Esta é a história do pior primeiro encontro que já tive. Vou provavelmente entrar em alguns detalhes pessoais, mas é o preço de estou disposto a pagar para vos divertir. Se a rapariga da história por acaso ler isto e ficar ofendida, temos pena.
Esta noite remonta há cerca de 10 anos, era eu um petiz e inocente criança de 21, na flor e pujança do início da vida adulta. Não havia Facebook, havia o Hi5 e o MSN que foi onde comecei a falar com uma rapariga que tinha conhecido através de uns amigos. Tínhamo-nos visto uma vez, eu adicionei-a feito garanhão e começámos a falar com alguma regularidade. Ela era gira e jeitosa e não dava erros daqueles que me tiram a vontade, como "à muito tempo", "janta-mos onde?" e "já rezervei menza para almossar no restauran". Por isso tinha tudo para correr bem e lá combinámos um encontro, que para maximizar as probabilidades de haver festa rija, foi uma ida à festa do caloiro de Lisboa ali no Parque das Nações. A sugestão foi dela, o que me agradou por ser uma mulher com iniciativa e não estar à espera que seja o homem a decidir tudo e porque nada melhor que um antro de gente bêbeda, cerveja barata e música de merda para um encontro correr de feição.
Fui ter a casa da donzela de carro, no Citroen Saxo que era da minha mãe, mas não era daqueles Cup todos artilhados à peixeira, que somos da Buraca mas temos bom gosto. Ela desce, dois beijinhos na bochecha, eu deixo o carro lá e seguimos de táxi. Tomei esta opção por três razões: era difícil estacionar junto à festa e a casa dela era perto; eu queria beber e sou um condutor responsável; assim ia haver aquele convite do "Se calhar é melhor não pegares no carro assim, sobe para beber um chá ou até podes dormir aqui". Sou bué ninja. Depois da conversa de circunstância no táxi, lá chegamos à festa onde estava o maranhal de gente como era de esperar, o barulho e as filas nas barracas da cerveja do costume. Bebemos uma, duas e três cervejas, ali no espaço de meia hora, só para refrescar a goela. "Vamos beber shots!", diz ela como quem quer perder o controlo e acabar a noite à bulha toda nua. Pedimos dois, dos fortes claro, que com sumo é para maricas e eu desde novo que sou muito macho e apesar de ser daqueles que ardia eu mantive a postura, de lágrimas nos olhos mas sem fazer cara feia, para ela ficar logo maluca com a minha masculinidade. Entre um e outro shot, mais conversa de circunstância e, já não sei porquê, pergunto-lhe:
- Então e o que jantaste hoje?
- Nada.
- Nada? Então porquê?
- Mentira, comi uma maça.
- Então... mas não comeste mais porquê?
- É para o álcool bater mais.
Desde logo me apercebi que estava perante uma atleta olímpica da bebedeira. Uma estratega do alcoolismo quase tão profissional quanto o Toni.
Fomos conversando, de forma cada vez mais fluída, tal era a lubrificação social que o álcool nos ia conferindo. A conversa até estava interessante mas de repente ela dirige-se a um grupo de gajos com claro mau aspecto de quem tinha vindo de um bairro às cores ali perto. Eles estavam a fumar ganza e ela pediu-lhes para dar uns bafos. Eles, cavalheiros como claramente eram, não rejeitaram o pedido de uma senhora com tanta classe. Ela perguntou-me se eu queria mas eu recusei amavelmente, pese embora na altura ainda fumasse disso, não me apetecia misturar com o álcool nem com as doenças que eles poderiam ter. Não achei grande piada à atitude, mas como ela tinha um bom par de seios fechei os olhos a mais este claro sinal de alarme. Entre mais umas cervejas e shots, fomos falando cada vez mais alegremente, eu a sentir-me apenas um pouco tocado e ela também não dando mostras que o álcool e a ganza lhe tivessem feito muita mossa. Nisto, aparece um gajo que a conhecia, cumprimentam-se e passados 30 segundos ela vomita como que por geração espontânea. Meus amigos, não foi um vómito qualquer, foi um vómito de fazer corar de inveja a menina do exorcista! Um jacto de bocadinhos de maça que vai direitinho para os sapatinhos de vela do colega dela. Confesso que tive uma dicotomia de sentimentos, porque apesar de não apreciar uma mulher a regurgitar, aprecio ainda menos sapatos de vela.
