31 de julho de 2017

Coisas e pessoas que vais encontrar este Verão



O verão é, para muitos, a melhor altura do ano. Férias, calor, praia, corpos morenos e seminus fazem parte desta estação. O verão está cheio de situações e clichés, algumas boas, outras nem tanto. Aqui ficam algumas.


O estrangeiro bêbedo
São seis da manhã, doem-te os pés, sentes-te velho e preparas-te para ir comer um cachorro quente e ir para casa, quando és abordado por um rapaz na casa dos vinte, de calção, chinelo e camisa branca só com dois botões apertados. Percebe-se que já vomitou, pelo menos, duas vezes e que já esteve a dormir meia hora no chão. O que é que ele quer saber a esta hora? Onde apanhar um táxi para ir para casa dormir? Não. Onde pode ir comer para curar a bebedeira? Não. Onde é o hospital mais próximo para beber um café e um saco de soro? Não. Ele quer sempre saber onde é que ainda há uma discoteca aberta a esta hora! Ele quer crazy party madafaca! Tu dizes que a esta hora já está tudo fechado e ele fica triste, dizendo que ainda está sóbrio pois só bebeu vinte cervejas, duas garrafas de jagermeister, dez shots de absinto, cinco gins e só fumou 10 ganzas e snifou 5g de coca. Sensibilizado por a noite dele ter sido tão fraca, dizes-lhe que talvez haja uma discoteca a 5km aberta mais meia hora. É o suficiente para ele ficar entusiasmado e te perguntar quanto custa um táxi para lá, ao que respondes que são 25€, já a contar com a taxa especial para turistas. Ele agradece e despedes-te sempre com a frase «Enjoy Portugal.», enquanto ele desaparece no infinito em direcção ao nascer do sol.


Crianças malcriadas
As crianças só são o melhor do mundo porque o verão só dura três meses. Tanto para os pais como para os que levam por tabela, as crianças são o pior do verão. Sim, ter filhos é muito lindo e essas coisas todas que vocês são obrigados a dizer, mas o que é certo é que com o dinheiro que gastam com elas podiam ter ido duas semanas para Bora Bora com regime de tudo incluído. Crianças a correr na praia e a levantar tempestades de areia enquanto soltam guinchos de matança do leitão têm o poder de estragar um bom dia de praia: a água está quente, há raparigas jeitosas em biquínis reduzidos, o senhor da bola de Berlim enganou-se no troco e acabámos por não pagar nada, tudo é idílico e uma espécie de dia modelo de umas férias de verão até que, do nada, duas crianças nuas passam ao teu lado a correr e te enchem a bola de Berlim de areia. Os pais pedem desculpa e olham para os filhos com aquela cara de «E se eu me enganar e te mandar ir à água antes de fazeres a digestão...?». 

Empregados que só falam inglês
A língua oficial do Algarve no verão é o inglês e por muito que isso nos faça confusão, a verdade é que são os estrangeiros que pagam as contas de quem tem negócios que vivem do turismo. No entanto, não conseguimos deixar de ficar indignados quando vamos a um bar na Rua da Oura e pedimos uma imperial e percebemos que o rapaz atrás do balcão só fala inglês. Na verdade, ele percebeu-nos e nós até sabemos inglês suficiente para dizer «Beer», mas apodera-se de nós o espírito maligno do PNR e pensamos «Que merda é esta? Isto é Portugal ou é Inglaterra? Primeiro os nossos!.», mas lá bebemos a nossa cerveja e vamos procurar inglesas promiscuas que já tenham bebido o suficiente para terem os padrões baixos e termos alguma hipótese.

Fotos cliché
Só é Verão a sério se tirares todas estas fotografias, caso contrário é como se estivesses emigrado no Pólo Sul a jogar à macaca com pinguins:
  • Pés na praia - só para o caso de alguém estar a pensar se terás ou não unhas encravadas.
  • Termómetro do carro - porque as pessoas precisam de ser avisadas quando está calor, caso contrário sairiam de casa de camisola de gola alta. Obrigado pelo serviço público.
  • Com um flamingo cor de rosa - a minha pergunta é: porquê? Porque sim? Bem me parecia.
  • Distraído a olhar para o horizonte - disfarças tão bem como quando passa uma gaja boa por ti e achas que olhas para o rabo dela sem a tua namorada perceber.
  • De costas com os braços no ar - esta foto só serve dois propósitos: mostrar o rabo porque é bom e/ou tapar a cara porque é má.
  • A foto da inveja - aquela foto das férias a dizer «Para fazer inveja aos meus colegas», mas o que tu não dizes é que és desempregado.
  • Com fatias de melancia ou ananás - sim, comes fruta tropical, mas os teus pneus de lado mostram que onde mais comes ananás é na pizza.
Pessoas a ler na praia
O verão é aquela altura em que as pessoas acham que vão retomar o hábito de leitura. Vão à FNAC e compram um livro do top que seja do Dan Brown ou do José Rodrigues dos Santos e levam-no a passear para a praia. Não digo do Chagas Freitas ou do Gustavo Santos porque a maioria das pessoas ainda tem um pingo de dignidade para ler isso apenas em privado. Fazem aquele ritual de chegar à praia e montar arraial, tiram a roupa e passam bronzeador, deitam-se e abrem o seu livro que tem o marcador ainda (e sempre) nas primeiras páginas. Lêem uma página e sacam do telemóvel para ver o Facebook e o Instagram e mandar uns áudios no WhatsApp a dizer «Miga, estou a fazer aquilo que há tempos andava para fazer e não é uma orgia que isso já fiz! É ler um livro! Até agora isto de juntar palavras com o pensamento é TOP!». Já que estão com o telemóvel na mão tiram uma fotografia ao livro para que toda a gente veja que vocês são mais do que uma cara bonita e que também se cultivam. Lêem mais uma página e entretanto são horas de ir para casa. No dia seguinte trazem a revista Maria escondida dentro do livro.

