caso seja realmente comprada por capitais Angolanos? Então vejam o vídeo.



Espero que tenham ficado mais esclarecidos e que esta minha viagem no tempo não tenha sido em vão. Outra coisa que vi no futuro foi o António Costa a dizer "Para o ano é que as coisas melhoram a sério". Mais do mesmo, portanto não façam grandes planos. Adeus e um bom fim-de-semana seus cafajestezinhos.


PS: Para quem perguntou quem é que era o Angolano a fazer a voz, era mesmo eu. Se há coisa que sou bom a fazer, para além de ser parvo, é fazer sotaque Angolano.
Ler mais...

13 de novembro de 2014

Beber ou não beber, eis a questão


Quem é que aqui nunca se embebedou? Ninguém? Ainda bem, são cá dos meus. Tenho um amigo cuja primeira bebedeira só aconteceu na despedida de solteiro. Estávamos em casa e, depois de jantar, ele disse que precisava de apanhar ar. Chegámos cá fora e ele vira-se para mim, com um sorriso parvo na cara, voz enrolada e andar de astronauta, e diz:

«Eu antes não percebia, mas agora consigo compreender aqueles bêbedos que às vezes via e que não conseguem andar direitos. O chão parece que está mole! MOLE!»

Apanhar uma bela carraspana sabe bem, faz bem à alma e faz crescer pêlos no peito. Felizmente, esta última não é verdade – caso contrário, eu seria uma espécie de José Cid, que, além da frondosa carpete que apresenta no seu torso, tem sempre ar de quem está bêbedo e visão em túnel. Fernando Pessoa também dava forte no absinto e é um dos nossos maiores génios. Só a sua existência é mais do que a prova de que o álcool tem coisas boas. Sim, claro que há a ocasional cirrose, o inopinado acidente de carro e os súbitos olhos negros na mulher, mas são sacrifícios necessários. O álcool é a prova de que tudo depende do contexto e daquilo que a sociedade nos dita. É normal que toda a gente beba uns copos de vez em quando, ou até todos os fins-de-semana. É normal beber-se à frente dos pais. É normal, até, que pais incentivem filhos a experimentar a primeira cerveja ou um copo de vinho. Reminiscências dos rituais tribais de iniciação da vida adulta que se faziam, e ainda fazem, em algumas tribos.

Beber álcool e ficar alegre de quando em vez não tem mal nenhum. Agora: ver miúdos de 14 anos, ou até menos, com a cerveja numa mão e o cigarro na outra faz-me confusão. Faz-me confusão porque estão a crescer depressa e com pressa a mais. Porque levar com álcool (e ganza) faz um mal terrível quando o cérebro ainda não está completamente formado. Faz-me confusão porque, na maioria dos casos, é por pressão do grupo de amigos e não por vontade própria. Faz-me confusão porque é sinal claro de que a maioria dos pais se está a cagar para o que os filhos andam ou não a fazer. No caso das raparigas, ainda é pior, porque mete violações ao barulho. A única vantagem de haver miúdos desta idade bêbedos é que, ao menos, não vão pegar no carro. São tão novos que, ao longe, parece que, em vez de uma garrafa, têm um biberão na mão. Se a garrafa for a única coisa que levam à boca nessa noite, já não é mau. Uma vez, estava no café, e, na mesa ao lado, umas miúdas conversavam. Uma, que não devia ter mais de 15 anos, disse às amigas, com orgulho: «Ontem, fiz um broche no Urban.» Classe!

Estou a ser injusto. Estava um bocado de barulho, posso ter ouvido mal e ela pode é ter dito que fez um broche ao Urbano.

Eu comecei a beber tarde para o que é normal, mas na altura correcta, na minha opinião. Devia ter uns 19 anos quando apanhei a minha primeira bebedeira. Foi das grandes. Não comecei a beber para me integrar ou para me enturmar num grupo, para parecer crescido ou fazer parte dos fixes. Bebi porque quis experimentar, e gostei da sensação e do facto de mascarar a minha timidez, que ainda era mais evidente quando era mais novo. Bebo uns copos de vez em quando, mas é muito raro ficar mesmo bêbedo. Aliás, nunca fiquei naquele estado de não conseguir andar. E porque é que bebo? Porque estar bêbedo é giro, pelo menos ali naquele limbo entre o sóbrio e o coma. Há pessoas que perguntam se não nos conseguimos divertir sóbrios, e a resposta é: claro que conseguimos. Mas divertimo-nos mais com álcool.

