11 de fevereiro de 2015

50 Sombras do Grey: Romance ou pornografia?



Então parece que amanhã vai estrear o tão aguardado "50 Sombras de Grey", adaptação do livro, cuja trilogia vendeu mais de 100 milhões de exemplares em todo o mundo. Para os poucos que não estão a par da história, basta dizer que mete sexo, na maioria das vezes à bruta. Já estive para falar deste tema, mas preferi aguardar até à estreia do filme e abordá-lo, não numa crítica literária ou cinematográfica, mas de outro ângulo mais criativo, que fazendo jus à história, será por trás.

Há alguns anos, provavelmente em 2011, quando saiu o primeiro capítulo, ia eu no comboio e estava uma rapariga sentada ao meu lado, nos seus vinte e poucos anos, a ler o livro concentradíssima, para não dizer compenetrada. Subitamente, começa a corar, engasga-se na própria saliva, fecha o livro muito atrapalhada e vai apressada para o WC. 

Claramente que ficou mal disposta com tanta descrição explícita de teor sexual e sado-masoquista. 

Ou isso, ou então foi tocar à campainha de Satã e depois lavar as vergonhas com água benta. Alguns dizem que mais que o sexo, o cerne da narrativa é uma história de amor muito linda. Tenho para que mim que só é assim porque o Dr. Grey é milionário. Se isto se passasse num bairro social da Amadora e fossem as "50 Sombras do Cajó", em que ele, desempregado mas bom rapaz, decide convidar uma rapariga inocente para a sua casa, lhe mostra o barracão da safadeza e a algema e sodomiza ao som de Anselmo Ralph, a história seria diferente. Certamente, após fazerem amor no rabo ela ia fazer queixa à polícia e o filme ficava por ali, numa curta metragem a meu ver muito mais emocionante. "Ah mas ela não foi forçada", dizem algumas quarentonas que de repente voltaram a sentir palpitações no pipi. Não foi forçada fisicamente, mas o dinheiro é o melhor dos agentes de coação, mas que funciona de forma dissimulada.

Como comecei por referir, o filme estreia amanhã e já estão esgotadas todas as sessões nos principais cinemas de Lisboa para as próximas semanas. Os cinemas já se estão a preparar há meses, tendo encomendado várias placas amarelas daquelas que dizem "Cuidado, piso escorregadio". A meu ver é errado, até porque vai estar o oposto de escorregadio, vai estar sim como o chão daquelas tascas à moda antiga, ou de um bar do Cais do Sodré às 7h da manhã. Aquele chão que quando se usa uns sapatos um número acima, corremos o risco de perder um deles, tal é nojeira peganhenta onde caminhamos. Isto tudo por causa do açúcar das pipocas e refrigerantes entornados, não sejam ordinários.

O que eu acho é que este fenómeno à escala mundial que são as 50 Sombras de Grey, só vem confirmar três coisas que eu já suspeitava há muito. Primeiro, que as mulheres gostam tanto ou mais de sexo que os homens. É normal que assim seja, quando é bem feito elas têm mais prazer que nós. Segundo, que são tão ou mais javardolas que os homens, só não sabe isto quem nunca deixou um gravador escondido na sala da namorada durante um jantar de amigas. Terceiro, é que a maioria dos homens não lhes trata da saúde como deve ser, muitas vezes porque elas ainda têm vergonha de admitir que são umas safadas e que querem ser umas ladies na mesa, mas umas porcas na cama, excepto na parte de ressonar. Só assim se explica este corrupio de mulherio ao cinema e à FNAC para ler e visionar esta história, que segundo me disseram os entendidos, se não fosse pela descrições pornográficas, não valeria nada. Nada de mal nisso, um filme porno, sem as cenas de sexo, também vale pouco. Nada, vá, mas ao menos assume-se como tal e não se enche de pretensiosismos românticos e filosóficos.

