7 de outubro de 2014

O dia em que agredi uma mulher



Esta história remonta ao ano de 2004, no final de um jogo do Euro em que Portugal bateu a Holanda por 2-0, com um grande golo do Topo Gigio, ou Maniche para os amigos. Já se situaram no tempo? Boa. Agora vamos situar-nos no espaço que era o Auditório Keil do Amaral em Monsanto, esse belo parque outrora conhecido pela prostituição, coisa que o Santana Lopes conseguiu acabar. Tirou as meninas de lá e há quem diga que as levou para sua casa. Bem vamos então à história propriamente dita. Portugal ganhou, como já disse, estava toda a gente em festa, alegre e contente, já que ainda não se fazia sentir a crise, caso contrário já se sabe que ninguém iria ligar ao futebol... Eu estava com a minha namorada da altura e uma amiga em comum. Estávamos já a ir para o parque de estacionamento para vir embora e nisto, no meio da confusão, essa minha amiga esbarra com outra rapariga. Normal numa situação daquelas, não foi culpa de ninguém. Nisto uma das amigas que estava com essa rapariga diz:

- Tão? Nem pedes desculpa à minha sócia e quê? - num tom agressivo polvilhado com uma pronúncia claramente de barraquês.
- ... - disse a minha amiga, rindo-se e virando costas, não dando importância.


Elas vêm as três, uma preta, uma cigana e uma branca, num grupo multicultural demonstrando que o atraso mental é uma doença transversal a todas as raças e etnias

Eu vendo que a coisa estava a escalar de tom, decidi intervir e disse, na minha ingenuidade dos 20 anos, para se acalmarem, que estávamos ali a festejar e que tinha sido um acidente e ninguém tinha culpa. Note-se que foi um toque na mala, não foi um encontrão, um empurrão, nada disso, apenas um toque ao de leve. Ao ouvirem as minhas palavras sábias e ponderadas uma delas diz:

- Nah... tás-te a meter em fight de damas?! Temos ali os nossos homens para te darem-te porrada! - sim ela disse "te darem-te". 

"Fight de damas" é talvez das melhores expressões que já me disseram. Aposto que foi apenas porque confundiram a personagem da dama com a do vagabundo. Faz-me lembrar um jogo de xadrez para computador que as peças andavam à bulha quando se comiam, mas neste caso era jogo de damas, porque claramente o xadrez seria muito complexo para elas. Eu calei-me, olhei à volta, sou parvo mas não sou estúpido e uma facada no lombo não era coisa que me estivesse a apetecer levar. Optei por continuar a andar, sabendo que mais cedo ou mais tarde chegaríamos ao carro. Elas vêm atrás de nós e entre ofensas uma vira-se para minha ex-namorada e diz:

- Dá-me esse cachecol! - sem se faz favor nem nada.
- É meu! - digo eu.
- Ok... prontus. - responde ela concluindo a tentativa de assalto mais falhada de sempre.

Aceleramos o passo, eu tento mais uma vez acalmar as coisas e mais uma vez sou alertado para o facto de elas estarem com homens e que me esbofeteavam se eu tentasse separar aquela medição, não de pilas, mas de estrogénio e progesterona.

- Vamos ali para o meio do mato num mano a mano! - diz uma à minha amiga.
- Não vou para o teu habitat natural... - responde a minha amiga.

Uma resposta épica, se bem que um tanto ou quanto racista, visto que tinha sido a preta que tinha dito isso. No entanto ela não percebeu o racismo inerente a essa resposta... Não por ser preta, mas por ser burra, algo patente na forma em como estava a agir desde o início. Ela e as outras. Nisto a cigana começa a virar as atenções para a minha ex-namorada, a encostar-lhe o peito, coisa que podia ser sexy se fosse outra situação. Ali era só nojento. Dá-lhe um pequeno empurrão à Quaresma e dá-se o clique na minha cabeça. 

O que se passou a seguir parece saído de um filme do qual só tenho flashes

Agarro na cigana pelos braços e grito em plenos pulmões "Pára com essa merda!!!" e qual Hulk enraivecido projecto-a 5 metros (um metro vá) contra umas grades que lá estavam. Daquelas moles, infelizmente. Vejo o pânico na cara dela, de quem pensou que eu nunca iria bater numa mulher e nisto sinto um gajo a agarrar-se à minha cintura numa placagem de quem me queria derrubar. Eu encaixo-lho o pescoço debaixo do meu braço, faço-lhe uma chave de ombro que tinha aprendido nos filmes do Van Damme e começo a olhar à volta a ver onde vinha o resto do bando para me espancar. Era certo que ia levar forte e feio no focinho, mas pelo menos aquele já estava ali a ser estrangulado. Oiço uma voz abafada "Aí o meu braço!" que me faz pensar que género de delinquente seria aquele que se começa a queixar feito mariquinhas. As pessoas à minha volta começam a dizer "Solta-o, que estás a fazer? Solta o rapaz!", ao que eu digo num tom ameaçador toldado pela fúria "Só o largo quando ele parar de se mexer!!!". Diz quem me viu, que tinha os olhos raiados de sangue e que parecia possuído pelo espírito de um qualquer gladiador Mongol, prestes a transformar-se em super guerreiro. Continuo a olhar em volta qual Steven Seagal da Buraca, mas não avisto o resto do gangue. A minha amiga e ex-namorada começam também a dizer para eu soltar o rapaz e na minha cabeça instala-se uma confusão do caraças. Largo-o a medo, afastando-o, ele avança minha direcção meio cambaleante e eu puxo um braço atrás pronto para lhe afiambrar um selo lendário no meio da face. As pessoas à volta não me deixam, agarrando-me no braço enquanto a namorada do rapaz a chorar na minha frente soluça um "Tu és maluco?!?! O que estás a fazer?!?!"

O meu cérebro voltou a funcionar, venho a mim e deixo de ser verde. Então não é que o que tinha acontecido era que o rapaz tinha tropeçado quando eu empurrei a cigana e veio contra mim desequilibrado e teve que me agarrar para não cair? Há pessoal com azar. Ele tinha visto e ouvido a conversa com as três sarrabecas e percebeu o porquê de eu me ter passado e de ter pensado que ele me estava a tentar agredir. Até me pediu desculpa e tudo e, obviamente eu pedi-lhe a ele. Dêmos um abraço musicado pelo ainda choro da namorada dele, que claramente estava a sentir-se culpada por se estar a sentir extremamente atraída pela minha sensualidade saída das cavernas. Se ele fosse um gajo agressivo, ou não tivesse visto o que tinha acontecido antes, tínhamos andado ali à batatada à séria sem razão e sem nenhum de nós no fim saber porquê.

Das três mosquiteiras nem sinal. Sim, mosquiteiras e não mosqueteiras, porque o cocó atrai moscas

Tinham desaparecido sem deixar rasto, a não ser o coração aos pulos que eu ainda tinha. Metemo-nos no carro a passo apressado e já estávamos a arrancar quando as vimos a passar com um grupo de vários gajos, talvez uns oito, no qual estava um ex-colega meu que já tinha estado preso uns anos. Gente impecável, portanto. Não nos viram e nós partimos em direcção ao pôr do sol com uma história gira para contar. Felizmente não foi para contar à polícia, deitado numa cama de hospital.

Moral da história: Sou um gajo pela igualdade, tanto agrido homens como mulheres, ambos em defesa pessoal. Só tenho pena dela ser mulher, porque se fosse homem, em vez de um empurrão tinha levado uma joelhada nos tomates.




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