O álcool é o lubrificante social e, para os mais ariscos, que gostam de brincadeiras com champanhe, também pode lubrificar o resto, embora eu aconselhe uma bebida mais espessa, mas nunca licor de café! É castanho. Quando somos pequenos, basta chegar ao pé de outra criança na rua, na escola ou no parque e perguntar se quer ser nossa amiga. A cumplicidade e as afinidades são logo de quem sempre se conheceu. Quando se cresce isso já não acontece, principalmente porque, se fores a um parque tentar ser amigo de uma criança, vais preso. Em adultos, tornamo-nos mais autoconscientes, críticos e mais preocupados com o que os outros pensam de nós. O álcool é o elixir da juventude psicológica e momentânea que vem colmatar esta falha do nosso cérebro. Sem álcool, os feios e as feias nunca se safavam com gajos e gajas acima das suas possibilidades. O álcool é a operação plástica efémera, a maquilhagem virtual, a realidade aumentada que disfarça os defeitos e acentua a libido. O álcool mata, mas aumenta a natalidade, por norma, de filhos indesejados. O álcool é o comburente da propagação das doenças venéreas, mas ajuda a curar as feridas psicológicas, ou acentua-as. O álcool liberta o espírito, mas prende o corpo se fores a conduzir e matares alguém. O álcool é psicólogo, cardiologista e oftalmologista. O álcool engorda, mas faz-te dançar, pular e vomitar. O álcool é o escape da vida de excessos que todos levamos. O excesso não é o álcool, mas sim o que nos leva a precisar dele para descontrair da semana.


Alguém disse que embriagarmo-nos é pedir felicidade emprestada ao amanhã. Eu devo estar com juros altíssimos, que as minhas ressacas já duram dois dias.

Há uns meses, ia a sair do Urban e encontrámos uma rapariga moribunda sentada no passeio. Fomos comer e reparámos que ela estava ali a tentar endireitar a cabeça, como qualquer bebé de seis meses tenta. Não tinha seis meses, mas não devia ter mais de 16 anos. De top reduzido, a mostrar a barriga, e decote até ao piercing do umbigo, ali estava ela, sozinha, desamparada e a passar um mau bocado. Fomos lá tentar falar com ela, perceber se estava em condições. Ela respondeu-nos: «Mhhrararsgçlk, plinfans obralihasd!». Não tinha ar de estrangeira, por isso percebemos que estava realmente mais baça do que as pedras da calçada, contra as quais lutava, para não encostar a cabeça. Ficámos lá um pouco a tentar falar com ela e percebemos que estava com amigas que tinham ficado lá dentro. Boas amigas, que deixam uma das suas vir cá para fora sozinha, mais bêbeda do que o José Carlos Pereira. Vomitou, tentou levantar-se, desequilibrou-se e, se não fôssemos nós a agarrá-la, tinha ido parar ao rio e, a não ser que tivesse um soutien insuflável, tinha-se afogado. Era óbvio que tínhamos de fazer algo. Tirámos-lhe o telemóvel da mão e decidimos ligar a alguém. Havia um contacto que parecia ser o namorado «Brunuh kiduxo», mas podia também ser o amigo gay. Não querendo estragar uma relação, já que ela podia ter dito ao namorado que estava em casa a estudar o livro da catequese, decidimos ligar ao pai. Atendeu um senhor. Dissemos o que se passava, que estava tudo bem, mas que a filha não estava em condições para apanhar um táxi sozinha. Ele disse que a iria buscar. Já lá estávamos quase há uma hora e esperámos mais uns bons vinte minutos, ao pé dela, que já dormia com a cabeça no colo da minha namorada.

Nunca foi assim que imaginei ver uma rapariga no colo dela, ainda para mais menor e acabada de vomitar três vezes. Tudo pouco sexy.

