Então, parece que a democracia ditou a vitória do "Não" no referendo de ontem na Grécia. "O que muda?", perguntam todos vós, muito pertinentemente. Não faço a mais pequena ideia. Não percebo nada de economia, de mercados e pouco de política. O que sei é que, pela primeira vez, se fez democracia a sério. É bom? Não sei, vamos ver. Foi dada ao povo grego a opção de escolher o seu futuro, ou parte dele, já a nós, nunca ninguém nos perguntou nada. Eu, pese embora o meu conhecimento limitado de economia, também era gajo para votar "Não". Votaria, principalmente, porque já se percebeu que o caminho da austeridade é um beco sem saída, a não ser para baixo, pelo abismo, em queda livre. O "Não" é um pirete nas nalgas da senhora Merkel, do FMI e de todo o Eurogrupo. É um "Basta!" do povo grego, mesmo estando conscientes (espero) de que as coisas talvez possam ficar piores, para já.
É um "πηγαίνει στην κόλαση" a todos os que quiseram lucrar com a miséria de um povo.
Não sei qual vai ser o resultado, nem digo que não se pague, se o dinheiro fosse meu (e é um bocadinho), não gostava que me ficassem a dever. A diferença é que eu não telefono às pessoas a impingir créditos, com taxas de juro altas, em que basta fazer as contas para perceber que elas não vão conseguir pagar, a não ser que passem fome e se prostituam. Não empresto dinheiro a um amigo, aproveitando-me do seu momento frágil, para depois lhe ficar com a casa e uma noite com a namorada. As pessoas esquecem-se que a União Europeia foi criada para manter a paz e não para que houvesse países ricos e países pobres, em que os primeiros emprestam dinheiro aos segundos, mas só se virem que é uma boa oportunidade para enriquecer com a bonita invenção das taxas de juro. A Europa, neste momento, é uma espécie de Shark Tank, em que a Alemanha é o Kevin O'Leary, que só se importa com o dinheiro e nada mais. Sim, a Grécia gastou mais do que o que devia, sim, andou a esbanjar e gerir danosamente as finanças públicas, durante muitos anos. Tudo isso é capaz de ser verdade, mas e então? Se vamos todos pagar pelos erros do passado, então se calhar vale a pena lembrar o que a Alemanha fez, e o que lhe foi perdoado.
Nem é por um bully ser filho de pais ricos e bom aluno que deixa de ser bully.
Em relação às contas do Cavaco, 19 -1 = 18, não tenho muito a dizer. Se a Grécia sair do euro, e nós por arrasto, não sei se seria bom ou se seria mau. Para já talvez fosse mau, principalmente para quem gosta de passar férias no estrangeiro, ia haver inflação e iríamos, possivelmente, perder poder de compra. No entanto, as exportações iam aumentar e tenho a certeza que nos iríamos adaptar e, quem sabe, daqui a uns vinte anos estar muito melhor do que indo por este caminho de bom aluno da Europa que o senhor Passos decidiu ser bom para todos. Lembrem-se que, ao contrário da Grécia, foi mesmo o Passos a decidir, ninguém nos perguntou nada. Eu por mim, venha o escudo que eu estou preparado.
É capaz de ser mais dinheiro do que aquele que vou ter direito a receber na reforma. Receber reforma? Tenho piadas boas, eu. Voltando aos referendos, eu gosto deles, apesar de achar que as maiorias nem sempre estão certas, especialmente quando a educação é fraca. Mas, se é para haver democracia, acho que se devia fazer mais uso deles, tal como na Suíça, por exemplo. Pode dar merda, é certo, mas também dá menos direito às pessoas de se queixarem que a culpa é dos outros. A Grécia decidiu mudar, arriscar e ver no que dá. De repente, surgem de todos os lados, vozes preocupadas com o futuro do povo grego e com o sofrimento que este resultado lhes pode vir a causar. Sabiam que a taxa de suicídio em gregos adultos aumentou em 50%, com dois suicídios por dia, desde o início da austeridade? É bom ver que agora é que se preocupam.
Vou começar a usar referendos nas minhas relações pessoais. Quando a minha namorada me perguntar "Achas que estas calças me fazem mais gorda?", faço o apelo ao voto do povo para decidir. Se a resposta for "Não", eu saio com mais poder, reforçando o facto de eu ser honesto sempre que lhe dizia que não. Se a resposta for "Sim", posso sempre escudar-me e dizer que a minha opinião não é essa, mas que o povo é soberano e que, por isso, mais vale ela ir trocar de calças e comer menos bolas de berlim antes de ir para a cama.
Se fosse eu a mandar e caso o poder não me tivesse subido à cabeça e tornado num déspota, uma das minhas primeiras medidas seria fazer um referendo com várias perguntas, para poupar tempo:
- É a favor de que se mantenha a tradição ridícula das touradas?
- Devem as pessoas ser obrigadas a fazer testes psicológicos para tirar uma licença antes de poderem ter filhos?
- É a favor de prisão perpétua para adultos que comem criancinhas? No caso de serem padres, a pena será a morte.
- Concorda com a isenção de impostos na Igreja Católica, em especial com o facto dos padres não passarem factura?
- Deve, uma pessoa que abandona um cão, ou queima um gato, ser submetida à uma pena que consiste em ser sodomizada por um cavalo selvagem com elefantíase peniana?
Apesar do pouco investimento na educação e da falta de bom senso que se vê nas urnas, de quatro em quatro anos (e de cinco em cinco, também), acredito que os portugueses iriam dar as respostas correctas a todas as perguntas. Resta saber se, agora, depois da Grécia, vamos continuar a deixar que nos enrabem sem nos perguntar se queremos vaselina, ou se vamos aprender, reivindicar e exigir que nos deixem escolher, ao menos, a posição mais confortável para levar no cu.
PS: πηγαίνει στην κόλαση quer dizer "Vai para o caralho", segundo o Google.
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