Como sabem, não gosto muito de escrever sobre política. Primeiro porque não consigo ter mais piada do que o circo que eles montam e depois porque acabo sempre com náuseas. Mas bom, dado que as eleições estão aí à porta vamos a isto.
As sondagens multiplicam-se diariamente e, contra tudo o que era de esperar inicialmente, a coligação e actual Governo, «Portugal à Frente», está na liderança. Como sempre, as sondagens têm alguma margem de erro, devido às amostras pequenas, mas, principalmente, devido às pessoas que mudam de opinião no dia de ir às urnas, trocando o seu voto num partido mais pequeno, com o qual se identificam mais, pelo voto em PS ou PSD. É o chamado voto útil e, a meu ver, é uma palermice. Porquê? Porque é ter o espírito do mal menor, tão tipicamente português. O voto útil é o "vai-se andando" da política. É o "antes na mesma do que pior" das eleições. Andamos há 40 anos a alternar entre os dois maiores partidos e as coisas nunca saem da cepa torta.
Os eleitores portugueses sofrem de amnésia selectiva de 4 em 4 anos e sofrem de bissexualidade crónica com dois parceiros abusadores em que nós somos sempre os passivos da relação.
Um deles, no seu passado recente tem um governante em prisão preventiva, outrora muito amigo do que agora se propõe a comandar o país. O outro, cumpriu pouco (ou nada) do que prometeu e ainda trouxe para a cama um terceiro elemento em quem ninguém votou para governar fosse o que fosse. É uma espécie de ménage à trois forçada, onde eles é que se divertem. Nós ficamos só a ver e pagamos o quarto do motel e o champanhe no fim, sem termos tido direito a molhar os lábios. Com este comportamento da grande maioria do eleitorado, era de esperar que Portugal tivesse a mente mais aberta noutros assuntos, como nas questões da homossexualidade. Era de esperar que o povo português estivesse bastante confortável no tocante a ser enrabado.
Voltando ao voto útil, ou táctico, como alguns lhes chamam. O voto útil é ir a uma discoteca e ver duas gajas gémeas a dançar, bêbedas e que sabemos logo que vão ser presas fáceis de levar para a cama. Elas dançam, rebolam, fazem twerk e prometem-nos uns copos. Estão ali a dar tudo porque sabem que são mais feias e descaídas do que os testículos do meu avô. Depois há outras raparigas à volta, mais discretas, com menos ar de badalhocas mas que temos receio que nos dêem uma nega. O voto útil é nem sequer tentar engatar uma dessas com melhor aspecto e preferir voltar a comer uma das outras, pela décima vez, apesar de já sabermos que elas têm uma higiene precária e que usam os dentes na altura do sexo oral. Se preferem mesmo as outras ranhosas, força nisso, há gostos para tudo e não se discutem. Mas se saíram de casa a pensar «Hoje estou confiançudo e vou sacar uma das outras gajas boas», então não cheguem à discoteca e dêem uma de cobardolas e xoninhas. Arrisquem em quem preferem porque mais vale ficar em casa tocar a tocar um solo de oboé do que acordar ao lado de alguém que nos dá aquela sensação de vergonha e arrependimento de termos nascido.
Da mesma forma, não digo para não votarem PS ou PSD! Se acham que são os mais honestos e com maior capacidade de tirar Portugal do fosso, força nisso. Se é mesmo essa a vossa convicção, então metam lá a cruzinha mais uma vez a ver se é desta que vos sai o Euromilhões. Eu falo dos outros, dos que dizem que eles não valem nada, que são uns ladrões, que não cumprem as promessas, mas que lhes dão o seu voto na mesma porque preferem o mal menor em detrimento do outro partido, porque é de esquerda ou de direita. O voto útil em Portugal não é mais do que um voto anti-PS ou anti-PSD! Não é um voto num melhor futuro de Portugal. A democracia não pode ser feita por ódios de estimação e por conformismo. Isso não é democracia, isso é ditadura da falta de colhões para arriscar. O pior é que eles sabem disso. Sabem que somos uns conas e que os vamos eleger novamente. Se eles achassem que havia a possibilidade de a coisa virar do avesso, a ver se não os víamos a trabalhar mais. PS e PSD fizeram uma campanha miserável, sempre mais preocupados em culparem-se mutuamente da vinda da Troika do que a informar as pessoas das medidas que vão melhorar a vida de todos.
Chegaram a saber de quem foi a culpa da vinda da Troika? Eu sei. Foi de todos os Governos PS e PSD que já tivemos.