O pai chegou entretanto, no seu Mercedes topo de gama. De cara sisuda, escoltou-a até ao carro, agradeceu-nos com um «obrigado» envergonhado, e foram-se embora. Não percebemos se era um pai extremamente calmo, se era a falta de surpresa, por já ser hábito, ou se estava a guardar as energias para a surra de cinto que lhe haveria de dar quando lhe passasse a bebedeira. Espero que tenha sido a última. Fomo-nos embora, quais anjos da guarda, sabendo que ela se iria lembrar de nós, até porque usámos o telemóvel dela para tirar umas selfies em grupo com ela quase em coma. Ainda tivemos o requinte de malvadez de adicionar o contacto de um de nós, não eu, com a foto dele, com cara de azambuado e o nome: «O gajo que ontem te salvou.»
Ela nunca disse nada. Mal-agradecida.

Por isso, criançada que me esteja a ler, já sabem: bebam com moderação e, quando abusarem, pelo menos rodeiem-se de amigos como deve ser. Não dão ouvidos aos vossos pais e iam dar-me a mim? Claro que não. Desgracem-se para aí à vontade.
Ler mais...

12 de novembro de 2014

Mãe, fui assaltado outra vez esta semana



Como sabem eu moro nessa bela localidade que é a Buraca. Esse paraíso, não pelos bosques mágicos mas porque se aplicam as leis da selva. Já devem ter ouvido falar muitas vezes da Buraca e da Cova da Moura nas notícias, sempre pelas piores razões. A meu ver é uma fama injusta, crescer na Buraca tem as suas coisas boas, como o facto de ter feito de mim um ser humano muito mais generoso, já que viver paredes meias com pessoas que vivem de forma muito carenciada, ensinou-me que era importante dar sempre um pouco de mim aos outros. Até porque se não o fizesse provavelmente levava uma facada. Andei sempre nas escolas da Buraca e da Damaia, os meus pais sempre acharam que levar porradinha fazia bem ao carácter. E fez. 


Nas minhas escolas já havia arrastões, mas há 20 anos atrás davamos-lhes outro nome, eram os chamados intervalos

Havia também educação física duas vezes ao dia, já que ir para a escola e a voltar para casa eram uma espécie dos 2 km estafetas, onde quem nos alcançasse na corrida, recebia a estafeta que entregávamos de braço esticado. Para quem não percebeu a metáfora, a estafeta era a carteira. Dentro da escola os assaltos eram mais à comida, lembro-me de termos que comer o pão com chouriço que íamos comprar a meio da manhã ao bar, sempre à pressa e atrás de um pavilhão. Ainda assim a norma era só conseguirmos comer metade, não roubavam o pão todo, pediam um "coche", que normalmente era de um terço a metade do pão, que aquilo era gente que precisava de se alimentar. Como podem ver, a convivência com o crime, ainda que juvenil, era constante e as tentativas de assalto eram de frequência no mínimo semanal. Entre todas essas houve algumas que mais me marcaram.

Bolas de futebol
Eu ia para o ringue atrás de minha casa jogar futebol com alguns amigos quase diariamente. Lembro-me de o fazer desde que tínhamos 8 ou 9 anos. Éramos 4 ou 5 e lá íamos nós, sabendo que aquela bola de futebol bem que podia ser descartável, porque era muito provável que não a trouxéssemos de volta para casa. Sempre que aparecia um grupo e nos perguntavam "Olha, deixa-me dar uns toques", já sabíamos que estava o caldo entornado. Lá dizíamos que sim, e por norma eles davam realmente dois ou três toques, antes de se irem embora com a bola. Havia também a técnica de a chutarem para fora do campo e dizerem que a iam buscar. E iam, mas para a levar para casa.

Casaco
Um vez roubaram um casaco a um amigo meu. Íamos a sair do campo de futebol, eu e ele só, e aparece um rapaz bem maior e mais velho que nós e usa aquela técnica antiga que era estender-nos a mão e cumprimentar-nos. Depois pediu o casaco ao meu amigo, azul escuro com listas brancas e vermelhas da Umbro. As coisas que me ficam na memória, mesmo já tendo passado uns 20 anos. Eu ainda disse para ele ficar antes com a bola, já que, aparentemente, estava com frio podia dar uns toques para aquecer. Ele não quis. Nós esboçamos ainda uma reacção mas ele meteu ao mão ao bolso como quem vai buscar uma faca para cortar um queijo alentejano. Fomos embora, um de nós com menos roupa.