Não comer nada ao jantar tivera o efeito por ela pretendido, tinha-lhe tudo batido forte e de repente. Ela começa a perder a força nas pernas e a ameaçar que vai com o queixo ao lancil do passeio. Eu seguro-a e pergunto-lhe se está tudo bem, só para ter mesmo a certeza que não estava.
Ela responde "Zbramans ion cklofin" e eu fiquei assustado por pensar que ela era daquelas nerds que sabem falar Klingon, uma língua qualquer do Star Trek.
Felizmente era só uma bebedeira de todo o tamanho. Agarrei nela ao colo e dei graças a Deus por ela não ter 80kg. Parecendo que não, não sair com gordas tem as suas vantagens e lá consegui levá-la até a um banco para ela se sentar e recuperar. Ela começa a dar sinais de vida, olha para mim como quem não está com o auto focus a funcionar e lança-se numa tentativa de beijo, com escalope de fora e tudo. Eu sou apanhado de surpresa e com o bafo e sabor da bílis dela, vomito-lhe na boca. Mentira, esta parte é mentira, mas ela tenta realmente beijar-me só que eu desvio-me e ela volta a deixar cair a cabeça, num desmaio de desilusão ébria. Nesta altura e para minha salvação, aparecem dois bombeiros de serviço a tentar perceber o que se passava. Devem ter logo pensado que era mais um caso de um gajo que tentou embebedar uma rapariga para a levar para a cama, que acabou por correr mal. Tentaram acordá-la mas nada e então decidiram agarrar nela e levá-la até ao posto médico, que era uns 200 metros à frente. Chegamos ao posto médico, deitam-na numa cama e começam a dar-lhe café pela garganta abaixo, como se faz aos patos para engordarem e se lhes tirar o fígado para o foie gras. Coincidência ou não, o cheiro do vomitado fazia-me lembrar iscas em vinha de d'alhos, receita que eu detesto.
O pessoal do INEM lá concluiu que ela não iria entrar em coma e que só restava esperar que ela melhorasse. Vomitou mais umas vezes, desta vez de uma forma mais delicada. Sabem aquelas pessoas que põem a mão à frente e deixam cair o caroço da azeitona para o prato? Foi desse género, não foi bem vomitar, foi mais um bolsar eloquente. Passou-se uma hora e como já estava a ficar tarde e para nós já não havia mais festa, os bombeiros propõem levar-nos a casa, para facilitar todo o transporte da moribunda. Metem-nos numa carrinha, tudo numa alegre galhofa menos ela que ia saindo e entrando do seu estado catatônico. Eu vou indicando o caminho mas de cada vez que eu dizia esquerda, o bombeiro virava para a direita e vice versa. Confessou ser disléxico e pediu-me para lhe tocar num ombro direito quando dissesse direita e no esquerdo quando dissesse esquerda, que ele assim conseguia orientar-se. Eu lá fiz de GPS para surdos e conseguimos chegar a casa dela.
Ela lá me conseguiu dizer qual era o andar onde morava, eu tirei-lhe as chaves da mala e levei-a a casa, já ela conseguia andar pelo próprio pé mas só apoiada e de cabeça baixa. Ela vivia com uma amiga que ainda estava acordada na sala e ao ver todo aquele espectáculo logo se levantou preocupada e se prontificou para ajudar. Eu já tinha feito o meu papel e fazer sexo com cadáveres, mesmo que ainda quentes, não é a minha cena, pelo que me despedi e como já estava mais que sóbrio nessa altura, peguei no carro e fui à minha vida.
No dia seguinte ela ligou-me a pedir desculpas por toda a situação. Eu tranquilizei-a a dizer que acontece aos melhores, que não era razão para se envergonhar e que o importante é que ela estava bem. Ela agradeceu tudo o que fiz e disse "Ainda me tiraste a roupa toda vomitada e me vestiste o pijama, és um amor." Isso tinha sido a amiga dela mas eu nem a desmenti, mas pareceu-me estranho que ela me achasse um amor e não um tarado por lhe ter tirado a roupa com ela quase inconsciente. Para terminar disse que me queria compensar e então convidou-me para ir lá a casa jantar pizza. Pareceu-me claramente uma metáfora para sexo, mas pelo sim pelo não, como estava a fazer dieta não fui.
PS: Quando eu digo que este foi o pior encontro de sempre, estou a ser egocêntrico, haverá quem já tenha tido piores, como por exemplo:
- Pessoas que acabaram assassinadas
- Pessoas que apanharam SIDA
- Pessoas que acabaram por casar
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