Este filme é a prova que somos falsos puritanos. Como é softcore, não há problema, embora na cabeça da maioria das pessoas que leu o livro e vai ver o filme, estejam imagens explícitas e uma grande parte delas a desejar ver a pilinha a entrar no pipi. Se assim fosse já não iam ver o filme, porque ficava mal. Isto é o antigo lema do Telmo do primeiro Big Brother: "Broches fazem as putas, minha mulher não vai beijar os filhos depois de ter andado aqui com a boca". Neste caso é "Ser amarrada, vendada, chibateada e violentamente penetrada analmente? Sou alguma puta ou quê?", isto enquanto lambe os dedos e vira mais uma página do "romance". Aposto que muitas destas já recusaram vários tipos de actos que consideraram indecentes, embora com alguma vontade, só porque lhes foi dito que era pecado e que as meninas boas não fazem dessas coisas. Estou a divagar, bem sei, mas não me entendam mal, a culpa não é das mulheres, é dos homens que não lhes sabem despertar a sua besta sexual interior, como o Dr. Grey faz à não sei das quantas. A maioria dos homens é egoísta no sexo e isso estraga o jogo a quem sabe jogar.

Espero no entanto que este filme possa mudar isso e venha apimentar a vida sexual dos portugueses, que lhes tire vergonhas e tabus cicatrizados à volta dos pulsos, fruto de centenas de anos de algemas puritanas de Igrejas castradoras. Somos portugueses, somos latinos, temos sangue quente mas arrefecido pela ditadura e pela austeridade, que nos tiraram o prazer de viver, mas que não podemos deixar que nos tirem o prazer de foder. 

Fodamos sem brandos nem bons costumes! 

Andamos todos a portar-nos mal de 4 em 4 anos, por isso, porque não umas palmadas? Já que temos o cinto apertado, porque não uma mão a apertar a garganta e uns puxões no cabelo? Se já somos sodomizados todos os dias, porque não entre os lençóis? Se já há anos que nos deixaram de tanga, porque não uma comestível, que sempre é mais uma refeição que se poupa? Acho bem que sim. Se este filme servir para isso, então já tem o meu apoio. Eu cá vejo-o em casa, pirateado, para ainda me dar mais pica e adrenalina e enquanto mando a minha namorada fazer-me coisas porcas, como uma sandes de presunto.

Para terminar e só para verem como é fácil escrever livros destes, que nos despertem e excitem o nosso cérebro reptiliano, aqui fica um excerto das 50 Sombras de Por Falar Noutra Coisa, um conto erótico, que espero que gostem e que vos abra o apetite:

Os olhos de Roberto fitavam Maria, numa cumplicidade de quem se conhece desde sempre. Na cozinha, no calor do Verão, o forno ligado aumentava os graus ainda mais, deixando os seus corpos suados e sedentos de algo. A água que lhes faltava no corpo a desidratar, escorria-lhes pela pele e sobrava-lhes na boca. Era muita a vontade, já passara algum tempo desde a última vez que lhe provaram o sabor, doce e peganhento do fruto da paixão. Roberto pede a Maria que se chegue perto, quer que ela sinta o que ele tem para lhe oferecer. Suavemente, começa com uma mão a mexer-lhe, em movimentos ritmados, pautados pela gula luxuriosa de quem está apaixonado. Uma mão agarra-a com força, para cima e para baixo, devagar primeiro, mais rápido depois em movimentos circulares. Envolve-a bem e ela coloca as mãos nas dele e sente que o volume aumenta, que os fluídos estão a transformar-se num néctar homogéneo que sabe que ele quer provar. Roberto, beija-lhe os lábios e com cuidado, coloca um dedo, depois dois, sente-a humedecida, quase no ponto para o resto. Tira os dedos e leva-os à boca, Maria trinca o lábio mostrando que também quer. Ele repete o processo, sem lhe tirar os olhos dos dela. Um dedo, dois dedos, tira-os a pingar, mas desta vez leva-lhos à boca dela, para que ela prove e veja o quão boa está. Maria agarra-lhe o pulso e passa-lhe a língua nos seus dedos grossos, antes de sofregamente os chupar, ambos dentro da sua boca quente. De olhos iluminados e boca salivante exclama "Que delícia, está mesmo como eu gosto... no ponto como a da minha mãe".

Sim, o Roberto estava a fazer a receita de mousse de maracujá que a mãe da Maria deixou antes de morrer. Vocês são mesmo ordinários.




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