50 escudos
Muito antes de haver o 50 cent, havia um rapaz que nos abordava semanalmente à ida para a escola e que pedia sempre 50 escudos. Eu nunca andava com dinheiro mas tinha amigos que levavam de propósito 50 escudos para lhe dar, qual scut do gueto. Houve vezes que me revistou a mochila, outras que me meteu as mãos nos bolsos mas como eu andava sempre com um rolo de notas entaladas nas nalgas nunca encontrou nada para me roubar.

Estação da Damaia
Antes de ter carro andava sempre de comboio, para a faculdade principalmente. Na estação, estava sempre um rapaz que fazia do assalto um pedido fofinho. Estava sempre nas máquinas dos bilhetes e pedia o troco. Eu normalmente levava certo, mas quando me sobravam uns cêntimos dava-lhe e ele agradecia. Quando não tinha ele também não refilava muito, até um dia, tinha eu já uns 20 anos em que não lhe dei, apesar de ter dinheiro na carteira. Ele vem atrás de mim a refilar e nas escadas agarra-me e diz "Dá-me já dinheiro se não eu roubo-te a carteira". Eu meti-lhe a mão na garganta e espetei-lhe a cabeça no vidro e disse que lhe esmagava a traqueia. Ele esbugalhou os olhos de admiração e não sabendo o que era a traqueia colocou as mãos à frente da pila a pensar que era ali que o ia atacar. Agarrei-lhe no pulso e torci-lhe o corpo, preparando-me para o atirar das escadas abaixo, quando duas pessoas que iam a passar nos vieram separar. Um senhor, já de meia idade começou aos berros com ele a dizer que da próxima vez não ia evitar que alguém lhe batesse porque ele merecia. Largamo-nos, ele ajeitou o casaco e foi-se embora. Fiquei com o ego lá em cima, mas pelo sim pelo não, nunca mais fui por aquela entrada da estação.

Pão com cuspo
Talvez tenha sido o assalto mais humilhante que me fizeram. Estava ainda na escola primária, vem um rapaz, dentro da escola mas que não era de lá e pede-me um bocado do pão que eu estava a comer. Eu tirei metade e dei-lhe. Ele agarra nela, olha com ar de nojo, cospe na metade que lhe dei e atira para o chão. De seguida rouba-me a outra metade. Filho da puta. Eu dei-lhe do meu pão, na inocência de que ele tinha mesmo fome e o gajo faz aquilo. Esse menino foi mais tarde preso, e ainda estará, por matar um polícia. Boa gente portanto. O pior foi dizer à minha mãe que a sandes tinha ficado melhor com cuspo. Ficou passada a dizer que eu nunca valorizo o que ela faz.

Diablo
Este, juntamente com o último foi o que mais me traumatizou. Estávamos em pleno pico da febre dos diablos, toda a gente tinha um e eu tinha acabado de comprar o meu, para o qual tinha andado a poupar durante muito tempo. Tinha-me custado 5 contos e era dos bons, não era daqueles de plástico dos chineses. Tinha estado à espera dele mais de um mês porque estavam esgotados e só se vendiam ali numa loja no Babilónia. Comprei-o e da primeira vez que o levei para a rua já não o trouxe. Estava com um amigo e uma amiga, todos com os seus diablos e aparece uma enchente de gandins. Eram mais de 20 e limparam-nos os diablos aos três, entre ameaças para não gritarmos que se não nos enchiam de porrada. Fui para casa a chorar e destilar ódio no meu diário, sim eu tive um diário ali entre os 13 e os 14 anos. Passo a citar o que eu disse nesse dia:

"Filhos da puta dos pretos! Porque é que Hitler em vez de matar os judeus não matou antes os pretos todos?!"

Nossa... que biolência! Felizmente, pela educação dos meus pais e pela inteligência que julgo ter, cresci e percebi que não tem nada a ver com raça, mas com questões sociais, geográficas e económicas. Mas sobre isso e o que eu acho do racismo já aqui escrevi neste texto.

E pronto foi muito isto a minha infância. Tornei-me um especialista a detectar perigo à distância e a criar técnicas de evasão qual espião profissional. Para mim isto era normal, não conhecia outra realidade, fazia parte do meu dia-a-dia e não era mau, era o que era. Não fui à tropa mas crescer aqui foi o meu Vietname. 

PS: A única vez que fui assaltado com uma arma, foi com uma seringa, mas sobre essa história já escrevi antes, foi uma espécie de Stand Up Robbery, que podem rever aqui.
Ler mais...