O pulseiras
Não chega tirar cinquenta selfies por hora e transmitir todos os concertos em formato de instastories? Não vá alguém ter dúvidas se foram mesmo a um festival que é melhor andar com os braços cobertos com as correspondentes pulseiras. Contam-se cinco festivais, quatro pubcrawls, uma pulseira de uma barraca de artesanato feito à mão que que toda a gente tem igual, mais a pulseira das urgências para fazer um aborto preventivo depois de uma festa da espuma. Sabem aquelas pulseiras que tinham de se usar e depois atirar ao mar e pedir desejos? Eram menos ridículas do que usar as pulseiras de festivais como adereços de moda. É para quê? Para parecerem pessoas mais interessantes? Porque não curtem relógios e é a única forma de ter 500€ no pulso? Para quebrar o gelo?

- Estou a ver que também foste à Expofacic...
- Fui! Temos em tanto em comum!
- Nem por isso, é que eu tirei a pulseira no dia a seguir quanto tomei banho porque sou uma pessoa com dignidade.
- Ahah LOL, és tão engraçado. Gostaste dos D.A.M.A.?
- Népia, fui mesmo pela música. 
- Que totó! D.A.M.A. é uma banda, não sabias?!
- Olha, tens umas mamas épicas, mas não vai dar.


Pessoas a beber cocktails
Caipirinha e Gin é coisa do passado. Agora a moda é beber um cocktail, pelado ou não. Achas que três euros por um sumo de laranja natural é um roubo, mas pagar 10€ por um bocado de Joy de maracujá com vodka do LIDL e uma folha de hortelã já é na boa, não é? Lá porque a bebida tem um nome que te faz lembrar algo que as meninas do Sexo e a Cidade bebiam e leva ingredientes que tu não conheces, não quer dizer que valha esse dinheiro todo. Ah, e o gajo que faz cocktails que agora não se chama barman, mas sim cocktail chef? Epá, és o DJ das bebidas e só estás a remisturar o que outros já criaram. Toma juízo, a sangria até já se vende em pacote.

O estrangeiro lagosta
Uma personagem mítica de qualquer zona costeira portuguesa em tempo de verão. O estrangeiro lagosta faz mais pela luta contra o cancro do que todas as campanhas de sensibilização já que é quando o vemos passar que nos lembramos de colocar protector. Só de o vermos sentimos a dor e imaginamos a noite terrível que ele vai passar quando tiver de roçar aquelas costas nos lençóis ásperos do hotel. O estrangeiro lagosta oscila entre o mal passado e o gangrena onde todo ele já é sangue pisado. Quando se nota mais que estamos na presença de um lagostim e não de um índio cherokee é quando vemos aquele que tem a marca da tshirt, exibindo um torso branco pálido de cadáver morto na sibéria, com uns braços, pescoço e pernas cor de tijolo.


Bancas que vendem coisas
Em qualquer cidade algarvia turística vês bancas que vendem cenas, mas as que mais me intrigam são as que ainda fazem dinheiro com tatuagens temporárias. Quando é que as tatuagens do Bolicao - que eram oferecidas - se tornaram num negócio sazonal? Quem é o cliente alvo destas bancas que fazem essencialmente tribais manhosas? Quem é que decide que o verão é a melhor altura para ser mitra? «Durante o ano vou andar de aspecto decente, mas chega o verão e vou meter alta tramp stamp temporária para perceberem que não ando nisto para casar.» Os gajos igual: «Vou aproveitar estas duas semanas para encarnar a personagem de labrego a ver se concretizo o meu fetiche de comer uma gaja das barracas.». As outras bancas são aquelas pelas quais és arrastado pela tua namorada, enquanto ela experimenta quinhentos colares de pedras verdes, azuis e vermelhas e te vai perguntando de qual gostas mais sem perceber que para ti são todos iguais. Compra dois ou três e quando estão a ir para casa diz sempre «Foram mesmo baratos... devia ter comprado mais dois ou três.». Tu compraste uns óculos escuros Rabo Ban por 5€ que vais partir ou perder nas próximas horas.

E é isto. Bem sei que muita coisa ficou em falta, mas conto convosco para completarem o texto nos comentários. Bom Agosto a todos e, se for caso disso, boas férias.


***

PS: Depois do verão vou estrear o meu espectáculo a solo de stand up comedy que vai passar por várias cidades. Se quiserem receber uma notificação por email quando as datas foram reveladas e os bilhetes estiverem à venda, deixem os vossos contactos neste link. Se não quiserem, partilhem este texto no botão em baixo ficamos amigos na mesma.




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