25 de junho de 2013

A 2ª infância



Para começar deixem-me reiterar uma coisa: Aquelas pessoas que têm "lares" desumanos onde tratam os velhos forma inexplicável, como já se viu em muitas reportagens, deviam ser mortos. E não é uma hipérbole, acho mesmo que se devia agarrar desde o dono, à auxiliar de limpeza e mete-los em praça pública onde se largariam centenas de velhos e velhas em speeds, mas estes só podiam usar a boca para os matar (sem dentadura, só para durar mais tempo). Um género de Apocalipse Zombie Sénior. Já estou a imaginar velhos de andarilhos a dar grandes passadas, quais chitas em modo de ataque, ou até mesmo alguns que a meio se esqueciam do que iam fazer. Haveria sempre um espectador bêbedo que se punha a espicaçar os velhos e que de quando em vez levaria uma bengalada para gáudio dos restantes.

Mas deixemos esta imagem utópica e poética e concentremo-nos no que interessa. Muito se diz e se escreve sobre esta faixa etária que irá no futuro dominar o mundo. O "pré-conceito" de respeitar as pessoas mais velhas só por serem mais velhas a mim parece-me um bocado despropositado. Eu respeito as pessoas se eles merecerem, não por serem mais velhas que eu ou por estarem a poucos anos do caixão. "Ah porque as pessoas mais velhas são muito sábias". Algumas até o são, mas a maior parte vive na companhia do primo alemão de seu nome Alzheimer que parecendo que não dá cabo da sapiência. E às vezes vive lá em casa a prima espanhola em 2º grau Esclerose que também faz mossa. 

Eu tenho avós e respeito-os, não por serem da minha família nem por serem velhos, mas sim porque merecem, pois foram e são boas pessoas. Agora se o Hitler ainda fosse vivo nos seus 120 anos de sabedoria e vivência será que diziam na sala de espera das urgências "Cede lá o lugar ao senhor que é velhinho e está doente"? Não me parece...

Existem inúmeras atitudes que me irritam (e penso que a toda a gente) nos velhos. ("diz antes idosos ou pessoas de idade que é menos ofensivo" aconselha aqui o anjinho do meu ombro direito... é tão hipócrita este gajo).

Atravessam a estrada onde e como bem lhes apetece sem olhar para lado nenhum, carregando sacos ou mesmo de muletas, com a maior calma do mundo, não dando valor nenhum ao pouco tempo que lhes resta, como se o facto de terem vivido 3/4 de século fosse razão suficiente para ganharem um estatuto de intocáveis na estrada, quase numa ilusão de invencibilidade. Aqui é sempre giro buzinar e ver a sua reacção, que varia desde a velhinha mais querida, que se torna num bicho possuído cuspidor de vernáculo, como se a razão fosse sua amiga de infância, ou então a completa ausência de reacção, talvez por nem estarem para ter trabalho em responder ou pedir desculpa, ou apenas por terem o aparelho auditivo desligado.

Cusquice... Algo presente em todas as mulheres desde a nascença (ou mesmo da concepção) e que, ao contrário de todas as outras "faculdades", vai aumentando ao longo da idade como se de um poder incontrolável se tratasse. Toda a gente conhece a velha sentada a janela, toda a gente tem ou teve uma no prédio. A velha que vai olhar pelo óculo quando algum vizinho abre a porta. A velha ou grupo delas, normalmente sentadas num café, que suspendem a sua conversa e por vezes até a respiração para ouvir o que se diz na mesa do lado. Já vi uma a ficar roxa tal era o interesse na conversa vizinha. Temos também a velha da sala de espera das urgências que se queixa de dores que apelida carinhosamente de pontadas, mas que está mais interessada em ver do que as outras pessoas padecem, do que propriamente em ser tratada e que fica ofendida se as tuas pontadas forem maiores que as dela.

Voltando à estrada. Mais que um perigo a atravessá-las, são um perigo ao volante. E não falo de entrar em sentido contrário na autoestrada, que isso é de velho rijo, puxa pela adrenalina e é uma história para contar aos netos (se se lembrar). Os que me irritam mais são aqueles que estão numa faixa de vão paulatinamente descaindo para outra. Nem preciso de ver o condutor para saber que tem mais de 70 anos. E o mais frustrante é que nem dá para passar por eles e chamar-lhes nomes. Dar dá, mas é falar para o boneco, já que não ouvem bem, muito menos com os vidros fechados. Já viram algum idoso, mas idoso à séria, não é cá 70 e poucos e ainda vivaço, a andar de carro com a janela aberta? Nunca. Sempre fechada, que aquilo já não sente frio nem calor.

A propósito de velhos, há uns tempos, uma senhora de alguma idade (muita vá), desconfiou de mim quando eu estava atrás dela no multibanco. Talvez por não ter a graduação certa nos óculos achou que eu estava muito perto e então tapou os dígitos quando marcou o código (como os putos ranhosos fazem na primária para o colega do lado não copiar). Até aqui tudo bem. O engraçado foi que depois me pediu ajuda para fazer uns pagamentos e umas transacções. Eu ajudei. No fim, tirou o cartão e voltou a por, olhou para trás e voltou a tapar os dígitos. Ora aqui está o que eu chamo uma grande parva e mal agradecida. Só por isso devia-a ter burlado e dito que podia transferir tudo para o meu NIB que é o que se usa para esses pagamentos. Mas não fiz. Não sei o meu NIB de cor.

Concluindo, acho que se devem tratar os velhos como se tratam todas as outras pessoas. Aqui depende de cada um de nós, há quem assuma por defeito que todos somos bons até provar o contrário, há quem assuma que somos todos parvos que assim não se desiludem tanto. Eu cá tendo para a última hipótese.

P.S. Tenho uma história muito gira com velhos. Muito gira mesmo. Mete tentativa de esfaqueamento e cocó. Mas fica para outro dia.




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