10 de novembro de 2014

O dia em que limpei o rabo ao Fernando Pessoa



O tempo era já de primavera mas o cheiro no ar era o do metal das carruagens e o chilrear dos pássaros não se ouvia com o chiar das rodas nos carris. Estava eu na estação de comboios de Coimbra, à espera do comboio para Lisboa. Parecia apenas uma viagem normal, sem se vislumbrar que seria um dos momentos de maior adrenalina deste vosso, que na altura tinha 17 anos e pouca barba. Faltavam cerca de 20 minutos para chegar o meu comboio e subitamente, por entre os passos apressados de quem está atrasado, entre abraços de famílias que chegam e beijos chorados de enamorados que partem, deu-me uma daquelas cólicas que uma pessoa sabe logo, mas logo, que vem aí um tsunami de cocó. Tentei aguentar, pensando que poderiam ser apenas gases, mas com aquele receio de os soltar e trazerem consigo algo mais. Vinte minutos podia ser pouco para procurar uma casa de banho, e certamente que as do alfa seriam melhores que as da estação, nem que fosse pelo ar fresco que entra por baixo e nos acaricia os glúteos, quase que parecendo que estamos nos Pirenéus a deixar a nossa marca. 

Entretanto outra cólica, qual contracção de quem está prestes a dar à luz uma lontra bebé.
Era evidente que não podia esperar

De mala grande pela mão e mochila às costas, comecei à procura de placas que me indicassem o caminho, a andar todo torto, que parecia um deficiente ou alguém a fazer a marcha, com as nádegas contraídas, qual barragem do Foz Côa, com medo de fazer pinturas rupestres nas cuecas. Dei voltas, subi e desci escadas e por fim, lá encontrei os lavabos. Era tudo aquilo que eu tinha sonhado e muito mais, não fosse o chão, todo ele com uma fina camada de urina, papeis sujos no chão, urinóis em tons de amarelo e roxo esverdeado e aquela média luz que qualquer WC público de um filme de terror tem que ter. Havia três portas para as sanitas, de madeira escura e velha, com as habituais inscrições de amor. Duas delas fechadas, mas a do meio aberta e desimpedida. Finalmente Deus nosso senhor da defecação dava-me um sinal da sua existência. Tentei entrar com a mala grande, a arrastar naquele chão mais sujo que os passeios do Cais de Sodré depois de uma noite de Sábado. Tentei, tentei e voltei a tentar, mala ao alto, mala na horizontal, mas era impossível conseguir entrar com ela e fechar a porta. Tive que tomar a difícil decisão de deixar a mala cá fora, sujeito ao risco de pensarem que era uma bomba e a tentarem desarmadilhar enquanto eu soltava a bomba prestes a explodir dentro de mim. Comecei a imaginar o susto que iria provocar a toda a equipa de contraterrorismo da zona de Coimbra, fazendo soar um alerta máximo de guerra química e culminando com a honra de aparecer na primeira página do Correio da Manhã do dia seguinte. Era um risco necessário.

Lá tranquei a porta, baixei as calças e os boxers, sentei-me e cá vai disto ó Evaristo. Um alívio maior do que finalmente conseguir espremer aquela borbulha nas costas que está ali a meio que não lhe conseguimos chegar por cima nem por baixo. Um alívio maior que um falso positivo num teste de HIV. Um alívio maior que a amante grávida, que ameaçava contar tudo à mulher amanhã, morrer hoje num acidente de carro. Faço o que tenho a fazer, sabendo que o tempo era escasso e não havia tempo para ficar à espera da segunda vaga. Vou para me limpar e o terror instalou-se. Não havia papel higiénico! Nada, nem uma última folhinha meio rasgada e agarrada ao rolo, porque nem esse rolo de cartão havia. De repente, todo aquele alívio tinha ido pelo cano abaixo e parecia que estava um relógio em contagem decrescente na minha mente. Tive que me armar em Macgyver da retrete e ponderar as possibilidades. Sair com as calças nos tornozelos e procurar papel? Perigoso. Gritar por ajuda, na esperança que alguém me passasse um rolo? Perigoso. Tirar os boxers, limpar-me aos boxers e ir o resto da viagem em modo comando? Muito perigoso, os boxers podiam não chegar e só iria ficar numa situação ainda mais precária. Como devem imaginar não era daqueles cocós que parece que saem embrulhados, com lacinho e tudo e que não deixam nada para trás. Uma pessoa passa o papel e parece que não passou por ali nada, qual assassino profissional que não deixa pistas. 

