Hoje celebra-se o Dia Mundial do Pepino e, por isso, vou
contar-vos uma bonita história sobre um pepino chamado Zé. Zé era um pepino com
um índice de massa corporal acima da média. Um pepino de ossos largos ou, se
preferirem, gordo. O Zé vivia num cesto no mercado do Bolhão, no Porto,
juntamente com outros pepinos que faziam pouco dele por ser roliço e o faziam
sentir-se mal com a seu diâmetro balofo. O Zé queixou-se à comissão de proteção
dos pepinos a dizer que sofria bullying, diariamente, mas ninguém fez nada.
Certo dia, uma mulher, cliente do mercado, agarrou num
daqueles sacos de plástico que ainda não se pagam, e levou uns quantos pepinos
com ela. Pela primeira vez, o Zé, que era sempre preterido em relação a outros
pepinos mais maneirinhos, também havia sido escolhido para esta viagem que
culminaria em sacrifício dos pepinos. Os pepinos estavam contentes e ansiavam
por tal fim em prole de um bem maior do que eles.
Chegando a casa da mulher,
faziam apostas sobre a utilidade que lhes seria dada. Fins de beleza, nutricionais
ou práticos? Só o tempo o diria.
O primeiro pepino foi cortado às rodelas para servir de
máscara de beleza e melhorar os bicos de papagaio da mulher. Um fim digno para
qualquer pepino que se preze que ainda poderá ter a sorte de ser fotografado e
colocado no Instagram de uma qualquer blogger de moda.
O segundo pepino foi, também, fatiado, mas desta feita para
uma salada de alface. O verão está aí e ajudar a manter a linha é um dos
objetivos de qualquer pepino.
O terceiro pepino teve um dos fins mais nobres de qualquer
pepino nos dias de hoje: para aromatizar um gin Hendrick’s. Talvez o único
sítio onde o pepino não sabe mal, se é que querem saber a minha opinião. Não é
que saiba mal noutros gins, mas foi com o Hendrick’s que fiz parceria para
escrever este texto.
O quarto pepino foi cortado pelo namorado da mulher quando
ela lhe pediu para ir preparando as courgettes para o jantar que, como a
maioria dos homens, não soube distinguir um pepino de uma courgette. Um sacrifício
desnecessário, pensam? Não, já que depois o usou para engraxar os sapatos. Sim,
pepino serve para deixar os sapatos brilhantes segundo a minha pesquisa no
Google sobre as utilidades do pepino. Foi um risco essa pesquisa, especialmente
na zona das imagens.
Nisto, já todos os pepinos gozavam com o Zé a dizer que ele
tinha sido comprado por engano e que nunca seria utilizado para nada. O Zé
acabrunhava-se no canto do saco de plástico pousado na segunda prateleira do
frigorífico, tímido e com medo de perecer oxidado, encarquilhado e malcheiroso
e de ver a sua vida sem propósito deitada ao lixo. Nem os gatos vadios o iriam
comer, como se pode ver em vários vídeos da Internet de gatos assustados com
pepinos.
O quinto pepino foi inteiro para uma liquidificadora para
ser triturado juntamente com espinafres, brócolos, cenoura e gengibre. Uma sopa?
Não, um sumo detox daqueles que sabem tão bem como óleo de fígado de bacalhau
deixado ao sol durante um verão inteiro. Fazem bem? Devem fazer melhor do que
um gin (menos Hendrick’s, claro!), mas não sei se compensará.
O sexto pepino foi cortado ao meio e foi passado no espelho
da casa de banho. Os outros pepinos estranharam, mas ao que parece passar um
pepino num espelho impede que este fique embaciado pois o seu suco forma uma
fina película brilhante. Ao serem informados disto, os pepinos sentiram orgulho
de ser pepinos. O Zé pensou «Porque é que não fui eu escolhido para esta
tarefa, já que sendo mais gordo, cobriria mais superfície do espelho de uma só
passagem?». Veremos, em breve, que o Deus dos pepinos escreve certo por linhas
tortas.
Na manhã do dia seguinte, dois pepinos foram retirados de
uma só vez para serem triturados e comidos à colher enquanto a mulher se
queixava de uma enorme dor de cabeça. Os pepinos são excelentes para curar a
ressaca. Talvez a mulher tivesse bebido demasiado gin de má qualidade (e não
Hendrick’s) na noite anterior.
Ao cair da noite, a mulher acendeu umas velas e uns incensos
e tomou um banho de imersão. Ao sair do banho, ainda apenas de toalha, abriu o
frigorífico para ver se haveria algo para comer, mas viu o seu olhar preso ao
Zé. Hesitou. Mordeu o lábio e lançou a mão para o retirar do saco. Os restantes
pepinos não queriam acreditar que o Zé seria o escolhido em vez deles. Porque
havia sido selecionado aquele pepino grosso e trapalhão que ninguém queria? Um
mistério que nunca ninguém iria descobrir já que, no dia seguinte, a mulher
apareceu com o Zé numa mão, passou-o por água e voltou a colocá-lo no saco. Os
outros pepinos riram-se na cara pepinesca do Zé. Riram e riram e disseram que
ele era o pior pepino de sempre e que não havia registos da história de um
pepino escolhido para o sacrifício ter sido rejeitado! O Zé virou a chacota
daquele frigorífico onde até os pepinos em pickles, discriminados por tantos,
se riam dele. No entanto, o Zé tinha um sorriso na cara de quem já não se
importava com o que diziam dele. Sabia bem o que tinha acontecido e para que
fim maior tinha sido escolhido naquela noite.
A autoconfiança do Zé era tão
grande que não havia bullying que o deitasse abaixo. O Zé, para além de ser o
mais gordo, sentia-se o maior daqueles pepinos todos.
O Zé é apenas um dos muitos pepinos heróis deste mundo que
já mereciam um Dia Mundial do Pepino, agora criado pelo Hendrick’s. Para
celebrar os labirintos da vida dos pepinos, em tanto semelhantes aos nossos, no
próximo dia 17 haverá a festa "A Cidade Labiríntica do Sir Pepino", na bela
cidade do Porto, terra natal do Zé. Podem ver mais informações aqui e aqui.
Não me quero gabar, mas um texto sobre pepinos que consegue
ser informativo, com uma mensagem forte sobre o bullying e ainda um bocado
javardo, dependendo da mente indecente de cada um dos leitores, é um bom texto. Acho que até merece ser partilhado.
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