Todos. Sem excepção. E da fraca oposição também, atenção! E quando a culpa é de todos, já dizia o José Mário Branco, não é de ninguém. Todos foram comendo as carcaças e varrendo as migalhas para debaixo do tapete. São todos culpados mas mais do que eles são quem os votou para Governar. Serem enganados uma vez, duas, ainda vá que não vá. Agora, deixarem-se enganar em todas as eleições? Foda-se. Só posso partir do princípio que a austeridade não lhes afectou a vida e, sendo assim, quem voltar a repetir o voto não tem legitimidade para se queixar de nada.
Nas campanhas prometem tudo e mentem com quantos dentes têm na boca, enquanto se passeiam entre beijinhos e abraços a pessoas que sorriem sem dinheiro para arranjar os seus dentes. Prometem em vão para ganhar votos. Contradizem-se de mês a mês. Tomam medidas populistas em vésperas de eleições. São todos filhos da mesma mãe. São todos filhos da pu... lítica que é a pior mãe que se pode ter. É a mãe que não ensina nada, que não forma nem repreende, que lhes deixa fazer tudo impunemente e que não lhes mostra o que custa a vida porque para eles a vida custa pouco. A nossa vida custa-lhes ainda menos que não ande bem. A política para eles é uma carreira, não é uma missão. Com tudo isto, a juntar a todos os casos e nuvens de podridão que lhes pairam sobre a cabeça, ainda a maioria vota neles? Ainda há quem ache que o voto útil vai ajudar a que as coisas não fiquem piores ao dar-lhes mais uma oportunidade? Foda-se. Se votassem noutro podia ficar pior? Claro que podia. Mas se calhar está na altura de mudar, de tentar outro caminho quando vemos que a 2ª Circular está entupida. Às vezes é pior, é um facto, mas só há uma maneira de ter a certeza. Pode parecer que estou a fazer campanha por alguém e a dizer para votarem num partido pequeno, mas não. Estou só a dizer para votarem naqueles que acham melhores, independentemente da sua dimensão. Se vão às urnas para darem um voto útil mais vale ficarem em casa! Esse vosso voto não vai ter utilidade para ninguém, a não ser para os mesmos continuarem a mamar com os dentes nas nossas tetinhas já secas.
Dessem-vos a escolher dois pratos todos os dias ao jantar: um podiam ver que era cocó e o outro estava tapado sem vos dizerem o que lá estava. Só vos metiam medo e diziam «Este pode ser cocó com molho de cocó.». Iam contentar-se em comer cocó todos os dias sem nunca escolher o outro e arriscar? Digo-vos que cocó com molho de cocó não deve ser assim tão pior. Por isso, se já provaram o cocó e não gostaram, vão pelo outro. Se for cocó com molho de cocó e vos souber ainda pior, para a próxima escolhem o outro novamente. Até vos vai saber a pato e saem sempre a ganhar nesta equação. A não ser que gostem do cocó que comem todos os dias, isso é outra história.
O voto útil não é útil para nada e sabem porquê? Porque o passado já nos mostrou que entre PS e PSD não há qualquer diferença.
São exactamente o mesmo. A retórica e a demagogia muda, mas o resultado é igual e é sempre a favor da casa. Se PS e PSD são iguais, o voto neles nunca será útil. Eu não digo que sejam todos más pessoas e desonestos, o problema deles é que vivem noutro filme. Não se conseguem identificar com o povo, por muitas feiras a que vão e por muitas velhas e bebés que beijem. Eles não sabem falar a nossa língua nem a querem aprender. Nós falamos-lhes de fome, desemprego e doenças e eles respondem-nos em taxas, IRS e plafonamento. Eles fazem o que acham que é bom para o mundo deles, o problema é que o mundo deles não é o nosso.
Voltando ao início: as sondagens. Ironicamente, são inimigas da democracia livre. As sondagens servem mais para meter medo do que para informar e esclarecer. Isto aliado à diferença de tempo de antena dada aos principais partidos e aos mais pequenos, corrompe a bonita ideia da democracia. Nem vou falar do facto de que quem está nos partidos é apenas uma marioneta de interesses maiores, corporativos e europeus, que puxam os cordelinhos. Nem vou estar aqui a dissertar sobre o facto de que sem uma boa educação é impossível haver democracia a sério. A democracia é uma ditadura das massas, o problema é que parece que a maioria é egoísta e ignorante. «Se tens cidadãos egoístas e ignorantes, vais ter líderes egoístas e ignorantes.» já dizia o George Carlin.
Bom, já vos expliquei o que acho do voto útil recorrendo a uma metáfora sexual, outra de cocó e uma de trânsito automóvel. O meu trabalho está feito e não vos incomodo mais. Isto foi só um desabafo. Não estou à espera que me dêem ouvidos. Na altura que alguém mudar o voto pelas palermices que eu escrevo é muito mau sinal para a credibilidade da política portuguesa.
PS: Eu já decidi em quem vou votar: ninguém. De qualquer forma, aqui fica um guia para vos ajudar, caso ainda façam parte dos indecisos.
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