Este cocó tinha todas as características para ser daqueles que parece que temos uma lápis de cera a sair do rabo 

Limpa-se, limpa-se, limpa-se e volta-se a limpar e vem sempre qualquer coisa, às vezes sem dar sinais que está a ficar melhor, parecendo até pior entre cada limpadela. Tinha a mochila comigo mas sabia à partida que não tinha lenços, não tenho alergias, não estava constipado, não costumo chorar do nada e mesmo que chore tenho mangas para limpar. Mas lá procurei e a única coisa que poderia servir para o propósito era um teste de Língua Portuguesa que tinha recebido no dia anterior. Era sobre Fernando Pessoa e era a melhor opção. Tinha tido 19 valores e era um ultraje para o nosso maior poeta, mas creio que ele teria feito o mesmo se se visse naquela situação. Teve que ser. A folha de enunciado arranhava um bocadinho, mas a folha de teste, dupla absorvente fez o trabalho sujo que era necessário. Fiquei com um excerto do poema "A Espantosa Realidade das Cousas" de Alberto Caeiro estampado na nalga direita e na esquerda lia-se: "O mais alto de nós não é mais que um conhecedor mais próximo do coco e do incerto de tudo.". Mas afinal o 'c' de 'coco' era um pelo colado, a palavra correcta era 'oco', que era como eu agora finalmente sentia o meu intestino. 

Posso-vos dizer que no fim, depois de limpar tudo com aquelas folhas, aquele teste de Português ficou com menos merda que um teste de 12º da Cátia Palhinha. Estou a brincar, é óbvio que a Cátia não fez mais que o 9º ano. Bem, puxei as calças para cima, recolhi a minha mala que continuava lá intacta, apanhei o comboio a tempo e cheguei a casa são e salvo. Felizmente o cheiro a cocó não se entranha na roupa e no cabelo como o cheiro a fritos, se não a viagem tinha sido uma merda.
Ler mais...

6 de novembro de 2014

20 coisas que não se devem fazer/dizer durante o sexo



O texto de hoje é curto, grosso e nojento mas extremamente educativo. Em tempos de crise é essencial que se saiba aproveitar bem as poucas coisas que temos na vida. Como tal, aqui ficam 20 coisas que não se devem dizer ou fazer durante o coito, para que se possa desfrutar desta actividade que ainda não é preciso pagar. Falo por mim pelo menos, mas não condeno quem recorre a profissionais.
  1. Para quem tem gatos ou cães, fechem-nos fora do quarto. Ninguém quer sentir um nariz húmido e fresco nas rêgo. 
  2. Nunca perguntar "Posso-te chamar nomes?" e depois chamar Tio Alfredo durante o acto.
  3. Nunca perguntar "Já enfiaste?".
  4. Atender o telemóvel, especialmente se for uma chamada da namorada/o.
  5. Uma mulher dizer "uau, o teu é o primeiro que consigo colocar todo na boca".
  6. Toma lá um lencinho que estás muito molhada e eu para comer sopa como em casa.
  7. O rapaz tirar as cuecas e a mulher exclamar "ohhhh... é tão querido".
  8. Ainda bem que o teu é mais pequeno que o do meu ex era grande e aleijava-me. Pode parecer um comentário positivo mas nenhum homem o vai encarar como tal.
  9. Dizer à companheira para ir toda nua para a varanda, isto em pleno inverno, e para depois passado 5 minutos se deitar na cama sem nunca se mexer, para parecer mesmo que está a comer cadáver.
  10. "O que ficava aqui bem agora, era a tua mãe"
  11. Nunca passar para o sexo anal sem avisar. É o equivalente a não pôr piscas na estrada, apanha-se as pessoas desprevenidas e acaba por dar merda.
  12. Não guardar sémen nas bochechas, qual hamster e a seguir ao dar um beijo bolsar para a boca do companheiro.
  13. Se não tiverem a certeza do nome da pessoa não arrisquem nenhum. Chamem pela mãe, pelo pai ou por Deus, mas não arrisquem um nome que vocês têm quase a certeza que está certo.
  14. Nunca, em situação alguma, trincar um clitóris como se trincam as pevides para se descascar.
  15. Nunca sair a correr depois do orgasmo sem dizer boa noite, só é compreensível em caso de violação.
  16. Nunca dizer a uma mulher, enquanto se está a copular à canzana, "Bem assim vêem-se mesmo bem as tuas estrias! E estes buracos da celulite? Quase que dá para fazer de cinzeiro!"
  17. Se estiverem a fazer sexo com alguém que seja invisual nunca perguntar se têm a fantasia de ser vendados.
  18. Nunca começar a rezar a meio. Nem antes. Nem no fim. Não rezar é daquelas regras básicas que nem era preciso eu dizer. Rezar antes das refeições já é parvo que chegue.
  19. Nunca dizer a um homem "Não te venhas cá dentro, vem-te antes para este guardanapinho".
  20. Nunca, durante o felácio parar a qualquer gemido do homem com medo que seja desta. Se não querem digam para ele avisar, andar no pára arranca já basta a IC19.
E é isto, espero que a vossa vida sexual melhore consideravelmente depois deste texto. Crescei e multiplicai-vos, ou crescei e fornicai com pílula, preservativo ou coito interrompido, que de putos ranhosos já está o mundo cheio.
Ler mais...

5 de novembro de 2014

E se houvesse relato na Assembleia da República?



E se os debates na Assembleia da República fossem relatados pelo João Ricardo, com comentários do Nuno Luz e do Luís Freitas Lobo? Eu acho que começava a ser fã de política do Parlamento TV.

João Ricardo: Sejam muito bem-vindos a mais uma tarde de política espectáculo, nesta que é a sua rádio de sempre. O dérbi dos dérbis está pronto a começar nesta bonita arena com uma moldura humana espectacular e um ambiente fenomenal. De um lado temos o PSD, actual líder. Do outro, temos PS, apenas a depender de si para chegar ao topo da sondagem. O juiz da partida é Assunção Esteves, cuja nomeação foi muito contestada por parte do PS. A palavra inicial é para a formação da casa que equipa de laranja. Vamos sentir o pulso nas bancadas parlamentares, e como sempre temos o Nuno Luz para nos ir dando as novidades mais importantes. Nuno, onde te encontras?

Nuno Luz: Cá estamos, João Ricardo, directamente da bancada dos Verdes. O clima aqui continua da mesma maneira. D. Sebastião deve estar para voltar que aqui o ambiente está quase como um nevoeiro pesado e cinzento. O que me parece óbvio, visto que a líder partidária, Heloísa Apolónia, continua a rebentar canhões como se não houvesse amanhã.

João Ricardo: É bom ver que o público está animado Nuno Luz. Já voltamos a ti assim que houver novidades. Como sempre temos também Luís Freitas Lobo, directamente da sua cave para partilhar connosco os seus pensamentos poéticos e sábios. O que te apraz dizer antes deste início de partida Luís?

Freitas Lobo: Apraz-me dizer que se vive um ambiente espectacular, um ambiente de cortar à faca aquecida em manteiga Becel. Um ambiente convidativo para a prática da política dentro do hemisfério parlamentar. Os cânticos, os apupos, são música barroca para quem quer aprender a nadar qual peixe fora de água que não sabe cantar.

João Ricardo: Pois… é capaz de ser isso Luís. Bem, e é dado o apito inicial! O capitão Passos Coelho a tocar para o companheiro de equipa Paulo Portas. Portas segura a bola, Portas tenta ver linhas de passe mas ninguém se desmarca. Vai no um para um e finta o primeiro com retórica e vai para cima do segundo adversário com uma revienga demagógica. É populismo minha gente, é disto que o meu povo gosta! Classe de Portas. Mas volta para trás e perde a palavra! Portas se tivesse mais cabeça poderia ser um caso sério, mas volta sempre atrás nas suas decisões, daí a sua alcunha de balneário, La Belle Irrevogavelle. O que tens a dizer Luís, sobre este início de partida?

Freitas Lobo: Como sempre, Paulo Portas a querer fazer tudo sozinho, sempre com adlibs a fazer lembrar onanismo meigo em plena lua cheia. De um soberbo romantismo mas completamente solitária e sem contribuir para a equipa.

João Ricardo: Pois… é capaz de ser isso Luís. Bem, e  é reposição de palavra lateral para o PS, bem à esquerda e quem vai lançar é Ferro Rodrigues. Mete directamente para António Costa, o novo capitão de equipa, depois da saída de Tozé Seguro, apelidado de maçã podre. António Costa levanta a cabeça, fala bem mas não convence, as claques da equipa da casa apupam Costa. Mais fair play minha gente! A equipa da casa sabe que este Costa é perigoso, que pode decidir o jogo. Uuuuiiii! Entrada a pés juntos a rasgar! Passos Coelho, quem poderia ser! Uma entrada durinha ao passado autárquico do adversário. Entram duas massagistas tailandesas, uma tem claramente genitália masculina, ambas pagas pelos impostos dos portugueses. Momento de pausa. Para ti agora Nuno Luz, conta-nos o que vês aí de baixo.

Nuno Luz: Muito bem, João Ricardo. Agora estou aqui na cantina, onde me encontro com a cozinheira Dona Arlete e… Espera lá... Pois é, vejo ali ao fundo a surripiar um toblerone… Exatamente, é Mário Soares! Mário Soares a aparecer que nem uma osga na cantina. Passo-te a emissão de novo João Ricardo.

João Ricardo: Obrigado Nuno Luz, sempre em cima dos acontecimentos que realmente interessam, a dar vida a este relato aqui na vossa rádio de sempre. Freitas Lobo, o que estás a pensar? Achas que o PSD demonstra falta de segurança com este tipo de entradas?

Freitas Lobo: Claramente, mas não foi apenas demérito do PSD, há que dar mérito ao adversário. Costa foi um malabarista de circo dos anos 80. Foi claramente uma grande intervenção! Ca ganda categoria! Um patrão da bancada central! A forma como acariciou o discurso, é como se tivesse um mamilo debaixo da língua, turgido, entumecido, a fazer lembrar um caroço de prazer que dança e vibra com o trautear e chocalar numa dança de acasalamento entre a poesia, a prosa e a política.

João Ricardo: Pois… é capaz de ser isso Luís. Bem, a falta vai ser cobrada, Assunção Esteves aponta para o relógio e diz que está na hora. António Costa posiciona-se no centro da bancada, parece que vai bater directo. António Costa começa a discursar, entusiasma-se e remata com um "Sr. Primeiro Ministro é um aldrabão!". O árbitro apita e é cartão vermelho directo para Costa. O que é que é isso ó meu! Gera-se a confusão nas bancadas e começa a haver invasão de campo, Jerónimo de Sousa entra todo nu no centro da Assembleia envergando um machado e com uma foice entalada nas nalgas. Está bastante bem conservado fisicamente para a idade. Enxuto e rijo, como qualquer comunista trabalhador. Assunção Esteves termina o encontro. Que feio meus senhores e minhas senhoras! Que espectáculo deplorável, ninguém respeita ninguém, nem nisto que devia ser o jogo dos jogos. Nuno Luz, o que se passa aí? O árbitro está a tomar notas, consegues descortinar o que se passa?

Nuno Luz: Efectivamente, João Ricardo. Encontro-me desta vez junto ao Magalhães de Assunção Esteves, que continua a jogar Alley Cat. Tem também ali um separador do youtube com o discurso de Stalline em 1979 sobre a exportação de amêndoas no Kosovo e outro do Porntube, num vídeo Mature Midget Japanese goes Wild with his Pregnant Daughter and a Giraffe. Muito estranho, João Ricardo. Devolvo-te a emissão e vou ali bolsar aos lavabos.

João Ricardo: E é isto minha gente, o povo não merecia este jogo. Quem paga a politicBox para assistir ao debate, seja ao vivo ou no Parlamento TV merecia mais, merecia muito mais destes que dizem ser profissionais da política. Não tenho muito mais a dizer caros ouvintes, obrigado por terem escolhido a vossa rádio de sempre e fiquem ligados para os comentários que se seguem, com a presença das antigas glórias do mundo da política: Marcelo Rebelo Sousa, José Sócrates e Toni. Luís, queres concluir?

Freitas Lobo: Toni, esse mostro da política, especialista em todas às áreas e autor da célebre frase. "Foi o Hassan, caralho!". Pináculo da política que causa água na boca e suores frios onde o sol não brilha porque não é digno de Toni. Boa noite.

João Ricardo: Não metas mais tabaco não, Luís. Boa noite.
Ler mais...